O dia após o coronavírus

O dia após o coronavírus

Por Alejandro Acosta.


Os resgates nas últimas semanas foram pelo menos cinco vezes maiores do que os resgates da crise de 2007-2009. O exemplo mais obsceno tem sido o método de “helicóptero” usado nos Estados Unidos e na Europa principalmente, mas não apenas.

O Tesouro emite títulos de dívida pública que são repassados ​​para os chamados negociantes primários, que são uma dúzia de grandes bancos. Eles os vendem para o chamado mercado secundário e, por esse motivo, recebem cerca de 2% do valor negociado como uma operação em uma operação típica de carrytrade (simples troca de mãos).

Uma vez no mercado secundário, esses títulos alimentam principalmente o mercado de derivativos financeiros, o coração da especulação financeira. Quando esses títulos geram prejuízos para os grandes especuladores financeiros, a Reserva Federal os compra de volta no valor cheio. A previsão é que até o final deste ano a Reserva Federal mantenha dois terços do total dos títulos da dívida pública federal.

A partir de 2013, o percentual mínimo de propriedade que os bancos deviam ter para fazer empréstimos era de 3%. Agora, todos os títulos podres desses bancos, que foram comprados pela Reserva Federal, podem ser descontados dessa percentagem.
As taxas médias de crescimento da economia mundial diminuíram de quase 5% na década de 1960 para menos de 2,5%. As taxas médias de lucro do monopólio caíram drasticamente desde 2012, pois os empréstimos aumentaram exponencialmente.

A dívida global passou de US$ 135 trilhões em 2008 para mais de US$ 280 trilhões. Somente o volume de capital fictício em derivativos financeiros é de entre US$ 700 trilhões (de acordo com o BIS, o Bank of International Settlements, o banco central dos bancos centrais) e de US$ 4 trilhões (de acordo com outras fontes) em comparação com o PIB global de US $ 75 bilhões, e que já é bastante parasitário.

A política de crise para conter a crise capitalista

A crise sanitária do coronavírus representa um componente da política da grande capital para conter a maior crise capitalista mundial dos últimos 500 anos, por meio de uma  terceira onda de “neoliberalismo”, ao estilo da imposta pelo general Augusto Pinochet no Chile, na década de 1970.

Porque? Porque é necessário pagar as contas dos resgates do grande capital em crise. Um componente fundamental dessa política é o arrocho salarial super intenso e a destruição dos programas sociais.

Confrontados com as perdas do congelamento da economia global por meses, os monopólios correram para comprar ativos desvalorizados. Mas essa operação também foi realizada pelos chineses.

A dominação mundial do dólar foi afetada na luta pelo controle do mercado mundial, com os chineses e russos. Além da queda no preço do petróleo, em março, houve o lançamento dos contratos futuros de petróleo em iuanes conversíveis em ouro.

Nos países onde o coronavírus cresce mais rapidamente, como nos Estados Unidos, os resgates dos grandes capitalistas são mais obscenos e é onde ocorrem mais amplamente.

A vacina contra o coronavírus ainda não existe e há a luta pelo controle desse mercado.

Enquanto quase todos os setores da economia mundial entraram em uma crise severa, com exceção do complexo industrial militar, os laboratórios têm obtido lucros como nunca antes.

A subordinação das políticas de saúde às políticas militares é o principal método de controle da crise. Vários governos falam em usar a nanotecnologia para injetar microchips no corpo dos seres humanos, para controlar a epidemia.

A Samsung desenvolveu microchips que são menos de três vezes menores que o coronavírus. O que pode ser controlado e feito com chips de vacinas obrigatórias é interminável; trata-se da iniciativa que se autodenomina ID2020 (id2020.org), controlada pelos super ricos.

Quem paga a conta?

A primeira pergunta que se coloca é quem paga a conta? Evidentemente, serão os trabalhadores de todo o mundo, mas fundamentalmente da América Latina, porque é a região que tem sido o quintal do imperialismo norte-americano, a principal potência mundial, nos últimos 200 anos.

Para atacar às massas, a escalada da violência é necessária devido à brutalidade dos ataques, que inclui a redução de salários várias vezes, o fim de programas sociais, da saúde e da educação públicas; a financeirização das pensões seguindo o modelo chileno; a entrega de empresas públicas e recursos naturais em troca de praticamente nada. Para aumentar a pilhagem da região por meio de métodos parasitários.

Recentemente, o almirante responsável pelo SouthCom, o Comando Sul do Pentágono, disse a Jair Bolsonaro em sua recente visita aos Estados Unidos que “uma das prioridades será aumentar a militarização da região a partir do Brasil”.

