Macron samba e sapateia no “alô” dado por João Dória
Macron samba e sapateia no “alô” dado por João Dória
Ou:
“Sotaques de autoridades” – Vol. 2 (mas já??)
Por Romulus
Apesar de todo meu pé atrás com Emmanuel Macron, o recém-eleito novo Presidente da França, é inegável o ganho de imagem para o país – “juventude”, “dinamismo”, “vontade mais que aparente de fazer as coisas ~se mexerem~”.
A questão que resta é saber para que, do ponto de vista programático, serão usados esses “ativos” do “moço”.
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(Maravilha de) Sotaque
Daqui a pouco, somando o artigo de ontem com este aqui, vão achar que sou implicante com sotaques e tal…
Muito pelo contrário!
Não só os aprecio, como soube, por intermédio de uma colega linguista daqui, da dimensão inconsciente que trabalha ~contra~ o esforço, consciente, de redução do sotaque na aprendizagem de uma segunda língua.
Tudo para, nas pessoas ~bem resolvidas~ com as suas ~origens~ – e com autoestima, manter laços afetivos com de onde se veio.
Dito isso, registro que Emmanuel Macron é o primeiro dignitário francês (em qualquer nível, não só na presidência) a falar inglês fluentemente.
Basta lembrar de episódios engraçados, como o (não) discurso de Mitterrand na Ilha da Liberdade, em NY, nos 100 anos da Estátua da Liberdade.
Diz-se que para dizer uma meia dúzia de palavras em inglês Mitterrand teve de ensaiar incessantemente.
De lá para cá nada mudou: Sarkozy, o político mais americanófilo que já ascendeu ao poder na França, não falava uma palavra de inglês. Hollande idem.
Demérito nenhum: não deve ser exigido de nenhum chefe de estado expressar-se bem em idiomas que não o seu.
Está aí o todo poderoso Vladmir Putin, que ninguém nunca viu falar palavra alguma que não fosse em russo. Merkel – a neo-imperatriz romano-germânica da Europa – idem: embora tenha estudado outros idiomas, nunca a vi fazendo pronunciamentos em outro que não o ~seu~ alemão.
Pois bem. Feitos todos esses registros, noto, com um sorriso bienveillant, que na França só se diz desde domingo que “Macron fala inglês como um nativo, sem qualquer sotaque”.
Bem… só mesmo franceses para dizerem coisa parecida. (rs)
Macron tem um sotaque pronunciado. O que não só não é obstáculo para a sua fluência e compreensão (como se vê aí), como é até charmoso: dá personalidade… identidade não anódina.
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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
“Ah, mas cadê a sua coerência?? Na véspera você marretou o pesadíssimo sotaque do João Dória falando francês… e dirigindo-se justamente a esse Emmanuel Macron aí!”
Esse é o ponto: a questão não é sotaque (ou não sotaque). E sim as intenções subjacentes dos dois pronunciamentos, totalmente diferentes.
Macron, de fato, dirigia-se a estrangeiros. Nada de simulação: claramente queria chegar aos alegados receptores da sua mensagem. Fala inglês fluente e, assim, achou por bem falar diretamente na língua deles. Bom para ele, ora. E para os seus interlocutores também.
(com ou sem sotaque!)
Já Dória, pela total ausência de genuinidade na “intenção” de “falar a Macron” (hahaha), bem como pela – bandeirozíssima! – legendagem do vídeo ~em português~, não tinha nem como esconder a verdadeira proposta. Que de fato, ao fim e ao cabo, ficou totalmente exposta: exibir uma suposta erudição à parcela jeca, pedante e vira-latas do seu público.
(sim, ele tem “público”. E não eleitores… que dirá então “concidadãos sob sua responsabilidade administrativa”!).
Le pauvre…
– “Deu ruim”, Dória!
Só o que se guardará daquele seu vídeo é a frustração do seu objetivo:
– Mirou no esnobismo, errou!, e revelou tão somente o seu pedantismo. Ou seja, a sua ~falsa~ erudição.
“Falsa”?
Pois sim, ora!
E poderia ser diferente com um… ~Prefake~ ??
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Bônus:
E que diferença dramááática no conteúdo, hein??
Macron dirige-se a cientistas – e não autoridade passível de bajulação – com o nobilíssimo intuito de conceder-lhes refúgio num tempo de trevas no seu país de origem.
E, tudo isso, tendo por pilar a preocupação ~comum~ da humanidade com a mitigação das devastadoras mudanças climáticas.
E mais: o “guri” já chega mostrando altivez. Peita, (nem tão) indiretamente, o homem mais poderoso do mundo.
E dado a arroubos, como todos sabemos!
E, enquanto isso, ao sul do equador…
Bem, enquanto isso Dória lê no teleprompter um texto insosso, onde conseguiu meter como fechamento o interesse em “fazer negócios”.
Ahhhhh….
Que diferença, né??
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– Prefake, para terminar na mesma pegada linguística, e para facilitar pro seu lado, vou falar na língua dos seus camaradas, ex-brasileiros (foram algum dia?), radicados em Miami Beach (aquele repositório – tão chic… – da cultura ocidental):
– Watch and learn!
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– E no Twitter:
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