Semana errada para morrer: por que você não sabe quem é Paulo Sérgio Almeida Nascimento

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Uma semana depois que “deu até na BBC” a notícia do “duto clandestino” da Hydro, multinacional norueguesa, produtora de alumínio, que tem como principal acionista e controlador o governo da Noruega, era assassinado a tiros, em Barcarena (PA), o Líder comunitário Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47 anos, engajado ativista, conhecido pelas denúncias de crimes ambientais e agrários. Foi Paulo quem primeiro denunciou os crimes desta empresa nórdica.

A notícia foi timidamente divulgada pela grande imprensa brasileira, inclusive na mídia alternativa. Havia no entanto uma grande possibilidade do assunto voltar a ser o centro do debate, graças ao esforço de ativistas para dar a devida repercussão internacional. A tendência era de debatermos a entrega das nossas riquezas para empresas privadas internacionais e a certeza de que semelhantes e sucessivos crimes ambientais são e serão praticados.

Há poucos anos, o desastre ambiental em Mariana foi apenas mais um dos que passamos a ter conhecimento, lamentavelmente, assim como o “duto clandestino” do Pará, muito mais pelas consequências. Nada era conhecido ou debatido sobre as ações preventivas capazes de impedir o avanço contra a natureza e as vidas humanas relacionadas ao espaço geográfico em questão.

O atentado terrorista (aqui no Duplo Expresso consideramos assim) contra a vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, reascendeu o oportuno debate em torno da segurança pública. Entre “Datenas” e “Arapongas”, somos invadidos por informações e opiniões que mais atrapalham do que ajudam. Em tempos de instituições falidas, todos são suspeitos e já estamos todos condenados pela falência da credibilidade daqueles que deveriam zelar pelas leis e constituição.

Paulo Sérgio morreu na semana errada. Sua causa, nobre como a de muitos anônimos, foi engolida pela, necessária, importância dada à comoção nacional em torno da morte da vereadora carioca. Precisamos retomar o caso Paulo Sérgio para o centro do debate. A entrega das nossas riquezas e a exploração irresponsável feita por empresas estrangeiras sem o menor compromisso com o Brasil e os brasileiros são sementes podres que renderão frutos ainda piores.

Nunca é demais lembrar que a Noruega patrocinou o golpe e foi a primeira beneficiária da entrega do pré-sal. Este país que vende ao mundo a imagem de ético e que possui um dos melhores IDH do planeta é também aquele que sedia o Prêmio Nobel da Paz. Parece perfeito!

Surpreende que ainda há quem sonhe que Lula seja este ano o vencedor deste prêmio. Ignora que esta premiação política visa manter viva no imaginário do planeta a narrativa da OTAN e as novas formas de imperialismo, impostas através de guerras híbridas, pelo capital financeiro, como a vivida no Brasil.

Paulo Sérgio foi assassinado depois de desnudar uma empresa norueguesa que polui importante rio da Floresta Amazônica. A preservação desta floresta é uma das falsas bandeiras empunhadas como atestado de “imagem ética” dos noruegueses aos olhos do mundo. Fica a dica para os investigadores. E que Paulo Sérgio seja o nosso novo Chico Mendes.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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