Bolsonaro e o Carnaval que não aconteceu

Por Luiz Carlos de Oliveira e Silva.

1. Diferentemente do que muitos de nós esperavam, o Carnaval deste ano não foi o Carnaval do “Fora Bolsonaro!”. Ainda não foi desta vez…

2. Houve, sim, as importantes manifestações críticas das Escolas de Samba do Rio, mas manifestações de massa, nos blocos, simplesmente não aconteceram, pelo menos não na intensidade esperada…

3. Por quê? Acredito que a razão disto encontra-se no fato de as pessoas, em geral, ainda não atribuírem a Bolsonaro e a seu governo as terríveis agruras por que estão passando.

4. Bolsonaro ainda está se beneficiando da “quarentena” que todos os presidentes eleitos gozam. Afinal, devem pensar amplos setores da nossa população, o desemprego, a crise econômica, a desindustrialização, o entreguismo, a política de desmonte do Estado e da liquidação de direitos vêm de longe…

5. A misoginia, a homofobia, o anti-intelectualismo e outras manifestações de estupidez de Bolsonaro não incomodam amplos setores da nossa população porque, para estes, penso, tudo isto apenas comprova o fato de o presidente ser mesmo alguém que não faz parte do “sistema”. Ponto para Bolsonaro…

6. Bolsonaro sabe disto – de que ainda é visto como um “antissistema” e que isto continua sendo o seu principal “ativo” político – e se vale disto também para atacar a imprensa e o Congresso, mantendo coesa e ativa a sua base de apoio de extrema-direita.

7. Bolsonaro – tal como aconteceu com Trump antes – capitalizou para si o enorme desgaste do mundo político, desgaste este que levou consigo a esquerda que conciliou com a agenda dominante da plutocracia e mimetizou as piores práticas do submundo da política.

8. Depois de quatorze anos no poder, a esquerda, aos olhos de amplos setores da nossa população, passou a fazer parte do problema e não da solução. Não sem razão, acrescentaria…

9. Bolsonaro, cínica e demagogicamente, fez sua fortuna eleitoral vestindo as falsas vestes do “antissistema”. Para muitos, as reiteradas demonstrações de estupidez e de autoritarismo de Bolsonaro dão testemunho de que ele continua “coerente” com seu compromisso “antissistema”. E gozam com isto…

10. A saída deste enredo, a meu ver, só será possível quando parcelas expressivas do povo abraçar um programa que aponte para a superação das agruras por que estamos passando. Um programa com um tal compromisso só pode ser de caráter nacional, popular e democrático…

Luiz Carlos de Oliveira e Silva, professor de filosofia

 

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