O que significa “vamos com Lula até o final”? O certo é: “resistiremos! Como fez De Gaulle”
Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso
Esta frase “vamos com Lula até o final” tem sido muito usada por lideranças do PT e políticos diversos. O que ela quer dizer? Será que significa que acreditamos num milagre? Significa que acreditamos que a justiça que mantém Lula sequestrado vai deixa-lo ser candidato? Qual seria este final? O final de Lula? O final do golpe? O final da esperança? O final da exploração da imagem de alguém que merecia uma luta mais digna pela sua liberdade?
Esta frase cheia de mistério, deixa um vácuo para o eleitor entre o real e o abstrato. O real é que o ex-presidente Lula é um preso político, sequestrado há 101 dias, por uma organização criminosa chefiada por um juiz de primeira instância, Sérgio Moro. No dia 8 de Julho este mesmo juiz, de férias, impediu que fosse cumprido um alvará de soltura expedido por um desembargador que estava de Plantão. Assistimos perplexos ao desenrolar de sucessivos atentados contra o Estado Democrático de Direito. Somente em ditaduras vimos tamanho atentado aos direitos e garantias fundamentais de um cidadão, um alvará de soltura não ser cumprido. Para não ser injusto, até na ditadura militar o HC era cumprido.
A fragilidade das acusações contra Lula, baseadas tão somente nas delações (sem compromisso com a verdade) são a síntese do Estado de Exceção vivido no Regime Temer e como o poder judiciário está carcomido por células corruptas e com trabalhos alheios aos interesses do Brasil. Ainda assim, com todas as provas de que a constituição foi para o lixo, este mês a quadrilha de Curitiba, encabeçada pelo megalomaníaco Sérgio Moro, quer condenar Lula no Processo do Sitio de Atibaia. Outra farsa perpetrada por esses aloprados.
No processo do TRIPLEX em que Lula foi condenado em primeira e segunda instância, a pena dada por Moro foi de 9 anos e 6 meses de prisão. O TRF-4, para evitar a prescrição, em conluio com o próprio Moro, aumentou a sentença do ex-presidente para 12 anos e 1 mês de prisão. Até um leigo pode constatar esta infame perseguição política contra o ex-presidente. Repleta de ilegalidades, além de não ter provas, somente é sustentada pela palavra de um co-réu que após quatro depoimentos resolveu delatar o ex-presidente, mas para salvar a própria pele. Recentemente, Lula foi absolvido em um processo em que também era baseado na palavra de um delator o ex-senador Delcídio do Amaral.
Estes fatos, resumidamente relatados, servem para enxergarmos a verdadeira realidade de um homem que está preso injustamente e ilegalmente por uma quadrilha de Curitiba que obedece ordens da Globo e dos EUA. Defender Lula – independentemente de gostar dele ou não – é defender a democracia. Não podemos aceitar viver numa sociedade em que os fins justificam os meios. Se assim for, estaremos a um passo da barbárie.
Se podem cometer estes crimes contra o maior líder político do Brasil, primeiro lugar nas pesquisas, um ex-presidente da República que deixou o governo com mais de 80% de aprovação, imagine o que acontecerá com o cidadão comum, com o pobre, com os miseráveis deste país? O reflexo desta distopia já podemos observar nos índices de pobreza e desemprego que aumentam a cada dia. A classe média cada vez mais precarizada e o fim do estado social. Seremos um país neocolonial.
Explicando o abstrato – ainda no vácuo da frase “estamos com Lula até o final”, podemos fazer algumas ilações: estamos sendo cínicos – na onda “me engana que eu gosto”? Sabemos que não deixarão Lula ser candidato e estamos ganhando tempo para não dispersar a militância? Então teremos plano B? Este “final” todos nós já sabemos qual será: somente por um milagre deixarão Lula ser candidato. Deveríamos começar a trabalhar com essa realidade e enfrentar o fato de que a justiça para Lula é a justiça do inimigo.
O Brasil está sob ocupação e o maior inimigo dos invasores é Lula. Eles sabem que com Lula este desmonte das nossas riquezas, como o roubo do nosso Petróleo, não será possível. Lula está preso para que esses invasores possam roubar o nosso país com a ajuda dos entreguistas. Para isso a cooptação do judiciário foi tão importante. A metade da população – aquela que está presa ao monopólio da Globo – ainda não se deu conta de nada disso e acredita que “as instituições estão funcionando normalmente”, assim como na Alemanha Nazista.
Repito o que temos falado no Duplo Expresso há meses: em política não pode existir vácuo, esse vácuo gera uma sensação de insegurança profunda e a consequência disso é um povo anestesiado, sem saber o que fazer e em que acreditar. Fica essa ideia no inconsciente coletivo do povo desta frase “Vamos com Lula até o final”. Como assim? Nós já sabemos qual será o final! Não deixarem Lula ser candidato.
