PT FAZ 40 ANOS: um pequeno depoimento pessoal e crítico

PT FAZ 40 ANOS: um pequeno depoimento pessoal e crítico

Por Luiz Carlos de Oliveira e Silva.

1. Cidade de São Paulo, dia 10 de fevereiro de 1980: eu estava lá, como um dos três delegados eleitos pelo núcleo de bancários do Rio de Janeiro, para o congresso de fundação do Partido dos Trabalhadores. Foi uma jornada emocionante…

2. Todos naquele congresso acreditávamos que estávamos fundando o que seria o “partido de novo tipo” que iria transformar o país, com uma atuação na qual reformas e perspectiva revolucionária estariam combinadas adequadamente.

3. De minha parte, a fundação do PT parecia ser a confirmação prática das avaliações que vinham sendo construídas na minha cabeça desde a derrota da luta armada. A leitura que fiz da “Revolução Brasileira” (Caio Prado JR.), de “Subdesarrollo y revolución” e “Dialéctica de la dependencia” (Rui Mauro Marini), da crítica ao trabalhismo e ao “populismo” – levada a cabo pelos “uspianos” Octavio Ianni, Francisco Weffort e Boris Fausto – associada ao meu luxemburguismo de então e à avaliação que fiz das “greves do ABC”, como “estratégia da recusa”, e à crítica da tática do PCB e do PCdoB de apoio ao MDB, como “conciliação”, pareciam confluir naturalmente para a construção PT.

4. Naquele congresso, ao ver Apolônio de Carvalho, Mario Pedrosa e Sergio Buarque de Holanda dirigindo-se à mesa para assinar suas fichas de filiação, sob intensa ovação, eu experimentei o momento de maior emoção cívica de minha vida. (Nada do que aconteceu depois consegue apagar da minha memória a alegria daqueles momentos grandiosos.)

5. Passados quinze anos da fundação do PT, eu comecei a perceber que a “lei de ferro da oligarquia” – pela qual a burocracia usurpa o poder das bases para fazer valer os seus próprios interesses de casta – já começava a produzir os seus “monstros” entre nós no movimento sindical. Foi quando eu comecei a me afastar do partido, com grande pesar…

6. Da minha atual perspectiva, olhando retrospectivamente, destaco o equívoco do sectarismo com respeito à tradição trabalhista, da compreensão estreita acerca do fenômeno do “populismo” e da pouca importância que dávamos a assim chamada “questão nacional”.

7. Passados quarenta anos, o PT segue vivo, mas já é um outro partido. Ele se transformou, em muitos aspectos importantes, naquilo que combatíamos ferrenhamente quando de sua fundação. O partido no poder, ao mimetizar as piores práticas do submundo da política, jogou a esquerda brasileira no maior descrédito de nossa história. E deu no que deu: Bolsonaro.

8. (Com a esquerda desacreditada, o povo brasileiro não tem encontrado meios para resistir ao maior desmonte jamais visto das bases que, junto com movimentos de massa, poderiam nos colocar no caminho da construção de um país soberano, desenvolvido e com menor desigualdade social.)

9. Uma extraordinária construção coletiva que mobilizou milhares de pessoas Brasil afora e que uniu esforços de boa parte do que havia de mais significativo nos movimentos populares, nos sindicatos, nas organizações de esquerda, na intelectualidade, no mundo acadêmico, nas comunidades eclesiais de base da Igreja católica, duas décadas depois já tinha se transformado num partido como os outros.

10. O grupo que tomou de assalto a direção do PT – apoiando-se na alta burocracia do partido e na militância acrítica – é o principal responsável por sua transformação e, por decorrência, é um dos principais responsáveis por estarmos passando pelo que estamos passando atualmente.

11. No evento de anteontem [Festival PT 40 anos] na Fundição Progresso deu pra perceber – segundo relato de uma amiga – que o grupo que conduziu o PT para os descaminhos que todos conhecemos agora continua prestigiado pela burocracia – o que era de se esperar – e pela militância petista. Figuras proeminentes do grupo foram saudadas como heróis do povo brasileiro. Isto é terrível, mas dá bem a medida do buraco no qual nos encontramos.

Luiz Carlos de Oliveira e Silva, professor de filosofia

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