O uso de métodos de guerra civil é evidente. O coronavírus faz parte dessa política de guerra civil para resgatar grandes capitais em crise e conter protestos e revoluções sociais.

A disputa pelo controle do mercado mundial veio à tona devido ao aumento da crise; seu principal componente é o aumento das contradições entre o imperialismo dos EUA e o bloco liderado pela China e pela Rússia, e a necessidade de neutralizar os imperialistas europeus, o Japão e potências regionais como a Índia, por exemplo.

No Brasil, o Banco Central repassou R$ 1,2 trilhão (quase o orçamento público federal de um ano) para resgatar os grandes bancos, com a possibilidade de comprar diretamente títulos da especulação financeira, mesmo no exterior.

Com esse objetivo, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 10-2020 tramita em caráter de urgência no Congresso; na Câmara dos Deputados foi aprovada com apenas um voto contra, o que reafirma o controle total da “esquerda” vendida pelo imperialismo.

Não é difícil imaginar qual será o futuro das chamadas reservas soberanas que agora totalizam US$ 345 bilhões, dos quais 80% estão aplicadas em títulos públicos norte-americanos.

A Medida Provisória 936 retira os direitos fundamentais do trabalho e autoriza a redução de salários em até 70%, com a possibilidade de suspender contratos de trabalho.

Na Argentina, o presidente Alberto Fernández procura suspender os pagamentos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) durante o período da crise da saúde, com a contrapartida de pagar juros mais altos. Não é difícil imaginar qual será a conta que virá a seguir.

No Chile, o governo Piñera repassou US$ 8 bilhões aos bancos para direcionar empréstimos às PMEs (Pequenas e Médias Empresas). O desconto para os trabalhadores, das AFP (fundos de pensão) passou de 12,7% para 17% e o do Isabre (fundos de saúde) aumentou de 4% para 9%. Mais de 30 projetos de leis sobre políticas econômicas contra trabalhadores e outros 15 para aumentar a repressão foram enviados ao Congresso em caráter de urgência.

No Uruguai, o governo também busca usar o estado de choque generalizado para impor o novo pacote da Lei de Emergência que tem 50% mais artigos do que a atual Constituição, com ataques a trabalhadores de todos os tipos.

O objetivo do imperialismo é reduzir consideravelmente os custos da mão-de-obra na América Latina, para algo em torno entre os US$ 100 e os US$ 200. Dessa maneira, parte da produção industrial poderá ser transferida novamente da Ásia e, principalmente, da China, para o quintal do imperialismo norte-americano, seguindo a política aberta no México em 2007 e acelerada em 2013.

“Coincidências” a serviço do grande capital

Surgiram dados importantes não apenas sobre os mecanismos utilizados para impor a “pandemia”, mas também sobre o que está sendo preparado para aumentar o controle policial e militar da população mundial.

O Congresso 201, que ocorreu nos Estados Unidos, em Nova York, em 18 de outubro de 2019, que simulava um “exercício de pandemia de alto nível”, semelhante ao coronavírus deixou nas simulações, um saldo de 65 milhões de mortos; contou com a participação da Fundação Bill e Melinda Gates, do Fórum Econômico Mundial e do Centro John Hopkins de Segurança da Saúde, buscando mostrar a necessidade de “acordos público-privados” no caso de pandemias graves para evitar “as consequências sociais e econômicas de alto impacto”.

O fechamento do laboratório de pesquisa bacteriológica militar de Fort Detrick, alguns dias antes do início da crise do coronavírus também não foi explicado. O mesmo aconteceu com os jogos militares que ocorreram na Província de Wuhan, na China, dos quais participaram militares de uma divisão bacteriológica dos Estados Unidos, que obteve o super modesto35º lugar na competição.

Na China, o coronavírus tipo 19-C apareceu, sem que tivessem aparecido antes os tipos A e B, a partir dos quais ele deve ter evoluído por meio de uma mutação genética.

A pandemia de coronavírus foi declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) com menos de 5% dos casos de mortes em relação aos infectados. No caso da Itália, atingiram 10%; de acordo com as regras, uma pandemia é declarada após as mortes excederem 12% dos casos.

De acordo com o relatório de 31 de dezembro de 2017, a OMS recebeu mais de US$ 2,5 bilhões do Banco Mundial, da União Europeia e de ONGs vinculadas a grandes capitalistas, como a Fundação Bill. e Melinda Gates, que financia a GAVI (Aliança pelas Vacinas), que doou mais de US$ 300 milhões e participa de investimentos em grandes laboratórios. As empresas doadoras privadas incluem vários grandes laboratórios que por trás da GAVI, incluindo Gilead Science, Glaxo Smith Kline, Hoffmann-LaRoche, Sanofi Pasteur, Merck Sharp e Dohme Chibret e Bayer AG.

