Golpe vs. Haddad: destino de Lula – e do Brasil – estão selados?
Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Publicado 20/ago/2018 – 19:16
Atualizado 21/ago/2018 – 16:48
- Se o Plano B vier a ser um desastre, é bom que tenhamos em mente que esse trem parece já ter saído da estação. Ou assim quer fazer crer. Isso porque a entrevista ontem à noite de Fernando Haddad à TV Bandeirantes foi uma entrevista “normal”, de um candidato “normal”, que disputa eleições também “normais”. Tudo no melhor figurino “as instituições funcionam normalmente”. Tirando o primeiro bloco, em que se discute a substituição de Lula por Haddad e o destino do primeiro num governo do segundo (notem: o que ficou sem resposta!), nada mais ali daria a entender que o Brasil vive sob um Golpe. Seguiram-se exposições “programáticas”, no melhor estilo sabatina de candidato.
- Se ao menos o tal “programa” refletisse um esboço de reação ao Golpe…
- Que nada! Não surgiram, em momento algum, as palavras “Golpe”, “Pré-sal”, “EUA”, “Lava Jato”/ “invasão da política pelo Judiciário”.
- Percebem como a medida acautelatória concedida pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU em favor de Lula veio a fazer marola num mar sobre o qual o rumo (do Golpe/ Plano B) já estava bem delineado?
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Resumo audiovisual:
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Causou surpresa no meio político hoje a entrevista que o ex-Governador da Bahia Jacques Wagner concedeu ao jornal Valor Econômico. Preliminarmente, nós aqui no Duplo Expresso a interpretamos como veículo utilizado por Wagner para disseminar a sua versão sobre por que teria pedido ao “Pai” para afastar dele o “cálice”. No caso, a sua recusa ao pedido de Lula para que encabeçasse a chapa presidencial do PT.
Colocamos aqui, dias atrás, a nossa leitura a respeito:
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Haddad não era o nome de Lula. Chegaram – politicamente, via composição – a uma lista tríplice. O nome de Lula, goste-se dele ou não, era Jacques Wagner. Haddad, o da máquina do PT. Gleisi vinha em terceiro, como azarão.
Mesmo sendo judeu, Jacques Wagner pediu para o Pai afastar dele o cálice. Disse que sairia apenas se fosse como vice de um Ciro Gomes cabeça de chapa. Para mim, exemplo claro daquele que, em não querendo o negócio concretizado, faz uma proposta que o outro não pode aceitar. A máquina do PT que tem Haddad como campeão não aceitaria Ciro, completamente fora da influência deles, na cabeça.
Fora isso, apesar do convite feito, Ciro não abriu mão do registro da sua candidatura para entrar como vice “de Lula” (nesse caso, com Wagner sendo o terceiro andar do “triplex” – sic). Se fizesse isso, teria de ficar, de maneira temerária, na mão do PT para o registro final como cabeça de chapa, quando Lula fosse rejeitado pelo TSE. Sem chance, obviamente. Sem entrar no mérito – que é da política (*) -, o PT já descumpriu diversos acordos fechados com Ciro até aqui, como, p.e., Dilma sair pro Senado no CE – e não em MG. Até casa foi alugada para ela para a transferência do domicílio eleitoral.
((*) OBS: como magistralmente ensinou Lula à inepta Marina Silva, “política é a gente saber quando pode meter na bunda do outro e quando é a gente quem tem que levar a piroc…da”. Uma das maiores deficiências de Ciro Gomes enquanto político sempre foi não saber levar a “piroc…da” na esportiva. Guarda mágoa)
Mas o importante nisso tudo é:
Por que Wagner não aceitou a cabeça de chapa?
E colocou “Ciro – bode na sala – Gomes” na equação, para frustrá-la?
Porque está eleito Senador.
E Haddad?
Não era mais que um cadáver político, insepulto, depois da derrota humilhante de 2016. Essa candidatura, qualquer que seja o resultado, é a sua única chance de renascer para a política. E, se tiver bom desempenho, tentar pegar o comando do partido no pós-Lula. Pra ele, que não era mais nada no jogo, uma derrota no segundo turno para o candidato do Golpe é boa o suficiente.
- Luiz Nassif, 24/jul/2018. Até hoje não desmentido:
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(…)
Para Wagner, eleito Senador, passar para o segundo turno para, então, ser derrotado não é bom o suficiente.
Entre outras coisas, Wagner era o nome de Lula, justamente, por – como o padrinho – não ser bobo. A derrota está dada. Esse é mais um indício, entre tantos.
