Guerra híbrida no Brasil é a novidade de 1940

Por Ceci Juruá*, para o Duplo Expresso

Guerra híbrida é um embate, um enfrentamento de forças ou atores políticos, por meios não convencionais. Portanto não envolve necessariamente as forças armadas e seus instrumentos de combate.  Tampouco os segmentos do Estado empenhados em ações de segurança interna.

A guerra híbrida não admite generalizações, pode assumir contornos distintos em contextos históricos e conjunturas diferentes.  O grande exemplo de sociedade vítima de guerra híbrida, atualmente,  são os países que compunham a União Soviética até 1990, segundo obra recente de um norte americano, cientista político, …  

O Brasil tem sido vítima de uma guerra híbrida desde os anos 1940,  quando os Estados Unidos passaram a ocupar a posição de potência hegemônica do mundo capitalista, disputando com a ex-União Soviética a liderança mundial em matéria de desenvolvimento econômico e tecnológico.  Frente a esse confronto que passou à História com a denominação de ”guerra fria”, os Estados Unidos empenharam-se no resgate e aplicação dos princípios enunciados ha quase dois séculos, e conhecidos como Doutrina Monroe.

Segundo aquela doutrina,  caberia aos norte-americanos oferecer proteção a todos os países das Américas do Sul e Central.  Pouco a pouco a ideia de “proteção” foi sendo assimilada a uma associação de interesses entre os norte-americanos e os demais países do continente. Em um terceiro momento,  abandonou-se a ideia do interesse geral e passou a prevalecer a tese de que nossos países e nossos povos não poderiam, de forma alguma,  aspirar à plena soberania e ao desenvolvimento integral, se tais objetivos fossem contrários ao projeto de dominação mundial da potência hegemônica.  Foi esse o sentido de dois projetos centrais formulados pelos norte-americanos no alvorecer do século 21:  O Plano Colômbia e a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas.

A pretensão de dominar os países americanos, impondo-lhes seu modelo de sociedade, parece justificar, há décadas, a intervenção dos norte-americanos em recorrentes golpes de Estado contra os governos de nossos países latino-americanos.  Previamente ao golpe propriamente dito, como aquele de 31 de Março de 1964 contra o Brasil e os brasileiros,  há uma série de ações que poderíamos denominar “lances de uma guerra híbrida”, visando desmoralizar o governo que se quer derrubar e as instituições que respondem pela coesão social e que fundamentam a soberania nacional.

Como exemplos de movimentos típicos de uma guerra híbrida na América do Sul e no Brasil podemos citar: inflação, crise cambial, dívida pública, dominação dos meios de comunicação, desnacionalização dos meios que constituem condições gerais da produção de mercadorias, lobbies atuantes no Congresso Nacional e nas assembleias regionais. E muitos outros.

Precisamos analisar com bastante atenção cada um dos instrumentos acima enunciados.  E  esboçar as alternativas a nossa disposição como instrumentos de defesa.  Isto só será possível construindo uma narrativa nacional sobre os últimos duzentos anos.  Figuras históricas como Celso Furtado, Hélio Jaguaribe e Miguel Arraes,  por exemplo,  diriam:  “É preciso nacionalizar o discurso. URGENTEMENTE.”

 


*Ceci Juruá é economista, doutora em Políticas Públicas, mestre em Planejamento e Desenvolvimento Econômico e comentarista do Duplo Expresso às segundas-feiras.

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