Brasil na guerra híbrida: entrevista com o cientista político Manoel J. Souza Neto

Da Redação do Duplo Expresso

Wellington Calasans e Romulus Maya entrevistaram o cientista político e escritor Manoel J. de Souza Neto, pesquisador dedicado a assunto que tem sido muito citado ultimamente: guerra híbrida.

Na entrevista, Manoel diz como identificou o início dos ataques que culminaram no caos institucional que estamos vivendo neste momento.

Se você é interessado neste assunto esta é uma boa oportunidade para ampliar o debate no campo de comentários.

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Ademais, abaixo, reproduzimos:
(i) artigo-síntese do autor; e
(ii) os registros citados por Manoel durante a entrevista, com indicação dos respectivos minutos.

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Os impactos das Guerras hibridas e CiberWarfare, um resumo e convite para futuras pesquisas

Por Manoel J de Souza Neto

A manipulação das massas vem se tornando cada vez mais sofisticada, graças aos bots, algoritmos, identificação de perfis psicológicos, programas como PRISM (de vigilância do NSA) e criptomoedas usando maquinas zoombies para mineiração de dados de todos no mundo feito nas sombras do que é divulgado como verdade pela imprensa. Não apenas estamos sendo vigiados pelos Estados (mas por corporações e qualquer um), como também sendo manipulados e recebendo clima psicológico pela rede social Facebook. Seria esse o sistema que chamam de Monster Mind?

Desde o começo do século com a consolidação das redes na internet, o uso de mascaras sociais favoreceram perfis falsos, avatares, para realização de crimes, fraudes, mentira, bulling virtual, fake news, golpes, isso fora todo tipo de absurdo que ocorre na Darknet sem ser visto pela maioria.

Mas a percepção de que algo estava errado nas redes sociais poderia ser confundida como ocorrências isoladas, promovidas por indivíduos e não pela programação dada pela super estrutura. Essa impressão de redes formadas por sujeitos em muitas narrativas e conflitos pluralistas esconde a realidade da internet, como ambiente que se tornou cada vez mais concentrado e dominada por poucos sites como Google e Facebook, Yahoo e na Asia também Baidu e Yandex.

Essa sensação de segurança nas redes sociais já havia sido abalada em 2013 com a denuncia de Edward Snowden de que a NSA teria vigiado o mundo inteiro através de um programa chamado PRISM. Mas quando o jornal inglês The Guardian publicou a história de Christopher Wylie ex funcionário da Cambridge Analytica que denunciou atividades suspeitas no interior do Facebook, isso se revelou algo mais próximo da realidade das pessoas, pois não se tratava mais de um “suposto” ato de uma agência de inteligência da qual a maioria das pessoas por ignorância poderia entender como alguma teoria conspiratória. O que foi revelado é que ocorreu no Facebook violação de 87 milhões de contas (mas pode ser muito mais, talvez todas), através da invasão de perfis, apropriação indevida de dados pessoais dos usuários. Mais que isso não se tratava apenas de uma seqüência programada de algoritmos e uso de bots, para traçar mero “perfil de consumidores”, mas na verdade, foram usados para formar banco de dados de usuários, e como uma distribuidora de informações em time line, criada pra devolver material de propaganda ideológica, influenciar eleições e promover clima político, em seu território nos EUA e em diversas nações no mundo (THE GUARDIAN, 2018).

Essa denuncia pegou muita gente de surpresa, mas não foi novidade para diversos pesquisadores, jornalistas, analistas e ativistas políticos. Entre 2009 e 2013 foram vistos fenômenos suspeitos de manipulação das redes sociais, manifestações convocadas pelo Facebook e Twiter (WhatsApp, Google, Instagram?), nos países onde ocorreram Revoluções Laranjas, Rosas, Púrpuras, Coloridas, o que ficou conhecido como Primaveras Árabes, ainda que não tenham sido exclusivamente no oriente médio, mas fatos, não isolados, ocorridos em todos os continentes.

Sendo ataques de manipulação de massas, mas com mensagens dirigidas e simultâneas para cada receptor (ou agrupamento de perfis similares), atravessariam as “linhas inimigas”, através de Cyberwarfare. Não seria portanto uma guerra convencional o que está sendo observado, mas uma guerra não convencional (Special Forces Unconventional Warfare – novembro 2010 TC 18-01).

Estamos falando de empresas de comunicação política e Big Data (que junto de especialistas em inteligência militar) que agem na clandestinidade, nas sombras, criando armadilhas, fakenews, agitação e convulsão social. São mestres em dissimulação, dark arts, psychologicalwarfare, cyberwarfare, geopolitca wargames e aplicaram ‘Psychological Operations’  (Department of Defense. US Army Field Manual 33-1, 1979) simultâneas em todo o globo.

Quais os limites entre marketing digital e crimes de massas em larga escala? Já que essas ferramentas não seriam apenas usadas para marketing empresarial e eleitoral, se essas manipulações podem estar arruinando economias, criando conflitos entre blocos econômicos, agitação e crises políticas, destruindo reputações, inflamando as massas para encher protestos e comícios, separando famílias, dividindo nações, derrubando governos, bem como criando polarizações políticas e até guerra civil, levando centenas de milhares a mortes, gerando milhões de refugiados, e colocando o poder atômico nas mãos de pessoas com sérias limitações morais e intelectuais.

Nos bastidores da mídia dois nomes prevalecem, de um lado estariam por trás de muitas da ações, forças conservadoras envolvendo Irmãos Koch, Atlas, Rand, Robert Mercer SCL Group e Steve Bannon da Cambridge Analytica, e do outro globalistas liderados supostamente por George Soros e Open Society. Essa limitação aos dois blocos de atores principais citados pela imprensa não dão respostas as complexidades localizadas, porém diversas ações podem ser atribuídas, ainda que arbitrarias aos blocos citados, mas em comum, ambas as principais fundações envolvidas recebem recursos do NED – National Endowment For Democracy do departamento do Estado dos EUA, onde especialistas apontam a existência do chamado governo secreto.

