Tensão entre Generais e “empreendedores” de Bolsonaro? – a semana em análise

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

No Brasil atual, os insights do antropólogo Piero Leirner, professor da UFSCar, tornaram-se incontornáveis para quem quer decifrar o subtexto do noticiário político, especialmente quando esse tangencia a lógica e o ethos militares. Aliás, não apenas para quem está dentro do Brasil, como atesta citação do analista de política internacional Pepe Escobar, em artigo seu recente.

Por isso, além de termos Leirner comentando no Duplo Expresso de Domingo logo mais, juntamente com o jurista Luiz Moreira, reunimos a seguir alguns apontamentos do antropólogo diante das ações – e reações – nesta primeira semana pós-resultado eleitoral.

Piero vem alertando para a criação – deliberada – de contradições discursivas, bem como para a manipulação das suas ondas reverberatórias, como parte de uma bem-sucedida tática – militar – de desconstrução e reconstrução dos canais de comunicação num contexto de guerra de terceira e quarta gerações (assimétrica e híbrida).

Paralelamente, desde antes da criação do Duplo Expresso vimos alertando para operações, sucessivas, de sequestro de pauta promovidas pela dobradinha PIG (Partido da Imprensa Golpista) –“PIGuinho” (a “Blogosfera (dita) ‘progressista’”). Ambos empregam, de maneira claramente concertada, tática de pinça, em que cada um deles – PIG e PIGuinho – constitui, respectivamente, a perda direita e a perna “esquerda” (entre aspas mesmo) desse que é, afinal, um instrumento de compressão. Tentam, assim, direcionar – e limitar – o escopo do debate público, com clara finalidade política e partidária.

Apesar dos esforços de Leirner e do Duplo Expresso, a esquerda – “fuleira”? “171”? – segue abocanhando as iscas que o outro lado abana na sua frente. Diante disso, parecem mais promissoras no momento para quem defende a soberania nacional brasileira as esperanças depositadas nas contradições dentro do próprio consórcio por trás de Bolsonaro do que, propriamente, na “oposição” (?) consentida.

Passemos, então, aos apontamentos de Piero Leirner.

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Mas antes… explicando o método etnográfico aplicado por Leirner aos militares, segundo o colega antropólogo e comentarista do Duplo Expresso João de Athayde:

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TEMA (1): AS ISCAS LANÇADAS À ESQUERDA “FULEIRA” E A PINÇA PIG-PIGUINHO EM OPERAÇÃO

Por Piero Leirner

30/out/2018

Gente, não vamos cair nessa. A moça lá de Sta Catarina querendo censurar nós professores/as: vai faturar em cima do pedido de sua impugnação. Vai torcer a pauta alegando censura. A gente simplesmente tem que enviar a ameaça pra justiça e deixar a batata na mão dela.

Minha opinião : por enquanto a justiça irá frear essas ações anti-universidade, porque para eles isso é uma perfumaria que atrai a atenção para sua vocação “democrática”. Do lado de lá deixam passar o que é realmente central, que é a bomba atômica do cxa 2 do B, impulsionados pelo reconhecimento geral (leia-se, do PT) de que a eleição foi “juridicamente limpa”. Tem tanta coisa pra lembrar… Só o escândalo da biometria no nordeste já deixaria essa eleição no 51/49, por baixo.

Não tô dizendo que deixar ESSA CAUSA (nossa autonomia docente) para a justiça é ruim prá gente, pelo contrário; mas tudo tem que ser visto olhando o que tá em jogo no cenário mais amplo. Isso também tem a ver com uma desastrada tentativa de recuperar a hierarquia no judiciário, portanto ninguém é bacana aí.

Por isso, a gente tem que aprender a usar os movimentos dos outros em nosso favor, sempre lembrando que agora não existe aliado eterno, e que
o B e seus/suas tiranetes continuam agindo no registro da campanha (ou da guerra híbrida) e o pessoal continua caindo no jogo…

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31/out/2018

Recebi ontem um e-mail sobre reuniões que serão promovidas pelo DCE e CA’s para discutir os “retrocessos do Governo Bolsonaro”. Acho que convém dar umas dicas para esse pessoal daqui da Universidade, um tanto óbvias, mas de repente necessárias, haja visto o que aconteceu em outras nesta semana. O que vou escrever aqui é apenas a rememoração de que o padrão de Guerra Híbrida não cessou com a eleição, pelo contrário: continuamos a ser bombardeados por mensagens ambíguas. A boa notícia: esse padrão poderá ser um tiro pela culatra, antes do que se imagina. Mas vamos lá.

