Putin, empossado, prepara-se para a Guerra Fria 2.0

Putin, empossado, prepara-se para a Guerra Fria 2.0

4/5/2018, Pepe Escobar, Asia Times

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Dos Comentários à coluna, in Asia Times, 4/5/2018 [aqui traduzido]
Falk Rovik [Antiterrorism Analyst at ARG Asia]

A Rússia já enfrenta guerra fria com o ocidente há mais de uma década. A Rússia está sob ataque de uma guerra de moedas, de uma guerra de mercadorias, de ataques sob falsa bandeira e de sanções. A Rússia deve preparar-se para guerra quente. Israel está usando todos os truques mais sujos para arrastar EUA/OTAN para uma guerra contra o Irã.

O mais recente ataque dos israelenses contra a Síria foi realizado com jatos Eagles F-15 israelenses, com sinais falsificados de transponder. Israel não usou suas rotas normais de voo para chegar pelo Sul; chegou pelo Norte, sobrevoando Jordânia, Iraque para cometer seus crimes de guerra. Os caça bombardeiros F-15E de Israel fizeram-se passar por norte-americanos.

Russos e sírios relutam em atacar aeronaves norte-americanas, porque poderia levar a retaliações SEVERAS, até à 3ª guerra mundial. Então os israelenses fazem-se de norte-americanos.

Sinais falsificados de transponder podem arrastar EUA/OTAN para mais uma guerra. É só questão de tempo, até que um jato norte-americano seja derrubado acidentalmente pelas defesas antiaéreas da Síria.

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Espera-se que imediatamente depois da posse, na 2ª-feira, o presidente Vladimir Putin anuncie um novo governo. E há uma bomba a caminho. O novo gabinete está concebido como uma Stavka: quer dizer, como gabinete de guerra.

No contexto da interminável saga do Russiagate, sanções cada vez mais duras impostas pelos EUA, a encenação conhecida como ‘caso Skripal’ (a qual, por falar dela, sumiu completamente do ciclo de notícias em todo o ocidente), e a grave escalada na Síria – que contrasta com o esforço que fazem Rússia-Irã-Turquia num processo de paz em Astana – eis a opção, pode-se dizer inevitável, preferida pelo Kremlin.

Já há quatro anos um ex-oficial militar de nome Yevgeny Krutikov, colunista de Vzglyad, expôs as “linhas vermelhas” russas para ações de EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN: Ucrânia, Geórgia, Finlândia, Suécia, “ações não amistosas de Lituânia e Polônia” contra o enclave em Kaliningrado e navegação no Báltico, e por último, mas não menos importante, o Ártico, “quase o ideal de todas as bases disponíveis para disparar um primeiro ataque, seja com armas nucleares ou não nucleares estratégicas de alta precisão.”

Mais uma nova linha vermelha, absoluta, é a Síria – recentemente delineada pelo Ministério da Defesa da Rússia: qualquer ataque a pessoal ou a patrimônio russo receberá resposta devastadora.

Ainda mais crucial, a moderníssima tecnologia, estado da arte, dos novos mísseis russos, que o presidente Putin anunciou no discurso histórico de 1º de março, impõe novas graves questões ao império naval dos EUA.

O gasto militar de Moscou diminuiu cerca de 20% em 2017, para US$66,3 bilhões, segundo relatório distribuído essa semana pelo Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI). É o primeiro declínio anual, em quase 20 anos.

Comparem-se os números da Rússia e os do gasto militar de 29 nações que se somaram na OTAN em 2017: $201 bilhões.

Para nem falar do gasto militar dos EUA, relativamente estável pelo segundo ano em sequência, mas à altura estratosférica de $610 bilhões. Mas o SIPRI diz que se esperam aumentos, relacionados à “modernização de armas nucleares e convencionais.”

Contudo, o coração da matéria de agora em diante já não é a enorme discrepância entre os orçamentos militares russo e de OTAN/EUA; é o fato de que Moscou pode despejar mísseis hipersônicos seriais – rápidos e baratos – comparados com a capacidade do Pentágono para construir porta-aviões de multibilhões de dólares.

Eurasianistas x Atlanticistas

Analistas russos confirmaram a Asia Times que está em construção uma Stavka – que se traduz como um coletivo coeso dedicado a conceber soluções pragmáticas em cenário de economia de guerra, em todos os fronts. Implica coordenação extremamente próxima entre Kremlin, Ministério da Defesa, Estado-maior, todas as agências no aparelho de segurança e o complexo militar-industrial russo.

Sergey Sobyanin, atual prefeito de Moscou, tem boa chance de ser o próximo primeiro-ministro. O candidato ideal do complexo militar-industrial seria o ministro da Defesa Sergey Shoigu, ou mesmo o vice-primeiro-ministro Dmitry Rogozin. Mas parece praticamente certo que Putin, por razões de competição interna, escolherá Sobyanin.[1]

As sanções dos EUA são fator decisivo. Rogozin foi punido por sanções em 2014. Ambos Shoigu e Sobyanin são livres de sanções – pelo menos até agora. Consequentemente a boa sorte de Dmitry Medvedev, atual primeiro-ministro pode estar chegando ao fim [pelo que se viu, com a indicação de Medvedev; a boa sorte do indicado não parece ter acabado ou, pode ser, até aumentou (NTs)].

