Haddad no JN – O que ele realmente fez e a imprensa “de esquerda” não viu

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso
Publicado 16/set/2018 – 7:11
Atualizado 17/set/2018 – 10:40

Antes que venham os “PTminions” com os previsíveis ataques, gostaria de deixar claro duas coisas: 1) depois que Lula foi abandonado na cadeia pela ala jurídica do PT, o debate na nossa página é sobre democracia; 2) “Fernando – Marcos Lisboa – Haddad” não é Lula. E vice-versa.

Dito isso, preferi aguardar traços de honestidade dos militantes e da imprensa autointitulados “de esquerda” na avaliação sobre a participação do Doutor da USP, e não só, para que ele (o Doutor Haddad) desse algum sinal de humildade ou fosse enquadrado após o conselho de Gleisi Hoffmann com o necessário “banho de povo”. Nada disso ocorreu.

O que vi? Como diria Jack, vamos por partes.

Primeiro no JN, um Haddad nitidamente nervoso, cometeu diversos erros, depois daquela entrevista ficou nu. É muito fácil entender por que ele perdeu a prefeitura de São Paulo no primeiro turno sentado na cadeira. Vamos aos fatos:

  1. Falou no nome de Lula uma única vez, num constrangido “boa noite”. Como diria Lobão (coxinha como Haddad) “como quem pede desculpas pra si mesmo”. Ah! Para não ser injusto, Haddad também disse que milhões de brasileiros gostariam de estar vendo Lula sentado naquela cadeira. Foi a única coisa – meio – certa que ele falou em toda a entrevista. E com a qual eu e milhões de brasileiros concordamos – em parte. Nós, lulistas, não apenas “gostaríamos”, Haddad. O correto era dizer que Lula deveria estar ali. E que foi impedido por um Golpe. Todos “gostaríamos” de ter 10 milhões em nossas contas bancárias, não é mesmo? Isso é totalmente diferente de dizer que “deveríamos ter 10 milhões”. Mas Haddad não diria nada do gênero, porque…
  2. Defendeu as leis punitivistas do “PT Jurídico” (apud Luiz Moreira) que são responsáveis por toda criminalização do PT e a prisão ilegal do presidente Lula em segunda instância, juntamente com outros 14 mil brasileiros.
  3. Mais grave ainda, permitiu – logo na primeira pergunta – que Renata Vasconcelos reforçasse a “fake news” de que o “petrolão” (sic) foi “o maior escândalo de corrupção de todos os tempos”, com desvios de “12 bilhões de Reais” (sic). Ora! Era o momento exato de contestar e dizer que o maior escândalo de corrupção foi o caso BANESTADO, cuja instrução foi presidida pelo mesmo Sergio Moro, sem contudo resultar na prisão de quem quer que fosse. Muito mais que na Petrobras, o BANESTADO envolveu a evasão e a lavagem de algo entre 130 e 179 bilhões. De Dólares e não Reais! Bônus: a própria Globo – assim como a gangue de Moro – estão envolvidos no escândalo e no seu enterro (aqui, aqui, aqui). Mas Haddad…
  4. Defendeu o Judiciário ao ser indagado sobre uma conspiração que integrantes do PT atribuem ao mesmo, incluindo principalmente Lula. Até por ele ter dito em várias entrevistas que era alvo de uma conspiração tanto do Judiciário como internacional. Haddad bate no peito e diz que ele, Haddad, jamais falou em “conspiração” e sim em “erro judiciário”. Ou seja, Haddad continua sustentando que Lula sofreu, “apenas”, um “erro judiciário”. Lembrando aquela mesma frase que já proferira anteriormente: “O problema do ex-presidente Lula não é político é jurídico”. Isso explica a opção do PT Jurídico de salvar o STF das garras da ONU e jogar Lula aos leões. E evidencia que, nem antes nem depois da eleição, Haddad enfrentaria o avanço do Judiciário sobre a política. Falar em “erro judiciário” no caso Lula é o equivalente jurídico-político de dizer que o problema Globo se resolve com “controle remoto”.
  5. Perdeu uma grande oportunidade de defender Lula, pois neste caso ele estaria agradando aqueles “lulistas” que ainda não engoliram o marketing “Lula é Haddad”. Fica explícito um constrangimento e dificuldade em falar sobre Lula. Um erro fatal! Isso para não dizer que vejo como uma traição continuada.
  6. Em nenhum momento defendeu o presidente Lula que é vítima desse Judiciário. Pelo contrário! Sempre se coloca como uma vestal com aquele antigo discurso punitivista do PT Jurídico de Tarso Genro (seu ex-chefe) e José Eduardo Cardozo, seus mentores. Haddad ainda  diz que o PT foi o partido que mais combateu a corrupção, que fortaleceu as instituições de Justiça, etc. Enfim, enaltece as leis punitivistas que levaram quase todo o comando do PT e Lula para cadeia, sem crime e com a “delação premiada” aprovada por Dilma como verdade absoluta. Ladino, Bonner ironicamente provocou: pois é, candidato, vocês criaram todas essas leis e acabaram vítimas delas.
  7. Sobre Dilma, não falou em Golpe. Quem acompanha o Duplo Expresso sabe que Dilma negociou um PIDV – Plano de Incentivo à Demissão Voluntária com os EUA e ganhou como indenização o direito de ser “Senadora Honesta” por oito anos – com foro no STF. No entanto, Haddad nunca parte para o enfrentamento. Nunca diz que golpe é golpe. Ele chegou a afirmar que Tasso Jereissati em entrevista recente fez uma autocrítica, arrependido por ter apoiado a saída de Dilma, contestado a sua vitória e votado pautas bombas. Talvez já pavimentando um apoio do ou ao PSDB no segundo turno. ” PT Jurídico”e PSDB juntos contra as “forças do mal”. Que bizarra e previsível jogada de manutenção da bipolaridade PSDB x PT, mas agora como farsa. Um dia após a eleição eles voltarão a bater boca mas desta feita num falso barroco, sem contraste, onde ambos defendem PPP (com estrangeiros) e interesses dos bancos. Voltarão às manchetes dos mesmos jornais de sempre. Uma “farsa anunciada”, diria alguém interessado em vender livros.
  8. Ao ser questionado por que perdeu a eleição em SP em 2016, Haddad sai com a seguinte pérola: “o clima de antipetismo foi criado por informações represadas em relação aos outros partidos”. Isto é, ele assume todas as mentiras e calúnias da imprensa sobre o PT. Haddad já disse que é “o menos político (e mais técnico/ gestor)”. Já vimos esse filme com Doria em São Paulo e com Macron na França.
  9. E ainda depois dessa curra consensual, Haddad ainda termina a entrevista esboçando um sorriso simpático aos seus algozes (como uma hiena que come merda e ri…).

