Plano B’ola nas costas: como BTG Pactual, Eduardo Cunha e doleiro Dario Messer entram na campanha por Haddad

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

Mais uma vez preparamos um condensado do Programa Duplo Expresso de hoje. Nele tratamos das desastradas – e desastrosas – declarações que Fernando Haddad deu ontem à Finança, na sede do Banco BTG Pactual. Teve de correr depois à imprensa (amiga) para tentar apagar o incêndio. Mas já era tarde: a declaração de que poderia apoiar “sem preconceitos” Alckmin num segundo turno contra Bolsonaro já se espalhara pelas redes. Inclusive petistas.

Digna de nota, ademais, é toda a camaradagem que se observa entre Haddad e Reinaldo Azevedo. Simplesmente a pessoa que criou a expressão “petralha” e que se referia a Lula como “apedeuta” (!)

Solícito, num gesto de gentileza “PTucana” que só a USP explica, concordou também em gravar a primeira peça a ser usada como spot de TV pela campanha de Geraldo Alckmin (!): um atestado da honestidade do (suposto) “adversário” (!)

Quem mais notou o ato falho, quando Haddad quase diz ter sido (prefeito) do PSDb…?

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Depois de saber-se que a fala se deu no BTG Pactual, para o pessoal do “Mercado”, o que mais surpreende na entrevista de Haddad é o moderador: Reinaldo Azevedo. E, ainda, o alto grau de camaradagem com que ambos, Haddad e Azevedo, se confronternizaram durante toda a entrevista.

Reinaldo Azevedo não apenas exibe com orgulho o fato de ser um conservador e neoliberal radical… ele foi, durante pelo menos 12 anos, o mais conhecido e prestigiado jornalista hostil a Lula e ao PT na imprensa brasileira. Reinaldo Azevedo simboliza o que há de mais anti-petista na pseudo-intelectualidade do PSDB e na imprensa brasileira.

Azevedo se vangloria de ter criado o termo “petralhas”, bem como de ter escrito alguns livros focados em difundir todo um pensamento de ódio ao PT, dentre os quais: “País dos Petralhas 1”“País dos Petralhas 2”. Sim, isso são títulos de livros. E consta que venderam muito.

De fato, ele é o principal formulador da ideologia anti-petista ultra-radicalizada que foi fundamental para trazer o país para a crise terrível que estamos vivendo. A ideologia de base que inflamou de forma insana parte da classe média, com base em princípio ainda vigente: “qualquer coisa, menos o PT”. Essa ideologia é o fundamento do voto em Bolsonaro e do apoio incondicional à Lava Jato. Operação essa cujos “exageros” só agora Reinaldo Azevedo deplora, uma vez que os efeitos colaterais da mesma respingaram nos seus amigos do PSDB, como Serra e Aécio.

Para quem tem dúvidas, basta visita ao perfil na Wikipedia de Azevedo. Diante dos títulos de alguns artigos dele, pode-se perceber que seu anti-petismo é visceral.

Quer dizer…

Exceto pelo “petista” Haddad, como podemos ver nesse bate-papo descontraído.

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Mas há um link a mais, menos óbvio, entre os articuladores do Plano B dentro do PT e o mesmo banco BTG Pactual, devidamente explorado no Duplo Expresso de hoje (condensado do programa logo abaixo). Foi o BTG Pactual de André Esteves, “heterodoxo” na sua maneira de operar (à la Daniel Dantas), digamos, quem comprou o Banco BSI na Suíça. Era nele que ficavam as dezenas de contas de Eduardo Cunha que financiavam, de maneira centralizada e suprapartidária, seu esquema na política. Os dólares lá chegam valendo-se dos serviços do “doleiro dos doleiros”, Dario Messer, considerado algo como “o Banco Central – paralelo – do Brasil”. O mesmo que vem sendo escondido por Sergio Moro na Lava Jato até aqui. E que vem pagando taxa de proteção ao esquema Moro, via triangulação com o advogado (e “operador” do esquema) Figueiredo Basto, desde o caso Banestado.

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E como essa trama chega ao Plano B?

Perguntemos ao Deputado Wadih Damous. Ele que fica lívido e finge não ouvir quando o ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, respondendo a convite do próprio Deputado, relata em Comissão da Câmara dos Deputados tratativas que testemunhou para a compra do Dossiê Banestado – aquele que compromete, sem volta, Sergio Moro – por ex-diretores da Odebrecht, então ameaçados pelos achaques da Lava Jato:

O – não – trabalho de Wadih Damous em defesa de Lula, inclusive em “grave omissão” (no mínimo) – partindo de um experiente advogado – no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, foi fundamental para o ex-Presidente estar hoje preso:

Não surpreende mais, portanto, que Wadih Damous – constituído mais recentemente advogado por Lula (!) – não só tenha tentado desacreditar, em fevereiro, prova cabal de crimes de Sergio Moro (o documento do Duplo Expresso), como também não tenha vindo até hoje à Suíça buscar, junto à Procuradoria local, as provas da inocência do ex-Presidente. A bem da justiça, ônus esse que Wadih partilha com todos os demais juristas constituídos advogados por Lula até aqui. E são vários. Inclusive Fernando Haddad.