Não é segredo nos altos círculos do poder na Rússia que ruge uma batalha épica já há mais de uma década entre os soberanistas eurasianos – que apoiam Putin – e os integracionistas atlanticistas – que apoiam Medvedev [sobre isso, ver “O longo (20 anos!) pas de deux de Rússia e EUA está chegando ao fim?”, 12/10/2013, Saker, traduzido em Tlaxcala (NTs)]. O impulso eurasianista anda na direção de mundo multipolar e da integração da Eurásia (Novas Rotas da Seda, União Econômica Eurasiana). O impulso atlanticista anda na direção de a Rússia trabalhar para ser aceita pelo ocidente como parceiro equivalente – possibilidade hoje já virtualmente extinta.

Os atlanticistas controlam completamente o banking russo, inclusive o Banco Central. Para todas as finalidades práticas, a economia russa é comandada pelo Consenso de Washington. Do ponto de vista dos soberanistas eurasianos, essa é a principal ameaça que pesa contra o sistema nacionalista estável sob comando de Putin no auge da popularidade.

Em público, Putin sempre apoia o Banco Central da Rússia e a equipe econômica relacionada com Medvedev. Não deve ser compreendido ao pé da letra. Analistas falaram a Asia Times de recente campanha de críticas sérias contra eles, em todos os principais canais de TV da Rússia.

Assim, o teste definitivo, depois do anuncio da instituição da Stavka, é se haverá algum tipo de ataque político contra o Banco Central da Rússia e os aliados de Medvedev. Não será exagero dizer que há altas expectativas nessa direção. Tão altas quanto as que cercam a Copa do Mundo de Futebol, em junho.

Empurre p’rá ponte (da Crimeia)*

Paralelamente ao movimento de Moscou de endurecer o próprio jogo geopolítico, o impulso para a integração da Eurásia continua no topo da lista, como se viu na recente reunião de discussões do Valdai Club no final de abril em Xangai, centrada em como Rússia e China devem coordenar estratégias na direção de construir uma “Eurásia Ampliada” [orig. “Greater Eurasia.”]

Aí se inclui, claro, evitar o EUA-dólar nos negócios bilaterais; reforçar a Organização de Cooperação de Xangai; e solidificar a simbiose com a China como consumidora e a Rússia como produtora de bens.

Os analistas Sergey Karaganov e Yu Bin, por exemplo, concordam no que Karaganov definiu como “a guerra unilateral do ocidente contra China e Rússia.” Começa a emergir o consenso segundo o qual o momento criticamente decisivo para modelar uma nova ordem mundial multipolar acontecerá ao longo dos próximos de dez a 15 anos.

Virtualmente ao mesmo tempo, e também absolutamente não detectados nos radares da mídia-empresa ocidental, representantes de nada menos de 71 países reuniram-se na Crimeia para o IV Yalta International Economic Forum, que é anual.

É um dos mais importantes fóruns de negócios da Rússia, ao lado do Fórum Econômico Oriental em Vladivostok, do Fórum de Investimentos em Sochi e do Fórum Econômico Internacional em São Petersburgo, que acontecerá no final de maio.

Um dia, em fevereiro de 1945, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Josef Stalin reuniram-se em Yalta para desenhar o mundo pós-Segunda Guerra Mundial – que acabou enquadrado pela Guerra Fria, culpada de tudo. Agora, em ambiente de Guerra Fria 2.0, a Rússia está reposicionando a Crimeia como locus de um debate sobre cooperação global – acrescentado de um aeroporto internacional novo em folha, que custou 1 bilhão de dólares e com a Ponte da Crimeia, 19 quilômetros de extensão sobre o Estreito de Kerch, que será aberta ao tráfego ainda em maio, seis meses antes do prazo previsto.

É o que se conhece, popularmente, como “agressividade russa”.*******

[1] Não aconteceu. O Presidente russo, Vladimir Putin, logo depois de empossado propôs à Duma (câmara baixa do Parlamento) o nome de Dimitri Medvedev para primeiro-ministro, funções que exerce desde 2012. A votação na Duma está prevista para hoje (8/5), terça-feira. Dimitri Medvedev foi Presidente da Rússia entre 2008 e 2012 e primeiro-ministro entre 2012 e 2018 (NTs, com informações de Diário de Notícias, Portugal).

* Orig. “Take to the bridge” é expressão que aparece em vários cenários. Em https://www.youtube.com/watch?v=Ajzpd-ONOdo ouve-se de James Brown, em 1971, com Fred Wesley. De modo geral indica que o acompanhamento deve preparar-se para mudança no canto, para uma eventual segunda parte [NTs].

 

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