O nacionalismo é a nossa ágora
O mestre Mauro Santayana lançou há algum tempo uma convocação para que não deixássemos o fascismo falando sozinho. Ele dizia que deixar os fascistas falando sozinhos é fazer o que eles querem e, alertava, é o que fazíamos há alguns anos.
Santayana recomenda que inclusive (quem possa) nos cadastremos nas revistas e jornalões para colocar um dedo de racionalidade e de verdadeiro debate naqueles espaços.
Não deixá-los falando sozinhos!
Não entrar na linha do palavrão e do ódio, mas argumentar com informação crível, com dados, com firmeza, tenacidade, capacidade persuasória.
Santayana dizia no artigo – isso já faz cerca de dois anos – que a sociedade estava dividida em três grandes partes. Um terço já havia sido capturada pelo discurso fascista (inclusive porque há anos deixamos os fascistas falando sozinhos), um terço ainda acreditava na razão e na democracia e um terço estava como torcida de jogo de tênis, olhando para um lado e para o outro.
Esta parte da sociedade ainda em disputa (a torcida do jogo de tênis) tende, no entanto, a aderir ao fascismo numa disputa, pelo simples fato de que os fascistas estão na ofensiva. Por isso, não devemos jamais abandonar os espaços de debate.
A lição de Santayana
Santanaya tem razão. Claro que passaram-se cerca de dois anos do seu alerta e algumas coisas mudaram. Teve a caravana do Lula, por exemplo. Mas mudaram para pior – a prisão do Lula – e ao piorarem mostram o acerto do alerta do mestre Santayana.
Este é o desafio para nós – homens e mulheres de esquerda, democratas e nacionalistas: nos alimentarmos de informações nos nossos meios de comunicação e de debate e sairmos à pesca de almas para somar-se ao nosso aguerrido, mas ainda perigosamente pequeno, exército de convertidos.
Não digo que seja fácil, nem digo que todos sejam igualmente aptos a esse tipo de combate.
Mas digo que ele é necessário e que não é produtivo nem inteligente gastarmos cem por cento do nosso tempo (ou mesmo a maior parte dele) navegando nas nossas bolhas. A vida está nas ruas, nas praças, nos ônibus, nos supermercados.
Só temos certeza de que sabemos uma coisa, de que detemos um determinado conhecimento e de que temos convicção do que dizemos quando submetemos a nossa convicção ao teste da contradição, da sua negativa, da contrariedade. Debate é luta e luta é vida. A vida é luta.
Sem render-se à tentação do ódio, claro. Como se diz, quem tem ódio tem o Satanás morando no seu coração. A luta política é, antes de tudo, uma manifestação do amor. Amor também é dizer a verdade com respeito, firmeza e coragem.
Precisamos retomar a iniciativa: o projeto nacional
A ofensiva necessária e possível, ao meu ver, é a defesa do Brasil, de tudo o que é nosso, de tudo o que nos constitui como brasileiros e brasileiras: a nossa língua, a nossa cultura, as nossas riquezas, o nosso dever de honrar o legado dos nossos antepassados e o perseguir o nosso destino.
Em duas palavras, o projeto nacional: construir um espaço de prosperidade, liberdade, igualdade, desenvolvimento e Paz na América do Sul. Só assim cumpriremos nosso dever para com a humanidade.
Lula livre por soberania popular e soberania nacional
Por isso e para isso, o bordão “Lula livre” precisa estar em imediata e permanente conexão imagética e dialogal com a defesa do nosso petróleo, águas, terras, floresta amazônica, energia, direitos sociais.
“Lula livre” por soberania popular e soberania nacional! É esta conexão que confere ao “Lula livre” sentido, dignidade, incremento de consciência política, capacidade mobilizadora: numa palavra, força!
A massa do povo já compreendeu isso. Para o povo trabalhador, o seu pai está preso. Este é o nosso capital político. É o que já acumulamos na resistência ao golpe. Precisamos reforçar, alargar e aprofundar a compreensão popular desta vinculação entre a perseguição a Lula e os destinos do país de todas as formas possíveis, em todos os espaços possíveis, sempre.
É necessário, é correto e é possível
Tenho colocado à prova esta estratégia discursiva em variados ambientes. Com animador êxito!
O êxito vem, talvez, do fato de que para mim defender o Brasil não é apenas estratégia racional ou uma esperta jogada retórica. É uma crença enraizada no meu pensamento e no meu coração. Não faço a defesa instrumental do Brasil. Antes, ser brasileiro é o que me constitui como ser político, como cidadão, como ser humano.
O que aprendi com o Requião e também com o Lula na caravana é que o lugar filosófico e retórico da defesa da soberania popular e da soberania nacional – numa palavra: o nacionalismo – abre os caminhos para a superação de todos os obstáculos dialógicos e permite estabelecer um luta produtiva de ideias, ainda quando carregada de elétrica tensão.
O discurso democrático com substrato nacionalista funda um espaço de razão dialógica em que a busca da verdade toma a direção do debate e do embate. O “o que” (Lula livre”) ganha o seu porque. E tudo flui.
Por isso, afirmo que a defesa da soberania popular e da soberania nacional – vale dizer, o nacionalismo – é a nossa ágora.
Quem, como eu, esteve com Lula na caravana sabe que ele pensa e fala assim. É um novo Lula. Um Lula pós-Meirelles, um Lula que aprendeu com o povo brasileiro a não acreditar na conversão do Capeta, a não brincar com o perigo. Aprendeu que todo cuidado é pouco.
Soberania popular como fundamento e esteio da soberania nacional: esta é a palavra do “cara” que arrasta multidões, do homem que virou ideia, do homem-ideia-homem, da ideia-homem-ideia. Este é o caminho e o ponto da união. E a união é a força. E com a força a gente vence.
Samuel da Ferrovia
Paraná, um estado de amor pelo Brasil
Nota do Duplo Expresso:
Samuel Gomes é advogado e assessor parlamentar. É também comentarista de assuntos institucionais às quartas-feiras no programa matinal Duplo Expresso.
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