Quem já percebeu o modus operandi dessa turma da “base”, sacou que ele segue o “método Lava-Jato” (vamos chamar assim, por falta de termo melhor): eles “forçam uma situação” e depois que ela está consumada se produzem as “provas”. Não se trata de “investigação”, mas, citando Sergio Moro, “colheita de provas” (apud Programa Roda Viva, 2018). Só se colhe aquilo que foi plantado, ora bolas. Nesse sentido, aquela moça de Sta. Catarina acionou a reação em cadeia que depois ela mesma acionará como prova do que falo. Hoje mesmo recebi vídeos de professores dizendo que vão sim dar Marx, Luta de Classes, etc. Morderam a isca.

Claro que ninguém vai deixar de dar Marx. Sempre se deu Marx. E se deu e vamos dar Adam Smith, Hobbes, Locke e Clastres. Entra todo mundo, só ela não sabe disso. Mas o que temos que fazer? Nada. Simplesmente trabalhar como se estivéssemos em 2008, e não em 2018. Permitam-me ilustrar com um exemplo, a terra arrasada. Só foi possível virar a invasão nazista no leste recuando toda a indústria soviética para trás dos Urais. O que se deixava no caminho da linha alemã era “terra arrasada”, nada para ser apropriado como butim. Depois de se apropriar de quase 90% de Stalingrado no início de novembro de 1942, o recuo anterior deu resultado, e a contra-ofensiva foi empurrando de novo os nazistas até a Alemanha.

Os adeptos do “método-Lava-Jato” precisam ter o butim para se apropriar. Se recuarmos, eles vão ficar no vazio. Eles não são maioria, mas eles querem que o outro lado constitua maioria, para que eles “provem” que a Universidade é um antro de doutrinação esquerdista. Por isso, a melhor tática agora é a da dissipação e da formação de redes descentralizadas, impermeáveis. O ideal é que todo mundo feche a privacidade do facebook e redes sociais, e que se reduza bastante o número de contatos. Pessoalmente, irei fechar a rede apenas para quem conheço de fato, o que deve diminuí-la consideravelmente. Isso não vai ser prejudicial, pois as redes se conectam, então não há o que temer. Saiam daquela porcaria de grupo da UFSCar, deixem eles falando sozinhos. Toda a ação híbrida deles se baseia na expectativa de que o inimigo forma uma massa que deve ser desestabilizada. Façam o serviço antes, assim eles não têm onde atacar. Todo mundo sabe quem é quem nessa vida, portanto sair da massa não vai tirar de vocês suas identidades.

O DCE e CA’s vão fazer reunião? Não aguentam não fazer? Então não toquem no nome de Bolsonaro. Só falem em “elementos positivos”, como democracia, etc. Joguem no plano semântico inverso ao que os 8 loucos com câmeras esperam. Vai dar alergia? Pode ser, mas desenterrem do fundo da gaveta suas camisetinhas amarelas, de preferência da seleção. Quando os 8 chegarem lá, não terão o que dizer. Se não for demais, convidem a polícia que já está no campus, para que ela não apareça lá de outra forma. Vocês têm que pegar os agentes de segurança no contrapé, conquistá-los, e não jogar eles no colo dos outros. Lembrem-se que eles já estão lá, portanto é preferível que se chegue por conta própria que é melhor estar na rua do que em um campus “pacificado”. De que vai ser péssimo ter fotos e vídeos de policiais descendo a borracha em gente que está com a camiseta da seleção. Lembrem-se de que nada disso é ilegal, e portanto o que é preciso fazer é usar o sistema a seu favor.

Dito isso, cabe notar que é imprescindível que se entenda que todas essas ações híbridas visam criar uma cortina de fumaça para o que vem de fato: a nomeação de Paulo Guedes como Primeiro-Ministro, cujo projeto é deixar as coisas de modo que sequer tenhamos Universidade para lutar. Bolsonaro é o Rei, sob qual vão recair todas as investidas simbólicas, e bater nele, volto a dizer, será inócuo, pelo menos por enquanto. Como é possível de se especular diante desse cenário, este “padrão híbrido” pode criar dissonâncias internas ao governo. Creio que a mais provável é tensão entre militares nacionalistas e o financismo de Guedes, o super-ministro. Bolsonaro não pode dispensar Guedes para não ser minado pela finança, e não pode se afastar dos militares pois perde seu real esteio no poder. Claro que ele vai tentar ficar negociando com ambos, mas, como sabemos, negociação não é bem o seu forte.

