Celso Amorim: precisamos de um “Plano B”? Não!

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

  • O Duplo Expresso recebeu relatos sobre uma reunião na última semana entre membros da alta Finança, em SP, em que a hipótese de uma saída para a crise – com Lula como timoneiro – chegou a ser “aventada”. É apenas um primeiro passo, ainda. Algo no terreno das especulações. Mesmo porque careceria do principal: assentimento dos verdadeiros patrões do Golpe, fora do Brasil.
  • Mas, mais que tudo isso, trata-se do reconhecimento de que o “Lula de A a Z” – renitente – está trazendo frutos; com a repulsa das bases a alternativas “B” já passando a ser assimilada pelo outro lado.
  • Pois é nosso papel tornar para o tal “Mercado” essa opção relativamente mais barata/ previsível do que a alternativa.
  • E isso incluiu, de nossa parte, impedir a viabilidade da hipótese de o Golpe, eventualmente logrando impedir a candidatura de Lula, conseguir escolher o (duplamente) “candidato” do PT: não apenas alguém que não encarnaria uma “anti-candidatura”, como ainda alguém que não teria a força de caráter para torna-lo imune a tentativas de cooptação pela vaidade ou por pressão ou ameaça; ou que não tivesse um forte compromisso com o coletivo e firmeza ideológica e nacionalista.
  • Pois é justamente aí que entraria o (eterno) Chanceler Celso Amorim.

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Artigo publicado sexta-feira aqui no Duplo Expresso, “Eleições” vs. Golpe: e se Celso Amorim fosse “o embaixador do Lula”?, suscitou animada discussão na seção de comentários. Embora a maior parte das pessoas teça rasgados elogios ao nome do (eterno) Chanceler, muitos continuam firmes na posição “Lula de A a Z”.

Notem bem: assim como o Duplo Expresso!

Conforme registrado, inclusive, no próprio texto.

Concordamos, aliás, com quem observa que a antecipação da discussão não conviria (CNTP – em condições normais de temperatura e pressão) àqueles que, como nós e o grosso dos leitores do DuplEx, defendem a manutenção da candidatura de Lula em qualquer hipótese (“Lula de A a Z” ou “Lula ou nada”).

O problema é tal discussão vir a se impor a despeito de nós. E dos nossos esforços. Nesse caso, isolarmo-nos da discussão equivaleria a, tendo perdido numa espécie de “primeiro turno” com a proposta “Lula de A a Z”, lavarmos as mãos num “segundo turno” tendo o Plano B – de B’astardo do Golpe – como candidato entre outros… “candidatos“.

A questão delicada, o tricky aspect, é que, nesse caso, o “segundo turno” é jogado antes do “primeiro”!

E, até aqui, só é disputado entre “candidatos”. Ou seja, “Planos Bs”, de B’astardo(s) do Golpe. Não há a figura do “anti-candidato”, conforme discutido no artigo anterior. Aquele que rasga a fantasia – dos demais. E mela a farsa:

“E se Celso Amorim, a cada intervenção sua no debate da Rede Globo, dissesse “quem deveria responder à pergunta que aqui me é feita é o ex-Presidente Lula. Contudo, o verdadeiro candidato do povo brasileiro se encontra preso ilegalmente, justamente para não poder estar aqui diante de vocês hoje. Tudo isso como parte de um golpe transnacional patrocinado pela Finança e pelos EUA. E operado localmente pelos irmãos Marinho, donos desta emissora, que, assim como na ditadura militar, usam mais uma vez uma concessão pública – esta TV – para trair o Brasil e massacrar os pobres deste país”?”

 

Ou seja, até aqui o que é proposto nessa espécie de “segundo turno antes do primeiro” é o pior dos mundos. E isso, seja perdendo ou – pior ainda – ganhando na “eleição” (?) falseada pelo Golpe em outubro próximo:

(…) como observamos ainda em março, o peleguismo financista de Haddad na Presidência lograria destruir a viabilidade do PT em eleição majoritária – e por gerações. Senão para sempre. Tal qual ocorreu com os Partidos Socialdemocratas “reformistas” europeus, como na Grécia (PASOK), na Itália (PD), na França (PS) e na Espanha (PSOE), entre outros. Ascendendo ao poder em contextos de grave crise econômica, todos eles optaram por “debelá-las” (?) traindo as bases. Fizeram, no governo, o serviço sujo – antinacional e antipovo – exigido pela Finança internacional:

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Fecharmos questão peremptoriamente no “Lula de A a Z” – atenção: como deve ser – mas ao ponto de nos furtarmos da discussão – atenção:2 que já ocorre – de contingências equivale a deixar posições intermediárias, como a anti-candidatura, vendidas. E, caso sejamos derrotados, acabarmos com um B’astardo do Golpe… (duplamente) “candidato“. Ou seja, um que, com a mesma participação “fofinha” de Haddad na Globonews de meses atrás, com direito até a “mea culpa pelos erros do PT” (!), legitime a farsa do Golpe!

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Eis o que respondi na seção de comentários (aqui) a quem indagava sobre a conveniência dessa discussão:

Somos o único veículo que defende genuinamente o “Lula de A a Z”, além do PCO. Continuamos acreditando que, tendo prendido Lula, não faz sentido o Golpe empossar alguém que fosse/ pudesse fazer o que ele faria.
Temos, no entanto, que traçar todos os cenários possíveis para análise. Levando em conta, inclusive (mas não apenas), o que ouvimos de bastidores.
As candidaturas “B” – e é mais de uma – estão com o bloco na rua, disputando entre si o “dedazo” do Lula. Lula dará o “dedazo” a uma delas?

