Alerta: “Plano B” e STF tramam cassação de Gleisi amanhã
Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
- O disparo dos arsenais do Golpe vai sendo feito, sucessivamente, conforme a necessidade:
(1) Não ganharam em 2014?
Destituíram a Presidente eleita.
(2) A campanha judicial-midiática não inviabilizou Lula eleitoralmente, conforme o planejado?
Cassam-se os seus direitos políticos. - E aí chegamos ao novo degrau:
(3) Não conseguiram dobrar Lula e fazê-lo entrar “no esquema” nem com o seu encarceramento?
Certificam-se de que, abatendo todas as demais opções, não terão como não impor – ao próprio – o nome a ser indicado como “o candidato do Lula” (sic). - E é aí que entra a Senadora Gleisi Hoffmann. Por tratar-se de “decisão colegiada”, eventual condenação de Gleisi no STF amanhã cassaria os seus direitos políticos por força da Lei da Ficha Limpa. Numa tacada só (i) derrubam uma rival à “unção” – contratada – do “Plano B”; e (ii) deixam Gleisi à mercê das violências jurídicas perpetradas por Sergio Moro.
- Conveniente: dessa maneira, a parcialidade do STF, que livrou Aécio e Serra, não ficaria evidenciada. “O problema é o Moro”, sabe…
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Fomos informados há 10 dias de que o Ministro Celso de Mello, relator do caso na Segunda Turma do STF, pediu ao seu Presidente, Ricardo Lewandowski, que agendasse julgamento para a ação penal proposta contra a Senadora Gleisi Hoffmann no âmbito da Lava Jato. Com muita “presteza”, Lewandowski deferiu o pedido apenas 4 dias depois, marcando o julgamento já para amanhã (19/jun).
A Senadora Gleisi, como não poderia deixar de ser, saudou a fixação da data do julgamento. Afirmou ver no mesmo a oportunidade de, enfim, a Justiça encerrar o ataque político-judicial-midiático de que vem sendo alvo:
Recebi com serenidade a notícia de que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar, na próxima terça-feira (19), a ação penal em que fui injustamente denunciada, sem qualquer prova ou indício de crime.
Trata-se de acusação forjada nos subterrâneos da Lava Jato, onde criminosos condenados negociam benefícios penais e financeiros em troca de delações mentirosas, que servem à perseguição política contra o PT e os nossos dirigentes.
No meu caso, a cada falsidade desmascarada durante o processo, os criminosos foram mudando seus depoimentos e mentindo cada vez mais. É escandaloso que a Procuradoria Geral da República (PGR) tenha oferecido denúncia contra mim em vez de punir os que são acobertados pela Lava Jato.
Há quatro anos, aguardo o desfecho dessa trama. Nada vai apagar o sofrimento causado a mim e a minha família, os danos a minha imagem pessoal e política, mas vejo com alívio o dia em que a Justiça terá a oportunidade de me absolver e restaurar a verdade.
Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Como disse, não poderia ser diferente. Trata-se do pronunciamento de uma liderança a seus liderados. E na eminência de uma batalha. Mais do que isso, trata-se também da fala de (alguém injustamente colocada na condição de…) “ré” que atesta a própria inocência perante os seus julgadores. Tudo de se esperar.
No entanto, na qualidade de analistas, não podemos esposar tal “expectativa”, pública. Ainda mais quando não corresponde à perspectiva enxergada pelo lúcido entorno da Senadora. Na verdade, todos os sinais indicam que, pela mão do Judiciário, seremos levados a subir mais um degrau na escalada rumo ao Estado de exceção. O Golpe, como sabemos, não se assume: é gradual; e conduzido de maneira sub-reptícia. O que se costuma denominar, em inglês, creeping coup d’etat.
É fundamental para os seus articuladores que ele venha a se travestir formalmente de “eleição” em outubro próximo. Mas…
– … sem nenhum risco de ser, verdadeiramente, derrotado no “pleito”.
O grande problema nessa rota, para eles, reside na total inviabilidade político-eleitoral do seu projeto econômico num Brasil de 200 milhões – e não 20 milhões – em que valha a regra “1 homem, 1 voto”. Ainda mais diante dos resultados desastrosos destes 2 anos de test drive “gratuito”. I.e., sem a necessidade – mercê do Golpe – de terem vencido eleição.
Por isso, o disparo dos seus arsenais vai sendo feito, sucessivamente, conforme a necessidade:
(1) Não ganharam em 2014?
– Destituíram a Presidente eleita.
(2) A campanha judicial-midiática não inviabilizou Lula eleitoralmente, conforme o planejado?