Nesse ponto, só não vê quem não quer, o nacionalismo ali proposto é mais “moral” do que “soberano”. Em outras palavras, é uma fachada: se torce para a seleção mas não se dá a mínima para a economia. Não acho impossível que cedo ou tarde o Governo se imploda nas dissonâncias que ele próprio está criando, então o melhor é ficar longe e quieto, assistindo de camarote, pois do contrário eles vão conseguir de novo jogar a culpa na esquerda e se unir. NOTEM BEM QUE A SOLUÇÃO PARA AS CONTRADIÇÕES DESSE GRUPO SEMPRE FOI APELAR PARA UM FATOR EXTERNO A ELE PRÓPRIO: Deus, Família, Ordem, e, claro, o Anti-PT. Como os três primeiros não vão encher o bolso de ninguém, vai sobrar o anti-petismo. Se a esquerda estiver quieta, isso não vai colar. Aposto que daí vai ser mais fácil trazer os militares para um acordo do que se continuarmos a querer bater de frente com eles. Feito isso, Bolsonaro se torna um ovo sem conteúdo, e Paulo Guedes será o pintinho que nunca nasceu. De quebra, Sergio Moro e o “método-Lava-Jato” finalmente poderão ser dessacralizados (que boa essa notícia dele ir para o governo, espero sinceramente que dê certo).

Por essas razões, acho que é uma boa hora para se experimentar sair do paiol de pólvora e se comportar como se estivesse numa floresta úmida, com super-fungos se conectando no solo. Sem fogo não há fumaça, e assim fica claro para todo mundo do que se tratam as táticas que estão sendo usadas. O momento é de estudar.

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3/nov/2018

Pessoal tá caindo na trollagem de novo…

O que é essa história de replicar post e reportagem falando do “absurdo” que foi a PF retirar um “cinegrafista” da Globo de um transporte de Bolsonaro?
Ou a história de dizer que Bolsonaro não abre as portas para a grande imprensa?

Olhem a Globo, do outro lado, avalizando a operação que a Máquina de Captura Moro-Bolsonaro está realizando! O que se está fazendo aqui? Operação de pinça: os caras lá do lado de lá fazem uma manobra, e em outra aparentemente desconexa, o lado de cá dá crédito para o mesmo agente que fez a anterior. O que se está fazendo aqui? Atestando a credibilidade dos mecanismos de imprensa que são, eles próprios, parte da estratégia de desconexão. Desculpem, mas a Globo percebeu a jogada rapidinho e resolveu aderir ao movimento.

Trata-se de um repeteco, com outros atores e com outros movimentos, da mesma estrutura: a difusão de uma contradição, e quando achamos que estamos contradizendo uma das teses, na verdade estamos endossando a outra. Vejam o absurdo que foi a “festa” que a imprensa de esquerda 171 (apud Romulus Maya) fez quando Bolsonaro “voltou atrás” sobre a fusão entre Agricultura e Meio-Ambiente. Li (sem brincadeira): “ele nos ouviu, foi nossa pressão” (assinado, David Miranda, Psol). Só faltou carregar Bolsonaro no ombro e dizer: “a festa da democracia continua”. E assim Bolsonaro passa, mais uma vez, com atestado fornecido pela esquerda, como o “médico” que vai curar o paciente. Já basta o Haddad ter feito isso (“o Moro fez um bom trabalho no geral”). Fez “mesmo”, né?

Alguém quer uma sugestão? Parem de dar trela para a imprensa. Ela é grandinha e resolve seus problemas. Não passem o recibo de que a esquerda vai sair defendendo a Globo,porque Bolsonaro é “contra”. O acordo já foi feito, e é exatamente o que eles estão precisando agora: fazer operação casada para se recuperar da cagada que cometeram. Por isso mesmo, nesse momento, esqueçam de replicar as bobagens de campanha (e adiante), é tudo cortina de fumaça.

