Bomba: Bolsonaro sofre intervenção militar – que ironia!

Publicado 13/set/2018 – 12:27
Atualizado 14/set/2018 – 11:16

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

O Duplo Expresso avisou: em 15 de dezembro de 2017!

Resumo político do Duplo Expresso de 13/set/2018. Integralidade aqui.

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Ainda em dezembro, revelamos o plano original, devidamente adaptado hoje para um golpe – por dentro – na candidatura de Bolsonaro:

Por Wellington Calasans e Romulus Maya, para O Cafezinho

Um parlamentar da base do governo do Rio Grande do Sul acaba de nos informar com exclusividade – mas por motivos óbvios sob o véu do anonimato – que o General Antônio Hamilton Mourão será lançado presidente no intuito de sifonar as intenções de voto no Deputado e presidenciável Jair Bolsonaro ainda no primeiro semestre de 2018. Segundo a fonte, observadora privilegiada, “Bolsonaro será desidratado pela Globo”.

Ainda segundo esse parlamentar gaúcho, o “fogo (muy) amigo” conquistaria também “os votos do PSDB e da ‘direita refinada’, que tem ojeriza à falta de bons modos e cultura do Deputado Bolsonaro”.

A expectativa dos mentores desta articulação é a de que “Mourão seja certamente o nome capaz de competir com o ex-presidente Lula no segundo turno, pois o Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não vai crescer”, afirma o parlamentar gaúcho.

Em tom de confiança, a mesma fonte afirmou que “agora a direita pode votar em um militar sem ter que tampar o nariz. Ao que consta, Mourão seria muito querido pelos militares de alta patente, que rejeitam francamente Bolsonaro, tido como um bufão. Além disso, Mourão é culto, com formação sólida. Tem especialidade em diversos temas. É de uma linha bem conservadora, mas parece que a maioria moderada o respeita muito”.

Para o parlamentar, “ao contrário de Bolsonaro, Mourão realmente pode dizer que fala pelas Forças Armadas, sem objeção visível. Ele teria usado a crítica a Temer, com a posterior demissão, como forma de dizer que sempre foi oposição ao atual presidente e que abomina a corrupção”.

A propósito deste episódio, nunca é demais lembrar que o Genaral Mourão também declarou que “se a Justiça não resolve”, ele será candidato a presidente para “drenar o pântano da corrupção”. Segundo a fonte, “já em meados do ano não restará a Bolsonaro mais que um dígito nas pesquisas”.

O parlamentar gaúcho revela ter ligado para um amigo na Presidência da República e para outro no Ministério da Defesa para checagem. Ambos confirmaram a articulação. Ainda segundo o parlamentar, “(Mourão) será certamente o candidato mais forte contra Lula. Ele é honestíssimo, ao contrário de Alckmin e mesmo de Bolsonaro. Encarnaria muito melhor o anseio difuso da sociedade por ‘combate à corrupção’, bem como o desejo latente em amplos setores da sociedade por uma reação autoritária contra ‘a criminalidade’. Mourão, e não Bolsonaro, será o adversário mais forte de Lula. Deve ir com ele para o segundo turno”, profetiza a fonte.

Ladino, Mourão e seus padrinhos na política pretendem explorar o discurso moralista das tropas e da sociedade, fustigando à exaustão todas as contradições do discurso “ético” do deputado Bolsonaro. Para começar, voltarão as baterias para (i) o nepotismo – que chega a ser caricato no caso de Bolsonaro; (ii) o seu histórico de insubordinação, que o levou mesmo à reserva prematuramente, ainda nos anos 80; (iii) o desprezo esnobe com que lhe “brinda” a alta oficializada das três Forças; e todas os “deslizes” do deputado – e filhos! – na sua longa caminhada junto a “generosos” – mas interesseiros – doadores de campanha (nos caixas 1, 2, 3 e 4!).

Tiroteio na caserna?

