99%, UNÍ-VOS – Uma Síntese Desenvolvimentista
Por Hélio Silveira¹, Gustavo Galvão² e Rogério Lessa³, para o Duplo Expresso
Temos nos batido por uma esperança, que a geração “web” tome consciência de seu poder ao ser esclarecida contra “as informações” da máquina de “fake news” que nos rodeiam 24 horas por dia. Se uma pequena parte dos 99%, digamos uns 10%, entender realmente a nossa mensagem, compartilhar e se tornarem esclarecedores/ multiplicadores do Desenvolvimentismo/Pleno Emprego, então, efetivamente criamos um fato e uma tendência.
Então, faremos uma síntese das questões que colocamos nos nossos artigos. Eles seguem uma sequência cronológica histórica.
Demonstramos, em termos de Economia Política:
1-Os erros históricos dos dogmas liberais: no artigo: “Liberalismo: ‘fake news ou bad news’?” . Mostramos os erros que levaram a Economia às crises de 1929 ainda no capitalismo produtivo e em 2008 no capitalismo financeirizado e, em ambos os períodos, o “Grande Estado e o Grande Banco” tiveram que atuar como instituições de última instância.
Apresentamos a moderna teoria econômica divulgada pela escola das Finanças Funcionais – FF (o uso desenvolvimentista do Déficit/Dívida Pública/Investimentos Públicos para agir de forma complementar com o setor privado e atingir e manter o Pleno Emprego e do mecanismo do EUI – Empregador de Última Instância);
2 – Detalhamos em “A saída da crise ao alcance da mão, Parte 1: Ciclo político, democracia e bilionários” como Kalecki, no artigo “Os aspectos políticos do pleno emprego”, em 1944, ainda na fase do capitalismo produtivo, dizia que os empresários não queriam a presença do Estado, depois que a Economia era recuperada, pois temiam que em uma situação permanente de Pleno Emprego, eles perderiam a primazia de ser o agente protagonista da Economia e perderiam força política, eles abriam mão de parte dos lucros para manterem a dominância política sobre o Estado e os trabalhadores.
3- Em “A saída da crise ao alcance da mão, Parte 2: o emprego e ‘o Grande Banco”’, mostramos, conforme Minsky em sua tese HIF sobre a atualidade da economia financeirizada, as 3 fases(momentos) do ciclo econômico – hedge, especulativo e “Ponzi”, quando ele explica que o sistema e as autoridades econômicas ao não terem percepção que as empresas estão em momento Ponzi( superendividadas) podem deflagrar uma crise ao alterarem, por exemplo, as taxas de juros para cima. Fato semelhante aconteceu em 2008, quando o “Grande Estado e o Grande Banco”, conforme denominação de Minsky, atuaram como emprestadores de última instância.
Ainda neste artigo apresentamos duas entrevistas de Wray onde ele explica didaticamente porque Déficit Público e Dívida Pública, ao contrário do senso comum incutido por séculos de liberalismo, são medidas de fomento (desenvolvimento) e que um Estado Soberano emissor de moeda e com câmbio livre tem ampla autonomia e diversos instrumentos nas áreas fiscais e monetárias para levar a Economia ao Pleno Emprego e ainda apresenta o programa de Empregador de Última Instância- EUI para eliminar o desemprego residual e estrutural (advindo da alta tecnologia).
Conforme mostramos no artigo, tivemos a satisfação de vermos, em prática, no BNDES, uma ideia –o arranjo institucional BNDES-TESOURO – que lançamos em agosto de 2008(um mês antes da crise) e que foi aplicada no Banco, pelo Governo Federal em janeiro de 2009.
De fato, ao longo de 2009, o Governo Federal com o BNDES o BB e a CEF como “Grande Governo e os Grandes Bancos” resgataram grandes empresas em situação “Ponzi” endividadas em dólar e aceleraram programas de crescimento (o PAC). O crescimento 0% de 2009 alcançou 7,5% em 2010.
4- Em “Dois caminhos pós 2008: liberalismo X desenvolvimentismo” comentamos como 10 anos após a crise os dois blocos do mundo se comportaram em seus sistemas econômicos.
O Ocidente: retomando as práticas liberais de mercado encontra-se com ativos financeiros especulativos valorizados, mas com a Economia em baixo crescimento e desemprego.
O Oriente: seguindo a lógica desenvolvimentista desenvolve um Plano Estratégico de Médio/Longo Prazo com diversos projetos circulando pelo mundo baseados na concepção de uma nova “Rota da Seda” com visão de integração, comércio e logística. A resultante é alto crescimento e desemprego reduzindo.
Evidente que riscos geopolíticos estão envolvidos conforme infelizmente presenciamos, nas guerras comerciais, políticas e até infelizmente bélicas, entre os dois blocos.
5- Em “A saída da crise ao alcance da mão, Parte 3: Coincidência ou curto circuito divino nos jornais?” registramos a coincidência de que quando citamos que Kalecki, em sua análise política: “Os aspectos políticos do pleno emprego”, dizia que o empresariado quando contrariado em seu “estado de confiança ” em relação ao Estado ameaçava influir negativamente na Economia. Então, “coincidentemente”, aparece matéria jornalística citando o “abalo na confiança” uma estimação do “estado de confiança” do empresariado nacional que não está satisfeito com a atual conjuntura. Só que aqui no país, quando eles estão contrariados se recolhem em boas aplicações “rentistas”.