– Cassam-se os seus direitos políticos.
E aí chegamos ao novo degrau:
(3) Não conseguiram dobrar Lula e fazê-lo entrar “no esquema” nem com o seu encarceramento?
– Certificam-se de que, abatendo todas as demais opções, não terão como não impor – ao próprio – o nome a ser indicado como “o candidato do Lula” (sic).
E é aí que entra a Senadora Gleisi Hoffmann.
Todos sabem que é ela quem vem garantindo, internamente, a manutenção da candidatura do Presidente Lula. Nas suas palavras, “até as últimas consequências”. Faz isso enfrentando fortes pressões externas – e internas (incluindo governadores do Partido).
O Golpe contava com a desistência “voluntária” – e antecipada – da candidatura de Lula, para que não se colocasse em xeque a “legitimidade” do pleito de outubro próximo com a necessidade de uma intervenção da Justiça para retirar – i.e., retirar explicitamente – o candidato favorito da maioria da população. Apesar das muitas ameaças e/ ou promessas (falsas!) de “facilidades” no STF caso desistisse, Lula não se dobrou. E tampouco o fez aquela que ele constituiu como sua porta-voz exclusiva: Gleisi Hoffmann.
Pior: essa fidelidade de Gleisi para com o Presidente Lula tornou-a, na sua ausência, a maior liderança do Partido. Aquela que mais bem reflete os anseios das bases por luta. E pela defesa intransigente de Lula.
Que lacrada homérica da @gleisi OMG! Fiquei c/dó dos golpistas!@Adrianasscamar1 @alexandrecct @Leila_Argollo @MCCdoBrasil @Mavsampaio @belle_ckbbio @pahega @pablitohistory @patativaparana @PatoCorporation @ZehChe @POVOsemMEDO @Pripsil_ @sandraselmader @souguereira @EddyeLulista pic.twitter.com/g2ffVrSbit
— Dilma Lula Resistente #DR (@DilmaResiste) June 8, 2018
Não por acaso, muitos começaram a defender o seu nome como eventual substituta caso, de fato, venham a impedir a candidatura do ex-Presidente.
Aí soou o alerta vermelho no Golpe. Vinha ele há muito investindo na escalação – por ele, o Golpe – do candidato “do PT” (entre aspas mesmo). Os nomes alternam-se, afinal – para o Golpe – há mais de uma opção no Partido. Mas o seu preferido segue sendo Fernando Haddad. Aliás, como apontou de forma pioneira o Duplo Expresso, ainda em 3/fev/2018, no artigo “‘Uspianismo’? ‘Piscadelas’ de Haddad a FHC (e à Globo) ocorrem à revelia de Lula”.
Mais do que isso, analisamos de forma detida o lançamento da candidatura de Haddad, em 22/fev/2018, no artigo “Plano B” de… B’ola nas costas! Haddad trai Lula para encarnar “Macron brasileiro”. Falta combinar com o povo!
Notem: no jornal Folha de São Paulo (!)
(essa informação será relevante mais adiante)
Algumas das fórmulas propostas pelo Duplo Expresso nesses artigos – “Plano B é B’ola nas costas”; “a imposição de Haddad vem de fora para dentro do PT” – foram inclusive retomadas, dias depois, pelos Senadores Lindbergh Farias, líder do PT no Senado, e Gleisi Hoffman, Presidente nacional da sigla, no aniversário de 38 anos do partido. Portanto, se não era “vero”, era (muito) bem “trovato”.
Certo?
(e era vero!)
Aliás, o próprio Lula disse, naquela oportunidade, diante de Haddad, que muitos estavam “de olho no (seu) legado”. E que ele estava “só olhando e matutando”.
Pois os mesmos personagens de então seguem tentando isolar Gleisi Hoffmann dentro do PT. Para se ter a exata noção da distância que a separa dos articuladores do “Plano B”, e do quanto ela está cercada, o Vice-Presidente do Partido, Luiz Dulci, disse em passagem pela Europa, dando de ombros, que: (i) Lula ia seguir preso; (ii) Haddad seria o candidato mesmo; e que (iii) possivelmente fosse instituído o parlamentarismo (!)
Hein?!
Bem… a agenda do tour europeu do Vice-Presidente do PT, um tanto obscura, incluía também reuniões com representantes da finança internacional, sabe…
E por que diabos o STF corre agora para julgar Gleisi Hoffmann, antes das eleições?
Ora, como a inércia manteria o status quo – Gleisi em liberdade e elegível em outubro próximo – o STF busca alterar alguma dessas condições ainda antes da disputa. Ou ambas.