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Alerta: Miguel do Rosário, editor de O Cafezinho, tirou do ar o artigo hoje, logo após mencionarmos o mesmo no ar, nesta manhã. O endereço https://www.ocafezinho.com/2017/12/15/exclusivo-fogo-amigo-deve-acertar-bolsonaro-mortalmente/ agora direciona para um aviso de página não existente (print abaixo), diferentemente do que ocorria apenas algumas horas atrás. Confirma-se, assim, a tese de autocensura na blogosfera – discutida no artigo “Não sangra! Eis o ‘milagre’ do novo (Jair) ‘Messias’ (Bolsonaro). Seus ‘evangelistas’? Globo e… Blogosfera (!)” (9/set/2018). Resta saber se por medo diante do fechamento do Regime Temer/ Lava Jato/ FFAA ou por cooptação pelo mesmo:

 

Contudo, por óbvio, o texto segue disponível no cache do Google e no web archive. E, é claro, agora também neste Duplo Expresso.

Cacique Juruna do Séc. XXI fez print também, evidentemente.

Batom na cueca.

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E os dossiês em posse de Mourão não seriam apenas sobre Bolsonaro:

 

Sabe quem também trabalha com dossiê para manietar representantes da soberania popular?

Aqueles que, diferentemente desses, têm voto?

– A Juristocracia.

E a fonte primária de ambos: os EUA!

(e o circuito se fecha)

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Sim, os EUA…

E também Israel:

(e o circuito se fecha (2))

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Eis a tentativa, desesperada (e ridícula), de Bolsonaro, 2 dias atrás, para parar o avanço do golpe militar que ora sofre:

Urgente: Bolsonaro apresenta EVOLUÇÃO surpreendente” (rsrs)

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Mas…

Logo veio a visita do golpe militar em pessoa, 1 dia atrás:

– Antes:

 

– Depois:

 

– Afastado da campanha:

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E, agora, sequer receberá visitas (testemunhas):

“Tancredização”?

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Tá tudo dominado (1) – o Presidente, que faz a pauta do STF, será tutelado por um General?

 

Tá tudo dominado (2) – o TI do Tribunal Superior ELEITORAL (e do STF) é composto por técnicos da… Ditadura (!)

Ou seja, os técnicos da autoridade eleitoral odeiam… voto (!)

É certo que a fraude nas urnas eletrônicas não é feita de forma amadora e displicente. As fraudes nas urnas eletrônicas brasileiras acontecem principalmente no voto proporcional, o voto para deputados e vereadores. Como não há pesquisas, em especial pesquisas de boca de urna para voto proporcional, os fraudadores deitam e rolam.
Mas isso não significa que não haja fraude em eleição majoritária. Apenas, nessa hipótese, ela não pode afrontar em demasia as pesquisas de boca de urna, indo muito além das suas margens de erro. Caso contrário, levantar-se-iam suspeitas gravíssimas, conduzindo necessariamente à impressão do voto.
Nesse caso, um salto muito maior do que as pernas poderia colocar em risco o multimilionário mercado de compra e venda – pela Justiça Eleitoral – de cadeiras nas Câmaras e Assembleias Legislativas Brasil afora.

(…)

Para mostrar como a situação da justiça e gestão eleitoral no Brasil é surreal, também é exposto que o TSE não faz questão de esconder que não é um tribunal imparcial em relação aos diferentes lados da disputa política:

Os desenvolvedores de sistemas são antigos técnicos egressos da SEI, a Secretaria Especial de Informática do regime militar e há anos ocupam cargos de assessoria tecnológica no STF e no TSE.

Coincidentemente, os dois tribunais padecem das mesmas suspeitas em relação aos algoritmos que distribuem os processos entre os Ministros.

O TSE tornou-se um tribunal partidário. Ficou nítido no julgamento das contas do PT e de Dilma Roussef nas eleições de 2014. Houve uma pressão pesada do relator Gilmar Mendes sobre os técnicos do TSE, visando criminalizar até classificação de equipamentos.

