Para além do Caso Banestado: O “Banestado 3.0”

Por Alejandro Acosta e Ricardo Guerra

O maior caso de corrupção no Brasil é o Escândalo do Banestado, tema central de O Doleiro – a primeira série brasileira para as redes sociais, realizada através de uma parceria entre o Duplo Expresso e a Gazeta Revolucionária.

Esse escândalo, também conhecido como “Caso Banestado”, “Banestado Leaks” e “Contas CC5 do Banco do Estado Paraná”, já foi amplamente abordado por Wendel Pinheiro (aqui),  Pepe Escobar (aqui) e Romulus Maya e o Duplo Expresso (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), onde é possível aprofundar os conhecimentos sobre o tema.

De uma maneira direta e bastante objetiva, podemos dizer que tudo começou quando o imperialismo norte-americano, impactado em cheio pela crise mundial de 1974, logo tratou de procurar meios e planejar estratégias para salvar seus abutres capitalistas à custa do suor e do sangue principalmente dos povos latino-americanos, cujas lideranças locais foram cooptadas e/ou chantageadas para agir como vassalos dos seus interesses.

Nesse intento, na impossibilidade de estabilizar a taxa de lucro mundial e visando garantir absurdos e irreais lucros para suas empresas através de mecanismos especulativos, o grande capital organizou e investiu na proposta do Consenso de Washington no ano de 1989.

O objetivo era, sem abdicar da cartilha e do corolário “neoliberal”, que é o socialismo para os super ricos e o capitalismo genocida para a maioria dos povos (a famigerada máxima da “privatização dos lucros e socialização dos prejuízos”), aprofundar os métodos de defraudação e controle já aplicados e torná-los ainda mais selvagens, acelerando a espoliação dos trabalhadores e dos povos, a começar pelos povos latino-americanos.

Nesse contexto, no início da década de 1990 se firmou o “Umbrella Deal”, acordo sob o qual, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi entregue meio Brasil a troco de nada simplesmente para o país pagar absurdos juros de uma dívida externa, criminosamente inflada e imposta pelo imperialismo, comprometendo também verbas destinadas a setores essenciais para a sociedade brasileira e o futuro do nosso povo e desenvolvimento da nossa Nação, como infraestrutura, saúde e educação.

Para realizar esse vergonhoso assalto ao patrimônio público, estatal e financeiro do país, as forças propulsoras do imperialismo (os agentes do capital transnacional) mantiveram todos os setores da classe dominante brasileira (uma gente completamente cooptada culturalmente e sem senso de pertencimento) controlados por meio de propinas, que somaram – em valores atuais – US$ 281 bilhões e foram lavadas a partir das contas CC5 do então Banco do Estado do Paraná.

O esquema envolvia a transferência do dinheiro sujo através de uma agência do Banestado no Paraná à uma agência do mesmo banco em Nova Iorque, de onde era movimentado para outros bancos norte-americanos e transferido novamente a diversos paraísos fiscais. Daí, o dinheiro que antes era sujo e oriundo de propinas recebidas para aprovar as privatizações de empresas fundamentais para o desenvolvimento nacional, como também aprovar outras leis que ajudaram a mais do que duplicar a dívida externa do Brasil em um único final de semana (e a submissa adoção das medidas propostas no Plano Brady), voltava lavadinho ao Brasil como investimento estrangeiro.

As propinas também foram usadas para “convencer” as empresas de comunicação a “normalizar” a situação e levar a sociedade a acreditar na necessidade e legalidade de todo esse processo de manobras jurídicas e privatização. A maioria dos envolvidos no esquema era composta por lideranças do PSDB ou pessoas ligadas a este partido com inserção nos poderes executivo, judiciário e legislativo, mas também envolveu representantes de outros partidos.

Dessa forma, com  as leis aprovadas através dessa grande manobra, para encobrir esse inadmissível crime de Lesa-Pátria e caracterizá-lo como algo aceito como “legal” pela sociedade, retiraram do povo brasileiro o equivalente à construção de 6 milhões de casas populares e também permitiria que os brasileiros tivessem um salário mínimo 15 vezes maior durante 500 anos.

Tudo isso foi realizado sob a “supervisão” do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos com o objetivo de deixar todo mundo de “rabo” muito preso, através de dossiês e documentos muito bem organizados e guardados (Kompromat).

Com a saída do PSDB do governo e a chegada do PT ao centro do poder do Brasil em 2002, um acordo de garantia de posse e governabilidade (com a benção do império) garantiu que o Escândalo do Banestado fosse sepultado, que a roubalheira nunca fosse investigada e que as privatizações e demais crimes de Lesa-Pátria cometidos não fossem revertidos, e assim o Caso do Banestado foi se encaminhando ao encontro da Lava Jato.

A crise mundial de 2008 fez explodir pelos ares (com o conhecido estouro da bolha financeira) esses mecanismos planejados para salvar os lucros das grandes empresas capitalistas a partir da segunda metade da década de 1980, em grande medida atrelados à especulação financeira, e a partir de então, à América Latina, está sendo imposto o Banestado 3.0.

