Por um Programa Nacionalista claramente Anti-Neoliberal

POR UM PROGRAMA NACIONALISTA CLARAMENTE ANTI-NEOLIBERAL
Luiz Carlos de Oliveira e Silva

1. A eleição presidencial de 1989 foi a última campanha na qual foram discutidas questões de fundo entre nós. Depois disto, só discutimos fenômenos de superfície, para gáudio da plutocracia e dos dois partidos que dividiram o protagonismo a partir de então.

2. A polarização PSDB-PT que se seguiu àquela eleição passou a dominar a cena de forma avassaladora e acabou por constituir uma espécie de sistema político restritivo, nos moldes daquele formado pela polarização entre os partidos Democrata e Republicano nos EUA. Quando uma polarização deste tipo ocupa toda a cena política, ela determina os limites da agenda política, estabilizando o sistema pela interdição de intrusos à direita e à esquerda.

3. Um dos resultados mais evidentes da polarização PSDB-PT foi a pactuação tácita, levada a cabo pelos dois partidos, que jogou para debaixo do tapete a discussão acerca de um projeto nacional de desenvolvimento popular, soberano e democrático. Tendo o assim chamado “tripé econômico” como uma base incontroversa, discussões referentes, por exemplo, à financeirização da economia, à desindustrialização acelerada, à política tributária, à dívida pública, ao oligopólio da mídia etc., jamais estiveram na agenda dos dois partidos quando no governo. O embate entre os partidos limitava-se a aspectos secundários do “plano real”, das “políticas sociais”, das “políticas afirmativas” etc.

4. Assim, de comum acordo, os partidos da polarização circunscreviam o debate ao acessório enquanto guarneciam as fronteiras do sistema político, com o PT expressando o máximo possível à esquerda e o PSDB à direita. O “impeachment” de Dilma implodiu o sistema político resultante da polarização PSDB-PT. Pela fronteira desguarnecida à direita, devido a hemorragia política dos tucanos, penetrou a tropa do bolsonarismo – aliada a evangélicos e ultraliberais –, com o seu projeto de retomada em ritmo acelerado do programa de destruição do que resta da “Era Vargas”. À esquerda, não surgiu nenhuma força capaz de fazer frente ao que vem sendo o mais grave ataque sofrido pelo povo brasileiro desde o Golpe de 1964.

5. Depois de vinte e dois anos de miséria política – quando os partidos protagonistas, de comum acordo, só discutiam miudezas –, o povo encontrava-se desarmado politicamente para enfrentar os seus inimigos internos e externos. E Lula e o PT continuam sendo a força hegemônica no campo progressista…

6. Por parte da esquerda não petista, as bandeiras que mais ânimo deram às suas lutas nestes últimos anos foram todas assimiladas pelas novelas da Globo. Falo, claro, das bandeiras identitárias, todas elas de alta relevância, mas sem o poder de colocar as questões de fundo acerca de um projeto nacional de desenvolvimento popular, soberano e democrático em cena.

7. Bolsonaro ganhou as últimas eleições porque soube, sobretudo, capitalizar a seu favor o descrédito com que parcelas significativas da nossa população passaram a ver, não sem razão, o nosso sistema político. Como negar que para este descrédito, o PT contribui fortemente ao mimetizar as piores práticas do submundo da política?

8. Mas este não o único problema que se abate sobre o PT. A lamentar também a docilidade com que o partido vem enfrentando o bolsonarismo e o crescente abandono da agenda anti-neoliberal por parte dos companheiros.

9. A lamentar também o fato de o PSOL ter se resignado ao papel, ainda que simpático, de “ombudsman” dos legislativos e de guarda-chuva para as lutas identitárias, e de a esquerda revolucionária continuar limitada à sua pregação para convertidos.

10. Ciro Gomes e Roberto Requião – na centro-esquerda –, e Nildo Ouriques, na esquerda revolucionária, vêm se empenhando para trazer as questões de fundo – sobretudo aquelas de conteúdo nacional e popular – para o centro do debate político. Isto é imprescindível, já que, estou certo, enquanto parcelas expressivas do nosso povo não abraçar um programa nacionalista claramente anti-neoliberal, nós não iremos sair do buraco no qual nos encontramos.

Luiz Carlos de Oliveira e Silva, professor de filosofia

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