(…)

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Tá tudo dominado (3): “nova Constituição” – outorgada e vazia!

Em Curitiba, onde proferiu palestra no Instituto de Engenharia do Paraná, o general Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), defendeu uma nova Constituição para o Brasil, dizendo que a Carta deve ser mais enxuta, devendo conter apenas princípios e valores. Ele afirmou que, para isso, não seria necessário convocar uma nova constituinte, que a Constituição poderia ser elaborada por um conselho de notáveis escolhido pelo presidente.

“Nossa constituição é extensa de mais, devia ser só princípios e valores.

[Nota D.E.: deixando, assim, os Ministros do STF livres para preencher o conteúdo conforme a conveniência do momento. Esvazia-se, dessa forma, os Poderes eleitos – Legislativo e Executivo – em favor de outro não eleito, o Judiciário, tutelado por sua vez por outro Poder não eleito, as Forças Armadas]

O resto, horário de trabalho dos bancários, se os juros devem ser tabelado, isso é por lei ordinária”, disse. “Não precisa de Constituinte Fazemos um conselho de notáveis e depois submetemos a plebiscito. Uma constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo” (…)

[Nota D.E.: na verdade, seria um referendo. No caso, com votos contatos usando o know-how do TI do TSE.
Sim, aquele oriundo da… Ditadura. Bingo!]

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Do “outro” lado, fica a “oposição” (tudo entre aspas mesmo)

Quer dizer, a “esquerda” concessão da Globo. Aquela cujo plano para evitar o endurecimento do Regime com a sua militarização é ser mais realista que o rei. Ou seja, oferecer à Finança de ser mais entreguista ainda – e sem precisar usar farda e carregar fuzil, preservando a (aparência de) “democracia”, em que “as instituições funcionam normalmente”.

Nela, só o que não pode funcionar é a ideia de que a soberania popular possa escolher (i) política econômica; e (ii) prioridades orçamentárias:

Num eventual governo Fernando Haddad, o ministro da Fazenda seria alguém com o perfil do economista Marcos Lisboa ou até mesmo o próprio. Haddad virou hoje o candidato oficial do PT, diante do impedimento de Lula por decisão judicial.

Há uma discreta discussão no PT para deixar claro que Haddad teria forte compromisso com o rigor fiscal, a exemplo da nomeação de Antonio Palocci Filho para a Fazenda no primeiro mandato de Lula. Seria um sinal para acalmar o mercado financeiro e setores do empresariado reticentes à volta do PT ao poder federal.

Lisboa, que integrou a equipe de Palocci, é amigo de Haddad, apesar de os dois terem divergências em alguns pontos econômicos. No PT, não se sabe se Lisboa aceitaria um convite, se Haddad o convidaria ou se todo o partido o aceitaria.

Mas Lisboa teria o perfil para comandar a economia num eventual governo de Haddad, que sinalizaria pretender fazer uma administração mais parecida com a de Lula 1 do que com a de Dilma 1. Outros economistas de orientação parecida poderiam entrar nesse páreo, em caso de vitória de Haddad na eleição presidencial.

Esse comentário, feito no “Jornal da CBN – 2ª Edição”

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Marcos Lisboa é, simplesmente, o autor da “Ponte para o Futuro” de Michel Temer (aqui e aqui). E, também, membro da proto-equipe econômica de Aécio Neves de 2014. Sim, aquela que derrotamos. No voto.

(e, mesmo assim, terminamos com Joaquim Levy, certo, Dilma?)

Eis relato de economista desenvolvimentista sênior, marcante no debate econômico brasileiro nas últimas décadas, sobre Marcos Lisboa, o Ministro da Fazenda de Haddad:

A diferença entre Marcos Lisboa e Joaquim Levy – que destruiu a popularidade e a governabilidade no Congresso do governo Dilma produzindo o impeachment – é que o segundo é um mero técnico de contas públicas, um especialista em cortar gastos e investimentos sociais.

