Um certo Brasil que funciona!
Direto das favelas, uma lição irretocável de gestão competente, sem Harvard, sem nada.
Por Lou Amaral
Nestas duas últimas semanas, num cenário com o qual não conseguimos mais lidar por excesso total de informações complexas, revela-se algo que pode ser grandioso. Tivemos que ver sangrar outra etapa de todo processo geopolítico, de saúde pública e de informação. Agora já não se questiona mais “o que está acontecendo?” mas, sim, “quando vai acabar?”. Nas organizações das favelas do país – tema deste artigo – já se pensa num nível mais além: “o que faremos depois?“.
O papo mudou de figura. No vácuo de um desgoverno total, de patrões que demitem sem pagar rescisão e retém as carteiras de trabalho, surge quem não tem mais tempo de discutir e parte para a ação. Estamos falando de heróis, já que em guerras quem salva vidas recebe essa alcunha. Estes de quem falaremos, muitas vezes se revelam anônimos e agem justamente onde a sociedade foi esquecida em abandono. Mesmo debaixo de ataques extemporâneos de um Estado armado, que mata crianças em pleno isolamento social, esta turma segue subindo morro com comida no ombro.
Isso acende uma luz que aumenta o questionamento sobre os que nada fazem. Pode parecer, à imensa maioria, uma incompetência dos governos e instituições que deveriam proteger o cidadão, mas é fácil derrubar essa a tese. Claro que não se trata de incompetência das grandes gestões públicas e privadas diante das consequências da covid-19. Na verdade poucas instituições, organizações e setores, no Brasil e no mundo, têm se mostrado eficientes na ação imediata, na propagação de informações realmente relevantes e no acolhimento à população em geral. Talvez estejamos entendendo, por fim, que não interessa ser competente neste momento. Estão bem escondidos os preciosos dados sobre direitos civis em Caso Fortuito, como o desta “tsunami” que nos abate. Uso a comparação para que fique claro: fomos arrastados por uma corrente que nos afoga e, nestes casos, há direitos constitucionais e civis que deveriam nos proteger. Os setores todos parecem paralisados e mostram não saber caminhar em terra alagada. Mas as lideranças de comunidades carentes calçaram as galochas.
Do outro lado das cidades, vemos os jovens de classe média postarem, desolados e confusos, artes gráficas onde se perguntam porque nosso governo deu trilhões aos bancos e não aos hospitais, dentre outras coisas deste calibre. Vamos entender uma coisa aqui: quando um jovem que já vinha sendo imobilizado em seus sonhos profissionais, sem perspectiva de futuro, se enxerga impotente diante de TODAS as demais questões, algo acontece… apagam-se as luzes.
Queria Deus (ou para os ateus, queria o acaso) que eu ganhasse espaço para falar dos que estão conseguindo se mobilizar e talvez estas ações sejam bem motivadoras para nossas próprias ações. É para eles que emprestaremos a pena. Nos programas de quarta-feira do Duplo Expresso, além de “rolês cósmicos”, nos pedem para falar das atividades de lideranças de favelas e de comunidades remotas que nos mandam notícias. Dar destaque a este segmento, que já revela onde estão os heróis da tragédia, nos põe perto da informação que deve causar impacto mundial positivo, revelando qualidades ímpares destes nossos brasileiros.
Permita-me uma provocação antes de pincelar os exemplos: não vou qualificar representantes de parlamentos, poderes públicos, altos executivos – e toda esta trupe de “donos do mundo” – de incompetentes. É isso que eles querem. O ser chamado de incompetentes, mais do que nunca, vai esconderem-se atrás deste desgastado factoide para não revelar sua voracidade, sua perversidade e seu apego em ganhar mercado devastando famílias e países.
Vou fazer justo o contrário: vou elogiar seus inimigos, aqueles que os pseudo incompetentes mais desprezam e largam à própria morte. Tão pouco chamarei nossos heróis de guerra das favelas de “povo” ou “trabalhadores”, pois isso todos somos. Os chamarei de bons brasileiros.
