Cassino Brasil: por que, depois de escondido, Bolsonaro volta à mídia

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Publicado 17/set/2018 – 20:46
Atualizado 18/set/2018 – 10:39

  • Pois eis que a Finança, igualmente cortejada pelos gorilas e pelo Plano B, parece estar namorando a ideia de casar-se com ambos, adotando conformação de tal bigamia que lhe permitisse extrair os maiores retornos. E com os menores riscos. Inclusive de imagem:
    – O Plano B na Presidência, tão sitiado e disposto a fazer “concessões” (mais para “convicções”) quanto Dilma Rousseff em 2015.
    – Com os gorilas providencialmente fungando no seu cangote, na qualidade de chefes da oposição. E líderes, em potencial, de um novo golpe.
  • Note-se que esse desenho é bom para todos eles:
    (i) a Finança consegue TUDO o que quer;
    (ii) os gorilas conseguem efetivo poder político, o que não tinham desde o fim da ditadura – e, melhor, sem as responsabilidades de governar; e
    (iii) o Plano B, é “gloriosamente” eleito e “legitimado pelo voto”. E ainda se salva da perigosa responsabilidade de ter de salvar Lula, enfrentar a Finança, a Justiça, a mídia e os gorilas, pois consegue um álibi para cumprir as ordens de quem tirou Lula do páreo.
    E, assim, dar seguimento à “Ponte para o Futuro” do, amigo, Marcos Lisboa et al. O álibi é: “se não der para eles por bem, vai ter que dar por mal: olha o golpe militar aí na esquina, minha gente!”. Se esse álibi não for suficiente para convencer as bases, o Plano B tem finalmente a caneta na mão, cheia de tinta. Com ela terá facilidade para cooptar a ala fisiológica do PT (abstêmica de cargos desde 2016), bem como a “Blogosfera (dita) progressista” com publicidade estatal (ave, banners de BB, CEF e Petrobras de volta aos sites!). Ambas seriam encarregadas de amansar – e passar vaselina – nas bases. Aliás, como já se adiantam a fazer, numa “venda em consignação” para crédito do Plano B – a ser devidamente cobrado.
  • O fantasma Bolsonaro/ Mourão seria, assim, o pé de cabra com que o Plano B – e a Finança – manteriam o Brasil arrombado. Note-se que ambos já se escolheram, reciprocamente, como “adversários” (aspas). Estão, na verdade, mais para duas faces da mesma… moeda.

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Ontem as redes sociais ficaram em polvorosa com o vídeo que Bolsonaro e filho levaram ao ar do quarto dele no Albert Einstein. Primeiramente, note-se a abissal diferença do estado geral do “paciente” em dois vídeos – do mesmo dia! No primeiro, Bolsonaro aparece deitado, a ponto de desfalecer, falando com dificuldade e a ponto de “chorar”. No segundo, levado ao ar pelo Fantástico à noite, aparece andando e até fazendo troça e esboçando um sorriso.

Segue fazendo falta um continuísta nessa produção:

 

Em segundo lugar, constata-se que a diretiva do General Mourão, para o fim daquela “exposição” e “vitimização”, baixada menos de uma semana atrás, foi revogada.

 

O que mudou em tão curto intervalo de tempo?

Um atento observador da política nacional arriscou que Bolsonaro viu o Duplo expresso. E escolheu ser não Tancredo Neves, mas o seu netinho, Aécio.

Explicou: Bolsonaro parece preparar-se para ser Aécio em vez de arriscar ser Tancredo. Sendo Aécio, o perdedor das eleições, não precisa ser Tancredo, o eleito que é escanteado pelo Vice. Melhor ser o líder da oposição a um Presidente fraco e com legitimidade questionada do que o Presidente que pode não sobreviver a erros hospitalares para dar vez ao Vice.

Como Collor fez, Bolsonaro tenta escolher os inimigos – “Lula, preso”, e o “Plano B” – e, ainda, manter a liderança do partido militar. Caso seja derrotado, retoma o controle do mesmo. Em vencendo, seria não mais que um títere nas mãos dos generais Heleno e Mourão – senão pior.

