O dia em que o Instituto Liberal mandou a Terra parar de girar ao redor do sol
Por Romulus
O dia em que o Instituto Liberal mandou a Terra parar de girar ao redor do sol
No meu inconsciente sabia que esse dia chegaria. Mas mesmo assim não houve como preparar o consciente.
Estou aqui eu calmamente lendo o GGN e choco-me ao ver que já é chegada a hora fatídica:
Extra! Extra! “Instituto Liberal denuncia a física quântica como instrumento marxista“
O trauma é tamanho e provoca imobilismo tal que acabo roubando a própria colagem do GGN para ilustrar este post. Perdoem-me. Ainda estou atordoado.
Simplesmente testemunhamos – “privilegiados” que somos – a nova negação do movimento da terra ao redor do sol.
Depois da leitura rasa da teoria neoclássica da economia ser colocada em xeque empiricamente com a crise de 2008 e, no longo prazo, com a concentração de renda sem precedentes desde a implantação da “Reaganomics” e do Thatcherismo, o que resta é nivelar por baixo, jogando lama em todas as outras teorias.
Aliás, como vemos aqui, não apenas outras escolas econômicas.
Jogam logo a lama em outras ciências também, para que a tal “ciência econômica” não fique por baixo (o nome já embute o discurso de uma certa cientificidade pretensamente cartesiana). Aliás, como sempre lembra o Delfim – quando não está ocupando o seu gênio na demolição do pacto da Constituição de 88 – eles abjuram o nome original da disciplina: “Economia Política“.
Sociologia e História são os alvos óbvios para a mira desses que querem socializar (Oh, Deus!) a lama entre todas as ciências. Ainda mais porque quem estuda a História dificilmente compra a leitura rasa que esses neoclássicos de manual de banca de jornal fazem da escola que pretensamente defendem.
Impressiona é terem chegado até a física quântica!
Só posso supor que o fazem deliberadamente apenas para gerar cliques e audiência para um artigo que não ia sair da bolhinha dos grupelhos neocons nas redes sociais – seu público preferencial (único?).
Nesse intuito, não temem o ridículo e encarnam o Professor Hariovaldo Almeida Prado asseverando que a física quântica está vermelha demais!
Parabéns, conseguiram: foram mais ridículos que o habitual e saíram da bolhinha neocon do facebook.
Não estou eu mesmo lendo essa porcaria?
Aliás, a única parte que presta é justamente o início da “crítica” à física quântica, em que se diz:
“Através de extrapolações indevidas de descobertas de cientistas como Einstein ….”
Pois extrapolação indevida é justamente o que fazem das ideias dos autores clássicos.
Pela quantidade de besteiras que a ele atribuem, garanto que nunca leram um Adam Smith no original – e não no resuminho de apostila online e nos memes feitos pelos seu preceptores na bolhinha do facebook.
Pronto!
Já forneci acima quatro novos tratados de economia para os neocons lerem e compartilharem.
E grátis!
Quem foi que disse que não tem almoço grátis, hein? Ha-há!
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Por Ciro D’Araújo
É o pessoal que lê Ayn Rand e acha que leu Hayek.
Que surta quando descobre que M. Friedman defendia alíquota negativa de imposto de renda nas camadas de renda mais baixa (ou seja, bolsa família para todo mundo). Mas não corre muito o risco disso acontecer, afinal de contas, eles não leem Milton Friedman. Tem muitas equações que vão confundir ideologicamente.
Agora um dos pontos subjacentes (pois um post desse tem que ser lido como um delírio psicanalítico de racionalização de uma emoção figadal) é a necessidade de se encontrar uma solução “mecanicista” para a economia. Solução essa que está (mesmo dentro da ortodoxia) cada vez mais longe de ser encontrada. A economia é um sistema complexo, caótico (no sentido matemático da questão) que segue assim certos parâmetros, mas que nunca vai poder ser regida nos inputs de variáveis como a mecânica clássica. É essa necessidade de dizer que se você fizer X vai dar Y, Ceteris paribus. Óbvio que a gente deixa o Ceteris paribus fora porque latim é filosofia e filosofia é perigosa, complicação ideológica. Porque não falar em português né?
O próprio Friedman aceitava esse argumento. Ele contra argumentava dizendo.. nossos modelos são irreais, mas funcionam. Até que pararam de funcionar. A econometria (oh… a estatística, essa outra atividade extremamente perigosa ideologicamente falando) insiste em apontar os furos empíricos dos resultados dos modelos propostos.
Em homenagem ao autor do texto, vou sugerir um gráfico bem simples:
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Por Romulus
Pelo texto vê-se como eles têm afinidade com a física newtoniana, cartesiana, mas ficam desconfortáveis com a física quântica. Para não caírem no ridículo absoluto fazem reverencia a Einstein e cia., mas logo depois colocam a disciplina contemporânea entre os “conhecimentos proscritos”, perigosos. Aqueles que devem ficar trancados e cujo acesso deve ser dado apenas aos iniciados, que devem manter segredo sobre a heresia para não destruir a paz social dos ignorantes com “extrapolações indevidas”.
Tipo aqueles ateus do iluminismo que diziam que era importante não destruir a religião para manter o cabresto no “populacho”.
Eles não entendem que, mal comparando, os modelos econômicos deles estão para a economia real assim como a física newtoniana está para a pesquisa na física contemporânea. Ninguém chega na física quântica sem estudar a física newtoniana primeiro. Mas depois de aprender o modelo “bonitinho”, lógico e que não agride a nossa intuição, chega a hora de aprender que Papai Noel não existe, de fazer o luto e de crescer.
Não foi o próprio Newton quem disse que se viu longe foi porque se apoiou nos ombros de gigantes?
Pois se apoiou mas foi além.
Cresçam vocês também! Estourem a bolha que os envolve nas redes sociais!
Lembrando sempre que não é só culpa deles, pobres neocons de Facebook. Há incentivos e desincentivos…
A vida é mais fácil quando se é um crente.
Primeiro porque, ignorance is a bliss (a ignorância é uma benção).
Segundo, porque o “1%” te banca.
Estão aí os irmãos Koch e o Kim KataGrana que não nos deixam mentir, não é mesmo?
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Aliás, sobre a dura vida de um liberal no Brasil, leia:
Por Romulus
Conversando com outro “socialdemocrata que sabe fazer conta” sobre o liberalismo e os liberais no Brasil
– Comentários ao post “BC joga a queda da inflação no colo de Temer”, de Luis Nassif, aqui no GGN.
Ciro d’Araújo:
Além da “recuperação natural” que existe uma vez que o acordão neutralize o efeito paralisante da lava-jato sobre a economia e uma certa recuperação do preço do petróleo a medida que EUA reduz produção por fracking.
As fábricas brasileiras não foram implodidas, não houve uma catástrofe natural que tenha retirado quase 10% do produto POTENCIAL brasileiro nos últimos dois anos.
Com a neutralização da instabilidade política a economia imediatamente tende ao retorno ao patamar anterior, isso se verifica em número expressivos de PIB que na realidade não tem efeito sobre o aumento real da produção, mas sim sua utilização. LEIA MAIS »
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