Venezuela: polarizar ou ser “isentão”?

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

No Facebook agora há pouco:

 
“Prof. Fulano” 

(acadêmico europeu engajado na luta pela liberdade de Lula)
3 hrs ·
Muito triste ver que pessoas comprometidas com o estado de direito e a liberação do Lula no Brasil comemoram na Venezuela uma eleição sem as figuras mais populares da oposição, que foram presas em processos farsas. Democracia não é coisa partidária.

 

Romulus Maya
Romulus Maya – Talvez porque em ambos os casos tais pessoas lutem contra o imperialismo e o ataque às respectivas soberanias, não necessariamente aprovando toda e qualquer medida tomada. Nem por Maduro, nem por… Lula! É possível apoiar criticamente, diante de um mal maior.
(como, aliás, ocorre numa votação de segundo turno, a não ser que se anule o voto!)
Ainda mais quando a oposição venezuelana é o que é: golpista. Eles respeitam Estado de direito? Aliás, os EUA respeitam o direito internacional?

A esse propósito, trecho de artigo antigo mas ainda atual:

 

(…)

Aliás, (fulano, “isentão”,) lembra muito certas postagens do (…) Renato Janine Ribeiro (no Facebook), por exemplo.

Como aquela em que ele “resolveu” (?) o dilema de ter de se posicionar com relação ao dramático conflito na Venezuela dizendo que “a constituinte venezuelana é golpe sim -porque os jornais europeus ‘de esquerda’ (?!) assim disseram – e eu não preciso escolher entre Maduro e…

– … TEMER” (!)

Oi?!

“Temer”?

É o nome de algum líder da oposição venezuelana??

Assim fica fácil, né?

É muito bonito ser ponderado e saber apreciar o valor de todas as posições.

Mas isso é um valor “meta”.

Não pode, convenientemente para não desagradar muito, quase substituir a mensagem em si:

No caso venezuelano, reconhecer que ali é golpe contra golpe.

Ou será contragolpe contra golpe?

E que não tem “terceira via liderada pelo filho de Jesus com Buda”… é escolher entre dois diabos. O menos feio. fim.

*

Volta “Prof. Fulano”…


“Prof. Fulano”:

1) Está falando em soberania popular ou soberania nacional? Soberania popular não existe se a população não tem o direito de escolher os seus representantes. Soberania nacional não serve a nada se usada contra o próprio povo. A Coreia do Norte também defende a soberania nacional contra os EUA, não quer dizer que temos que apoiar o regime dela.
2) Não tenho conhecimento de Henrique Capriles e Leopoldo López não terem respeitado o estado de direito, por favor me explique como. O estado venezuelano até perseguiu chavistas críticos de Maduro, que não tinham nada a ver com a oposição, e também sindicalistas de esquerda. O fato de uma parte da oposição não ser democrática não justifica a perseguição politica de inocentes, nem a prisão sem processo justo.
3) Não entendo o argumento. Em que medida o comportamento dos Estados Unidos justifica prisões politicas de Venezuelanos? As pessoas acima citadas não foram acusadas de espionagem ou de cumplicidade com os EUA, se tratou de processos com pretextos típicos de ditaduras (falsas acusações de corrupção ou de “terrorismo”) nunca comprovados, numa situação ainda pior do que foi feito no Brasil com o Lula. Destruindo o Estado de direito o Maduro não luta contra os EUA: ele ajuda eles, pois descredibiliza o compromisso com a democracia que ainda existia na época do Chavez. Talvez você siga defendendo essas eleições porque identifica Maduro como herdeiro do Chavismo e por tanto parte do campo da esquerda. Mas o governo Maduro não é de esquerda. Perseguição política e manipulação da justiça é fascismo, é uma política de extrema direita.

 

Romulus Maya
Romulus Maya – Ok, você vai dizer que é Telesur, mas estas partes não são controversas:

“Luego, en Venezuela, se conectó con el Instituto del Partido Republicano de EE.UU. (International Republican Institute), que le extendió su apoyo estratégico y financiero. A partir de 2002, realizó frecuentes viajes a Washington a la sede del Partido y a encuentros con funcionarios del Gobierno de George W. Bush (2000-2008).
En el 2002 encabezó la marcha de oposición al Palacio de Miraflores, en Caracas, que provocó la muerte de decenas de personas, propició el golpe de Estado y el secuestro del entonces presidente Hugo Chávez (1999-2013).
En esos días, participó en la persecución y detención ilegal del entonces ministro de Interior y Justicia, Ramón Rodríguez Chacín. Sin embargo, la causa judicial en su contra por estos hechos cesó en diciembre del 2007, gracias a una amnistía otorgada por el propio presidente Chávez.
(
…)
Posteriormente, en 2011, López fue precandidato presidencial (aunque sabía que estaba inhabilitado) y se alió con el exmandatario colombiano Álvaro Uribe Vélez (2002-2010), con quien se reunió en varias ocasiones para solicitar su “asesoría” en materia de “seguridad”.
Desde comienzos de 2014, López realizó convocatorias en aras de romper el orden constitucional e incitó a la desobediencia civil para demandar la salida del presidente Nicolás Maduro por vías antidemocráticas.
Sus llamados culminaron con focos de violencia en varias ciudades del país, especialmente en la capital, que dejaron 43 venezolanos fallecidos, más de 800 heridos y daños materiales en infraestructuras públicas y privadas.”

Pergunta: a maneira como a oposição atuou para desestabilizar e inviabilizar o governo Maduro quando conquistou maioria no Parlamento respeitava o “Estado de direito”?
Como digo no artigo, ali é golpe contra golpe.
Ou contragolpe?

*

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Sobre o fenômeno do “isentão”, ver:

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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