Ao mesmo tempo, os poucos dias de protagonismo do General Mourão – esse, sim, com ascendência sobre a oficialidade e os comandos militares – assustaram boa parte do consórcio anti-Lula. Não mais que de repente, pautas negativas passaram a pipocar no Cartel Midiático brasileiro com relação à chapa, com especial destaque para a proposta do General de nova Constituição redigida não por representantes do povo, mas por meia dúzia de “notáveis”.

Reunidos onde? Num quartel?

Por mais convertidas ao entreguismo que soem amplos setores das Forças Armadas, ninguém no Mercado pode colocar a mão no fogo pelo credo das mesmas. Afinal, um General sentado na cadeira de Presidente é bem mais difícil de derrubar, em caso de contrariedade, do que Dilma ou Collor. Lembremos, por exemplo, de 1964, em que a promessa de uma guinada entreguista sob Roberto Campos acabou por se converter anos mais tarde, em realidade, no ápice do desenvolvimentismo na história da condução da política econômica brasileira, com novas estatais criadas a granel inclusive. No plano geopolítico, quem temia o “perigo vermelho” e uma aproximação com o Leste acabou, na verdade, com a política externa independente de Geisel. Com, por exemplo, as 200 milhas, o acordo nuclear com a Alemanha, o fim da cooperação militar com os EUA e o reconhecimento da independência de Angola sob o MPLA.

Ora, a essa altura os interesses estrangeiros já não tinham como pedir o dinheiro de volta diante da não conformidade da mercadoria que comprara.

Quem o faria – sob a mira de baionetas?

Esquematicamente, Mourão pode fazer juras de amor ao liberalismo…

Mas…

Ele anda com armamento de “uso exclusivo das Forças Armadas”!

Nada menos “liberal” do que isso, certo?

Sem “recall”
O governo Dilma 2, desestabilizado, caiu fácil diante de ataques híbridos. Figura bem diferente faria um General-Presidente, plenamente integrado às Forças Armadas e à inteligência.

Pois parece que, de repente, o Mercado – e a sua correia de transmissão, a Globo – deram-se conta disso. A piada parece ter perdido a graça quando o bufão foi substituído por um gorila fortemente armado.

Para ajudar nesse esforço de convencimento, Fernando Haddad resolveu mostrar-se ao Mercado mais realista que o rei, plantando a informação de que nomearia para Ministro da Fazenda seu chefe no INSPER, o economista ultraliberal Marcos Lisboa. Simplesmente um dos autores da Ponte para o Futuro e ex-futuro membro da equipe econômica de Aécio 2014.

Pensemos: agentes econômicos respondem a incentivos e desincentivos, certo?

Pois eis que a Finança, igualmente cortejada pelo gorila e pelo Plano B, parece estar namorando a ideia de casar-se com ambos, adotando conformação de tal bigamia que lhe permitisse extrair os maiores retornos. E com os menores riscos. Inclusive de imagem.

E qual seria essa conformação?

– O Plano B na Presidência, tão sitiado e disposto a fazer “concessões” (mais para “convicções”) quanto Dilma Rousseff em 2015.

Mas, a título ainda mais precário, com…

– Um gorila armado providencialmente fungando no seu cangote, na qualidade de chefe da oposição. E líder, em potencial, de um novo golpe.

Note-se que esse desenho é bom para todos eles:
(i) a Finança consegue TUDO o que quer;
(ii) os gorilas conseguem efetivo poder político, o que não tinham desde o fim da ditadura – e, melhor, sem as responsabilidades de governar; e
(iii) o Plano B, é “gloriosamente” eleito e “legitimado pelo voto”. E ainda se salva da perigosa responsabilidade de ter de salvar Lula, enfrentar a Finança, a Justiça, a mídia e os gorilas, pois consegue um álibi para cumprir as ordens de quem tirou Lula do páreo.

