Trump joga balde de água fria no golpe midiático americano contra Putin

Por César Fonseca*, para o Duplo Expresso

O tiro saiu pela culatra.

A grande mídia americana quis fazer crer que Trump e Putin iam se esmurrar em encontro explosivo em Helsinque.
Que nada.

Não dá mesmo para acreditar na grande mídia de Tio Sam, como disse o próprio Trump, durante campanha eleitoral.

O status quo midiático queria o que aconteceria se Hilary fosse presidente, ou seja, ampliar frentes de guerra.

Trump prometeu o contrário: tempo de distensão nas relações Washington-Moscou.
Era tudo o que os falcões do Pentágono não queriam.

As expectativas criadas pelas tensões aumentam, claro, produção armamentista financiada pelo governo junto à banca internacional.
Guerras e finanças são irmãs gêmeas no processo de expansão imperial.

Trump veio com outro discurso.
Ampliar o nacionalismo protecionista.

O Jogo de Trump

Argumentou que o endividamento americano, bancado pela especulação financeira poderia implodir, levando o mundo a novo crash, mais potente que o de 2008.
Esse perigo, claro, é permanente no ambiente de guerra, plataforma eleitoral dos derrotados democratas de Hillary, interessados em manter pressão insuportável sobre Putin.

Ficaram dois discursos no ar.
Um, o de Trump, American First, protecionista, nacionalista, de enfrentamento comercial com os dois maiores concorrentes americanos: a União Europeia e a China.
Outro, de Hillary, intensificar a guerra, promover cerco total a Bashar Al Assad na Síria, chamar os russos para o pau, criar expectativas de ampliação de produção bélico espacial nuclear, dívida pública financiando tudo com consequências imprevisíveis.

Venceu Trump.
Derrotado, os democratas criaram o discurso de que Putin espionou os democratas para fortalecer os republicanos e garantir vitória de Trump.
Violação da soberania da América, algo imperdoável, que, se provado, produziria impeachment de Trump, caso não rompesse com a Rússia.

Veneno do Pentágono

Essa acusação reiterada envenenou as relações Putin-Trump desde as eleições com objetivo evidente de inviabiliza-las.
Claro, se se viabilizarem boas relações Estados Unidos-Rússia na linha de promoção comercial do interesse da política de Trump, para atrair russos, os negócios se ampliariam para os americanos no entender do chefe da Casa Branca, um negociante nato. Mas, atrapalharia os planos de guerras dos falcões do Pentágono.

Por trás da acusação de espionagem russa nos Estados Unidos, portanto, emergiu tentativa democrata de inviabilizar o governo do republicano Trump, empenhado, por sua vez, em evitar namoro chinês-russo, objetivando bombear novo cenário comercial com a Eurásia como foco.
Isso representaria derrota comercial americana, praticamente irreversível com reflexo em todo o século 21.

As intrigas cresceram extraordinariamente e chegaram ao ponto limite nas últimas semanas com os democratas americanos blefando que 12 agentes russos foram os principais espiões a serviço de Putin para favorecer vitória eleitoral de Trump.

No encontro de Helsinque, os dois chefes de Estado desfizeram as intrigas, para desespero do pessoal de Hillary.
Putin disse que a Rússia jamais espionou eleições americanas para tirar partido político.
Seu país, reiterou, não faria uma coisa dessa, politicamente explosiva como de fato tem se revelado a exploração louca do assunto pela grande mídia americana, na qual Trump não acredita.

Confiança Mútua

O titular da Casa Branca, por sua vez, disse ter acreditado nas palavras de Putin e condenou energicamente os intrigantes de Washington, interessados em envenenar relações Washington-Moscou. Trump jogou balde de água gelada nos democratas e deixou claro que o pessoal de Hillary tudo faz para atrapalhar seus planos de se dar bem com Putin.

Na prática, o presidente americano quer acelerar o que já disse que pretende fazer: tirar as tropas americanas da Síria, onde não conseguirá alcançar o que Hillary prometeu, se eleita, conquistar: derrubada de Bashar Al Assad.

Putin costurou aliança Rússia-Irã-Turquia, fortaleceu base militar na Síria, fez Israel cair na real de que seria fria tentar desestabilizar Assad, ao mesmo tempo em que botou pra correr mercenários terroristas financiados pela Otan-Pentágono-Israel-Inglaterra.

Ficou claro o tipo de tratamento dado por Trump aos “líderes” ocidentais e ao líder Putin.
Para o líder russo, reverência total dado poder de fogo da Rússia, cada vez mais próxima da China, enquanto mantém condição de superpotência nuclear.

Para os líderes da União Europeia, desprezo.

Guerra Comercial em cena

Considerou União Europeia inimiga dos Estados Unidos por tentar se impor ao mercado americano, ao mesmo tempo em que se nega a enfiar a mão no bolso para financiar a Otan, deixando essa tarefa para Washington. Ao mesmo tempo, em Londres, Trump sugeriu à primeira ministra May processar a União Europeia por tentar enquadrar a Inglaterra em programa econômico neoliberal na linha de Berlim.

Para ele, a máxima de Merkel é impor arrocho neoliberal aos aliados, enquanto busca nos Estados Unidos facilidades para exportar manufaturas industriais no mercado de Tio Sam.
Trump tratou os europeus como capachos.
Quer, na prática, vender para eles gás de xisto, mais caro do que o que eles compram o gás de petróleo da Rússia. Não alcança sucesso, afinal os europeus não são burros de se chocarem tão bruscamente com os russos, dos quais dependem.

A complexidade das relações comerciais se intensifica com a impossibilidade de Tio Sam derrubar a China, que, ao lado da Rússia, impõe-se sobre a União Europeia atraindo-o para os planos da expansão eurasiática, quanto mais para ela vai sendo fechado o mercado americano.

Nesse contexto, Trump certamente não pode falar grosso, nem com Putin, nem com Jiping, como falou para os “liderecos” europeus, humilhando-os.

O contexto é contraditório e explosivo, quando o líder americano tenta taxar importações chinesas sobre volume comercial na casa dos 200 bilhões de dólares, sofrendo em contrapartida, retaliações na OMC.

Vai-se, portanto, confirmando a previsão de Marx de que o capitalismo, em sua fase de estresse global, acelera seu próprio desajuste estrutural final em forma de guerra comercial.

*César Fonseca é jornalista e editor do blog Independencia Sul Americana

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