Marcos Lisboa é um dos maiores ideólogos do neoliberalismo no Brasil. Diferentemente do discreto e tímido Levy, ele é espaçoso, ambicioso, hábil comunicador e bom estrategista. Se não fosse tão vaidoso, diria que ele poderia até mesmo tentar ser carismático. Perigoso, começou seu mestrado como economista heterodoxo de esquerda, no meio da dissertação inverteu a argumentação e acabou, de certa forma, traindo o orientador fazendo uma tese neoliberal radicalmente antagônica à posição do velho mestre. Era diretor do outrora sólido Banco Unibanco quando ele quebrou por especulações financeiras exageradas elaboradas por colegas economistas, como ele, vindos das escolas neoliberais da FGV-RJ, PUC-RJ e USP. E foi, em consequência da derrota do Unibanco, nomeado vice-presidente de risco operacional e eficiência do Itaú, que comprou o Unibanco como banco podre na crise de 2008.

O mercado o endeusa, como supra sumo do neoliberalismo radical.

Certamente, seria um super Primeiro Ministro mais do que da Fazenda, que assumiria com porteira fechada. Haddad seria o mero prefeito da República do Brasil, mais ou menos como Dilma foi no seu segundo mandato com Levy e Temer com Meirelles: o Ministério da Fazenda é do mercado e não aceita palpite do Chefe – eleito – do Executivo. Seria uma briga de egos interessante entre Haddad e Marcos Lisboa.

Lisboa e Levy foram imposições do Mercado sobre o Ministério da Fazenda do Palocci.  Mas enquanto Levy cumpria ordens de corte de gastos e investimentos, Lisboa planejava as maldades. O primeiro mandato de Lula não fracassou porque nosso eterno Presidente é um gênio, mas o plano do Palocci e do seu formulador, Lisboa, era de forçar o Lula a indica-lo a candidato a presidente em 2006 como última saída para evitar um colapso financeiro.

 

Lisboa é chefe de Haddad no INSPER, o think tank da alta finança, mantido por bilionários:

 

 

Sobre o INSPER:

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Sobre o Insper, o insuspeito Elio Gaspari:

O EXEMPLO DA PLUTOCRACIA NO INSPER
Elio Gaspari
23/12/2012
Folha de S.Paulo

Em 1999, o economista Claudio Haddad…

(é parente?)

– … comprou a instituição de ensino superior que hoje é o Insper, em São Paulo. Conhecido pelo horror que tem a dinheiro público, transformou uma escola de administração e economia que tinha 660 alunos num educandário exemplar, hoje com 5.000 matriculados.
Em vez de pedir dinheiro à Viúva, busca recursos na plutocracia nacional. A cada ano arrecada cerca de R$ 2 milhões, destinando R$ 700 mil para um fundo de bolsas que ampara 110 estudantes.
Em 2010, Haddad teve a ideia de criar uma faculdade de engenharia que abrisse suas aulas em 2015, com 150 alunos no primeiro ano e 300 no seguinte. Novamente, foi buscar uma coisa na qual ninguém acredita: filantropos na iniciativa privada. Precisava de R$ 80 milhões.
Em um ano, arrecadou compromissos de R$ 85 milhões. Entraram na vaquinha quatro grupos industriais (Ultra, Votorantim, Camargo Corrêa e Gerdau), três bancos (Itaú, Bradesco e BTG Pactual), mais duas fundações (Lemann e Brava), e quatro doadores individuais.
Quando Haddad fundou o Insper, tinha patrimônio suficiente para levar a vida al mare. Nunca tirou um tostão da entidade (botou nela um ervanário cujo tamanho não revela), e desde que fundou o Insper jamais tocou em dinheiro da Viúva. Simplesmente acredita que o capitalismo funciona e que há no Brasil milionários que pensam como ele”.

