Ética, política e a sedução do “Plano B”: o dia em que o Duplo Expresso disse não estar à venda

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

  • Gênio político deliciosamente desbocado na intimidade, o Presidente Lula conseguiu compor um verdadeiro tratado de política de dar inveja a gregos clássicos e italianos renascentistas: “companheira fulana, política é a gente saber quando pode meter na bunda do outro e quando é a gente quem tem que levar a piroc…da”.
  • A traição no PT ao indivíduo Lula e à obra do Lulismo é, mais que imoral para a axiologia do indivíduo, imoral mesmo diante da ética política mais maquiavélica: a do próprio Maquiavel. Sem nenhuma virtù, esses traidores rifam o bem comum, da sociedade, por trinta moedas de prata. Mais que abstencionistas, tornam-se agora coautores, indispensáveis, do Golpe. Ao se venderem receberam, com superfaturamento que certamente hão de conhecer, muito mais do que valiam.
  • Já nós, do Duplo Expresso, seguimos fora dessa feira livre. Meses atrás, quando provocávamos danos à estratégia do Plano B desnudando-lhe a traição, fomos procurados por emissário de um certo líder petista, idolatrado pela militância. Esse, que publica sob pseudônimo em outros blogs, oferecia de tornar-se fonte do Duplo Expresso, com acesso a informações exclusivas.
  • O preço?

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Longe de mim ser moralista. Ainda mais no que concerne à política. Essa, como ensina Maquiavel tem, sim, ética e moral. Mas próprias dessa arte, dita “a mais nobre”. Nela, a chamada “razão de Estado” (raison d’État) e o bem comum, coletivo, muitas vezes podem conduzir, por pragmatismo, a decisões que chocariam a moral e a ética do… indivíduo:

(…)
O realismo extremo impresso em toda (a obra de Maquiavel) rompe com uma tradição oriunda ainda da Grécia Antiga – a da construção de utopias políticas – , para descrever não como o homem deve agir, ou como deve ser o governo, mas sim, como o homem age de fato e como, de fato, é o governo.
(…)
A ética proposta por Maquiavel não admite a existência de uma hierarquia de valores a priori, a partir dos quais nossas ações serão julgadas. (Essa) nova ética analisa as ações tendo em vista suas consequências, seus resultados. A ação política será julgada em função de sua utilidade para a comunidade, ou seja, o critério para a avaliação da ação política é sua utilidade para o grupo social. Desta forma, será moral toda ação que visar o bem da comunidade. Aqui surge um grande problema: A ética, desta maneira constituída, ou seja, estabelecida na prática, a partir das relações efetivas entre os homens, de certa forma, pode vir a legitimar o recurso ao mal, à violência, à guerra, à tortura, à morte, etc. para resguardar a harmonia e o bem-estar da sociedade.
(…)
Ação moral é toda ação manifestamente útil à comunidade, ação imoral é aquela que só tem em vista a satisfação de interesses privados e egoísticos. A virtú, ou a ação virtuosa não consiste, de modo algum, em agir segundo uma ideia abstrata de bem, desinteressando-se de suas repercussões práticas. A virtú consiste em saber aproveitar a occasione proporcionada pela “fortuna”, avaliando, de uma maneira consciente a situação e as possibilidades de ação, para em seguida escolher os meios mais adequados para transformar em realidade a decisão tomada. (…)
(Márcia do Amaral, “Maquiavel e as relações entre ética e política”, 2012)

 

Gênio político deliciosamente desbocado na intimidade, o Presidente Lula conseguiu compor um verdadeiro tratado de política de dar inveja a gregos clássicos e italianos renascentistas. Não em um ensaio, mas sim resumido em pouquíssimas palavras. Palavras essas que, valendo-se até mesmo da vulgaridade, tornam-se de fácil compreensão para o “zé da esquina” a quem tantas vezes esse líder se dirigiu. Aliás, sempre foi nessa capacidade complexa reunindo intuição, síntese, tradução e persuasão que residiu o maior talento de Lula.

Para horror de uma certa moralista – ainda em atividade neste 2018 – que viria a traí-lo (como tantos outros) mais tarde, Lula assim definiu:

– Companheira Marina, política é a gente saber quando pode meter na bunda do outro e quando é a gente quem tem que levar a piroc..da.

 

Certamente, nesse dia Maquiavel se retorceu no túmulo de tanta inveja! Que mané “correlação de forças” o quê…

Falsa e interesseira, apenas depois que Lula saiu do recinto Marina expressou a sua reprovação, qualificando-o já naquela época – décadas atrás – como “um vulgar, um indigno”. Sim, porque Marina vê a política como missão, carisma, unção divina. Pouco importa para essa (pseudo) “moralista” que os meios que venha empregando até aqui para tentar, paradoxalmente, ar-ran-car de Deus essa tal “unção” (?) não sejam nada morais. Registre-se contudo que, para o bem da coletividade, (sábio) capricho divino teima em manter o óleo por que anseia bem afastado da testa de Marina.

