“ZapGate”: Folha – e Haddad – enterram áudio que detona Bolsonaro. Por quê?

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Publicado 21/out/2018 – 17:10
Atualizado 21/out/2018 – 22:30

  • Folha e Haddad enterraram o áudio-bomba. O batom na cueca de Bolsonaro. Assim, dão tempo para que:
    (i) Judiciário, mais especificamente o TSE;
    (ii) a grande mídia, em especial Globo e Folha de S. Paulo – mas também a “GloBosfera (dita) progressista”; e
    (iii) as duas candidaturas que disputam o segundo turno, Bolsonaro e Haddad, chegassem à formatação final do “grande acordo nacional, com Supremo, com tudo”. Afinal, como já antecipava Jucá “os Generais garantem”.
  • Farsa grotesca!
  • Bom voto no domingo que vem, caros patos!
  • Amarelos ou vermelhos, fica a gosto do freguês.

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– Resumo audiovisual:

*

Algo de muito podre se passa exatamente neste momento nos bastidores destas “eleições” (sic), longe dos olhos e ouvidos da maioria da população brasileira. Especialmente nos entendimentos “em off”, ou seja, clandestinos, entre (i) Judiciário, mais especificamente o TSE; (ii) a grande mídia, em especial Globo e Folha de S. Paulo – mas também a “GloBosfera (dita) progressista”; e (iii) as duas candidaturas que disputam o segundo turno, ou seja, Bolsonaro e Haddad.

Já desde a última quinta-feira, dia em que a Folha publicou a denúncia de caixa 2 de Bolsonaro para compra clandestina do disparo de mensagens em massa via WhatsApp, o Duplo Expresso soube que o jornal tem posse de áudio do próprio Bolsonaro solicitando a empresários tal compra. Quer dizer, a Folha, desde o início, tem a cueca de Bolsonaro com as marcas de batom.

Por que, em vez de publicar tal áudio, bomba, nos dias que se seguiram os editores preferiram dar sequência à pauta com uma bombinha de festa junina?

Ou seja, com a publicação de um tal “documento-prova” do esquema?

Ora, a tal “prova” (sic) se refere a uma oferta feita pelas empresas que prestam tal serviço à candidatura de Geraldo Alckmin, durante o primeiro turno. Em que, exatamente, uma proposta a Alckmin – além de tudo não aceita segundo a própria matéria – prova sobre crimes eleitorais de Bolsonaro?

Nada.

Para alegria de Bolsonaro, que desde a quinta-feira diz não haver provas e só meras alegações, a montanha da Folha pariu um rato.

Nós do Duplo Expresso esperamos até hoje, o domingo, para ver se a Folha reservara o áudio-bomba para este que é o dia de maior circulação do jornal, de forma a potencializar a sua repercussão nesta última semana da campanha.

Que nada.

A pauta, cujo último movimento segue sendo o tal “documento-prova” (sic) publicado na sexta-feira – mesmo passados 2 dias –, já caiu lá para baixo na capa do jornal.

Vejam:

 

Mas a coisa piora.

Na sexta-feira recebemos relatos de duas outras fontes de que mais de uma das candidaturas que enfrentaram Bolsonaro no primeiro turno já estariam, também, em posse do áudio-bomba incriminando Bolsonaro. Ou seja, trata-se de candidaturas rivais do ex-Capitão, aptas portanto a pleitearem a cassação da sua chapa. Uma delas seria – acreditem – a candidatura de Fernando Haddad.

Estranhamente, diante da pressão pela apresentação de provas a corroborar a pesada acusação, já nas primeiras horas da madrugada de sexta-feira Haddad saiu-se com:

 

Mereceu, portanto, todos os memes vindos de bolsominions que choveram na sua timeline em deboche. Exemplos:

 

 

Fora isso, desde a própria quinta-feira ficou claro, depois do Jornal Nacional, que a Rede Globo não embarcaria nessa pauta. Mais um sinal, portanto, de que os Marinho não vão para o tudo ou nada contra Jair Bolsonaro. Fazem isso, por óbvio, por já o considerarem eleito.

“Ingênuo” – se é que há mesmo ingênuos na política – foi quem na candidatura de Haddad orientou colocar todas as fichas numa adesão, estilo kamikaze, da Globo e de FHC à sua causa. Nenhuma das duas veio. Algo de se esperar em se tratando de oportunistas, diante da quase certa vitória de Bolsonaro. E ainda mais no caso da Globo, que pode ser quebrada pelo novo Presidente já em janeiro, por não ter como (i) pagar o empréstimo bilionário, vincendo, que contraiu junto ao BNDES no início do governo Lula; nem tampouco (ii) apresentar bens para dar em garantia para que possa rolar tal dívida – o que é muito suspeito.