Sejam mais honestos com o povo. Admitam que se renderam aos bancos e que não vão lutar por Lula. Que vão impedir o “Referendo Revogatório” com a Presidente deposta legitimando o golpe, sendo candidata numa eleição fraudada, onde a vontade do povo já terá sido sepultada com Lula preso e impedido. Parem de canalhice! Sejam dignos uma única vez, por favor!
Seria muita ingenuidade acreditar que um “poste” irá nos salvar, este “poste” será (ou já está) cooptado, rendido, pois já faz parte do jogo do novo establishment. A Reuters já se acha no direito de lançar Jaques Wagner, por exemplo. Estas eleições serão fake, para dar uma aparência de normalidade. Também vemos que são poucas as lideranças de esquerda e setores da nossa sociedade que assumem que estamos numa ditadura. Seriam estes políticos coniventes com essa farsa?
É preciso ser forte para denuncia que a nossa justiça é a justiça do inimigo, porque não se trata somente da perseguição a Lula. Ele é apenas o símbolo e a vítima mais conhecida e relevante desse arbítrio. Quando normalizamos esta situação, estamos colaborando com esta ditadura. Ignoramos que mais cedo ou mais tarde esse arbítrio irá bater à nossa porta, seja através da justiça ou da dominação econômica.
8 de Julho de 2018 – A ditadura é institucionalizada no Brasil, um juiz de primeira instância, a partir de Portugal, em pleno gozo de férias, impede que uma Habeas Corpus seja concedido ao ex-presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva. 8 de Julho de 1940 – o parlamento Francês confere poderes ditatoriais ao Marechal Pétan. É importante que façamos um rápido e resumido paralelo histórico, comparando com a situação atual do nosso país: estamos sob ataque dos EUA, que capturaram o executivo, parte do Legislativo, imprensa, setores das Forças Armadas e judiciário.
Podemos comparar a situação do Brasil com a França ocupada pelos Alemães durante a segunda guerra, quando o então vice-primeiro-ministro, o Marechal Philipe Pétan foi alçado à condição de Chefe de Estado. A sede desse governo fictício foi transferida de Paris para a cidade de Vichy, cidade que ficou conhecida como símbolo do colaboracionismo francês em relação ao nazismo. Pétan construiu um regime colaboracionista com nazistas, movido pela direita conservadora e moralista. Entregou aos alemães mais de três quintos do território francês, deportou judeus, fuzilou lideranças, adotou a política nazista da segregação racial ao enviar prostitutas, indigentes, homossexuais e outras minorias para campos de concentração. Gozava de sustentação parlamentar e popularidade como herói de guerra e quando houve um atentado que culminou com a morte de um oficial alemão foi instaurado um tribunal de exceção com a Suprema Corte Francesa que faria Montesquieu revirar-se no túmulo, com aparência de legalidade onde vários franceses foram executados para agradar a ocupação.
O Regime Temer é um colaboracionista como o Marechal Pétan que começa sua carreira de ditador aos 84 anos. Assim como Pétan, Temer é um fantoche que segue todas as diretrizes dos EUA entregando as nossas riquezas. Coincidentemente neste 8 de Julho o arbítrio no Brasil saiu do armário, Moro agindo como um ditador convoca todas as forças colaboracionistas para que se mantenha o maior líder popular deste país na prisão.
A hora é de resistência, de marcarmos uma posição firme e concreta sem vácuo na democracia! É Lula ou nada! Quão ridículo será aparecer para dizer o que está explícito na apatia, falta de luta pela liberdade de Lula, dispersão do povo com falsas defesas, etc. “Tentamos! Lamentavelmente não conseguimos tirar Lula da prisão e sustentar a sua candidatura. Agora queremos o seu voto para este candidato aqui, ele é “Fofinho” vai dialogar com o mercado, vai dizer amém aos desmandos do Regime Temer, vai fazer você sofrer, mas será legitimado pelo seu voto”. Será este o discurso?
Lula deveria fazer como De Gaulle, quando ele se dirigiu aos estúdios da rádio BBC (foto) e convocou os Franceses a fugirem da servidão, continuarem a luta e a não se renderem, “pois a Pátria estava em perigo e era preciso salvá-la”. Lula tem dois importantes aliados, o povo e o relógio. Neste caso, o imponderável tende a ser favorável ao ex-presidente, pois democracia só existe se for com o povo. Sem povo não há democracia. A repetição se faz necessária, pois querem inventar uma nova democracia no Brasil, a democraCIA.
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