O que fazer então? Aproveitar o movimento de Moro e fazer o que o PT devia ter feito antes: tornar a conta para o judiciário insuportável. Começar uma onda de protestos contra a justiça (e não contra um governo que nem tomou posse ainda), porque aí eles vão ter que assumir compromisso com um lado. Ninguém vai querer carregar as pedras que a Lava-Jato acumulou nas costas de todos outros. Aí sim a gente, que não tem nada (NADA: lembrem-se que Haddad é “só” um professor, como eu, você e tantos outros), pode começar a ter pelo menos um aliado para dificultar o massacre que vem aí.

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TRANSIÇÃO ENTRE OS TEMAS (1) E (2)

Por Piero Leirner

30/out/2018

 

 

 

 

Achei esse “Manchetômetro” (a Newsletter do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública IESP/UERJ) desta semana bem interessante… Vejam os gráficos abaixo sobre a parcialidade da grande imprensa. Haddad e Bolsonaro tiveram praticamente o mesmo tratamento. O PSL replicou o padrão geral. Já o tratamento dado ao PT botou a suposta “imparcialidade” de ponta-cabeça. De onde podemos retirar, sucintamente, que…
1) … Haddad foi descolado do PT. Resta saber se por ele próprio, pelo PT, pela imprensa ou por “ambos os três”. Aposto que foi a última hipótese, donde…
2) … Essa estratégia como sabemos hoje (e sabíamos né?) fracassou EM TERMOS ELEITORAIS. Não acho que 45% foi uma grande vitória como tem gente dizendo por aí, considerando que hoje eu, você e a Gaviões da Fiel estaremos rifados na bacia das almas pelo que aconteceu. Resta saber, e você verá isso abaixo, se essa estratégia vai funcionar em termos do andamento daquilo que lá atrás se chamava de “golpe”. A imprensa ainda pode ser o fiel da balança, pois…
3) … A propaganda de Bolsonaro batia mais no PT que em Haddad, e a imprensa foi uma caixa de ressonância disso. Portanto, não foi só o whatsapp…
4) … Como a campanha “estilo militar” continua (“vamos varrer do mapa”) e pelo visto vai continuar endossada pela imprensa, não podemos esperar de Bolsonaro outra coisa a não ser o aprofundamento dos métodos da Lava-Jato em escalas exponenciais…
5) … Que tratam sobretudo da terceirização do aparato repressivo, através da Justiça e da ampliação indiscriminada de delatores. Mas talvez a vida não seja exatamente fácil para ele…

… Evidentemente os próximos meses serão o “x” da questão, se essa crônica anunciada por Haddad em relação à Lava-Jato (“aumentar os poderes da PF/MPF” e “Moro em geral fez um bom trabalho”) vai ou não se concretizar (por “n” vontades que tentarão se impor aí). Isto implicaria em congelar de vez o “PT nacional-popular”, i.é, fazer a faxina proposta por Bolsonaro de maneira “silenciosa”, “colorida” e “sem traumas” pois é garantida a partir “de dentro”, seguindo um roteiro simétrico (e “ortogonal”) ao da Anistia de 1979; e se este movimento vai conseguir deslocar Bolsonaro ao corner, pois aí sua solução autoritária não terá os melhores meios para se efetivar. Para mim, os últimos passos de campanha do Haddad em relação ao “famoso” áudio do whatsapp de Bolsonaro que não apareceu, somados com “esclarecimentos” de arautos da democracia – como o Min. Barroso – podem levar a gente imaginar esse desenho se preenchendo. No entanto, esses áudios têm data de validade, e duram pouco. E, de outro lado, não podemos subestimar a “sinergia” já declarada outrora entre o Exército e o TRF-4, que precisa que o “método Lava-Jato” vá às últimas consequências, tão consequentes que poderão inclusive engolir o próprio rabo. Me parece que veremos aí o confronto entre duas hierarquias, a jurídica e a militar, sendo que a primeira está quebrada, e a segunda poderá estar em vias de se quebrar. De novo, podemos apostar?, o fiel da balança será a Grande Imprensa, que, pelo que estou vendo aqui nesses gráficos, foi muito mais decisiva do que estávamos imaginando…

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TEMA (2): AS TENSÕES E CONTRADIÇÕES AXIOLÓGICAS DENTRO DO CONSÓRCIO POR TRÁS DE BOLSONARO

Por Piero Leirner

1/nov/2018

Bom, já sabemos que Moro não foi para o Rio só para levar um exemplar autografado das “10 medidas” para o Bolsonaro. Junto com elas – e ENTRE ELAS: criminalizar os partidos, abusar das prisões preventivas, ampliar as delações e os métodos da Lava-Jato – ele vai levando a ideia de ser um Paulo Guedes da regulação da política. Controle sobre PF, CGU, ampliação de poderes investigativos e coercitivos ao MPF, cuja indicação pode estar no pacote. Enfim, depois dessa até o poodle do vizinho vai se tornar um delator.