O objetivo, é certo, é dobrar Lula: seja (i) isolando-o (sem Gleisi) dentro do PT; seja (ii) eliminando toda e qualquer alternativa de indicação que não o “Plano B” – escalado pelo golpe. Como disséramos ainda no final de abril:
O “Plano B” só vinga se for ungido “por aclamação” (sic). Ou seja, se o nome de Haddad sair do bolso do colete. E não, em hipótese nenhuma, de uma primária no PT, com zero chance de ser vencida pelo “B”. Sua única chance é ser “incumbido” (sic), “no desespero” (sic), de carregar o “ônus” da candidatura, diante do impedimento (combinado!) de Lula [E DE GLEISI??] pelo (Judiciário). Notem bem: impedimento pelo qual o “Plano B”… trabalha!
Por tratar-se de “decisão colegiada”, eventual condenação de Gleisi cassaria os seus direitos políticos por força da Lei da Ficha Limpa. Numa tacada só (i) derrubam uma rival à “unção” – já contratada – do “Plano B”; e (ii) deixam Gleisi à mercê das violências jurídicas perpetradas por Sergio Moro.
Conveniente: dessa maneira, a parcialidade do STF, que livrou Aécio e Serra, não ficaria evidenciada.
“O problema é o Moro”, sabe…
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ESCONDIDA NO PÂNTANO, REÚNE-SE A ANTI-LIGA DA JUSTIÇA
Sintomático que, de acordo com relato da Folha de São Paulo (de novo!) de ontem, tenha sido agendado – por ninguém menos que Fernando Henrique Cardoso – encontro entre o Comandante do Exército, General Villas Boas, e Fernando Haddad. Esse último, na (suposta) qualidade de “representante de Lula”! (sic)
Ora, ao que consta a porta-voz designada pelo Presidente Lula é Gleisi Hoffmann!
E para quando, exatamente, foi agendado tal encontro?
Para a próxima quarta-feira. Ou seja, para o dia seguinte ao julgamento da Senadora no STF (!)
Já ensinava Tancredo Neves que “em política não há coincidências”, não é mesmo?
Pois eis a “notinha” plantada na Folha:
COMANDANTE DO EXÉRCITO MARCA ENCONTRO COM HADDAD; FHC FOI INTERLOCUTOR
Dia e hora O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, marcou audiência com Fernando Haddad, em SP. Os dois devem se encontrar na quarta-feira (20). O petista será recebido na condição de representante do ex-presidente Lula.
Deus escreve certo… Villas Bôas buscou caminho heterodoxo para chegar a Haddad. Quem fez a ponte entre o militar e o petista foi Fernando Henrique Cardoso.
Precisa desenhar?
Importante assinalar que, até o momento, Haddad não negou nem fez qualquer reparo nas redes sociais a essa “notinha”. Na verdade, dado o histórico de cooperação estreita com a Folha de São Paulo no projeto – comum – de torna-lo o candidato do PT, é provável que, caso não seja ele mesmo a fonte, tenha tomado ciência prévia e assentido à publicação.
Ou seja, se não bastassem pesquisas contratadas por corretora do Banco Itaú (!) acreditando Haddad como “o candidato de Lula”, com enquadramento “surpreendentemente” favorável, agora é o Exército que faz saber que é ele quem os generais (!) elegem como “herdeiro de Lula”.
Mais: com a ajuda providencial de FHC!
Vemos, portanto, diversos dos principais artífices do Golpe – a Banca, o STF, as Forças Armadas e o Cartel Midiático – voltarem a operar em conjunto. Desta vez, para enquadrar e/ ou cassar os direitos políticos de Gleisi Hoffmann. Tudo isso com vistas a deixar o “Plano B” – de “B’astardo do Golpe” – como única “opção” (?) de Lula e do PT.
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ESSE É O RELATO. PASSEMOS À AÇÃO.
O Duplo Expresso não se contenta em descrever a tragédia. Insiste, na medida das suas possibilidades, em contribuir para a frustração dos planos do Golpe. Dessa forma, recomenda à Senadora Gleisi que aja para dissuadir os Ministros de seguirem com tal script.
Como?
(1) GEOPOLÍTICA
O patriarcado torna a vitimização de figuras femininas mais fácil. Como na guerra e no amor vale tudo, usemos isso a nosso favor. Imaginemos a repercussão internacional da perseguição do Golpe a mais uma mulher. No caso, “simplesmente” a Presidente do maior partido de oposição e porta-voz designada de Lula.