E, assim, dar seguimento à “Ponte para o Futuro” do, amigo, Marcos Lisboa et al. O álibi é: “se não der para eles por bem, vai ter que dar por mal: olha o golpe militar aí na esquina, minha gente!”. Se esse álibi não for suficiente para convencer as bases, o Plano B tem finalmente a caneta na mão, cheia de tinta. Com ela terá facilidade para cooptar a ala fisiológica do PT (abstêmica de cargos desde 2016), bem como a “Blogosfera (dita) progressista” com publicidade estatal (ave, banners de BB, CEF e Petrobras de volta aos sites!). Ambas seriam encarregadas de amansar – e passar vaselina – nas bases. Aliás, como já se adiantam a fazer, numa “venda em consignação” para crédito do Plano B – a ser devidamente cobrado.

Lembrem: “dar por bem ou por mal”.

Bom para todos eles, não é mesmo?

Mas não para o povo.

E nem para a soberania nacional.

O fantasma Bolsonaro/ Mourão seria, assim, o pé de cabra com que o Plano B – e a Finança – manteriam o Brasil arrombado. Note-se que ambos já se escolheram, reciprocamente, como “adversários” (aspas). Estão, na verdade, mais para duas faces da mesma… moeda.

Portanto, voltamos à ideia de “vodu”: aquela mandinga que só pega se o alvo crê na mesma. O PT cedeu ao – ou melhor: “combinou o” – “vodu judicial” que lhe permitiu retirar a legenda de Lula na semana passada. Agora, usando o “vodu militar” – que, diferentemente de 1964, não carecerá de colocar 1 tanque sequer nas ruas! – tentará fazer a população entubar o programa econômico que trouxe a Michel Temer quase 100% de reprovação.

É mole?

“Vodu” que é, o seu alvo, a população, precisa acreditar nele para que surta efeito. E para isso trabalham, em conjunto, tanto os “loucos” (?) nas Forças Armadas – que se superam uns aos outros no site “defesanet” na canastrice (pseudo-) paranoide – como o Plano B/ “Blogosfera (dita) progressista”, “aterrorizados” – e aterrorizando – com o fantasma fardado.

Nesse sentido, com Bolsonaro/ Mourão ganhando ou perdendo, o “golpe militar” já estará dado. E, aqui, “golpe” também como farsa, truque.

Como dissemos dias atrás:

Do “outro” lado, fica a “oposição” (tudo entre aspas mesmo)

Quer dizer, a “esquerda” concessão da Globo. Aquela cujo plano para evitar o endurecimento do Regime com a sua militarização é ser mais realista que o rei. Ou seja, oferecer à Finança de ser mais entreguista ainda – e sem precisar usar farda e carregar fuzil, preservando a (aparência de) “democracia”, em que “as instituições funcionam normalmente”.

Nela, só o que não pode funcionar é a ideia de que a soberania popular possa escolher (i) política econômica; e (ii) prioridades orçamentárias.

 

Nada resume melhor a ideia de “eleição” de cartas marcadas do que o folder abaixo, no comentário do antropólogo Piero Leirner:

 

Se acrescentarmos a informação de que Zaina Latif é esposa de Marcos Lisboa, o futuro “Primeiro Ministro” de um governo Haddad, o circuito se fecha. E, com ele, quem sai eletrocutado – em qualquer hipótese – é o povo.

A Finança não joga para perder. E a melhor maneira de garantir isso é ser a dona de… ambos os times! Como nos Cassinos, a casa sempre ganha, não é verdade?

 

Quem acompanha o Duplo Expresso soube bem antes, ainda em fevereiro, quem era, na verdade, o “Macron brasileiro” – ainda que sem o mesmo talento. A “livrar-nos” do nosso (providencial fantasma de) “Marine Le Pen” – também sem o mesmo talento:

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Ílio queima…

Cabelos para que, Cassandra?

Falta de aviso não foi, não é mesmo, Comunidade Duplo Expresso?

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P.S.: sabem quem, além do povo, não tem lugar nesse plano?

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P.P.S.: o mercado das expectativas

 

 

“Aqui” = Sudeste

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P.P.P.S.: por que, para Finança/ Judiciário/ Globo, o “cabeça de ponte” e o gorila são melhores na oposição que no governo

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ATUALIZAÇÃO 8/set/2018: o artigo serviu de base para o debate no Duplo Expresso de hoje

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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