Que isso estava na cara que ia acontecer, isso estava. Só não viu quem não quis; até a Rosângela Moro já tinha declarado entusiasticamente suas preferências. Agora vai começar a (justa) acusação de que, enfim, “olha aí, Moro sempre teve partido!”. Bom, é verdade que todos nós falamos isso há um tempão, mas a grande imprensa sistematicamente boicotava essa versão da história, dizendo que era uma “fantasia do PT”. E é verdade que o PT teve lá sua chance de montar essa historinha na cabeça da moçada durante o horário eleitoral, mas conscientemente optou por outro caminho.

Como sabemos, não só não fizeram nada, como, em primeiro lugar, deixaram o próprio Bolsonaro se apropriar desse discurso – a “fraude eleitoral” se tornou marca registrada dele -, e, de quebra, em segundo lugar, se agarraram a uma pauta “legalista”, endossando não só as eleições como “limpas e democráticas”, como chegando ao ponto de Haddad elogiar Sergio Moro (vai rolar arrependimento?). Pois bem, agora temos Moro com a chance de montar sua versão tropical da Stasi (vejam Ministerium für Staatssicherheit, “Ministério para a Segurança do Estado” da RDA), e ao mesmo tempo essa briga para ver com quem fica a “oposição” (mas a pergunta é: vai ter oposição depois disso? Ou vai ser essa mesma que bajula a Lava-Jato? Apud Ciro, Haddad e a geral…).

Não vou ficar aqui batendo cabeça para expor as razões que fizeram o PT adotar essa estratégia (certo Romulus Maya?), mas agora mais uma vez o próximo governo reforça suas possibilidades de botar muito mais do que o PT na vala comum (“ou vão presos ou vão embora”), considerando o pacotão anti-tudo que Temer/Etchegoyen já deixaram pronto esses dias. E o PT se colocando na disputa pela oposição… Sinceramente, Moro está se lixando se vai ou não vai pegar mal ele ir para o Ministério. Ele, Witzel, Bretas e outros juízes, aplaudidos pela população, querem mais é colocar snipers para abater o alvo. E se o STF começar a encher o saco, é só chamar um soldado e um cabo.

Hoje mesmo a Folha disparou reportagens com juízes e “especialistas” condenando o simples “ponderar” de Moro, dizendo que isso vai deslegitimar a Lava-Jato. Agora então que ele aceitou, vai ser a queda de braço, entre “juízes assustados” e o super-Ministro (3.0, o 1.0 é Paulo Guedes, como disse acima; o 2.0 é Heleno/Mourão); e entre a imprensa com seus “especialistas” e a necessidade de agradar o “assinante”. O que eles não entenderam é que agora a Lava-Jato vai ficar uma formiguinha perto disso aí, e claramente Moro fez esse cálculo. Mas não só ele. De todas as jogadas de Bolsonaro, essa foi certamente a mais esperta: já sabendo dos atritos entre Paulo Guedes e os militares, Moro vai ser o fiel da balança. Se a casa começar a cair, o arauto da justiça está lá.

Evidentemente o PT teve a chance de em “n” momentos virar a mesa e sair da disputa no 2o turno, declarando que não reconheceria o pleito e aí sim se legitimando como verdadeira oposição (que, notem bem, não é Ciro, que participou dessa farsa do mesmo jeito). E não só não o fez como cavou sua própria sepultura ao endossar as eleições. Quero bem ver o que sobra depois disso, pois alguém aqui acha que há a mínima condição de AGORA o PT dizer que Moro se aproveitou da situação? Como bem anunciou ontem a Leilane Neubarth na Globonews, depois de noticiar que Bolsonaro foi à praia ver um show meia-boca de aviões soltando fumaça: “um lindo dia ensolarado anunciando o ápice da primavera”.

