Globo tenta anular militares nacionalistas contra o desmonte neoliberal de Tio Sam
Por César Fonseca*, para o Duplo Expresso
Criminalizar Geisel
A Globo, porta voz do império americano, faz qualquer coisa para desgastar militares nacionalistas contrários ao desmonte neoliberal que o governo Temer, fantoche de Washington, promove de forma acelerada.
De repente, a família Marinho se empenha desesperadamente em criminalizar, especialmente o governo Geisel (1974-1979), que incomodou muito os Estados Unidos, com seu nacionalismo econômico.
Primeiro, ela divulgou documento da CIA dizendo que Geisel concordara com a política de perseguição implacável do governo Medici (1969-1974) de exterminar adversários do regime.
Estranho, porque Geisel iniciou seu governo propondo abertura política, algo incompatível com extermínio de adversários.
O documento da CIA diz que Geisel reiterou estratégia dos radicais do regime de continuar torturando e matando os adversários, embora diante da solicitação dos linhas-duras, tenha pedido tempo para analisar a questão.
Contraditoriamente, no entanto, Wernon Walter, homem da CIA na América do Sul na ocasião, encaminhou ao Departamento de Estado americano reclamação de que Geisel era o principal obstáculo à continuidade da radicalização contra os adversários da ditadura.
Em quem acreditar: no documento da CIA, de agora, de que Geisel mandou matar, ou no despacho de Walter de que o general presidente era contra tal determinação?
Por que detonar Geisel, símbolo do nacionalismo militar brasileiro, nesse momento, senão para evitar manifestações nacionalistas nas Forças Armadas contra desmonte neoliberal Temer/Washington, especialmente de empresas caras aos militares como Petrobras, Eletrobras, Nuclebrás e Embraer?
Segundo, a Globo volta nessa semana a atacar Geisel ao divulgar no JN que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), controlada por Washington, condenou o estado brasileiro [governado por Geisel] pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, durante a ditadura militar.
A morte de Herzog levou Geisel a dar uma limpa nos calabouços da ditadura, demitindo militares que se opunham à abertura política que empreendia.
Afastar o Brasil do BRICS
O general presidente, sim, estava sob pressão do governo Jimmy Carter – e sua política Fake News de direitos humanos – mas não abriu mão de fechar acordo nuclear com Alemanha, irritando com isso os falcões do Pentágono.
O objetivo maior dos militares nacionalistas brasileiros era alcançar o ciclo completo do combustível nuclear pela indústria nacional de defesa, que como acontece nos países capitalistas desenvolvidos, protege soberania nacional e alavanca vanguardas tecnológicas, utilizadas em praticamente todas cadeias produtivas no sistema capitalista, elevando produtividade geral da economia.
Geisel, portanto, virou demônio para Washington a partir do momento em que se empenhou, em 1975, na construção de plano nacional de defesa e estratégia de defesa nacional, aprovados finalmente em 2005 e 2007, durante governos Lula e Dilma.
Eis porque Washington faz ligação direta entre Geisel e Lula-Dilma, já que os três potencializaram, keynesianamente, o desenvolvimentismo nacionalista, algo considerado inaceitável pelo império em terras sul-americanas, vistas pelos gringos como quintal de Tio Sam.
Washington não está sossegado com o ambiente militar nacionalista brasileiro, reagente ao entreguismo neoliberal de Temer e Cia LTDA, razão pela qual criminalizar o assassino Geisel, histórico líder nacionalista, virou objetivo de seu porta-voz essencial no Brasil, a Rede Globo.
Geisel-Lula-Dilma nacionalista está na raiz da aproximação do Brasil dos chineses e russos, na construção do BRICS, visão multilateralista em contraposição ao unilateralismo neoliberal washingtoniano, na tarefa de construção de nova divisão internacional do trabalho, opção à dominação financeira global pelo dólar, desde o acordo de Bretton Woods, em 1944.
O golpe neoliberal de 2016, articulado por Washington, tira o Brasil do BRICS e o coloca na órbita de Washington, configurando vitória política geoestratégica de Tio Sam.
Na sequência, o desmonte neoliberal.
Estão indo para o sal, as estatais que os militares nacionalistas construíram, desde Getúlio Vargas: Petrobras, Eletrobras, Nuclebrás, Embraer e bancos públicos, como BNDES, ao lado do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, todos estruturantes do desenvolvimento nacional.
O golpe neoliberal em Lula e Dilma é, igualmente, golpe nos militares nacionalistas, agora preocupados com possibilidade de verem ir para o buraco o que ajudaram a construir, ao lado de outras pepitas de ouro, como a Amazônia, a base de lançamento de foguetes de Alcântara, enquanto Tio Sam faz tremenda pressão para o governo neoliberal Temer apoiar invasão americana da Venezuela para tomar seu petróleo.
Bye bye agronegócio
No momento, Washington cuida também de levar o Brasil ao alinhamento com a OTAN, que contrapõe-se à estratégia do BRICS e da Organização para a Cooperação de Shangai, operadora da montagem geopolítica estratégica de construção da Eurásia, nova fronteira do desenvolvimento global.
Certamente um dos grandes atrativos que a OTAN oferece aos militares brasileiros e da América do Sul – já está fazendo isso com Colômbia – é a substancial melhora na qualidade de vida deles.
Alinhados à OTAN, teriam salários fabulosos, preço para deixarem nacionalismo de lado e sonho eurasiano, asiático, muito mais atrativo por exemplo, aos exportadores brasileiros.
O golpe de 2016 alinha-se o Brasil a Washington, sempre na condição de sócio menor, subserviente, mas não é bom negócio, especialmente para o agronegócio, hoje responsável por puxar o PIB nacional.
O mercado para os produtos agrícolas brasileiros é, certamente, a China e Ásia, e não Estados Unidos, cujo agronegócio compete com o agronegócio nacional.
Por isso, não é à toa que Washington, dando agora as cartas na Petrobras, como se viu na política de preços suicida de Pedro Parente, impõe nova lógica à estatal petrolífera: exportar óleo cru e importar refinados, enquanto desarticula investimentos nas refinarias nacionais.
Com preços internacionais das commodities agrícolas, principalmente soja e milho, impactados pelo custo elevado do diesel e dos refinados importados, o agronegócio nacional perde competitividade para o agronegócio americano no ambiente da guerra comercial China-EUA.
Tomar conta da Petrobras, submetendo-lhe à vontade de Washington, é fragilizar, consequentemente o agronegócio brasileiro.
Soma-se a isso o congelamento de gastos públicos por vinte anos como principal estratégia macroeconômica, em nome do ajuste fiscal neoliberal, que reduz renda disponível para o consumo e tem-se a paralisia crescente da economia, que se verifica nesse momento.
Nesse contexto, tem que ser anulada eventual resistência militar nacionalista contra o neoliberalismo militante de Temer/Washington, razão pela qual detonar o simbolismo nacionalista Geisel e seu sonho de construir Brasil.
Potência torna-se objetivo fundamental, tarefa na qual se empenha a Rede Globo.
*César Fonseca é jornalista
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