Graças a Deus!

(literalmente)

Na verdade, é justamente a incapacidade de Marina de compreender a genialidade dessa síntese bem profana de Lula que mostra que “indigna” da política é…

– … ela própria!

Mas voltando ao início…

Longe de mim cair no equívoco trivial – e grave para uma “profissional” (?) como Marina – de confundir política e moral (do indivíduo).

Portanto, nada tem de moralistas as reprovações que temos feito no Duplo Expresso ao círculo de traidores no PT. Aquele que, em concertação com seus inimigos (i.e., os ostensivos), levou Lula à prisão e cassou, do povo brasileiro, o direito de votar nele para Presidente. Embora esses traidores não tenham mesmo caráter – o do indivíduo –, o problema não reside aí. O problema é, isto sim, político: violam – por ganhos pessoais, mesquinhos – a ética própria da política. Traem, para além do indivíduo Lula, o bem comum, da sociedade.

Nada justifica aceitar fazer parte de uma farsa, uma eleição com resultado já pré-determinado – em que recorrer-se-á até mesmo à fraude na totalização na medida do necessário –, quando a sua consequência concreta será a legitimação do Golpe, continuado e gradual (creeping coup d’estat), que vimos sofrendo desde 2013.

Note-se que, conforme o que projetam, a legitimação “pelas urnas” (sic) não para na “vitória” de Alckmin: ela é dupla! Unge-se também, na mesma tacada, com a derrota pré-programada (por ambos os lados) de Fernando Haddad no segundo turno, a “oposição” – consentida – ao Golpe. Aquela que passará 8 anos assistindo de camarote, no Parlamento, ao fim da soberania nacional, da viabilidade de um projeto de desenvolvimento autônomo, à desnacionalização de nossas riquezas naturais e à reprimarização da economia.

Nem tudo estará perdido, contudo: abundarão cartazes coloridos e narizes de palhaço ostentados por deputados e senadores “vermelhos” nos seus respectivos plenários. Bem como as lives de facebook. Afinal – nas redes sociais – sempre “vai ter luta”, não é mesmo?

Já devem até estar reunindo assessores para bolar as novas hashtags… afinal, #LulaValeaLuta #LulaPresidente #LulaCandidatoSim e #LulaLivre #EleiçãoSemLulaÉfraude ficaram, não mais que de repente, ultrapassadas…

Aliás, por falar em assessores de comunicação (de tucanos de camisa vermelha) e redes sociais, a atual geração é um primor de sagacidade (#SQN):

“Lula, Haddad e Manuela são o verdadeiro triplex”

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“O candidato mascarado”

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Tudo isso para concluir que a traição no PT ao indivíduo Lula e à obra do Lulismo é, mais que imoral para a axiologia do indivíduo, imoral mesmo diante da ética política mais maquiavélica: a do próprio Maquiavel. Sem nenhuma virtù, esses traidores rifam o bem comum, da sociedade, por trinta moedas de prata. Mais que abstencionistas, tornam-se agora coautores, indispensáveis, do Golpe. Ao se venderem receberam, com superfaturamento que certamente hão de conhecer, muito mais do que valiam.

Já nós, do Duplo Expresso, seguimos fora dessa feira livre. Meses atrás, logo após a prisão de Lula, quando insistíamos em provocar danos à estratégia do Plano B desnudando-lhe a traição, fomos procurados por emissário de um certo líder petista. Um dos poucos, fora Lula, idolatrado pela militância e com ascendência sobre o partido. Esse, que publica sob pseudônimo em outros blogs, oferecia de tornar-se fonte do Duplo Expresso, com acesso a informações exclusivas.

O preço?

Não mais criticar Haddad.

Ou expor as maquinações do Plano B.

Educadamente agradecemos o contato. E não voltamos a procurar esse importante – e sofrido – líder petista.

Nessa decisão, tomada sem sequer precisar muito refletir, motivou-nos não a moral individual, aquela que dita que não nos vedamos nunca, mas a política: afinal, aquele “plano” escrevia-se com “B” de B’astardo do Golpe, de B’ancos e, incidentalmente, de B’ola nas costas. Mais que nas de Lula, nas dos 208 milhões de brasileiros.

Cada um conhece o seu preço.

Não sou eu quem vai julgar.

Para isso, temos a História.

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P.S.: artigo em memória da grande mestra e querida amiga Profa. Maria Lúcia Montes (“uspiana” sim, senhor, da melhor cepa), que de Maquiavel e política sabia tudo e mais um pouco. No paradoxo que vivemos por conta da luta, foi o maior presente que o Golpe me trouxe.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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