O que os 1 bilhão de usuários dessa rede social, e muitas outras pessoas no mundo tem o direito de saber, é o quanto o Facebook sabia, ou estava envolvido na manipulação de massas, promovidas por diversas empresas de “consultoria” que foram responsáveis em ações que resultaram em agitação global nessa década? Vamos recordar alguns casos, como a guerra civil da Síria, Venezuela e Ucrânia, a derrubada de governos na Líbia, Egito e Tunísia, protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã, Iêmen, Kuait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental, Lembremos também dos protestos na Rússia, Irã e Cuba no começo da década. Existem indícios de manipulação de resultados eleitorais em nações como Republica Tcheca, Nigéria, Índia, Argentina, Quênia, e na atualidade operações da Cambridge Analytica no Brasil, Austrália, México e China (CHANNEL 4, 2018). Além desses incidentes nas nações citadas, o quanto as consultorias políticas realmente influenciaram nas eleição de Trump e se realmente tiveram ajuda da Rússia? Qual foi a verdadeira influência na aprovação do Brexit na Inglaterra? E qual a influência nos protestos de rua (2013) e no impeachment (2016) da ex presidente Dilma Rousseff no Brasil? O quanto isso afetou a União Européia ou BRICS? E o que mais, sequer ficamos sabendo? Questões que vem sendo reveladas, mas são complexas demais para serem fechadas em apenas um artigo, até por isso, sugerimos frentes acadêmicas e de ativistas para estudar os mais de 130 mil documentos já localizados, formando a frente de estudos da guerra hibrida, um convite público para que esses estudos sejam empreendidos coletivamente, dada a relevância do tema, pouco estudado e compreendido no Brasil.

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Documentos citados na entrevista – comparativo de “Revoluções Coloridas” e “Primaveras” – Árabes e Brasileira:

2´26

Comparativo de revoluções coloridas e primaveras Árabes e Brasileira

Manoel J de Souza Neto

Maio 2018

Série de artigos sobre a “Primavera Brasileira”, 2013-2014 | Portal Vermelho

11´50

Coleta de Dados PRISM NSA Brasil, março 2012 | 2 bilhões de emails no filme “Snowden”, de Oliver Stone (2016)

12´15

Manual de Ação Direta  – Anonymous

12´21

Como se vestir em um protesto

12´24

Material de treinamento – Primaveras Árabes e Revoluções Coloridas

12´29

Tutorial Montagem Máscara de Gás

12´31

Dicas combate contra o uso de gás | Revolution News

12´35

Como filmar uma revolução

12´45

Gene Sharp – From Dictatorship to Democracy

13´08

Change Brazil entra no Facebook, 18 de junho de 2013

13´12

Lula – Golpe Comunista, 2012

13´14

V com bandeira verde amarela em junho

13´18

Mais Amor em SP – PRELIMINARES na página de Thamyra, 12-12-2012

13´25

OTPOR – Canvas

13´28

A Force More Powerful | The game of nonviolent strategy windows

13´33

A Force More Powerful

13´35

Gene Sharp – From Dictatorship to Democracy

14´18

Canvas – ataque América Latina

14´40

Open Society

15´15

Mapa da organização das manifestações Belo Horizonte | FDE – Ninja,  2013-2014

15´18

Fora do Eixo Ninjas Anonymous e Grito Rock | autor e distribuidor dos materiais de organização de protestos

15´21

Mídia Ninja na Tunísia, 27-03-2013

15´23

Ninja Oximity, 2014

15´25

Marcha das Vadias 2012 | Maringas Maciel

15´28

Grito Rock | Curitiba, 2011

15´32

Banco de Projetos Culturais FDE NINJA(21)

15´38

Banco de Projetos Culturais FDE NINJA (23)

15´42

Mídia Ninja – Fora do Eixo – NED

15´50

Primaveras – Distraídos venceremos | foto Rafael Vilela – Casa Fora do Eixo São Paulo — em Matilha Cultural, 14-11-2012

16´20

Esfera de influência – Como os libertários americanos estão reinventando a política latino-americana (1)

16´35

Estudantes Pela Liberdade – doadores atlas 2014

16´37

Estudantes Pela Liberdade – doadores atlas 2016

16´40

Atlas – financiamento Students for Liberty

16´43

Financiadores MBL – fonte Le Monde Diplomatique, 2017

16´47

Ligações “Estudantes pela Liberdade” + “MBL” + “Mamãe Falei” + Youtube

16´50

ATLAS – Esfera de influência | Como os libertários americanos estão reinventando a política latino-americana

17´45

Screenshot-2018-5-31 MBL fará marcha pelo “Escola Sem Partido” em todo o país

17´50

Kim Kataguiri O candidato do MBL – Folha UOL

18´25

OTPOR-CANVAS – mapa atuação | Global Media Planet Info (2)

19’09

NED – National Endowment for Democracy

33´45

Tem Cabo Anselmo aos montes, nas ruas (1)

(20 de junho de 2013)

34´04

Artigo Manoel no Blog da Dilma

34´30

Color Revolutions

34´32

Primavera Árabe

35´30

Cambridge Analytica – “Nós estamos no Brasil” | Mark Turnbull – managing director, CA Global Political – chanel 4 news 2018

35´35

Caso Cambridge Analytica – manipulação dentro do sistema com colaboração do operador

59´30

Facebook – Zuckerberg tampa câmeras e microfones

 

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