Companheiro Dirceu, o Brasil não pode hibernar 6 anos
Da Redação do Duplo Expresso
- Colocado em xeque com a constatação cabal da mentira empregada para induzir Lula a erro em São Bernardo, o círculo de traidores no PT tenta capitalizar a entrevista de José Dirceu à Folha de S. Paulo para a sua causa. Erra quem supõe poder haver alguma censura da parte do Duplo Expresso a tais colocações – públicas e publicadas – de José Dirceu. Em vez disso, apenas solidariedade e compreensão. Mas que em nenhum momento diminuem a revolta diante de exercícios de coerção perpetrados por quem passou a ter o poder de vida e morte – política e civil – no Brasil.
É com consternação, e solidariedade, que o Duplo Expresso lê a longa entrevista dada pelo ex-Ministro José Dirceu à jornalista Monica Bergamo, publicada na Folha de S. Paulo nesta sexta-feira. Soa como a despedida de alguém que parte para o exílio, sem saber ao certo quando – e se – retorna. Como sabemos todos, no Brasil da Juristocracia – em que ilhas de arbítrio são toleradas por “instituições” que “funcionam normalmente” – a verdade não está lá muito distante disso. José Dirceu parte para Guantánamo. Já nas próximas horas ficará novamente à mercê da “boa-vontade” dos algozes da democracia brasileira. Aliás, como já estava o seu irmão, também preso arbitrariamente meses atrás. E isso não é tudo. Como confirmado na própria entrevista, além de ter visto a mãe nonagenária expulsa do imóvel em que vivia (seus últimos meses vida!), a sua filha foi também ameaçada em dado momento:
O senhor ouviu esses conselhos quando entrou no sistema penitenciário?
Ouvi. Eu cheguei muito deprimido no CMP [Complexo Médico Penal de Pinhais, em Curitiba]. A minha filha estava denunciada —depois ela foi inocentada—, o meu irmão estava preso.
Eu tomava indutor do sono. Mas logo parei. Fui buscar emprego na biblioteca. Li cem livros no um ano e nove meses em que fiquei lá.
Outros presos vão trabalhar na lavanderia, consertam roupa, outros vão para a censura para ver se os Sedex [enviados pelas famílias] estão dentro da norma, orientados por um agente.
A tortura a que tem sido submetido José Dirceu é, portanto, anterior ao seu regresso ao presídio. Dirceu, histórico nome de luta e símbolo de resistência política de esquerda, é um caso cristalino de que a Ditadura da Toga vigente no Brasil não tem limites.
Após consumada a prisão de Lula – último bastião em que se escora a esperança de uma inflexão na escalada do arbítrio – Dirceu vê-se forçado a se preparar ele também para um cenário ainda mais adverso. A fazer hedge. E é levado a fazê-lo publicamente, num veículo – a Folha – engajado desde a primeira hora na destruição da obra de sua vida, o PT. Sua fala mistura a cautela do cuidado com cada palavra – certamente devidamente vigiada e anotada pelo outro lado – a um tom de quase resignação. Isso quando não beira a tal da “autocrítica”, quando é levado pela jornalista a falar de “consultoria” e de “financiamento de campanha”.
No entanto, o preço a ser arrancado nessa “expiação” pública pela jornalista, especializada em plantar “notinhas” e disseminar álibis, mostrar-se-á ainda maior. Uma vez mais o “outro lado” exige de José Dirceu que gaste a sua credibilidade junto ao público de esquerda para endossar a farsa sobre a mal contada trajetória “prisional” de Eduardo Cunha. Em tempos em que a sutileza já some até mesmo da memória discernível, a insistência da jornalista para lograr plantar Cunha na cadeia pela boca de Dirceu não surpreende:
BERGAMO: E como era a convivência com Eduardo Cunha?