Segunda avaliação, a repercussão na imprensa “de esquerda”. Não vou aqui chamar a atenção para os elogios do PIG à entrevista de Haddad no JN. Isso é tão grave que prefiro não escrever neste texto. Vamos falar sobre o desvio de foco da imprensa “de esquerda”.

  1. Não houve críticas a Haddad.
  2. Para esta imprensa “de esquerda” é mais fácil falar o óbvio: “Haddad foi interrompido X vezes”. “Bonner é um grosso”. “Ele saiu maior do que entrou”.
  3. Nenhuma crítica! Tudo foi perfeito!

Melhor parar por aqui para não generalizar. Há quem não tenha falado nada. Isso já é um bom começo.

Considerações finais:

Haddad ficou nu! Os seus diplomas não foram capazes de vesti-lo. Mostrou-se despreparado, fraco e covarde (melhor covarde do que conivente com “tudo isso que está aí”). Haddad já havia assistido sabatinas anteriores do JN aos outros candidatos. A desculpa dos blogs “de esquerda” de que “ele foi 62 vezes interrompido”, não cola! Haddad já foi prefeito e ministro e deveria estar preparado para saber sair das cordas.

Haddad não esperou nem o Galo cantar três vezes para negar Lula pela segunda vez. 1° “O problema do Lula não é político. É jurídico”; Agora, no JN, a 2° “Eu, Haddad nunca falei em conspiração. É um ERRO JUDICIÁRIO”. Faltou falar que a ONU está errada e que “as instituições estão funcionando normalmente”.  A terceira veremos a qualquer momento. Ele vai seguir abrindo a boca, ou não.

