Qual o verdadeiro interesse dos EUA com a “desnuclearização” da Coreia do Norte?

Por Paulo Gamba, para o Duplo Expresso

É de conhecimento geral que no dia 1° de julho de 1968 em Nova York – Estados Unidos, assinou-se o Tratado de “Não Proliferação de Armas Nucleares”, que foi ratificação pelo Reino Unido, União Soviética, Estados Unidos e outros 40 estados signatários. Dada sua complexidade, apenas foi possível entrar em vigor no dia 5 de março de 1970. Mais tarde, cerca de 189 países foram ratificando até hoje. Dentre estes países, cinco reconhecem ser detentores de armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China, estes países que também são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

O Tratado tinha como objetivo limitar a quantidade do armamento nuclear desses cinco países – sendo que a antiga União Soviética entrou em colapso, desintegrando-se, e hoje chama-se Rússia – que ficaram obrigados a não transferir essas armas para os chamados “países não nucleares”, nem auxiliá-los a obtê-las.

Este tratado, paradoxalmente, apoia-se na desigualdade de direitos, uma vez que congela a chamada geometria do poder nuclear em nome da conjuração do risco de destruição da civilização. Só para termos uma ideia, os Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China, que curiosamente são signatários do TNP, possuem 90% das armas nucleares, sendo o restante distribuído entre Índia, Paquistão e Israel.

Conforme abordamos anteriormente, até ao presente momento, cerca de 189 países ratificaram o documento, e nenhum deles se retirou do Pacto, exceto a Coreia do Norte, que o fez em 2003, a partir daqui, vamos entender os motivos que levaram os EUA a olhar a Coreia do Norte como “país favelado”, logo estaria no encalço de uma organização pró-americana denominada Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena, na Áustria.

Países como Índia, Paquistão e Israel aliados dos EUA não estão entre os “Big Five”, mas os dois primeiros admitem que já realizaram testes nucleares enquanto Israel nunca assumiu, mas os relatos do genocídio na faixa de Gaza contra o povo palestino não precisa de mais provas.

Os EUA influenciaram outros membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que aumentassem os poderes da AIEA alegando a guerra do Golfo no início dos anos 90 que opôs o Iraque contra o Kwait. Estes poderes provocaram uma crise com a Coreia do Norte em 1993, o país, que tinha se juntado ao tratado em 1985, ameaçou se retirar.

Os norte-coreanos iniciaram o período de 100 dias de aviso prévio exigido dos signatários de que desejam se retirar, mas foram persuadidos pelos Estados Unidos a suspender esse movimento um dia antes do fim do prazo. De acordo com a AIEA, esse aviso prévio de 1999 não teria validade.

Um porta-voz da agência disse à BBC que, do ponto de vista legal, a Coreia do Norte teria que informar a todos os outros signatários e ao Conselho de Segurança da ONU sobre suas intenções de se retirar do tratado, antes que o período de aviso prévio começasse a ter validade, mas como a Coreia do Norte é um estado soberano, abandonou o tratado em 2003, porque não aceitava a ideia de que os EUA continuassem a desenvolver o seu programa nuclear e o resto ficava apenas a olhar.

A postura do líder norte-coreano Kim Jong-un em 2018, buscando uma reaproximação com a Coreia do Sul e demonstrando disposição para negociar, faz parte de uma estratégia maior, pois muitos líderes andaram a subestimar a capacidade de liderança do “rapaz norte coreano”.

Desde as primeiras sanções econômicas impostas à Coreia do Norte, a verdade é que ela tem suportado os embargos até a data presente.

Com este presidente a Coreia do Norte tenta consolidar, por via da iniciativa diplomática, uma boa relação com o seu irmão do Sul, atravessando sem receio o paralelo 38. Na habitual mensagem de Ano Novo, Kim Jong-un afirmou que o seu país pretendia participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang que acontecera em fevereiro na República “irmã” da Coreia do Sul.

Há aqui uma verdade que não pode ser escamoteada: os EUA querem ter o monopólio das armas nucleares e com isso poder dominar o mundo usando meios de persuasão com os seus aliados, nomeadamente UE, Israel e Arábia Saudita. Esses meios de persuasão têm a ver com embargos econômicos, tornando insustentável as economias dos “países alvo” de forma a pararem o desenvolvimento do programa nuclear.

De uma coisa estou certo: os EUA nunca irão atacar a Coreia do Norte enquanto ela possuir armas com grande poder de destruição. A arma nuclear confere poder e inibe qualquer louco de tomar alguma atitude precipitada. Qualquer louco mesmo, inclusive o Trump.

 

 

 

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