Análise: Facebook grita “MBL” e (patos?) vermelhos cavam a própria cova

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Publicado 28/jul/2018 – 18:52
Atualizado 29/jul/2018 – 11:20

  • A decisão – de um monopólio – foi tomada por um “tribunal” privado (do Facebook). Na verdade, mais que privado, oculto. Seguindo “leis” também privadas. “Leis” essas, se não ocultas, descritas de forma muito genérica nas tais “políticas” do Facebook. E, fora relatos bastante vagos na imprensa, sem a publicização de como foi feita, pelo tal “tribunal”, a subsunção entre o “ser” e o “dever ser”. Ou seja, não ficamos a saber (i) detalhes dos perfis bloqueados; (ii) o enquadramento exato que sofreram nas “leis” do Facebook; e (iii) a modulação das consequências de tal enquadramento.
  • Costumo dizer que o meu mal é ter memória. Mas, além disso, parece ser também ter mais de 2 neurônios. E, assim, conseguir (i) pensar abstratamente; (ii) fazer extrapolações; e (iii) analisar, de maneira sistêmica, implicações da universalização de determinados silogismos, aparentemente “inofensivos”. Quando não “benignos” (!)
  • Alega-se, vejam só, “uso de nome falso”.
  • E o militante de esquerda que está no Brasil? O nacionalista? Aquele que, temendo retaliações, prudentemente protege a si – e aos seus – por detrás de um pseudônimo?
  • Que poderá ele fazer quando o Facebook expuser sua identidade a traficantes e assassinos (incidentalmente com mandato e/ ou disputando cargos eletivos)?
  • Que poderá ele fazer quando o “tribunal” – privado e obscuro – de um monopólio americano próximo às NSA da vida fechar sua conta porque usa “nome falso” (sic)?
  • Poderá “recorrer ao Judiciário (nota: o Judiciário da Lava Jato!), como em qualquer outra quebra de contrato” – como sugere o (“globalista” e entusiasta das redes sociais americanas) Sakamoto?
  • “Entre o ser e o crer que já se é vai a distância entre o sublime e o ridículo”, diria Ortega y Gasset.
  • Ao que acrescento que, por trás de aparentes “ingenuidades” e “boas intenções”, esconde-se muita malícia. Pronta a aproveitar-se de uma massa de patos – bicolor – a quem se nega raciocínio sistêmico. Mais que isso, aproveita-se, em especial, certo reflexo pavloviano, na sua modalidade “vermelho” vs. “azul”.
  • Grita-se: “MBL… MBL… MBL…”!
  • E patos vermelhos, cegados pela rivalidade, correm para o despenhadeiro.
    (pior: com sorriso nos lábios!)

*

Há 2 semanas assisti a um vídeo em um canal no Youtube que anunciava, sem delongas, que encerraria as suas atividades. Isso, depois de 6 anos de esforços não remunerados. Produtora independente de conteúdo sobre cultura, a apresentadora colocou ali uma colagem de vídeos de vários outros youtubers, também independentes, descrevendo como essa plataforma de vídeos – do Google – vem pouco a pouco apertando o garrote sobre eles, com sucessivas mudanças nas suas “políticas”. Faz isso por meio de, entre outras coisas:

(i) boicote financeiro (“desmonetização”); e

(ii) invisibilidade nos feeds dos usuários, reduzindo – em ambos os casos – os acessos.

Como sempre, conseguem tais resultados por culpa, “exclusiva”, da atuação dos infames – e “impessoais” – “algoritmos”.

Como exemplo concreto, já não basta mais assinar um canal no Youtube para receber as notificações de conteúdo novo. Agora, além disso, o usuário tem que acionar um tal “sininho”.

Ok… a assinatura, então, vale para quê, exatamente?

Não seria o propósito da mesma, justamente, enviar notificação ao assinante?

Mais que isso, agora os “algoritmos” é que decidem qual conteúdo exibir no feed dos usuários. E nos e-mails que lhes enviam. Fazem isso de acordo com o critério da “relevância” (sic), em vez da ordem cronológica entre os diversos canais assinados.

Pois adivinhe você, leitor, o que seria mais “relevante” para o algoritmo do Youtube…

– Um vídeo do Duplo Expresso?

– Ou um da Folha de S. Paulo?

*

Saindo do monopólio de hospedagem de vídeos do Google e passando ao da difusão de conteúdos do Facebook, quem usa essa rede social bem conhece – ou deveria conhecer – a aplicação desses mesmos “critérios”. Tanto (i) a não-notificação automática de páginas – assinadas – como default de configuração; como também (ii) o uso do critério da tal “relevância (algorítmica!)” para exibir – ou não – conteúdos nos feeds dos usuários.