Então, a síntese:
A escolha do lado político: A Social Democracia dos anos dourados 45/71 – O Estado do BEM ESTAR SOCIAL com PLENO EMPREGO.
As Finanças Funcionais- FF comprovam que o Estado, qualquer Estado, tem instrumentos para promover o Desenvolvimento Econômico e manter a Economia no PLENO EMPREGO, isso aconteceu de 1945 até os anos 70. Obviamente pode acontecer a qualquer tempo.
Desde 2008, vivemos sempre com uma sensação que a crise “ronda a porta”! A história demonstra que não são as políticas liberais que tiram o Ocidente da recessão, ao contrário, elas conduzem-no às crises sérias. Tanto em 1929 como em 2008 foi a intervenção do “Grande Governo e do Grande Banco” à la Minsky” que salvou o sistema capitalista. Então, não foram as leis liberais do Estado Mínimo, ao contrário, foram as medidas heterodoxas desenvolvimentistas dos Estados Fortes sobre o espectro político da social democracia ou também conhecida como o “Estado do Bem- Estar Social” que alcançaram o Pleno Emprego. Tanto na Europa como nos EUA foram anos de fartura e felicidade. O mundo aprendeu por repetição histórica que só as medidas desenvolvimentistas de um Estado atuante da social democracia são antídotos às leis ortodoxas do liberalismo.
Mas então, por que o crescimento não se manteve permanentemente? Em “A saída da crise ao alcance da mão, Parte 1: Ciclo político, democracia e bilionários” e “A saída crise ao alcance da mão, Parte 2: o emprego e ‘o Grande Banco’”, descrevemos que Kalecki dizia que os empresários tão logo a Economia saía da crise agiam politicamente para retirar o Estado de cena e a Economia do Pleno Emprego para voltar as práticas liberais; já Minsky explicava que períodos longos de crescimento tendem a diminuir a aversão ao risco pelos empresários que tornam-se mais ousados e tendem de novo à operações especulativas, ao endividamento excessivo (“Ponzi”) e formações de bolhas.
Infelizmente, será preciso um novo terremoto econômico para voltarmos às práticas desenvolvimentistas do “Estado do Bem-Estar Social” em que todos ganham, empresários e trabalhadores? É cruel, o mundo acumula conhecimento histórico tanto para avaliação prévia de situações de instabilidade quanto dos instrumentos para levar a Economia ao Pleno Emprego, entretanto, governantes só as usam nos pós crise!
O resumo do Desenvolvimentismo/Social Democracia/Bem-Estar Social/Pleno Emprego/Cidadania Plena
A História nos ensina:
– De 1945 a 1971 o Estado em complemento ao setor empresarial produtivo e sob espectro político da Social Democracia promoveu os anos dourados do Desenvolvimento Econômico com Pleno Emprego conhecido como “Estado do Bem-Estar Social.
– O sonho acaba quando o empresariado financeiro domina politicamente os Estados e recomeçam suas práticas especulativas na criação das operações financeiras com os “eurodólares” e depois os “petrodólares” culminando com a crise da dívida dos países em desenvolvimento em 1982. De novo órgão do Estado Liberal (FMI) intervêm para salvar as “alavancagens especulativas” do sistema financeiro privado.
-Anos 90, queda do muro, neoliberalismo, desmanche de Estados Desenvolvimentistas através de privatizações e desregulamentações.
– Século XXI primeiros 8 anos, “supercrise” dos “subprime”, “Grande Governo/Grande Banco” intervêm em última instância para salvar o sistema financeiro privado de suas “alavancagens especulativas”. De novo? Até quando?
– Dois Caminhos, o mundo se divide: O Ocidente com “austericídio”/ baixo crescimento/desemprego e altas “alavancagens especulativas”. O Oriente com forte crescimento/Projetos de Desenvolvimento para as próximas décadas. Resultante: estado de tensão, fricções geopolíticas com guerras comerciais e conflitos localizados.
-Através das redes sociais temos conhecimento tanto das “fake news” como das “true news”.
O que nos impede de escolhermos politicamente o Estado Desenvolvimentista, do Bem-Estar Social sabendo que tecnicamente, ele hoje tem capacidade de prever possíveis momentos “Ponzi” corrigir e promover permanentemente o Desenvolvimento Econômico/Pleno Emprego/Cidadania Plena?
Como escolhemos nossas convicções entre as várias opções a seguir?
Sou dos 1%. Não quero o Estado Desenvolvimentista se metendo, exceto, como sempre, nos salvando nas crises!;
Sou dos 1%. Mas entendo que o Estado Desenvolvimentista deveria ser complementar na Economia e mantermos o Pleno Emprego!;
Sou dos 99%. Mas sonho em ser dos 1%, não aceito o Estado Desenvolvimentista se metendo!;
Sou dos 99%. Mas entendo, se todos tiverem consciência, chegaremos lá, só a boa convivência entre o Setor Privado e o Estado Desenvolvimentista promove permanentemente o Estado do Bem-Estar Social Pleno Emprego/Plena Cidadania; e
NRA. Sou alienado!
Post Scriptum: se os 99% se unirem a opção 4 se torna verdadeira e se você fizer parte dela, compartilhe este artigo!
1 Economista aposentado do BNDES
2 Economista do BNDES, doutor em economia pela UFRJ
3 Jornalista Econômico da AEPET – Associação de Engenheiros da Petrobras
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