Bônus!

Solitário, Lula – na sua cela solitária e fria de Curitiba – viu tudo e “escreveu um bilhete” para “salvar Haddad”. Perito amigo meu entupiu a minha caixa de e-mail com bilhetes e escritos antigos de Lula para provar o que qualquer amador pode constatar: “quem escreveu o bilhete não foi Lula”.

Como acho tudo isso uma farsa, sequer me darei ao trabalho de publicar sobre isso. Tire as suas próprias conclusões. Observe apenas o “d” minúsculo nos dois bilhetes e as letras “r” e “s” minúsculas quando escritas juntamente com outras e o “que”. Além da assinatura, claro (e não nos referimos à “volta” em cima do nome).

Bilhete escrito por Lula para o candidato ao Senado, pelo PT de Brasília, Professor Marcelo Neves (que teria o meu voto se lá votasse):


(recebido do próprio. E antes publicado aqui no Duplo Expresso – além de na página do candidato – em duas oportunidades: em 30/jul/2018 e, justamente, ontem de novo, quando afirmávamos que, evidentemente, aquela “carta” – quilométrica – lida no ato de celebração do descarte de Lula, na terça-feira, não fora escrita pelo ex-Presidente, com caneta BIC, num bloquinho de notas)

vs.

“Bilhetes escritos por Lula para ‘salvar Haddad’ depois do mico no JN”:

 

 

E aí? Foi Lula? Perguntem ao “imparcial” perito  Ricardo Molina. Ele é especialista em tudo!

O tamanho sumário do bilhete “a Haddad”, menor que aquele que Lula dedicou a um candidato ao Senado no DF (!), poderia refletir a dificuldade/ lentidão para escrever imitando a letra de outra pessoa, bem como a preocupação em diminuir o grau de exposição a erros na cópia. Quanto menor o texto, menos erros, claro.

(aliás, C.Q.D. com relação à impossibilidade de a “carta” de terça ter sido escrita por Lula)

Lembremos que, ainda nesta semana (12/set/2018), em novo ataque concertado ao Duplo Expresso, mesmo a blogosfera “de esquerda” pró-Plano B cobrava um bilhetinho, ao menos, de Lula endossando Haddad:

(…)

 

Chegou rápido a encomenda!

Como diria Bonner no final do JN: “Boa noite!”

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P.S.: pedimos direito de resposta ao VI O MUNDO por reproduzirem a acusação feita pelas “luzes” de Breno Altman, de que somos “loucos” e/ou “infiltrados”, “cooptados”, “defraudadores”, “picaretas”. Como das demais vezes, não concedido, evidentemente. Haja “luzes”!

 

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ATUALIZAÇÃO 15:23

OBS: os grupos da militância petista estão pegando fogo com esse questionamento à autenticidade do suposto “bilhete de Lula”, finalmente endossando Haddad. No entanto, não é preciso ser perito para constatar que a maior parte das reações dizem, justamente, que não é necessário ser perito para desconfiar. Os Haddadistas mais espertos preferem anotar apenas uma alegada inconveniência da discussão neste momento, evitando entrar no mérito.

Experiente, tendo sobrevivido a uma guerra, estranho a demora numa reação. De duas uma: (i) ou, por contenção de dano, fingirão que as dúvidas não existem; ou (ii) aparecerão com um novo “bilhete de Lula”. Quem sabe até, desta vez, incontestavelmente de sua autoria. Não há o que estranhar: quantas vezes um chefe do lar não se vê constrangido a registrar o filho de outro? Lula, afinal de contas, é hoje um sequestrado de futuro incerto.

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ATUALIZAÇÃO 17/set/2018:

Por dica de membro da comunidade Duplo Expresso, colocamos abaixo outra amostra da caligrafia do Presidente Lula. Desta vez, em carta enviada ao atual Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner “Wagnão” Santana. O documento foi publicado em 24/jul/2018. Neste link, ele é reproduzido no site da CUT-RS.

 

E aí, minha gente?

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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