*

Alguma dúvida sobre onde – quando o bicho pegar no processo político em setembro e outubro – vão se situar esses tais “algoritmos” do Facebook e do Google (Youtube)?

Ambos, monopolistas – americanos – que cooperam estreitamente com as agências de inteligência do seu país?

*

Para além disso, causa perplexidade, senão exasperação, observar a reação – exultante – de setores da esquerda à suspensão de páginas e perfis vinculados ao MBL nesta semana. Como disse no Twitter logo que a notícia saiu:

 

Não, nós não caímos na falácia de enquadrar o direito à liberdade de expressão como absoluto, a abarcar – também – discurso de ódio.

Ocorre que tal decisão – de um monopólio – foi tomada por um “tribunal” privado. Na verdade, mais que privado, oculto. Seguindo “leis” também privadas. “Leis” essas, se não ocultas, descritas de forma muito genérica nas tais “políticas” do Facebook. E, fora relatos bastante vagos na imprensa, sem a publicização de como foi feita, pelo tal “tribunal”, a subsunção entre o “ser” e o “dever ser”. Ou seja, não ficamos a saber (i) detalhes dos perfis bloqueados e suas ações; (ii) o enquadramento exato que sofreram nas “leis” do Facebook; e (iii) a modulação das consequências de tal enquadramento.

A leitura – mais atenta – de artigo posterior do Blog do Sakamoto mostra que eu estava coberto de razão ao “ousar”, mais uma vez, ir contra uma manada (de patos vermelhos). E demonstrar apreensão naquele tuíte. Certos pontos do artigo de Sakamoto deveriam provocar arrepios em quem, na esquerda, tem mais de 2 neurônios:

(atenção aos grifos)

(…)

A justificativa do Facebook é de que as páginas e perfis desrespeitavam o contrato assinado pelos usuários ao aderirem ao serviço. Teria sido violada a autenticidade – regra que inclui a proibição de criar, gerenciar ou perpetuar contas falsas, contas com nomes falsos e contas que participam de ”comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de enganar as pessoas”.  Sobre a origem do conteúdo, sobre os destinos dos links externos, na tentativa de conseguir engajamento.

(…)

De acordo com a explicação dada pelo Facebook, a rede não foi excluída por ser um grupo de páginas distribuindo notícias falsas. Mas porque, segundo a investigação da empresa, que envolveu profissionais dos Estados Unidos, Holanda, Índia, México e Brasil, entre outros países, havia um sistema elaborado voltado à manipulação do debate público.

[Nota D.E.: Ah, sim… “imparciais”, portanto…
Ah, esse “globalismo progressista” (sic)…
“O ‘internacional’ é sempre nacional de algum lugar”, já disse um sábio]

(…)

E isso vale para cebolas de direita, de esquerda, de centro. Tanto que a plataforma deve usar o mesmo padrão elaborado para esse caso a outras redes, independentemente da ideologia, até outubro.

(…)

6) A difusão de conteúdo na internet baseia-se em dois pilares: relevância (você precisa ser bom naquilo que fala)…

[Nota D.E.: olha ela aí de novo… a tal da “relevância (algorítmica!)”…]

… e autoridade (as pessoas reconhecem que você é bom ou confiável através de likes e compartilhamentos). Com isso, reputação é erguida a partir do zero sobre um assunto, empresa ou político.

[Nota D.E.: “reputação é erguida a partir do zero”? oi?!]

(…)

A rede excluída hoje é apenas a ponta do iceberg de um ecossistema extremamente complexo de manipulação da opinião pública que será usado tão exaustiva quanto silenciosamente durante a campanha eleitoral por todo o espectro político. Há construtores de realidade que vão se empenhar para controlarem a pauta da esfera pública ou para modelar desejos e vontades através de big data, psicometria e inteligência artificial até o final de outubro.

(…)

Há uma guerra sendo travada nas redes sociais. Sem que a maioria de nós saiba, ao menos, o nome real daqueles que vão nos atingir.

(…)

Por fim, além do meu texto, foram vários os que explicaram que a remoção das páginas e perfis não se deu por divulgação de notícias falsas, mas por desrespeitar – na opinião da empresa – suas regras de autenticidade. Ou seja, utilização de perfis e páginas falsas que agem junto com outros, de forma coordenada, a fim de manipular. O que, segundo o Facebook, fere o contrato.

A partir de agora, os que acreditam terem sido prejudicados devem recorrer à Justiça, como ocorre com o rompimento de qualquer contrato. E, diante disso, os que romperam o contrato também vão se defender judicialmente.