Vimos tratando disso, com (bastante inesperada) exclusividade, há mais de 1 ano:

(i) Globo desesperada para eleger Rodrigo Maia: precisa de grana do BNDES? Será isso? (11/jul/2017)

(ii) Bomba: com corda no pescoço, os Marinho sangram a Globo para partirem para outra! (26/jul/2017)

(iii) Bomba: os Marinho colocaram a Globo na roleta do Cassino! (28/jul/2017)

(iv) Venda da Globo a estrangeiro: “analista de mercado” copiou/ colou nossos artigos (7/out/2017)

(v) Desespero na Globo: irmãos Marinho “queimam caravelas” com “kamikaze TRF-4”! (15/dez/2017)

Os Marinho, portanto, apesar do risco de guinada i-liberal com a volta dos militares ao poder – inclusive em termos econômicos –, não arriscarão o seu patrimônio num embate frontal. Quem sabe até já não tenham trocado, inclusive, o não embarque na pauta do “ZapGate” pela rolagem da dívida no BNDES?

Saberemos a resposta já no ano que vem.

Mas e a Folha?

Por que, em vez de publicar o áudio-bomba, saiu-se (muito mal) com o tal “documento” que não prova nada?

E nada mais acrescentou de sexta-feira para cá?

Sim, é certo que a redação está sob ameaças e, em consequência, em pânico. Recebemos relatos dando conta disso. E, inclusive, de que se cogita, por medida de segurança, acampar repórteres por lá até o fim da eleição. A autora das matérias encontra-se escondida, diz-se.

Mas tudo isso não era de se esperar?

Por que, então, publicar a pauta?

Pior: por que publicar o relato e, depois, sonegar a prova do mesmo?

Por que deixar tudo no terreno da ameaça?

Parece, em realidade, tratar-se de uma tentativa de constituir uma alavanca contra o – futuro – Presidente. E, como toda chantagem, perderia o objeto – e a utilidade – uma vez revelada.

A esse propósito, cito postagem do cientista político e comentarista do Duplo Expresso Felipe Quintas, em seu perfil no Facebook:

As “forças ocultas” (principalmente corporações petroleiras e financeiras estrangeiras) decidiram mostrar ao Bozo e seus comparsas quem é que manda de verdade. Esses já estavam muito empolgados falando em “entrar com o pé na porta” e prender juiz graúdo, e essas forças, que foram as que deram o golpe, não querem ter dor de cabeça com empregados de quinto escalão que, pela completa inaptidão eleitoral dos de escalão maior (Psdb e Dem), são os favoritos para ganhar a eleição. Caso Bozo ganhe, e provavelmente será por uma margem menor de votação para abaixar sua bola, terá uma vitória contestada e o processo no TSE o manterá refém do establishment, até esse decidir cassá-lo junto com seu vice, de quebra desmoralizando as Forças Armadas, a última instituição do Estado que ainda goza de algum prestígio social. Assumindo então Haddad e o PT, além desses também serem ameaçados por vários outros processos dos quais serão réus, não terão escapatória no governo e terão que pagar o favor cumprindo exatamente o que o establishment quer, ou seja, manter e aprofundar a espoliação do povo e a entrega total do país. Não é impossível até que, com a ajuda subterrânea dessas forças ocultas, Haddad vire o jogo e ganhe no dia 28, mas já tendo que cumprir tudo o que os golpistas querem para pagar pela vitória de última hora. Em qualquer uma dessas situações, é certo que o governo, seja de Bolsonaro ou Haddad, terá não só que compor com Psdb e Dem, amplamente rejeitados pela população, mas também cumprir integralmente o programa ultraliberal que eles defendem. E enquanto somos distraídos com militares, movimentos sociais, “fascistas” e “comunistas”, [D.E.: e “ZapGate”], os reais donos do poder, que nunca pisaram no Brasil, fazem a festa em seus luxuosíssimos prédios em Nova Iorque, Londres, Paris e Amsterdã, mantendo todo o país sempre nas mãos deles, espoliando-o e estraçalhando-o a seu bel-prazer.

 

Pois é.

Percebem como parecemos ter servido, mais uma vez, de massa de manobra no caso “ZapGate”?

*

Mas o pior vem agora:

– Por que Fernando Haddad não divulga tampouco o áudio?