PS: Infomoney, 13:04h, 01/nov/2018: “Ibovespa bate 89 mil pontos e renova máxima histórica com Moro na Justiça”

PPS: Isso depois que ele “colocou Fraga”, o corrupto – desmentiu – coloca Moro…. De novo, vai e volta, e todo mundo cai nessa…

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2/nov/2018
O conflito Generais vs. Guedes/ Moro: o choque, de ordem moral, entre…

  • (1) o ethos coletivista da sublimação do indivíduo, devidamente uniformizado (em diversos sentidos)…

vs.

  • (2) o ethos da ode à ambição pessoal, à vaidade e ao individualismo do credo ultraliberal.

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Há algo de estranho no no mar, na terra e no ar.

Faz uns bons anos ouvi uma história muito curiosa sobre religião e os trotes na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras). Lá se formam os futuros oficias do Exército; mas também são os anos decisivos na socialização militar, pois o jovem aspirante ali tem que passar por diversos mecanismos simbólicos e rituais que não só “militarizam” a pessoa, mas sobretudo “despaisanizam” ela. Isso está descrito de forma detalhada no livro do Celso Castro, de 1990 (O Espírito Militar), para quem quiser saber como isso é feito em detalhes.

Um dos pontos principais é um conjunto de mecanismos expiatórios, sendo um dos principais o trote, que “forçam a saída” dos cadetes. Assim, quem fica é quem tem uma “vocação natural” – a crença de que a “identidade militar” era algo que já estava lá, só precisou ser acionada e trabalhada. Quem não se lembra do “pede prá sair” daquele filme lá (não vou citar de propósito)?

Pois bem. Acho que isso me foi contado há coisa de uns 10 anos. Havia um número crescente de cadetes evangélicos, e sua devoção definitivamente não combinava com a ideia de “Brasil acima de tudo”. Uma das coisas que o comando fez foi colocar uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida no capô de um Jipe, e, em formação, fazer os cadetes (evangélicos) bater continência para ela. Os que não “pediram para sair” nessa ocasião, foram obrigados a gritar, de dentro de uma poça de lama e segurando um rifle ao alto, “o Brasil acima de Deus!”. A maioria espanou.

Não consigo ver essa atual combinação, “o Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” caindo bem entre militares. Mas, confesso que também achava que a combinação de um capitão insubordinado comandando a tropa também estranha. Vamos lembrar que no seu time também vem junto o Tenente-Coronel Marcos Pontes, que à época de seu desligamento da carreira também foi muito criticado pelos seus pares, por ser “muito ambicioso”. A mesma crítica que os comandantes de Bolsonaro fizeram em 1987, quando ele foi passado para a reserva.

Militares não gostam da ambição. Seus salários são parecidos, acho que um pouco maiores que os nossos (professores de UFs), tomando as gradações equivalente (por exemplo, um “professor titular = General). Eles têm diversos auxílios, e gastam pouco com coisas que nós gastamos muito (educação dos filhos, planos de saúde, moradia, etc). Em compensação, sua vida, marcada pelas constantes mudanças de local de serviço, geralmente sacrifica as carreiras das cônjuges, que não adicionam $ ao patrimônio. No fim, com ganhos e perdas, diria que o padrão deles poderia se aproximar do nosso. No entanto, é notável como eles vivem de maneira muito simples, sem qualquer ostentação, mesmo em relação às mais pequenas. Eles se mostram, uns para os outros, pessoas sacrificadas.

O “sacrifício” é um dos elementos centrais da moral militar. Não orna, mais uma vez, nem um pouco com os projetos de ambição pessoal que transcorrem tanto nas ideias que regem a “ética evangélica” da Universal, nem no liberalismo enlouquecido do “mercado” de Paulo Guedes. Ou eles mudaram completamente em 10 anos, ou isso mais cedo ou mais tarde vai explodir com uma contradição de cunho moral dentro do próximo governo. Do mesmo jeito, não consigo ver como eles estão enxergando, se é que estão, a hierarquia do judiciário implodindo desde a Lava-Jato, e achando que tudo bem sua corporação estar em “sinergia” com o TRF-4. É possível que alguém lá dentro tenha arregalado os olhos ao ver Moro sair do piso para a condição de “chefe” da “polícia de Estado” que ele está sendo alçado.