A cronologia da política de guerra

Em 16 de março de 2018, Donald Trump demitiu toda a equipe de Resposta Rápida às Pandemias dos Estados Unidos.

Em 30 de junho de 2019, um tipo de pneumonia grave foi identificado em Springfield, Virgínia, perto de Fort Detrick, que é um importante laboratório bacteriológico.

Entre os dias 12 e 17 de julho de 2019, doenças respiratórias não identificadas apareceram em um centro médico perto de FortDerrick, deixando um saldo de 54 casos e três mortes.

Mais tarde, apareceu como uma epidemia de pneumonia inexplicável em Burke, a 56 minutos de FortDerrick.

No dia 6 de agosto de 2019, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças – cdc.gov) fechou o laboratório de guerra bacteriológica de FortDetrick, o principal laboratório dos Estados Unidos por razões de “segurança nacional”, sem fornecer explicações.

No mês de setembro de 2019, uma pneumonia misteriosa foi relatada em várias partes dos Estados Unidos, com os mesmos sintomas do Covid-19.

Entre os dias 17 e 18 de setembro de 2019, ocorreu o Urban Outbreak de 2019, liderado pela Universidade de Serviços Uniformados em Ciências da Saúde (USUHS), do Centro Nacional de Medicina de Desastres e Saúde Pública (NCDMPH – Centro Nacional de Medicina de Desastres e Saúde Pública) e a Faculdade de Guerra Naval dos Estados Unidos (NWC) no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (JHU-APL) em Laurel, Maryland.

Essas simulações foram desenvolvidas como jogos analíticos pelo Programa de Resposta Humanitária (HRP) da NWC como resultado de seu Workshop de Resposta Humanitária Cívico-Militar realizado em 2018.

Entre os dias 14 de setembro e 10 de outubro de 2019, 325 soldados que formaram parte da equipe militar dos Estados Unidos, treinaram para os Jogos Militares de Wuhan em Fort Belvoir, localizado a 15 minutos de Fort Derrick que foi fechados, sem explicações, por razões de “segurança nacional”.

No dia 30 de dezembro, a Província de Wuhan anunciou uma “doença viral desconhecida”.

No dia 3 de janeiro de 2020, a China enviou informações atualizadas ao governo dos Estados Unidos.

No mesmo dia, os Estados Unidos assassinaram o general iraniano Qasem Soleimani, que se encontrava em uma missão oficial em Bagdad, capital do Iraque.

No dia 8 de janeiro, a China anunciou que o vírus tinha sido sequenciado e que se tratava do Sars-Cov-2.

É possível reagir à “Doutrina do Choque” 2.0?

A política militar do imperialismo é forte e estruturada. O grande capital precisa se salvar da crise a qualquer custo. Para aplicá-la, aumenta as contradições sociais e tensiona as leis do capitalismo como nunca antes, na busca pela contençãoda queda das taxas de lucro, garantir a reprodução ampliada do capital, evitar grandes falências (como as ocorridas em 2007-2009), garantir o controle do mercado mundial e o controle militar da população e do mundo.

O aprofundamento da crise econômica não implica na autodestruição automática do capitalismo. O fermento social, as tendências revolucionárias, crescem, mas também a agressividade do capital. Os trabalhadores e o movimento de massas tendem a entrar em movimento, mas o imperialismo joga e joga duro.

Com a crise sanitária do Coronavírus, foi possível conter a rebelião popular no Chile, os germes das rebeliões em toda a região, os protestos dos trabalhadores e das massas na França, impedindo o surgimento de novos Occupy Wall Street ou Fora os 0,1%, ou grandes mobilizações de massas, apesar da brutalidade das medidas tomadas.

Atualmente, existem muitos dados possíveis que podem ser coletados sobre a crise econômica e a política de guerra bacteriológica desenvolvida pela burguesia internacional.

O que existe muito pouco são propostas para sair da crise com uma política de reconstrução e uma ofensiva da classe trabalhadora. Isso abre uma oportunidade única para tornar essas propostas visíveis e influenciar para que elas se fortaleçam em uma direção.

É mais urgente do que nunca gerar essas propostas e torná-las visíveis em todos os lugares, ganhando influência e presença nos setores popular e dos trabalhadores.

Alejandro Acosta – Editor do jornal Gazeta Revolucionária

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