(…)

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Por falar em “briga de egos interessante entre Haddad e Marcos Lisboa”, lembremos de relato que recebemos, dias atrás, de ex-Secretário da Prefeitura de SP:

“É uma pessoa muito difícil de lidar. Extremamente vaidoso a ponto de isso prejudicar a gestão e a sua autonomia decisória. Estava sempre preocupado com o que era falado dele na imprensa, na Folha e no SPTV (Globo). Perdia muito tempo com isso. Falávamos que o cidadão comum não lia a Folha que não adiantava responder, mas ele insistia em conversar com os amigos dele lá dentro para conseguir notícias positivas e responder as negativas.

Tinha tanta teimosia em alguns pontos que chegava a ser quase suicida. Um exemplo é a questão das ciclovias. Haddad não entendia que para o povo elas não tinham maior significado. Como se compreendesse as razões das classes mais populares melhor que elas. Como podem não querer ciclovias? Inclusive nossos próprios engenheiros de trânsito e especialistas em transporte eram contra muitas das ciclovias, colocadas em ruas estreitas no centro de São Paulo. Eram importantes para passagem de ônibus, que são o meio de transporte principal dos trabalhadores da periferia e bairros mais distantes. Muitas ciclovias prejudicavam o espaço para o transporte de ônibus e tinham que ser construídas com mínimo espaço. Mesmo assi, Haddad insistia. Hoje muitas delas acabaram sendo desativadas – e sem protesto por parte da população supostamente beneficiada pelas mesmas.

Esse perfil vaidoso, preocupado demais com como é avaliado (pelos seus iguais), arrogante, pouco maleável, teimoso e pouco afável é inapropriado para uma liderança que precisa unir um país em frangalho. O PT errará se o escolher”.

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Em tempo: mulher é quem tem culhões no PT

O puxão de orelha público:

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Em tempo (2): a “viúva”

 

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Em tempo (3):

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Em tempo (4):

Na “Boca Maldita”, Gleisi?

Hmmm…

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P.S.: autor da “Ponte para o Futuro” e membro da natimorta equipe econômica de Aécio em 2014…

 

… o “Primeiro-Ministro” dos sonhos de Haddad, Marcos Lisboa, não está nada arrependido. Pelo contrário: segue defendendo, inclusive publicamente, o teto de gastos e as “reformas” anti-povo do Regime Temer. “Haddad é Temer e Temer é Haddad”?

Alguns economistas têm manifestado preocupação com as implicações da emenda do teto na ausência de reformas como a da Previdência. Outros alertam para o risco de descumprimento da regra de ouro. Ambos os receios parecem exagerados.

Caso o país não consiga avançar nas reformas, certamente teremos muitos problemas. Mas cumprir a emenda do teto e a regra de ouro serão os menores deles.

O teto limita o crescimento do gasto público à inflação do período anterior. O problema é que os gastos com assistência e Previdência Social aumentam todo ano pelo envelhecimento da população, o que resulta no rápido crescimento dos benefícios concedidos.

Assistência e Previdência, entretanto, já representam 60% do gasto corrente. Por essa razão, na ausência de reformas para moderar o crescimento desses benefícios, uma das consequências poderia ser a necessidade de comprimir demasiadamente os demais gastos, como apontou recentemente o TCU, levando à paralisação de atividades essenciais de custeio e de investimento nos próximos anos.

A regra de ouro estabelecida na Constituição impede que o governo se endivide para pagar gastos correntes. Nos últimos tempos, esses gastos têm sido maiores do que as receitas correntes e a regra tem sido atendida por meio de expedientes como a venda de ativos ou o pagamento da dívida do BNDES com o Tesouro.

Esses expedientes, entretanto, estão se esgotando, o que significa que, em condições normais, já no ano que vem o país não cumpriria a regra.

As reformas teriam como objetivo combinar redução do crescimento do gasto com aumento da arrecadação para garantir que a dívida pública não saia de controle. Por tabela, permitiriam cumprir tanto a emenda do teto quanto a regra de ouro.