Nada me convence que essa é uma história que vai acabar bem. E, por incrível que pareça, estou preocupado, e muito, justamente com as FFAA. Se a hierarquia começar a se esfacelar lá, aí já era: vamos nos tornar um grande Rio de Janeiro, e as milícias vão pipocar em cada esquina. Será que eles estão mesmo querendo arcar com esse custo só para “varrer o PT do mapa”? A hierarquia é o centro de gravidade das FFAA, organiza a vida como um “fato total”. Nem o padrão carismático da Universal, nem as “células” do padrão Bannon se encaixam lá. Jogar isso para dentro delas implica em transformar um exército profissional em um conjunto de células independentes. Vamos assim rumo ao padrão talebã, talvez o primeiro Afeganistão Cristão que se tem notícia?

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P.S.: liberte-se da “pinça” PIG vs. PIGuinho junto com o Duplo Expresso:

(2/mai/2018)

(…)
Nada de se estranhar muito nessa “parceria” entre Estadão e 247. Trata-se, como vimos insistindo, de clara aplicação da tática da pinça para a manipulação do debate político. Nela, controla-se, de maneira concertada, a pauta que alimentará o embate entre os polos rivais, tanto à direita como à esquerda:

(24/mar/2018)
Não cansamos de repetir: o Duplo Expresso não faz o jogo do Cartel Midiático brasileiro. Assim, não reproduzimos o seu conteúdo apenas – à guisa de “contraponto” (sic) – trocando o seu sinal. Ou seja, fazendo com que o que sai na Globo como “bom” vire “ruim”. E vice-versa. EM VEZ DE FAZER PARTE – DELIBERADAMENTE (?) OU NÃO – DA “PINÇA” QUE MANIPULA, COM A PERNA DA DIREITA E DA ESQUERDA ATUANDO CONCERTADAMENTE, O RUMO DO DEBATE POLÍTICO, LIMITANDO-O A (A) VS. (-A), PREFERIMOS FALAR DE B, C, D… Z. Afinal, como sempre disse Roberto Marinho, muito mais importante do que o que o Jornal Nacional dava era o que não dava.

Certo?

Dessa forma, em vez de nos deixarmos pautar pela fake news da Folha, constituindo a perna “esquerda” da pinça (como veículos da GloBosfera prontamente fizeram), não nos limitaremos a multiplicar o seu conteúdo por (-1). Aliás, como veremos adiante, teve veículo da GloBosfera que, malandramente, multiplicou-a por… (-1)2 ! Em vez disso, como costumamos fazer, partimos para uma meta-análise desse “noticiário” (sic). Isso porque aqui, como sói acontecer em política, o subtexto é muito mais importante que o texto.

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(11/abr/2018)
O diversionismo da vez. Seguindo a TÁTICA DA PINÇA, MÍDIA DE DIREITA E DE “ESQUERDA” (ENTRE ASPAS MESMO) PROMOVEM SEQUESTRO DE PAUTA. Em vez de falar do calvário de Lula nas mãos de Moro e da CIA, da mobilização das bases para resistir (i.e., a de verdade!), incensam áudio plantado pela Rede Globo com mensagem de desmobilização.
Por quê?
(pergunta retórica, claro)

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Não há choque sequer. Afinal, todos já testemunhamos, meses atrás, ação concertada ainda mais desabonadora na mesma “GloBosfera”. Refiro-me, evidentemente, ao flagrante que registrou – santo print! – o DCM “republicando” (aspas) “notinha” da Lava Jato plantada n’O Antagonista (!) ANTES mesmo de esse último publica-la… em “primeiro lugar” (!)

 

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(11/abr/2018)

A tática da pinça explicada a partir do min 7:45:

O diversionismo da vez. Seguindo a tática da pinça, mídia de direita e de “esquerda” (entre aspas mesmo) promovem sequestro de pauta. Em vez de falar do calvário de Lula nas mãos de Moro e da CIA, da mobilização das bases para resistir (i.e., a de verdade!), incensam áudio plantado pela Rede Globo com mensagem de desmobilização.
Por quê?
(pergunta retórica, claro)

  • Extrato do Duplo Expresso de 26/mar/2018. Integralidade aqui.

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ATUALIZAÇÃO: O DUPLO EXPRESSO DE DOMINGO

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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