DIRCEU: Normal. Você está preso. Convive com [condenados pela lei] Maria da Penha, com um pedófilo condenado a cem anos de prisão. Ele é o chefe de um setor. É uma pessoa normal, quieta.
A primeira reação é “não vou falar nunca com ele”. Depois de três anos, minha cara, não adianta. Tem que falar.
Lá tá todo mundo na mesma m., entendeu? Há uma solidariedade. “Vamos evitar que o velhinho pegue sarna, vamos limpar a cela dele, vamos levar ele para tomar banho”.
Se contamina uma cela, pode contaminar todas as 32 celas da galeria, com sarna, com pulga. Temos que cuidar para que todo mundo ferva a água.
BERGAMO: E O EDUARDO CUNHA?
DIRCEU: Ele é muito disciplinado. Dedica uma parte do tempo para ler a Bíblia, frequenta o culto. Conhece a Bíblia profundamente. E em outra parte do tempo se dedica a ler os processos.
É uma convivência normal. Vamos limpar os banheiros? Vamos. Vamos lavar os corrimões? Vamos.
Tem que limpar o xadrez todos os dias, lavar as portas e a galeria, para evitar doenças. Nós ficamos na sexta galeria, [que abriga] os presos da Lava Jato, Maria da Penha, advogados, empresários, alguns condenados por crimes sexuais. São 60 presos, separados dos 700 [do complexo penal].
Quando a esmola é muita, o santo desconfia:
Erra quem supõe poder haver alguma censura da parte do Duplo Expresso a tais colocações – públicas e publicadas – de José Dirceu. Em vez disso, apenas solidariedade e compreensão. Mas que em nenhum momento diminuem a revolta diante de exercícios de coerção perpetrados por quem passou a ter o poder de vida e morte – política e civil – no Brasil.
Dirceu prepara-se para um inverno que antevê longo. Pior – em Curitiba:
“Pode demorar dois, quatro, seis anos, mas temos (força para desestabilizar o Golpe). Você não desmonta a estrutura de bem-estar social que o país tem sem consequências. As forças políticas e sociais vão ganhando consciência. Vão surgindo novas lideranças, novos movimentos”.
O Duplo Expresso, talvez por estar abrigado em Estados de direito, será o último a dar a batalha de 2018 por perdida. Mais até que ímpeto pessoal, tomamos isso como uma responsabilidade. Uma obrigação para com aqueles que, como Dirceu, já não gozam mais das proteções com que contamos nós, que vivemos na Suécia e na Suíça.
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P.S.: colocado em xeque – e “em cheque”? – com a constatação cabal da mentira empregada para induzir Lula e a liderança do PT a erro em São Bernardo há duas semanas, o círculo de traidores no PT tenta desde o início do dia capitalizar a entrevista de José Dirceu para a sua causa. Contra o Duplo Expresso, evidentemente. Difundem-na freneticamente como “desmentido” do vimos dizendo desde dezembro sobre a situação “prisional” de Eduardo Cunha.
Batalha perdida de saída. Subestimando a inteligência de seus interlocutores, como de hábito, convenientemente não cruzam datas e protocolos de ingresso e saída, não citam o período de “clandestino” de Eduardo Cunha em Brasília ou a inexistência do seu prontuário de detento.
Mais uma vez, ajudam – pelo contraste – a reforçar a consistência das informações levantadas pelo Duplo Expresso.
Resta a constatação do novo “inusitado”: assim como com os deputados “guerreiros” de dezembro para cá, quem sai mais uma vez prontamente em socorro do álibi da Lava Jato diante da sua sujeição a Eduardo Cunha são… células no PT (?!).
Cui bono?
A quem beneficia?
Não percebem que entregam ainda mais seu comprometimento com o esquema Moro?
Até quando lhes será dado “operar” com tamanha liberdade dentro do Partido?
Contra os interesses de Lula?
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Votos:
– Que as hostes fieis a Lula – e o próprio – possam contar com condições para resistir ao cerco que, como vemos, se fecha ainda mais.