Gleisi deveria fazer saber que acompanhará o julgamento tomando um chá na embaixada da Rússia ou da China. Como sabemos, o quadro geopolítico mudou. No passado houve, é verdade, a frustração (para dizer o mínimo) dos russos de, na tentativa de auxiliarem um contragolpe, acabarem por ver informação de inteligência, sensível, ir parar justamente nas mãos de auxiliares (plantados ao lado) de Dilma “mais identificados com o outro lado”, digamos: Cardozo e Mercadante. No entanto, com a atual guerra comercial e o aumento das tensões globais, chineses e russos estariam novamente dispostos a se engajar no Brasil. A imposição de direitos antidumping pela China ao frango brasileiro (da BRF) há alguns dias seria a primeira de uma série de pressões pela libertação de Lula, fazendo soar o alarme no agronegócio brasileiro.
Natural: à China, grande importadora líquida de alimentos, interessa que o Brasil siga sendo uma potência agropecuária ascendente. Não apenas isso ajuda a controlar preços e assegurar a oferta futura como, principalmente, reduz a sua dependência de outros exportadores líquidos de alimentos, adversários geoestratégicos: EUA e União Europeia. A China certamente sabe que, ao desestruturar o setor de petróleo, os EUA visavam também a quebrar as pernas do agronegócio brasileiro, seu maior rival.
Isso porque os preços de derivados do petróleo como o diesel e fertilizantes são fundamentais para a competitividade da produção brasileira. Ora, com a descoberta do Pré-Sal o Brasil passou a ter o potencial de tornar-se autossuficiente na produção e no refino do petróleo (com a entrada em operação do COMPERJ e de Abreu e Lima). Mais: com custos calculados em Reais e sem prêmios de risco, especulativos, na composição de preços. A resultante modicidade e estabilidade de preços, mais a segurança da oferta, tornariam o agronegócio brasileiro imbatível. No entanto, com os americanos logrando atrelar os preços internos praticados no Brasil a cotações internacionais, conseguem manter o campo brasileiro com o freio de mão puxado (além de extraírem o grosso da renda petrolífera).
Em suma, os EUA querem a estagnação do campo brasileiro enquanto os chineses querem o seu avanço. Tomemos partido disso.
(2) PASSAR DE REFÉM A SEQUESTRADORA
A Lava Jato nega o acesso das defesas às planilhas do programa MyWebDay, em que a Odebrecht fazia os lançamentos da sua contabilidade paralela. Assim, toda a discussão “jurídica” se dá em cima da versão produzida pela – e para a – Lava Jato.
Mas há como bypassar tal bloqueio.
A Senadora deveria fazer saber que processará a Odebrecht e os delatores na Suíça, para ter acesso à cópia entregue aos procuradores locais. De posse dela, não apenas pode provar que seu nome não consta dos beneficiários como tomará conhecimento dos nomes de juízes, procuradores, Ministros de tribunal superior, empresas de mídia, bancos e políticos que lá estão. Ou seja, Gleisi passaria da condição de refém à de sequestradora.
Cumpre registrar que conselho semelhante foi dado, ainda no ano passado, à defesa do Presidente Lula. Considerando-o relevante, essa nos incumbiu de contatar advogado local disposto a dar curso à mesma. Fizemos isso. Infelizmente, a partir daí, o rádio silenciou do lado brasileiro.
– Senadora Gleisi, faça saber que com a Sra. será diferente. E que a Sra. vai pro pau!
(3) A VERDADE SOBRE O PLANO B E A SABOTAGEM A LULA
– Senadora, faça saber que gravou vídeos contando tudo o que sabe sobre a articulação do “Plano B” e a sabotagem a Lula, com especial destaque para as engambelações patrocinadas pelo tal “PT jurídico” (apud Luiz Moreira). Inclusive relatando a pressão que o ex-Presidente sofreu no Sindicato em São Bernardo para que se entregasse aos seus algozes, bem como todas as operações de contrainformação de que foi vítima (e.g., “no TRF-4 será 2×1”; “o STF dará um HC”; “será decretada prisão preventiva sem direito a HC por 81 dias”; etc.)
“Eleição sem Lula é fraude”. Impedindo o outro lado (!) de determinar o candidato “do PT” (aspas!) a Sra. empataria o jogo, melando o plano deles de “eleições (?) sem risco”. Sem o candidato – deles – assegurando a indicação “do PT”, volta a incerteza quanto ao favorito. E eles terão que sentar para conversar.
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Discutimos longamente essas e outras questões atinentes ao julgamento da Senadora Gleisi ontem com o jurista e professor Luiz Moreira, no Duplo Expresso de Domingo:
(a partir de 1:33:47)
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— Romulus Maya (@romulusmaya) June 18, 2018
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