Plano Etchegoyen: Globo e entreguistas armam arapuca com bancada do pó?

Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

Sou do Rio de Janeiro. Devo confessar que não me surpreendi muito quando parente de direita, linha dura – e muito ativo politicamente, enviou para o grupo de WhatsApp da família a seguinte sequência de fotos/ vídeo:

 

Tivesse eu as visto antes, certamente ilustrariam o artigo que publiquei ontem: Novo “paninho vermelho”, velho “touro” (irracional!): uso político claro da cartada “militares nas ruas”.

Notem que a série de fotos foi enviada logo na sequência da decretação da intervenção militar no RJ (na última sexta-feira).

Estaria já pronta?

“Casualmente” embaralhada à faixa “em apoio a Lula” (?) na Favela da Rocinha?

Aquela que é a mais lucrativa para o tráfico na cidade e que é controlada por facção local aliada ao PCC?

Seja qual for o caso, ao ver hoje tal sequência de fotos, imediatamente encaminhei-as a contatos na política e na militância, acompanhadas da seguinte mensagem:

Recebi de um parente de direita do RJ, muito ativo politicamente. A narrativa já está pronta e as forças populares estão prestes a interpretar o papel que a direita e a Globo escrevem para elas nesta farsa.

Os partidos de esquerda devem ter muito cuidado com relação à intervenção militar na segurança. A Globo e a direita contam com a oposição das forças de esquerda, para cola-las à “criminalidade”.

Em política importa menos a realidade que a percepção da mesma pelas pessoas. Por isso, pouco (ou nada) importa alegar – racionalmente como tantos andam a repetir por aí que “as estatísticas indicam que o RJ não está nem entre os 10 primeiros Estados mais violentos do Brasil”.

Quem quer tenha dito que “contra números não há argumentos”…

– … certamente não estudou psicologia humana!
(ou dissonância cognitiva!)

Há informações de que partidos de esquerda votarão hoje contra a intervenção.

Mais do que isso, seus representantes apressam-se desde a semana passada para ir às redes sociais manifestar o seu repúdio veemente à mesma.

“Técnico”, mas também baseado “no interesse das comunidades atingidas”.

(vejam as estatísticas (mais adiante): falta combinar com elas, tá?)

Não raro, chegaram mesmo a evocar traumas do passado (1964-1985).

Considero essa resposta – dada por default! – um erro político.

E um erro político grave, dada a cruzada (para-) “político-institucional” em que nos encontramos em 2018…

E que será explorado – à exaustão – pela Globo e pela direita.

Quem viu como a Rede Globo logrou destruir a imagem de Leonel Brizola, especialmente no seu segundo mandato, associando-o à “bandidagem”, lamenta profundamente ser forçado a encarar a encenação de tal reprise.

(e com atores muito menos “sagazes” – em ambos os lados – convenhamos)

Gostemos ou não disso, esta eleição periga se tornar sobre “segurança pública” (!)

Em vez de sobre perda de direitos/ soberania/ desmonte do Estado…

Morderemos a isca?

Responderemos como os cães de Pavlov?

*

Como já sabem, analisei mais detidamente a sinuca de bico ora armada em artigo publicado ontem no duploexpresso.com:

Novo “paninho vermelho”, velho “touro” (irracional!): uso político claro da cartada “militares nas ruas”

*

Pois não é que o “CQD” do artigo veio a galope?

*

“Eu vejo o futuro repetir o passado”

Líder nos anos 80 da facção criminosa carioca Comando Vermelho, o traficante “Escadinha” (aquele que escapou do presídio de Ilha Grande de helicóptero!), executado em 2004, afirmou em livro publicado pelo próprio nos anos 90 que o “CV” teria recebido malas cheias de dinheiro pra “tocar o terror” antes das eleições de 1986.

Resultado (objetivo):

Derrotado
– Darcy Ribeiro, vice-governador e candidato de Brizola à sua sucessão no governo do Estado. Como sabemos todos, um grande (enorme!) humanista.
Brizola marcara a sua administração por uma política de respeito aos direitos humanos, resumida pela máxima “polícia não sobe mais o morro”.
Concomitantemente, seus correligionários na prefeitura da capital encerraram a política de remoção e reassentamento de favelas.

Eleito
– Wellington Moreira Franco, o “Gato Angorá”, que prometia na propaganda eleitoral “resolver o problema da segurança pública em 6 meses!”, com tática de “guerra total à criminalidade”.
Evidentemente, tal qual o Plano Cruzado, a validade de tal promessa expirou tão logo terminou a apuração das urnas!

*

Ora, e quem é que está hoje na retaguarda de Michel Temer?

– O mesmo Moreira Franco!

Coincidência?

Ou a História se repete?