– Que a previsão de Dirceu de “2, 4, 6 anos” de inverno ainda mais rigoroso não se confirme.
– Que a luta de 2018 – sob um Lula resistente – seja vitoriosa.
O Duplo Expresso aqui permanecerá.
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P.P.S.: recordar é viver
SEGUINDO AS PISTAS DA “PRISÃO” DE EDUARDO CUNHA – O CAMINHO DA VERDADE
21 de dezembro de 2017 : 06h3
Por Rubens Rodrigues Francisco
– Separando “fake” de “real news”: a temida influência de Eduardo Cunha na política nacional, para além de “relatos de terceiros”, em “on” ou em “off”, é hoje fato jurídico julgado em decisão colegiada da Suprema Corte Brasileira.
Prezados Wellington Calasans e Romulus Maya,
Este relatório, reiterando conversas anteriores que mantivemos, tem por finalidade tranquiliza-los quanto ao embasamento jurídico-fático da tese de influência de Eduardo Cunha sobre a Câmara Federal.
(i) “Com Supremo, com tudo”: colegiado do STF decide que, sim, Eduardo Cunha preserva sua influência e que, portanto, deve ser mantido preso
Nos autos do HC 144.295, em julho deste ano o então Procurador-Geral-da-República, Rodrigo Janot, protocolou parecer dirigido ao Exmo. Ministro Luiz Edson Fachin onde AFIRMA, E TRAZ PROVAS, de que o Sr. Eduardo Cunha, mesmo preso, influenciava os bastidores da Câmara Federal por intermédio de terceiros.
Não só o Ministro Fachin acolheu a tese trazida por Janot – e não por vocês ou terceiros – de que Cunha, mesmo preso, tinha Poder sobre a Câmara, como também a maioria da colenda 2ª Turma do STF, conforme ata de sessão de julgamento de 28/11/2017 último. Isso mesmo: o STF, a Suprema Corte Brasileira, entende que, sim, o Sr. Eduardo Cunha mantém sua influência sobre a política nacional.
Logo, diverso de se tratar de “teorias de conspiração” ou “Fake News”, a temida influência de Cunha é fato jurídico julgado em decisão colegiada da Suprema Corte Brasileira. Tanto que foi o argumento para a recusa do HC 144.259, permanecendo Cunha em cumprimento “preventivo” de eventual condenação em última instancia, em conformidade com o atual estado de exceção constitucional vivido no Brasil.
Esta condição de “condenação preventiva” leva Cunha a outras situações de exceção, como sua “incógnita” estadia em Brasília – DF, em razão de transferência pedida pela defesa do peemedebista. A autorização para tanto goza do assentimento de vários magistrados e procuradores habitués do noticiário lavajatesco: o próprio juiz Sergio Moro, o juiz Vallisney de Souza Oliveira (da 10ª Vara Federal do DF), o Ministério Público Federal (MPF) e o desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Sim, esse último, o mesmo que pretende julgar Lula em 24/1/2018.
(ii) Situação “prisional” de Eduardo Cunha: onde está Wally?
Cunha só esta cadastrado no sistema Penitenciário brasileiro no complexo médico penal de Pinhais, na grande Curitiba, sob registro na ala 6, cela 607. Estava “sozinho” nesta cela – ao que consta, caso único na Lava Jato.
Em setembro deste ano foi para Brasília. Como exposto acima, a transferência, pedida por sua defesa, passou pela chancela de Moro, Vallisney e Gebran – todos eles membros da Justiça Federal. No entanto, não esteve nem na Papuda – onde fica a Penitenciária Federal – nem na Carceragem da Policia Federal. “Teria ficado”, na “realidade”, na DCCP da Polícia Civil do DF, a pretexto de mantê-lo isolado de certos presos – notadamente Lúcio Funaro.