Existe outro caminho, porém nada atraente. Caso as reformas não sejam realizadas, o resultado será a piora da trajetória do desequilíbrio fiscal e, portanto, das perspectivas da economia. As últimas semanas ilustram as consequências.

O câmbio se desvaloriza e a inflação aumenta. Como o Banco Central possui reservas em dólar, cerca de US$ 380 bilhões, isso resulta em um lucro contábil que deve ser transferido ao Tesouro, facilitando cumprir a regra de ouro (existe proposta no Congresso para alterar esse mecanismo). A inflação crescente melhora as contas públicas e reduz os gastos reais, o que também facilita cumprir a emenda do teto.

Caso não retomemos a agenda de reformas, teremos a volta da recessão com inflação e muitos outros problemas, bem maiores do que cumprir a emenda do teto e a regra de ouro. Discutimos demasiadamente temas que se tornarão pouco relevantes, para o bem ou para o mal.

Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

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P.P.S.: que fazer?

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P.P.P.S.: Por incrível que pareça, na Central do Plano B (escondido, sem nenhum destaque na capa, claro):

O Plano B foi consumado, Lula foi obrigado a desistir de sua candidatura e Haddad assumiu seu posto, com Manuela de vice. Passado o calor da hora, sob ânimos menos exaltados, é necessário salientar algumas ponderações.

A primeira delas é que não há nada para ser celebrado, pois sofremos uma derrota acachapante do Golpe que conseguiu exatamente o que planejou: Lula não é candidato, e isso oficializou-se por meio de uma decisão do PT, antes de todos os recursos se esgotarem, principalmente, no que tange às liminares da ONU. Em síntese, o PT tirou a “batata quente” do colo do STF, que, para impugnar Lula, teria que afrontar a ONU, o ordenamento jurídico interno e as próprias biografias de cada ministro. Sob o argumento de que o prazo acabava no dia 11, o que não é verdade, pois, oficialmente, é 17, portanto, mais uma possibilidade de recurso interno e na ONU; o PT se rendeu às ameaças do Golpe e lançou uma chapa substituta. Abaixamos a cabeça, concordamos com os desmandos de um Estado de exceção e jogamo-nos, de peito aberto, em uma eleição fraudada, que será fiscalizada exatamente pelas instituições que avalizaram todas as etapas do Golpe: o Judiciário.

Cabe ao PT, coligados e militância serenidade e respeito ao luto que Lula e seu eleitorado vivem. Foi constrangedor, por exemplo, constatar, ao vivo, que tocava forró, em alto e bom som, durante a pré-cerimônia de anúncio da chapa substituta, em frente a Policia Federal.

O segundo ponto de reflexão tem a ver com afirmações de que a campanha do PT só começou agora, o que soa extremamente desrespeitoso tanto a Lula, como para sua militância, em especial, para o acampamento “Marisa Letícia”, em Curitiba, que heroicamente resiste, há mais de 150 dias, em defesa da liberdade e candidatura do ex-presidente.

Por fim, tomemos cuidado para não adoçar o que é venenoso, ou seja, estejamos alertas para o fato de que foi o Golpe – e não Lula – que desenhou e construiu a chapa Haddad/Manuela, por meio da imposição intransigente de prisão, prazos, indeferimentos de recursos e censuras. Não é agradável essa constatação, eu sei, mas os fatos não nos deixam negar:

1) Lula foi condenado e preso para que sua candidatura fosse totalmente inviabilizada;

2) Lula queria Jacques Wagner como seu substituto, que recusou, porque não concorda com o Plano B diante do contexto atual (implantado pelo Golpe);

3) Lula não queria Manuela como vice, queria mais tempo para articular alianças mais amplas em outros partidos e, talvez, no mercado; porém, diante da imposição, do TSE, de um prazo mais curto para o registro da candidatura, Lula viu-se pressionado pelo PCdoB a ceder a vice-presidência para Manu, e foi o que aconteceu, por meio do “tríplex” provisório Lula/Haddad/Manu;

4) Lula queria participar dos debates e dar entrevistas para apresentar ao povo seu plano de governo, mas o Golpe proibiu, como consequência, Haddad assumiu tal responsabilidade;

5) Lula queria que seus prazos fossem esticados até o máximo para que pudesse lutar pela candidatura até as últimas consequências, o TSE antecipou o julgamento e impôs prazos menores apenas para ele;

Como vemos, nada do que Lula realmente queria foi permitido, e a chapa Haddad/Manuela construiu-se a partir das imposições do Golpe.