Eis a nossa hipótese:

(i) Haddad luta não mais para ganhar a eleição mas pela chefia da oposição num futuro governo Bolsonaro. Quer estar bem posicionado para o que imagina vir depois. Se quer diminuir o score da sua própria derrota, trata-se tão somente de tentativa de não ser varrido pelo – ultra vitorioso – PT do Nordeste e/ ou Ciro Gomes no pós-eleição. Haddad não quer ganhar porque, entre outras coisas, sabe que o seu governo seria uma catástrofe nas condições político-econômico-institucionais do Brasil atual. Seria obrigado a realizar o que chamamos, semanas atrás, de “o Plano Perfeito” da Finança transnacional (“’Civilização contra a barbárie’: a versão 13.0 do Golpe” – 25/set/2018):

(…)
(II). DESFECHOS POSSÍVEIS PARA O “GOLPE 13.0”

A seguir, traçamos 4 modelos hipotéticos, alternativos, para o futuro. Trazemos ainda duas condicionantes que podem influir para que haja maior ou menor probabilidade de cada um deles vir a se concretizar.

1) O “PLANO PERFEITO”: o Golpe mostra que aprendeu com o erro de 2016 – apud Tasso Jereissati – e deixa Fernando Haddad como um pato manco durante todos os 4 anos de mandato. Permite, assim, que esse traia, seguidamente, a base popular do Lulismo, entregando todas as concessões impostas pela Finança transnacional.

Isso inclui, obviamente, a não anulação do legado do Regime Temer, conforme prometera – e encarnara – Lula. O resultado disso será a total aniquilação do PT. E já para 2020 e 2022.

(exatamente como Hollande/ Macron fizeram com o PS na França)

A situação do PT aproximar-se-á daquela com Dilma em 2015. Mas, diferença fundamental, sem o impeachment para redimir a ambos. Sim, redimir os dois, ora: Dilma e o PT. Lembremos que Michel Temer demorou 1 ano (!) para descer aos – abissais – níveis de reprovação da Sra. “Senadora Honesta” na Presidência da República.

Aliás, ela agradece, até hoje, pelo “erro” dos senhores, Senador Jereissati. E, é claro, também pelo sacrifício de Lula – que, diferentemente dela, mostrou ter, de fato, vocação para mártir. Afinal, no Brasil da Juristocracia, Sra. “Senadora Honesta”, sim… mas com foro no STF, não é mesmo?

Até lá (2022) já podem aprovar, inclusive, a emenda do Parlamentarismo. E “com Supremo com tudo”, é claro! Que é para acabar, de vez, com o debate político-programático – e a respectiva escolha – no Brasil. Afinal, esses só se dão – e mesmo assim de forma muito rudimentar, sabemos todos – na eleição majoritárianacional, para a Presidência da República.

O garoto propaganda do Parlamentarismo no STF está de olho em 2019 já:

 

Podem complementar ainda a obra (de desconstrução política) com a adoção do voto distrital. Assim, tornarão a Câmara dos Deputados definitivamente a reunião dos 513 “vereadores federais”. A garantir aquela emenda para passar uma demão de tinta na escolinha municipal Profa. Nazaré, botar gasolina na Kombi 1979 da prefeitura, colocar aquela rampa de acessibilidade no posto de saúde há tanto pedida pela Dona Júlia e, é claro, sem esquecer de dragar o velho Córrego Teimoso, antes das chuvas de verão. A fisiologia, colocando nas assessorias nos Estados e em Brasília pessoas chave da comunidade, ajudará a fidelizar ainda mais a clientela.

Discutir “política econômica”?

“Conflito distributivo e o seu reflexo no orçamento/ tributação”?

“Soberania”?

“Projeto nacional”?

– Pffff…

Eis aí a tal “República Refundada”, do Ministro Luis Roberto Barroso…

Refundada diretamente lá do ano de… 1889!

E agora com uma “Política dos Governadores” 2.0, que incluirá, também, além da classe política: (i) a Juristocracia (e as Forças Armadas); (ii) a Finança; e (iii) a Globo/ Facebook/ Google. Trata-se do triunvirato não eleito que passa a tutelar a “democracia” (entre aspas mesmo), como apontamos em “‘Operação Condor II’ – judiciário-midiática! – e o alvo-mor: Lula” (17/jul/2017).

Nesse modelo, TODA a conta do acirramento do conflito distributivo se faz cair sobre o “Terceiro Estado”. O Brasil, afinal, não seria dado a revoluções, têm eles certeza…
(…)

 

(ii) Mesmo que quisesse de fato vencer, o que não parece nem remotamente ser o caso, Haddad sabe, como os Marinho, que Bolsonaro já ganhou. Além de possivelmente temer retaliações no novo regime caso decida pela publicação do áudio, pode ter encontrado uma aplicação muito mais útil para o mesmo: a exemplo da Folha, usar a sua (não!) publicação como alavanca contra o novo Presidente.