O “curioso” é que as instalações do DCCP são extremamente precárias, incompatíveis com uma possibilidade de longa estadia por parte de Eduardo Cunha, sempre limpo, barbeado, cabelos com corte elegante e terno impecável.
“Convicção + provas”: eis fotos da carceragem da DCCP:
Não se tem notícia de autorização de juiz da VEP para tanto, uma vez que, formalmente, ele não está em “execução de pena”, pois não é condenado em sentença irrecorrível transitada em julgado, muito menos é preso “em flagrante”: Cunha é, na realidade, mais um dentre milhares de brasileiros “presos preventivamente” por “decreto”.
Foto da agencia Brasil Agência Brasil – 19.10.2016
Paletó, cabelo do mesmo jeito, sem corte de maquina zero, sendo que é proibido tesouras nos presídios. Só é permito corte de cabelo com máquinas, aquelas que quase raspam estilo exército. Coisa rara na Lava Jato, Cunha nunca foi visto com uniforme de presidiário ou algemado, escoltado por agentes fortemente armados.
A precariedade da DCCP é tanta que ensejou diversos ofícios do Sindicato da Polícia do Distrito Federal (SINPOL –DF), reclamando das péssimas condições de trabalho e de manutenção dos presos.
Com relação à “prisão” de Eduardo Cunha há, apenas, uma certeza: a incerteza sobre seu paradeiro em Brasília – capital da República, vale lembrar. Tampouco se sabe por que foi para lá, em vez de ser ouvido por meio de carta precatória ou vídeo conferência. Ou ainda, em Brasília já estando, por que não seguiu para a Papuda, como determina a LEP.
Já sobre as alegações veiculadas no Cafezinho de que Cunha é, sim, capaz de influenciar criminosamente o Congresso, quem o disse, entre outros, foi Rodrigo Janot, dirigindo-se ao STF, conforme peças do HC 144. Como disse, tais alegações foram acatadas pelo Min. Fachin e referendadas pela Segunda Turma do STF. Disponho de cópias tanto da manifestação da PGR quanto das referidas decisões. Como o processo tramita em segredo de Justiça, no momento, mostro os respectivos documentos ainda em sigilo tão somente ao colega advogado Romulus Maya.
Na manifestação da PGR, documento de 62 páginas, o chefe do Ministério Público alega que a manutenção da prisão de Eduardo Cunha no Complexo Médico Penal em Pinhais é necessária, pois o peemedebista ainda seria “capaz de influenciar, criminosamente, a esfera da política institucional”. (Fls 02 item 5)
(iii) O timing da transferência: a delação de Lucio Funaro
O pedido de transferência foi feito no dia 22 de agosto de 2017, em paralelo ao que aparenta ser a reta final da tramitação do acordo de delação premiada do operador financeiro Lúcio Funaro, que deve citar Cunha e outros pesos-pesados do PMDB –inclusive o presidente Michel Temer.
(iv) Conclusão
Ante o exposto, o presente relatório confirma, em linhas gerais, o que ambos, Wellington e Romulus, tem afirmado no programa Expresso de Manhã com relação à situação “prisional” de Eduardo Cunha. Faz prova, irrefutável, aludindo aos documentos que dormitam no HC 144.295, oriundo do próprio Ministério Publico, que conta com ratificação e chancela da colenda Segunda Turma do STF.
Em síntese: não há que se falar em qualquer “fake news” no que concerne questionamentos sobre o paradeiro real de Eduardo Cunha, bem como a afirmação de que, sim, esse mantém sua influência sobre a política nacional.
Coloco-me a disposição para colacionar quaisquer provas documentais de tudo que foi veiculado, a esse respeito, no Expresso da Manhã”, na busca da verdade real e do resgate da democracia brasileira.
Para concluir, a dúvida, que segue subsistindo, é:
– Onde está Eduardo Cunha?
Atenciosamente,
Seu amigo,
Rubens Rodrigues Francisco
OABRJ 189859
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