(como farsa & tragédia?)

*

Resta saber se as forças populares se encaminham para encenar o papel escrito para si pela direita…

– … ou não!

Opor-se abertamente, agora, à intervenção militar – que só falhará no médio prazo (notem: todos sabemos que falhará!) – equivale a desistir de 2018.

E, por tabela, da Petrobrás, do pré-sal, da CLT, da previdência, da soberania nacional, do…

*

– Acorda, minha gente de esquerda!

– Quem dá voto em eleição majoritária?

– Professor de Antropologia?

– Ou o povão??


A não ser que se queira alegar que 83% da população é composta por ricos/ classe média (!), o povão também apoia, em grande medida, a intervenção militar!

(no dos outros é refresco!)

*

Outras reações

– Interlocutor de esquerda (A), de SP, “idealista”:

*

– Interlocutor de esquerda (B), do RJ. Testemunha a política ser feita desde criança. Por isso mesmo, passa longe de ser “idealista”:

(reagindo ao meu artigo de ontem)








*

Interlocutor de esquerda (C)
(“C” de “conspiração”??)

Quando o PCC foi criado o Secretário de Segurança do Estado de São Paulo era Michel Temer.

O ministro do STF, indicado por Temer, Alexandre Moraes, era advogado do PCC.

– Será que o Silvio diria que os honorários eram pagos “em BARRAS que valem mais do que dinheiro”?

Aloysio Nunes, secretario da casa civil, que era o vice do Aécio Neves na eleição passada e é o atual Chanceler de Temer, teve seu nome envolvido numa grande apreensão de drogas em uma de suas fazendas.

– Manchete “discreta”, né? Imaginem se fosse do Lula…

Aécio Neves é dono do aeroporto de Cláudio, que faz parte da rota de distribuição de drogas. A região fica na rota daquela famosa e inesquecível apreensão do helicóptero do Senador (!) Perrella.

Cristiane Brasil, a nossa Ministra do Trabalho (não tomou posse ainda, mas é muito importante para o governo que nesse momento não haja nenhum ministro do trabalho no ministério), é investigada também. Sabe pelo quê? Envolvimento com o tráfico de drogas.

Um avião decolou de uma fazenda de Maggi, o nosso ministro da AGRICULTURA, transportando adivinha o quê? Drogas!

Daí, na boa, você acha mesmo que o Exército foi convocado para combater o tráfico?

Fosse o caso, a base governista realmente teria motivos para se preocupar…

*

“Milagre agrícola no Centro-Oeste”…

(bem, “agrícola” de fato)

“Ninguém sacou que DESEMBARGADORA é a chefe do narcotráfico e que os filhos são seus laranjas?”, perguntou Rodrigo Jardim Rombauer.

Ao que respondi:

Romulus: provavelmente só nós que estamos fora do Brasil podemos falar isso livremente

Rodrigo: mato grosso, farinha fina.

Romulus: Pois é. Mato Grosso do Sul é um narco-Estado.
Nivel Colombia.
Há muito tempo.
Nao tenha duvida: muito do “milagre” do gado no Centro-Oeste é lavagem de dinheiro.
Boi é das melhores coisas para lavar.

Rodrigo: O Brasil vai copiar o modelo colombiano.

Romulus: Já quase chegou ao climax com o Aécio na Presidente, né??
Pior que isso só quando um “chefe” sair eleito mesmo.

*

Certo, gente??

Vamos acordar pra certos “milagres” do “Agronegócio” no Centro-Oeste/ Norte!

*

Bem…

Coca e maconha não deixam de ser “agronegócio”, né??

?

*

Palavras “soltas”

– Moreira Franco/ PMDB…

– 1986…

– “Escadinha”…

– “Tocar o terror” ($$$)…

– “Guerra: acabaremos com a violência em 6 meses!”

– Eleição…

*

– 2018…

– Eleição (bis)…

– Temer/ Moreira Franco/ PMDB/ Etchegoyen…


“Barras que valem mais do que dinheiro, Silvio”.

– …

– …

– …

*

– Oh, Cassandra! Troia tem mesmo que arder??

