Grupo Globo, Bolsonaro e suas apostas

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GRUPO GLOBO, BOLSONARO E SUAS APOSTAS
Luiz Carlos de Oliveira e Silva

1. Bolsonaristas-de-raiz estão convocando uma carreata em prol da “volta à normalidade”, incitando a população a descumprir a orientação da OMS de “isolamento social”. Fazem isto em consonância com o que vem dizendo Jair Bolsonaro acerca da pandemia do coronavírus.

2. Bolsonaro decidiu peitar o pensamento dominante – numa aposta de tipo tudo ou nada – contando com o apoio de sua base social e certo de que, a cada dia, um número crescente de pessoas estará disposto a aceitar a falsa (e muito bem engendrada) dicotomia entre vida (“isolamento social”) ou economia (“volta à normalidade”).

3. O bolsonarismo, como um fenômeno social, é, dentre outras coisas, uma revolta ressentida contra a elite intelectual, contra a ciência, a cultura, a arte, identificando tudo isto com a “esquerda”. Bolsonaro sabe disto, vive disto e está se valendo mais uma vez disto nesta atual cruzada contra as determinações da OMS para o enfrentamento da pandemia do coronavírus.

4. O que Bolsonaro fez ao conclamar as pessoas a desrespeitarem o “isolamento social” não foi um arroubo impensado. Ele está tão seguro de sua aposta que encomendou um pacote de propaganda oficial contra a “quarentena”. Ele vai dobrar a aposta… Ele sempre conta com o apoio do bolsonarismo-de-raiz, mas e a plutocracia, irá acompanhá-lo nesta empreitada como o fez nas últimas eleições?

5. O Grupo Globo – a principal força política organizada da plutocracia – está movendo uma campanha de desconstrução da imagem de Bolsonaro que só encontra paralelo com a campanha que moveu contra Brizola e contra Lula e o PT no auge da Lava-Jato.

6. Desde o primeiro mandato de Lula, o GG estabeleceu a estratégia de cair de pau no presidente ao tempo em que apoia o neoliberal da vez no governo. (Foi assim com Lula e Meirelles, Dilma e Levy, Temer e Meirelles e, agora, com Bolsonaro e Guedes.) Com isto, eles atuam nas duas pontas, como a principal força a “pautar”, ao mesmo tempo, o governo e a oposição. Ao atuar nas duas pontas (situação e oposição), o GG – com o quase-monopólio que detém – permanece sendo a principal força política organizada do país.

7. A pandemia em curso vem sendo tratada como uma nova grande oportunidade de o GG dar, mais uma vez, uma extraordinária demonstração de força. Estabelecer uma polarização Bolsonaro-Grupo Globo na pandemia do coronavírus foi um feliz achado para os interesses dos filhos de Roberto Marinho; e também para o presidente.

8. Bolsonaro está apostando que parcelas sempre crescentes do povo irão revogar na prática o “isolamento social”. Trata-se de uma estratégia política para atribuir aos seus adversários a responsabilidade pela inevitável recessão econômica. Trata-se de uma aposta de tipo tudo ou nada. Ao fim e ao cabo, Bolsonaro sairá da crise enxotado ou ditador… Este é o tudo ou nada, esta é a aposta.

9. O Grupo Globo aposta em sentido contrário: está operando para que ele saia de cena como um Eduardo Cunha que, findo o trabalho sujo que comandou, foi expelido como um cocô. Bolsonaro fez um enorme favor à plutocracia ao derrotar as forças progressistas e ao acelerar a implantação das “reformas”. Mas já deu…

10. O GG faz uma aposta contrária à de Bolsonaro porque está seguro de que os interesses da plutocracia estarão mais bem resguardos nas mãos de, por ora, um Mourão, que, certamente, terá a sabedoria de chamar para comandar a economia gente como um Armínio Fraga, este, uma espécie de Paulo Guedes que trata bem os criados.