(…)

*

– “Ano eleitoral”…

– “Contas falsas”…

– “Nomes falsos”…

– “Manipulação do debate público”…

– “Recurso ao Judiciário (atenção: o brasileiro!)…”

*

Soa-me familiar tudo isso, sabe…

Mas onde foi que já vi isso antes, hein?

Hmmm… acho que já sei a resposta:

 

Sessenta e seis usuários do Twitter estão sendo processados pelo ex-governador de Minas Gerais e candidato à presidência da República Aécio Neves (PSDB). A acusação é de que os perfis do microblog estão difamando a imagem do político por meio de uma rede que compartilha e cria “conteúdo ilícito, ofensivo e mentiroso”. Todas os denunciados tem ligação ou simpatia com PT.

Segundo a queixa que consta no processo 1081839-36.2014.8.26.0100, os 66 perfis interagem entre si com publicações semelhantes e redirecionam links entre eles – todos com materiais supostamente falsos e ofensivos. O tucano ingressou com uma Ação de Obrigação de Fazer contra o Twitter. O requerimento pede que o site preserve e forneça todos os dados cadastrais e registros eletrônicos (IP, data, hora e porta de comunicação) atrelados à criação e acessos das 66 contas.

 

Vinte tuiteiros terão seus dados cadastrais entregues aos advogados de Aécio Neves por terem associado o senador do PSDB a práticas criminosas e consumo de drogas durante a campanha eleitoral.

A decisão da Justiça de São Paulo saiu no último dia 12 foi e noticiada hoje pela Folha. Com essas informações em mãos, a equipe do tucano poderá identificar os internautas e abrir ações contra cada um individualmente.

Originalmente Aécio pedia a quebra de sigilos cadastrais de 66 pessoas, mas depois acabou retirando o nome de 11. Outros 35 foram isentados pela própria Justiça por terem apenas compartilhado links já publicados na internet. Na visão do juiz Helmer Augusto Toqueton Amaral, o restante de fato produziu conteúdo que vincula Aécio ao consumo e ao tráfico de drogas.

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Costumo dizer que o meu mal é ter memória…

Mas, além disso, parece ser também ter mais de 2 neurônios. E, assim, conseguir (i) pensar abstratamente; (ii) fazer extrapolações; e (iii) analisar, de maneira sistêmica, implicações da universalização de determinados silogismos aparentemente “inofensivos”. Quando não “benignos” (!)

Alega-se, vejam só, “uso de nome falso”….

Talvez, no caso particular, tenha sido auxiliado pelo fato, bastante concreto, de:

(i) ter mantido contato com diversos dos (alegados!) “fakes” da lista do Aécio, que nada mais eram do que pessoas – reais – que utilizam pseudônimos para se protegerem de retaliações de alguém que “se precisar mata até primo” e que ri, em grampo, quando o parceiro Zezé Perrela diz que “não faz nada de errado… só trafica droga”;

(ii) ter eu mesmo sofrido com a violação do compromisso, formal, de resguardo do meu nome real (Romulo Brillo) pelo uso de pseudônimo (“Romulus”) para a militância política. Por temer – com fundamento – retaliações profissionais em um meio extremamente conservador (o do Direito).

Quem acompanha o Duplo Expresso há mais tempo há de lembrar de como o “jornalista” Luis Nassif, numa mistura de vendeta pela exposição de possível acerto “financeiro-editorial” seu com Eduardo Cunha (em dezembro de 2017) e possibilidade de ganho em nova parceria “financeiro-editorial” (desta vez com dois Deputados do PT cuja atuação foi colocada em xeque pelo D.E.), rompeu o compromisso de sigilo que assumira comigo quando me convidou para escrever um blog no seu portal.

Para piorar, tendo ele criado uma (alegada) “agência de checagem” (rs)…

 

– … para, assumidamente, poder tentar – sem sucesso – somar-se ao PIG no cartel constituído pelo Facebook para a censura de (alegadas) “fake news”…

(no cúmulo da cara de pau, mostra-se – i.e., depois de recusado… – contrário ao “perigo” da (alegada) “checagem” de “fake news” pelo Facebook, registrando expressamente a dimensão política e geopolítica do uso do termo)

(…)

(…)

 

– … produziu, ele mesmo (em parceira com tais Deputados), o “dossiê” fajuto/ “fake news” mais fácil de desmontar objetivamente – com direito até a (constrangedores) prints e relato “on the record” (de funcionário da ONU).