E se o áudio pudesse ajudar Haddad a convencer o novo regime a dar uma mão na luta contra os seus rivais no PT e na esquerda no day after?

(te cuida, Jacques Wagner!
Te cuida, Ciro Gomes!)

E se, enterrando o áudio, o “civilizado” Haddad e o “bárbaro” Bolsonaro puderem selar uma paz clandestina, em que ambos se escolhem reciprocamente como adversários – exclusivos?

Ficando com mãos livres para eliminar (como, hein?) as demais ameaças às suas respectivas hegemonias?

Percebem como já se trava(m) a(s) luta(s) de 2019 nesta última semana de segundo turno?

De uma “eleição” de todo fraudada?

Mais ainda quando o “derrotado” escolhe guardar a sua mais pesada munição para não ter risco de não vir a sê-lo?

Isto é, para não haver risco de vencer?

E para, ao contrário disso, poder mais tarde auferir vantagens – para si – no novo regime?

*

O Duplo Expresso sempre avisou que a luta contra o Golpe era a luta por Lula. Livre e candidato. Acrescentou desde então que eleição, se havia, foi realizada no dia 11/set, quando o PT tirou – voluntariamente – a legenda de Lula e deu-a ao Plano B – grafado com “B” de B’ola nas costas e também de candidato B’astardo do Golpe.

Se já não bastasse, para caracterizar a traição, o pisoteio de Lula e do seu legado na campanha que o Plano B vem tocando…

Os golpistas são tão geniais que inventaram o candidato-fascista para que qualquer merda dita por Haddad seja tratada como flores.

Haddad nega conspiração do Judiciario, elogia Moro, defende honra de Alckmin, implora apoio de FHC, sugere co-autor do Ponte para o Futuro para Fazenda, diz que PSDB ta arrependido, considera venda da Embraer ato jurídico perfeito, esconde Lula na campanha… e tudo é lido como ~estratégia eleitoral~ necessária.

Bolso é o bode na sala perfeito e Haddad é o candidato-cheiroso que normaliza o Golpe, dia após dia, enquanto a militância, em transe, defende-o inconseqüentemente por conta de uma eleição fraudada pra inglês ver.

A eleição é uma fase essencial do golpe e candidatura Plano B faz parte dela.

 

… eis que agora Haddad escolhe não usar munição pesada que tem contra Bolsonaro.

Ora, evidente: como proceder como pretende no próximo domingo, reconhecendo a “vitória” de Bolsonaro de maneira “civilizada” se ele próprio apresentar prova de que tudo não passou de uma enorme fraude?

Mais uma vez, assim como no caso da insegurança das urnas (aqui e aqui), Haddad escolhe ser o fiador da higidez da “vitória eleitoral” (sic) da extrema-direita!

E do Golpe!

Ou seja, estamos diante da prova cabal da traição de Haddad e do “PT Jurídico” (i) a Lula; (ii) ao Brasil; e (iii) aos brasileiros, sobretudo os mais pobres, nas periferias dos grandes centros e no Nordeste.

Espetáculo asqueroso!

A que outros jornalistas, somente agora, começam a aludir – embora bem já o conhecessem.

Como diz o companheiro Wellington Calasans, o problema é o delay:

 

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O adiamento da coletiva do TSE sobre “fake news” de sexta-passada, quando havia a expectativa de publicação iminente do áudio-bomba, para este domingo, parece ter seguido a mesma lógica. Ou seja, deu-se tempo para que (i) Judiciário, mais especificamente o TSE; (ii) a grande mídia, em especial Globo e Folha de S. Paulo – mas também a “GloBosfera (dita) progressista”; e (iii) as duas candidaturas que disputam o segundo turno, Bolsonaro e Haddad, chegassem à formatação final do “grande acordo nacional, com Supremo, com tudo”. Afinal, como já antecipava Jucá, “os Generais garantem”.

Farsa grotesca!

– Bom voto no domingo que vem, caros patos!

Amarelos ou vermelhos, fica a gosto do freguês.

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ATUALIZAÇÃO (1): evidentemente as informações deste artigo subsidiaram o debate do Duplo Expresso deste domingo:

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ATUALIZAÇÃO (2): C.Q.D. – tem mais gente que soube que Haddad segura o áudio-bomba:

 

E aí?

É “estratégia” mesmo?

Ou é negociação do preço?

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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