O Banestado 3.0 trata-se de uma série de mecanismos de propinas e de “rabos-presos” ainda mais vergonhosos que os do Banestado 1.0 da década de 1990. A implantação dessa política começou a tomar forma com a Operação Lava Jato – sob um falso pretexto de combate a corrupção, minuciosamente manipulado, direcionado e seletivo – arquitetada para garantir  ao imperialismo a liquidação das grandes empresas locais e ainda eliminar do cenário político possíveis opositores aos seus interesses.

A muitos dos antigos privilegiados parceiros locais foi permitido pelo Estado Profundo (Deep State) – organização que realmente é que determina as diretrizes geopolíticas do imperialismo  estadunidense para seus cupinchas no Brasil, na sua versão Deep State Tabajara” – que mantivessem uma certa posição no novo cenário projetado, embora que com menor poder e muito mais dependentes das determinações centrais do Tio Sam. Esse cenário mais uma vez foi configurado a base de propinas, mas principalmente de muitos dossiês e rabos-presos e da bem planejada elaboração e aprovação de leis e mecanismos, aparentemente inocentes e importantes para a sociedade, como a Lei da ficha limpa, a ENCLA e outros mecanismos “legais”.

Sob a égide de agentes também bem “treinados” e o uso de expedientes “adequados”, como por exemplo o lawfare e o apoio de uma mídia muito bem ancorada por propinas e integrantes com rabos muito bem presos, facilmente se retiraria de cena qualquer personagem com a mínima possibilidade de atrapalhar os interesses imperialistas. Ou seja, por um lado se oferecia uma “cenoura”, junto com a “promessa” de se manter uma “governabilidade”, garantindo que as revoltas e revoluções seriam esmagadas após a tomada do poder (por golpe jurídico/militar/financeiro/midiático e um vigoroso processo de guerra comunicacional) e, por outro, o cassetete que eram os dossiês da “justiça”,  local e norte-americana, que poderiam mandá-los para a cadeia por décadas e deles tudo expropriar a qualquer momento.

Essa política, tão “simpática” às classes dominantes locais, veio acompanhada do endurecimento generalizado do regime: o Patriot Act Tabajara, que além da acima citada ENCCLA e, da mesma forma aparentemente inocente, inclui Projetos de Lei (PLs) que vão gradativamente surgindo com o propósito de mudar o sistema jurídico para legalizar métodos repressivos, como os PLs 2418/2019; 3389/2019; 1595/2019; 5327/2019; 3319/2020, com potencial tão virulento quanto os dos métodos utilizados na época da ditadura, pelo general Garrastazu Médici.

E assim, a autodenominada “esquerda”, com grande parcela de seus quadros presos em dossiês e outra parte presa na armadilha do identitarismo, atua como uma “esquerda Bolsonarista”, já que, na prática, ajuda o governo Bolsonaro a massacrar o Brasil, inclusive  desempenhado um papel ativo na implantação desse processo semi-fascistóide.

A isto soma-se o “Evangelistão do Pó”, que tem na base o modelo narco/paramilitar da Colômbia e encontra-se em acelerado processo de implantação em toda a região. Trata-se de um grande acordo entre governo e o crime organizado, para garantir a produção e lavagem do tráfico de drogas em escala industrial e priorizada, e o dinheiro necessário para a manutenção de toda essa engrenagem.

Para “legalizar” e dar um certo verniz de legalidade a esse verdadeiro monstro, os grandes capitalistas impõem a “democracia pinochetista”, que é uma leve maquiagem realizada pela legalização das escancaradas fraudes eleitorais e a imposição do pinochetismo como estrutura dos estados e a escalada da repressão contra os povos: tudo legalizado pelas respectivas “esquerdas bolsonaristas”.

Os verdadeiros anti-imperialistas, democratas e revolucionários têm o dever de denunciar o massacre dos povos brasileiro e latino-americanos e buscar – com energia – estratégias para viabilizar ações que facilitem a ruptura desses mecanismos de controle que promovem o desmanche do Estado brasileiro e roubam a possibilidade de futuro para o nosso povo e Nação. Essas estratégias passam fundamentalmente pela necessidade de ampla divulgação desse Escândalo, da urgente realização de uma Auditoria da dívida pública brasileira e de um Referendo Revogatório conforme proposto pelo Ex-Senador Roberto Requião: o povo brasileiro tem o direito de conhecer a verdade!

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Veja também?

Sobre geopolítica e o uso do modelo narco/paramilitar pelos EUA no Brasil e América Latina e o Escândalo do Banestado

Sobre os interesses estadunidenses no Brasil e América Latina e a cooptação cultural das classes dominantes e militares, dossiê-cracia, juristocracia, manobras jurídico legislativas e sinergia entre militares e juízes:

Sobre a necessidade de um caminho próprio de desenvolvimento

Sobre a entrega da Petrobrás:

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