Diferentemente dos tuiteiros do Aécio (e também da minha própria família, registre-se), vivo na segurança dos Alpes suíços. Portanto longe (em princípio) da possibilidade de retaliação física por parte de quem “mata até primo” e “só trafica droga”. Ou, em outro caso, de quem participa de “caixinhas” mafiosas por aí, sabe…

Mais que isso, além de não poder ser acossado por lawfare político, num Judiciário partidarizado (o brasileiro), tive meios de me defender na própria internet, com artigo-resposta com acessos contados às centenas de milhares.

 

Além de vídeos também com grande número de visualizações.

*

No bloqueio de contas do MBL, o Facebook alega “uso de nome falso”.

Com a mesma regra (convenientemente) “genérica” podem derrubar a qualquer momento, portanto, a conta que mantenho desde 2014 para militância política com liberdade, sem medo de represálias profissionais:

(quer dizer, até vir a ser exposto, de maneira desleal e antiética, por Nassif)

“Nome verdadeiro”

vs.

“Nome falso” (sic!):

vs.

O resultado no Google, depois da exposição por Nassif, da busca pelo meu “nome verdadeiro”. Algo que qualquer empregador em potencial faria antes de uma possível contratação:

 

(Nota: DCM no primeiro resultado. Outro veículo da ‘GloBosfera’ que aproveitou aquela tentativa de linchamento (interessado) para fazer vendeta. Apenas porque, em artigo anterior, demonstráramos – com prints – que, de maneira bastante esquisita, combinava publicações suas com o site de extrema-direita “O Antagonista”.
Apesar de contatados, nenhum dos veículos da ‘GloBosfera’ que participaram da “blitzkrieg” contra mim e o Duplo Expresso deu direito de resposta.
Ri, portanto, diante da ironia quando exigiram, no episódio do “terço do Papa para Lula”, direito de resposta do Facebook e das tais “agências de checagem” de “fake news” – sic)

*

E o militante de esquerda anônimo que está no Brasil?

O nacionalista?

Aquele que, temendo retaliações, prudentemente protege a si – e aos seus – por detrás de um pseudônimo?

Que poderá ele fazer quando o Facebook expuser sua identidade a traficantes e assassinos (incidentalmente com mandato e/ ou disputando cargos eletivos)?

Que poderá ele fazer quando o “tribunal” – privado e obscuro – de um monopólio americano próximo às NSA da vida fechar sua conta porque usa “nome falso” (sic)?

Poderá “recorrer ao Judiciário (nota: o Judiciário da Lava Jato!), como em qualquer outra quebra de contrato” – como sugere o (“globalista” e entusiasta das redes sociais americanas) Sakamoto?

“Entre o ser e o crer que já se é vai a distância entre o sublime e o ridículo”, diria Ortega y Gasset.

Ao que acrescento que, por trás de aparentes “ingenuidades” e “boas intenções”, esconde-se muita malícia. Pronta a aproveitar-se de uma massa de patos – bicolor – a quem se nega raciocínio sistêmico. Mais que isso, aproveita-se, em especial, certo reflexo pavloviano, na sua modalidade “vermelho” vs. “azul”.

Grita-se: “MBL… MBL… MBL…”!

E patos vermelhos, cegados pela rivalidade, correm para o despenhadeiro.

(pior: com sorriso nos lábios!)

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P.S.: compreende-se que um determinado líder quilombola, ainda mais um diretamente agredido, tenha dificuldade em impor o distanciamento que permitirá pensar sistemicamente quando acredita o Judiciário – i.e., o brasileiro! O da Lava Jato! – com uma suposta prerrogativa de cassar candidatura a Presidente da República com grande respaldo popular…

(…)

 

No entanto, ver isso endossado por um dos maiores cientistas políticos da atualidade – pior: do campo lulista! – é para parar, sentar na sarjeta e chorar:

 

Chorar… copiosamente!

Haja falta de raciocínio sistêmico!

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P.P.S.: a maldição de Cassandra…

 

 

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P.P.P.S.: tuiteiros de novo, outra vez…

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E tem também o “banimento oculto”, quando o Twitter – santo algoritmo! – some com as postagens de certos usuários dos feeds de seus seguidores (matéria da Vice repercutida pelo Sputnik):

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Percebem por que insistimos tanto na importância de nos independizarmos das redes sociais – americanas?

E termos os nossos próprios mecanismos de divulgação, independentes?

Notificação pelo navegador (sininho vermelho no canto direito inferior da tela na home do Duplo Expresso), lista de email, grupos no telegram e whatsapp… para ontem, gente!

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ATUALIZAÇÃO 29/jul/2018 – da seção de comentários:

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Link para o artigo de Manuel J. Souza (31/mai/2018).

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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