Aliás, num conflito de interesse que grita “B’ola nas costas”, o “advogado” Haddad é o principal beneficiário da derrota desse seu cliente ilustre no TSE, posto que herda automaticamente a candidatura à Presidência.

Dá ou não dá para compreender as performances de “telecatch” em “defesa” de Lula (#SQN) que vimos vendo até aqui?

O Brasil não é, mesmo, para principiantes…

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Condensado do Duplo Expresso de hoje:

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Última fala – vista por nós todos – do Presidente Lula:

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“Bomba” prometida por Paulo Pimenta – que ainda aguardamos, todos, estourar:

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Sobre o esquema da “caixinha suprapartidária centralizada” que Eduardo Cunha levou do Rio de Janeiro para Brasília, segue o relato publicado em novembro de 2017 – para grande incômodo (expresso) do Deputado Wadih Damous:

  • Assessor parlamentar, especialista na política do Rio de Janeiro, faz análise DEFINITIVA do episódio da prisão dos deputados.
  • E com extrapolações – ASSUSTADORAS! – para o nível federal.
  • Em resumo, Eduardo Cunha nada mais fez do que tentar replicar, em Brasília, o esquema que vige na ALERJ há, pelo menos, 30 anos!
  • E o que está ruim sempre pode piorar!

Sobre o seu último post – não posso falar nada publicamente, por razões óbvias.

Mas gostaria de dizer que as empresas de ônibus financiarem a ALERJ é um fato que já está completando (pelo menos) 30 anos. Da mesma forma que as empreiteiras financiaram todos os partidos no âmbito federal, as empresas de ônibus financiaram todos os políticos relevantes no âmbito estadual. Não é à toa inclusive que, por isso, TODOS os partidos de esquerda (até o “incorrupto” e “imaculado” PSOL) se dividiram na votação de ontem. O deputado em questão é deputado de longa data…

Claro que aí vem questões: este esquema começou (ou pelo menos foi articulado de forma mais clara) durante a presidência da ALERJ do Sérgio Cabral. Ele recebia um “mensalão” que distribuía para os deputados (tanto da situação quanto da oposição!) que financiava tanto os deputados quanto as campanhas.

Não havia ingerência sobre se o roubo iria para a “pessoa física” (corrupção em “sentido estrito”) ou para a “pessoa jurídica” (para o partido, “pela causa”): o deputado fazia o que queria com o dinheiro.

Garotinho, eleito governador, tomou conta do esquema e duplicou de tamanho, financiando também figuras da religião que se lançavam na política naquele momento. Garotinho também o estendeu para o financiamento de campanhas de deputado federal (e inclusive, com a aliança com o PT – financiou campanha de alguns do PT à Câmara).

Ou seja, trata-se no fundo de financiamento de campanha para aqueles que não roubavam na pessoa física, e roubo descarado para aqueles que roubavam (Sérgio Cabral sempre foi desse tipo).

Com a ascensão da família Picciani houve o esvaziamento do deputado Paulo Mello (que fazia a interlocução anteriormente). O presidente da ALERJ – Picciani – assim definia basicamente quem teria dinheiro para campanha ou não. E por consequência o assento da presidência se tornava perene e inconteste, foi o que o Cunha tentou fazer no âmbito federal.

Claro que o efeito colateral disso é o péssimo serviço de transporte público que o carioca tem de suportar.

Não sei como estão as provas que o MPF conseguiu do esquema, mas a incompetência do MPF em conseguir provar as coisas já é notória de todos aqui (para quê, se “convicção” já basta, né?).

Agora… o “flagrante” pretenso transformando a indicação do Albertassi em conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (coisa que foi uma jogada política para retomar o controle do TCE depois da prisão de todos os conselheiros políticos pelo Judiciário!) é, no mínimo, absurda. As demais alegações de obstrução (mensagens no celular do Picciani) então são absolutamente normais da atividade política (um presidente de casa legislativa não pode falar sobre o escopo de uma CPI com um deputado proponente?).

E por que esses 3 deputados?

O presidente da casa legislativa, o eterno líder do governo (Paulo Mello sempre foi líder do governo, de todos os governos – mesmo quando não era mais líder ele ainda o era de fato – uma espécie de “Jucá” carioca), e o atual “líder” do governo.

Ou seja, se futucar, não restará “pedra sobre pedra”. Há quem goste disso (como a Dilma… a ingênua que foi a PRIMEIRA pedra a rolar!).

Já eu acho que sempre o que está ruim pode piorar e que numa terra arrasada não nasce grama.

Sem o financiamento das empresas de ônibus, quem terá dinheiro para se eleger?

Minha previsão: Crime Organizado e igreja evangélica.

Resultado: a ALERJ, que já é muito ruim, irá piorar significativamente na próxima legislatura.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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