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Notem, contudo, a evolução das manifestações públicas de Wagner sobre Haddad/ Plano B. Há exatamente uma semana mostrava-se um entusiasta do descarte de Lula. E o quanto antes:
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Pois, apenas sete dias depois, nas palavras do próprio Jacques Wagner, a tal “estratégia de substituição” vira uma… “farsa” (!):
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O que levou Jacques Wagner a publicizar essa baita “evolução” de opinião, digamos, ao menos retórica, em tão pouco tempo?
A hipótese preliminar era a justificação da renúncia ao “cálice”, lembram?
Em conversa conosco um parlamentar pontuou, contudo, que o timing não poderia ser explicado assim. E que a entrevistas “espontâneas” e “extemporâneas” como essa visariam sempre a passar um recado. Na leitura dessa pessoa, Jacques Wagner quereria se distanciar do Plano B.
Ao que acrescentamos também, talvez, distanciar-se ainda da sina prevista pelos próprios estrategistas do Plano B: “perder no segundo turno”.
Talvez pese para esse distanciamento a incerteza quanto ao real potencial de transferência de votos de Lula para Haddad. Pesquisa publicada justamente hoje afirma que Haddad herdaria apenas 17% dos votos de Lula, conferindo-se ao ex-Presidente 37% dos votos totais no mesmo levantamento.
Ora, 17% de 37% é – apenas – 6,3%!
Trata-se do mesmo patamar em que, na pesquisa, estão empatados tecnicamente Marina, Alckmin e Ciro Gomes:
Pesquisa do instituto MDA e encomendada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) traz o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeiro lugar na disputa presidencial, com 37,3% das intenções de voto. Divulgado nesta segunda-feira (20), esse é primeiro levantamento feito pelo instituto desde o início oficial da campanha eleitoral de 2018, na última quinta (16).
O deputado federal e candidato do PSL ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, aparece em segundo lugar, com 18,8%. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas entre a última quarta-feira (15) e este sábado (18), em 137 municípios de 25 unidades da federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.
A pesquisa não testou cenários sem Lula, que está preso desde o dia 7 de abril, inelegível pela Leia da Ficha Limpa e tem sua candidatura questionada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Resolução da corte estabelece que “os nomes de todos os candidatos cujo registro tenha sido requerido” deverão constar da lista apresentada aos entrevistados durante a realização das pesquisas.
Foram testados na pesquisa os 13 candidatos que pediram registro ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Por ser a primeira vez em que o cenário traz apenas os 13 candidatos ao Planalto, não é possível comparar os índices desta pesquisa com os dados anteriores divulgados pelo MDA. Veja o resultado:
Intenção de voto estimulada para presidente:
- Lula (PT) – 37,3%
- Jair Bolsonaro (PSL) – 18,8%
- Marina Silva (Rede) – 5,6%
- Geraldo Alckmin (PSDB) – 4,9%
- Ciro Gomes (PDT) – 4,1%
- Alvaro Dias (Podemos) – 2,7%
- Guilherme Boulos (PSOL) – 0,9%
- João Amoêdo (Novo) – 0,8%
- Henrique Meirelles (MDB) – 0,8%
- Cabo Daciolo (Patriota) – 0,4%
- Vera (PSTU) – 0,3%
- João Goulart Filho (PPL) – 0,1%
- José Maria Eymael (DC) – 0%
- Branco/Nulo – 14,3%
- Indeciso – 8,8%
Transferência de votos
A pesquisa CNT/MDA não testou entre eleitores um cenário sem o ex-presidente Lula. A pesquisa avaliou, entretanto, quem eventualmente receberia os votos destinado a Lula caso o candidato, inelegível pela Lei da Ficha Limpa, não possa disputar a eleição.
A candidatura de Lula foi questionada e o TSE deve decidir se o ex-presidente, que está preso desde de abril, poderá disputar as eleições de outubro. Por ter sido condenado em segunda instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP), ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e se tornou potencialmente inelegível.
Considerando apenas o universo de eleitores que inicialmente declararam voto no petista (37,3%), o ex-prefeito Fernando Haddad, vice na chapa de Lula, ficou em primeiro lugar, com 17,3% das intenções de voto, seguido de Marina Silva e Ciro Gomes, com 11,9% e 9,6%, respectivamente. Somados, votos brancos e nulos e índice de indecisos representam 47,9% do total.
(…)
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Se o Plano B for mesmo um desastre (e planejado!), é bom que tenhamos em mente que esse trem parece já ter saído da estação. Ou assim quer fazer crer. Isso porque a entrevista ontem à noite de Fernando Haddad à TV Bandeirantes foi uma entrevista “normal”, de um candidato “normal”, que disputa eleições também “normais”. Tudo no melhor figurino “as instituições funcionam normalmente”. Tirando o primeiro bloco, em que se discute a substituição de Lula por Haddad e o destino do primeiro num governo do segundo (notem: o que ficou sem resposta!), nada mais ali daria a entender que o Brasil vive sob um Golpe. Seguiram-se exposições “programáticas”, no melhor estilo sabatina de candidato.