Veja o que fala o amigo aí em cima:
Mas a gente não pode/não deve se esquecer da vocação natural majoritária dentro do PT, ‘buscar uma saída negociada’.
Ou seja, ceder, negociar, conciliar. Assistimos isso várias vezes. Julgamento do Mensalão, Terceiro Mandato, Queda da Dilma, Condução e Prisão do Lula. Não tenho muitas ilusões em relação a isso. Creio que (Celso Amorim) seria um ‘mal menor’. Talvez. Sobretudo se ele ‘encampar’ essa tese (da anti-candidatura) que o Romulus coloca no texto.”

É por aí…
Devemos continuar trabalhando para que haja substrato político para viabilizar o “Lula de A a Z” nas mãos de Gleisi e do próprio Lula, IMPOONDO-O ao Golpe. Na sua frente “Judiciário” mas também na sua frente (interna no) “PT”. Mesmo, inclusive, que essa não seja a saída preferida até mesmo por Lula, na pessoa física, a partir de dado momento.
Lula, como um “presidente” por natureza, arbitra conflitos e, como “pessoa jurídica”/ político, cavalga o cavalo que se viabiliza.
Exemplo dessa contradição entre PJ e PF:
– Lula queria – PESSOALMENTE – resistir mas, por falta de condições (quais?), decidiu – na Pessoa Jurídica – entregar-se lá em São Bernardo. Não podemos, é claro, esquecer o papel da quinta coluna naquele episódio, capitaneada pelo laranja podre do PT, José Eduardo Cardoso.
Vocês acham que esse esquema – “pesado” (apud membro digno da Executiva do PT) – saiu de férias depois de entregar – aquele – serviço?
O perigo é, em dado momento, ficarmos com a brocha na mão se o próprio Lula não for mais “Lula de A a Z” para além do discurso – que é necessário em qualquer hipótese (mesmo para o Plano B, para ajudar na transferência de votos) até o último recurso na “Justiça” (?) Eleitoral.
Daí a necessidade de contingência e trazer, mais do que sugestões de nomes de substituição, questionamentos sobre o que se faria para, em último caso, não trabalhar para legitimar a fraude. Se for possível.
Percebem?

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Acréscimo ao artigo anterior:

(1) A tese de “anti-candidatura” só vinga com alguém forte de caráter o suficiente para torna-lo imune a tentativas de cooptação pela vaidade ou por pressão ou ameaça. Tem de ser 100% leal a Lula, sem pretensão política individual ou carreirismo. Mas, em vez disso, um forte compromisso com o coletivo e firmeza ideológica e nacionalista. Contam-se nos dedos de uma mão as pessoas que reúnem tais características – as características de um Estadista – na atual conjuntura.

(2) Uma (suposta) repetição da operação Perón-Cámpora 73, o que os articuladores do Plano B tentam vender – com má-fé – desde o início do ano, não seria possível no Brasil atual. Explicamos isso em artigo anterior. Não se pode tirar Lula da cadeia e trazê-lo de volta à política com um simples “indulto e convocação de novas eleições”. Inviável, inclusive, com o atual quadro jurídico-“institucional” brasileiro. O anti-candidato tem que ser muito mais capaz do que um “Cámpora 2018”.

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A ideia de entrar na discussão do “segundo turno antes do primeiro” é justamente adotar a tática do empate: tornar o impedimento da candidatura de Lula o mais caro – e imprevisível – possível para o Golpe. Justamente para que, relativamente, a manutenção da candidatura do ex-Presidente não lhe pareça lá tão ruim assim…

Para isso, a pressão deve se fazer sentir em TODOS os cenários.

Notem bem: o Duplo Expresso recebeu relatos sobre uma reunião na última semana entre membros da alta Finança, em SP, em que a hipótese de uma saída para a crise – com Lula como timoneiro – chegou a ser “aventada”. É apenas um primeiro passo, ainda. Algo no terreno das especulações. Mesmo porque careceria do principal: assentimento dos verdadeiros patrões do Golpe, fora do Brasil.

Mas, mais que tudo isso, trata-se do reconhecimento de que o “Lula de A a Z” – renitente – está trazendo frutos; com a repulsa das bases a alternativas “B” já passando a ser assimilada pelo outro lado.

Pois é nosso papel tornar para o tal “Mercado” essa opção “paráfrase de Jucá” – “um grande acordo nacional, com Lula, com tudo” – relativamente mais barata/ previsível do que a alternativa.

Afinal, Lula, o “sindicalista conciliador”, já governou, certo?

E isso incluiu, de nossa parte, impedir a viabilidade da hipótese de o Golpe, eventualmente logrando impedir a candidatura de Lula, conseguir escolher o (duplamente) “candidato” do PT: não apenas alguém que não encarnaria o “anti-candidato”, como ainda alguém que não teria a força de caráter para “torna-lo imune a tentativas de cooptação pela vaidade ou por pressão ou ameaça” ou que não tivesse “um forte compromisso com o coletivo e firmeza ideológica e nacionalista”:

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E, de repente, as mesuras por parte de Lula no discurso no Sindicato em São Bernardo e o fato de ter mantido Celso Amorim do seu lado direito durante toda a sua fala (enquanto Haddad ocupava uma constrangedora terceira fila – atrás de Luiz Marinho), naquele momento em que o ex-Presidente estava contrariado por não ter condições de resistir, passa a fazer todo sentido, não?

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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