Embora indigesta, a percepção de que o golpe conduziu o caminho, passo a passo, para configuração do Plano B é necessária para que não caiamos em mais arapucas, como, por exemplo, acreditar que essa eleição presidencial é qualquer coisa que não a etapa fundamental do Golpe para torná-lo legítimo, dando a ele próprio ares democráticos.

Não se trata, portanto, de Haddad, nem de Manu. Eu reconheço a competência administrativa dele, e admiro e me inspiro no legado dela. A questão não é quem, mas o Plano B em si. Poderia ser Jesus, Brizola ou Mandela ressuscitado que não faria diferença alguma. Inexiste a mínima possibilidade de qualquer oposição ao Golpe vencer esse pleito, e um raciocínio sereno e pragmático que leve a história recente em conta sabe disso. Portanto, a luta deveria instrumentalizar as fragilidades da eleição contra o Golpe, jogando a ilegalidade de descumprir as liminares da ONU no colo do STF, e não fazer exatamente o contrário, como fez o Plano B, livrando os ministros de tal indignidade perante a comunidade internacional, que, a cada dia, deixa explícita seu incomodo com os descaminhos democráticos do Brasil.

Defendo uma resistência que não se limite às eleições, que tenha consciência de que o voto não é soberano quando as instituições democráticas não se submetem à Constituição, vide o que fizeram no impeachment de Dilma. Não existe inteligência numa estratégia que cogite vencer uma eleição fraudada, do início ao fim, de todos os lados. É um processo que interessa única e exclusivamente ao Golpe, e a decisão de aceitar a participação sem Lula é exatamente o que eles precisam.

O PT deveria ter mantido sua promessa ao povo e levar a candidatura de Lula até o fim, assumindo o risco de ficar sem chapa ou ter os votos anulados, cenários que enfraqueceriam enormemente o Golpe, tornando a eleição sem representatividade e altamente questionável, dando ainda mais argumento para ONU aumentar a pressão contra o “Acordo nacional, com STF, com tudo”.

Tínhamos a opção de levar a candidatura de Lula oficialmente, sob os recursos que não acabaram, ou não-oficialmente como norte da insurreição civil e pacífica que já se avoluma, tanto nas pesquisas eleitorais, como nos lulaços pelo país. O período eleitoral poderia ser instrumentalizado para uma intensa educação política popular, explicando didaticamente como o Golpe se deu, instruindo para eleição de bancadas legislativas progressistas e antigolpistas, ou seja, não perderíamos tempo, dinheiro e energia com uma derrota anunciada, ao contrário, focaríamos tudo isso na elaboração de uma oposição popular qualificada e robusta para 2019 em diante.

Porém, ao que tudo indica, o Plano B vai desarticular a Esquerda, pulverizar os recursos, e deixar o incomodo provocado pela violência contra Lula perdido num vácuo ideológico. Quando o previsível acontecer, a população, em especial a militância, estará, mais uma vez, com a autoestima assolada, exausta e sem planejamento, o que nos levará, de novo, ao limbo das lutas contra as emergências que o Golpe cria recorrentemente para nos manipular.

Precisamos ter coragem e criatividade para reconhecer que existem saídas e resistências mais eficazes que estão além e fora das eleições, e que não passam necessariamente pela luta armada. Continuar aceitando as ordens do Golpe vai nos tornar cumplices dele.

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ATUALIZAÇÃO 14/set/2018: “dando nome aos bois” no Duplo Expresso de hoje

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