Se ao menos o tal “programa” refletisse um esboço de reação ao Golpe…
Que nada!
Não surgiram, em momento algum, as palavras “Golpe”, “Pré-sal”, “EUA”, “Lava Jato”/ “invasão da política pelo Judiciário”.
É impossível alguém se propor a enfrentar o Golpe sem falar:
(i) da sua causa principal – o Pré-sal;
(ii) dos seus patrões – EUA/ petroleiras/ Finança; e
(iii) dos seus operadores locais – a Juristocracia.
“Enfrentar o Judiciário?”
Haddad passou a léguas disso! Recusou-se a dizer até se daria um indulto presidencial a Lula! E, isso, mesmo diante da insistência de mais de um jornalista na pergunta. Notem: indulto esse que, de todo modo, poderia ser rasgado pelo STF com tanta facilidade como aquela com que o Min. Barroso triturou o indulto natalino de Temer em dezembro último. Indulto natalino esse que, diferentemente da hipótese do de Lula, personalíssimo, era geral e abstrato.
Em vez de acenar com indulto, Haddad disse acreditar é no sucesso dos recursos de Lula no STJ e no STF (!)
Porque não trabalha com a hipótese de o Estado de exceção persistir no ano que vem (!)
Oi?!
Mágica de Natal?
Viva Papai Noel!
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Detalhe: quando, em maio deste ano, Ciro Gomes deu resposta rigorosamente igual…
… petistas, com razão, caíram em cima dele pelo caráter volúvel, e oportunista, dos seus posicionamentos sobre a situação de Lula.
Com Haddad, cujo entorno espalha desde o início do ano, sem nenhuma sinceridade, que ele seria o “Cámpora de Lula”, silêncio até agora:
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Para piorar, mesmo na tal discussão “programática” entabulada por Haddad há mais dúvidas que certezas. Além de o programa não falar em retomada das reservas do Pré-sal roubadas por petroleiras estrangeiras nos últimos anos, Haddad voltou a falar ontem em usar as “reservas internacionais” do Brasil diante do estrangulamento fiscal do Estado. Ontem, na Bandeirantes, disse que utilizaria as mesmas para “investir em infraestrutura”. Antes, falara à revista Exame que as utilizaria para pagar a dívida pública – i.e., a interna (!).
Trata-se de algo totalmente absurdo do ponto de vista econômico. Reservas internacionais, em dólares, pagam por… importações (cotadas em… dólar!). Não há como gastar dólares no… Brasil, onde a moeda é o… Real. Nem para uma coisa (“infraestrutura”), nem para a outra (“pagar a dívida interna”).
Arguendo, só se Haddad propõe algo como:
(1) para infraestrutura, contratar empreiteiras estrangeiras (!) e paga-las, em dólar, lá fora (!); e
(2) para a dívida interna, dolariza-la (!)
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Em síntese – o prognóstico parece sombrio no momento
Com o Plano B “perdendo” (deliberadamente) ou sendo permitido que ganhe diante de uma eventual impossibilidade de fraudar a votação para número muito distante do mostrado pelas pesquisas (por mais manipuladas que venham a ser), parece que os destinos do Brasil – e de Lula – estão selados.
E, em ambos os casos, venceria o Golpe.
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Percebem como a medida acautelatória do Comitê de Direitos Humanos da ONU em favor de Lula veio a fazer marola num mar sobre o qual o rumo (do Golpe/ Plano B) já estava bem delineado?
Afinal, como observamos ontem:
Em suma, a ONU deu xeque no Plano B:
- Somos nós que vamos permitir, comissivamente, que o Golpe possa amanhã dizer que não violou o direito internacional?
- Que não descumpriu a determinação do Comitê da ONU?
- Isso porque vamos – nós próprios – substituir Lula, de livre espontânea vontade, como candidato?
- E justo pelo “fofinho” Plano B?
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Há esperança?
Bem… perguntado sobre o significado da entrevista de hoje de Jacques Wagner, importante quadro do PT do Nordeste relata o seguinte:
Jacques Wagner está expondo o racha no PT para isolar a ala paulista, que, na ausência de Lula, quer mandar em tudo. Liderando o Nordeste, que é onde o PT realmente tem perspectivas, Wagner passa a ser o mais forte.
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“Racha no PT”…
“Nordeste”…
Repito a pergunta:
– Há esperança?
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