*

*

*

P.S.: Sugestão de como poderia ser trabalhado um voto-“pegadinha” “favorável” (?) à intervenção

Por “Colaborador” do Duplo Expresso
(que tem as Forças Armadas no centro da sua pesquisa universitária e conviveu diretamente com alguns dos atores envolvidos)

De maneira bem sucinta, é preciso entender qual foi a jogada “pra dentro” do Etchegoyen : como o Romulus bem mostrou na publicação do duplo expresso de ontem, Villas-Boas já falou DIVERSAS VEZES CONTRA A IDEIA DE USAR AS FFAA EM INTERVENÇÃO. Ele estava dando o recado! Sabia muito bem de onde vinha a pressão e tem se virado nos 30 para conter a linha de frente imposta por Etchegoyen e Mourão já faz um tempo. Mourão pediu reforma esses dias, e ficou bem mais livre para atuar no bastidor, especialmente junto a este setor que legitimamente faz política através do GSI, ocupado por Etchegoyen. Vejam, é uma posição estratégica essa, política e militar ao mesmo tempo. Villa-Boas não tem qualquer ingerência ali; a cadeia de comando simplesmente não incide. Esses caras estão ensaiando faz um bom tempo, só esperaram a condição perfeita. E ela foi agora: se “der certo” (isto é, se for um sucesso de mídia), a ala intervencionista ganha. Se “der errado” (isto é, caso se torne um novo Rio-Centro e a bomba exploda no colo do Exército), a conta vai pro Villas-Boas e pra ala “moderada” (não achei palavra melhor). Etchegoyen, Mourão e cia. deram um “xeque”, mas não é “mate”. V-B tem boca, se abrir o jogo e derrubar o primeiro dominó, que começa na Lava Jato, os outros caem também….Mas vou voltar a isso depois, porque há ainda um outro ponto.

Essa é uma obra em construção. E ainda está sendo construída. Não me surpreenderá se durante essas intervenções não começarem a pipocar “provas” da ligação entre PT e PCC, esse vai ser o lucro da guerra.

Vai deslocar do eixo Perrela – Aécio para o Dirceu – Lula. É fácil como “cair um castelo de cartas”. Associar o Lula ao tráfico é a última cereja do bolo. E aí vem a acusação fatal…

O que eles vislumbraram? Que os dias para Lula estão contados, que os ânimos estão acirrados. Não faltou gente falando em desobediência, catarse, luta, etc. Os caras esperaram isso.

Que vão elaborar? Um Rio-Centro que dê certo, porque vão tentar fazer dessa vez a bomba não explodir no colo do sargento.

Com a ajuda de quem? Sobretudo da banda podre da PMERJ, que vai subir o morro de ninja e depois descer apavorando. Entendam que o esquema do PMDB sempre foi esse.

E, pra coroar, vão começar a “plantar” PCC no RJ inteiro… A primeira foi ontem, com aquela rebelião. Quando atingir um estado crítico, anexam o PT e jogam na ilegalidade?

Note que existem várias experiências de ligação forçada de políticos com o tráfico, a expertise americana nisso vem de longa data.

Que fazer? Um passo atrás, dois à frente. Tem que pegar os caras de surpresa! Tem que fazer um discurso como este aqui, vindo de alguém como a Gleisi:

“Confiamos no comando do General Villas-Boas, e do General Walter Braga Netto. Eles sabem que grande parte do problema está NA CORRUPÇÃO DA POLÍCIA, HÁ ANOS INSUFLADA POR SETORES DO GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, LIGADOS A EDUARDO CUNHA, PICCIANI, MOREIRA FRANCO, CABRAL, ETC. Entendemos que a intervenção deve ser uma intervenção NOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA, e não na população. Esta última já foi tentada, e com resultados duvidosos (e.g., Favela da Maré).

Nossa relação com as FFAA, durante os governos do PT, sempre foi marcada por amizade e respeito mútuos. Entendemos que os militares que hoje estão comandando estão preocupados com o Brasil, e confiamos que eles ajam sob o manto de legalidade e de suas atribuições constitucionais. Sabemos que eles não vão apontar as armas para o povo que é, no fim das contas, a sua própria reserva e para quem trabalham.”

Isso pega Etchegoyen no contrapé. Se não resolve, ganha tempo. E tempo é o que não existe agora. Pois eles podem, inclusive, acelerar as coisas para entornar o caldo antes de o STF decidir sobre o HC de Lula.

É preciso ter bem claro que Etchegoyen vislumbra sobretudo a tomada de controle do Exército, que tá na mão de gente legalista faz bastante tempo.
Villas-Boas vai sair do posto dia 31-3, é nele que tem que se concentrar apoio
.

O PT já não tem mais muita relação com outras elites, não pode perder o pé dos militares. Não pode fazer discursos, como o que a Sen. Gleisi fez tempos atrás, dizendo que a geopolítica e os projetos militares como o Prosub foram “obras do governo PT”. Tem que dizer que foram projetos pensados por cientistas e militares APOIADOS pelo governo do PT, que viabilizou-os politicamente priorizando-os no orçamento. Sabe como foi lido aquele discurso da Senadora? “Ela sequestrou nossos projetos”… O tiro saiu pela culatra. Precisam aprender a se comunicar com militares, antecipar a lógica deles. Senão, perdeu!

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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