É das favelas que vem o exemplo do “nós por nós” como intitula a jornalista Flávia Oliveira em seu recente artigo sobre o mesmo tema que abraço aqui. É dessa turma que precisamos falar e reverberar. É de lá que vem a maioria das atividades desenvolvidas por Organizações da Sociedade Civil (OSCs) do terceiro setor, no Brasil, mostrando muito que se espera do ser humano. Pelas notícias que chegam, o setor está atuando com abrangência e competência no combate à devastação causada pela pandemia e seus desdobramentos econômicos. Nem se cobraria deste segmento, este papel, já que atua na formação de bases de desenvolvimento em vez de assistencialismo. Mas até isso detectou-se rapidamente e a necessidade ajustou os meios para atingir o fim.
Temos sempre que fazer ressalvas: quando contarmos sobre esta reação dos segmentos mais vulneráveis, não devemos deixar de cobrar seus direitos junto aos governos. Nada disso, não senhor! Até porque o dinheiro que faz a festa dos banquetes, é nosso, é vosso! Mas temos que esclarecer de vez, porque ainda há quem descreva estas pessoas da favela como pássaros no ninho, de boca aberta esperando minhocas do governo. Então esclarecemos: na verdade o que estamos vendo é uma lição irretocável de gestão competente, sem Harvard, sem nada de quem sabe que está sozinho nesta guerra.
Até onde nossos olhos alcançam, salvo alguns cacoetes das famosas “ong-boings” que decolam pesadas de dinheiro do chão, esta turma está salvando o Brasil. São ações que desdobraremos em seu devido tempo por aqui – e pelo mundo – em registros que já começam a se solidificar como um magnífico acervo histórico.
Projetos sociais desenvolvidos na favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, transformam moradores em agentes de saúde e escolas em Hospitais de Campanha. Profissionais que estão produzindo registros disso, falam de estrutura semelhante à dos poderes institucionalizados:
“Os moradores se organizaram em hierarquias e funções, prestando atendimentos aos mais de 100 mil moradores nos moldes que deveria funcionar o próprio Estado.”
Da Bahia, Rommel Sauerbronn, representante de produtores de melaleuca – um poderoso antibiótico natural – atendeu ao pedido de Mariluce Mariá do FavelaArt, no Complexo do Alemão, e realizou doações expressivas do óleo essencial para esta ativista que ensina os poderes da aromoterapia, amplamente difundida na alta e imunizada sociedade. O que espantou os produtores e gerou o pronto embarque de engradado, foi ver a pró-atividade de uma menina de favela com a técnica para aumentar imunidade, que muitos médicos com ampla formação ainda desconhecem.
No outro extremo de alcance, a Central Única das Favelas – Cufa, que hoje está atuante em quase todo o país, surge o projeto “Mães da Favela”. Entre outras ajudas com cesta básica e proventos, o projeto luta pelas muitas mães solteiras cujos pais sumiram no dia do parto, mas reapareceram pegando antes delas, o auxílio do governo em nome de filhos que nunca visitaram.
São tantos casos, tantas “Eliana Souza Silva” da Redes da Maré, tantos “Jota Marques” da Cidade de Deus, tantos “Raull Santiago” do Complexo do Alemão que, juntos, temos um certo Brasil que funciona. E nele, temos estes heróis da batalha cujas identidades vamos continuar revelando até que muitos possam ver algo novo surgindo nos céus das comunidades mais remotas e carentes, já que em outros platôs do Brasil Central, só se vê poeira.
Lou Amaral Judice é bacharelada em Artes pela PUC-Rio e pós graduada em Marketing pela UCP/RJ. Consultora de responsabilidade social e professora de comunicação, é autora de dois livros de poesia. No Duplo Expresso, participa como representante do Esoterismo, nos programas de quarta feira.
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