Por Luiz Carlos de Oliveira e Silva.
1. Em minha postagem anterior (“Dino e Huck: ‘pacificadores’ em terra arrasada”) eu disse que está em curso um projeto – que chamei de “pacificação em terra arrasada” – conduzido à esquerda pelo governador do Maranhão (ao que tudo indica, com o apoio de Lula) e à direita pelo corpo que está servindo de “cavalo” para a reencarnação da alma, ainda penada, da aristocracia tucana.
2. O projeto consiste em derrotar eleitoralmente o bolsonarismo (“fascismo”, como dizem), mantendo a sua obra, com vista a uma pretensa “pacificação nacional”. Assim, “pacificação nacional” significará fazer algumas concessões aos pobres – via políticas públicas não estruturantes – com a manutenção das medidas que estão fazendo do Brasil uma terra arrasada.
3. Este projeto tem como modelo, como é evidente, os dois governos de Lula, quando a inclusão-dos-pobres-sem-mudanças-estruturais “pacificou” a nação. Como? Melhrando a vida do povo sem a revogação das medidas do período FHC, que davam continuidade à política de terra arrasada iniciada por Collor.
4. Foram os anos dourados da “Pax lulista”, do jogo do ganha-ganha. Um dos efeitos da “pacificação” lulista foi o de tornar consensual – a herança de FHC – o que até então era controverso. A inclusão-dos-pobres-sem-mudanças-estruturais de Lula está sendo revogada, mas o “consenso” produzido por Lula está aí, firme e forte.
5. Será possível a reedição da “Pax lulista”, onde todos ganham e ninguém perde, como parecem crer Dino e Huck? Eles irão combinar com os chineses, os responsáveis pelo “super ciclo das commodities” que fez a felicidade dos governos do PT? E os pobres, irão cair de novo na mesma esparrela?
5. Eu, cá com os meus borbotões, acredito que não é mais possível algo como a “Pax lulista”. Desta vez alguém terá que perder, e estes estão no andar de cima. Mais que isto: sem a revogação das medidas regressivas de desmanche e do fechamento do regime, jamais retomaremos o caminho da construção de um país soberano, democrático e desenvolvido, único modo de o país não virar uma enorme fazenda. Para mim isto é o busílis. Por isto, eu considero o projeto de “pacificação em terra arrasada” uma empulhação, um engodo. (Empulhação e engodo maiores quando vêm do campo progressista.)
6. As movimentações de Dino e Huck tendo em vista uma “pacificação em terra arrasada” só serão exitosas, dentre outras coisas, com a manutenção da discussão acerca das questões de fundo debaixo do tapete, lugar no qual a polarização PSDB-PT a colocou. (O petismo, tal como ele realmente existe, não sobrevive com a elevação da consciência política do povo brasileiro.)
7. (Enquanto isto, o PSOL, como os demais partidos, segue sem programa e, diferentemente dos demais, sem vocação para o poder. Conformou-se, ao que tudo indica, em ser a boa consciência da cidadania e a corregedoria dos legislativos. Ao passo que as correntes da esquerda revolucionária disputam entre si a defesa da ortodoxia, em meio a “lacrações” doutrinárias de extração juvenil.)
8. Do modo como eu vejo as coisas, é preciso dizer, alto e bom som, que o neoliberalismo tem sido, desde Collor, o principal inimigo do povo brasileiro. O que não significa dizer, por óbvio, que os “fascistas” do governo – Damares, Weintraub, “olavetes” et caterva – não devam ser combatidos “à outrance”.
9. Ou a oposição assume o compromisso com a revogação das medidas de desmanche das bases de um país soberano e desenvolvido e do fechamento do regime, ou tudo não passará de engodo.
10. O grande abolicionista Joaquim Nabuco disse que não bastava abolir a escravidão, era preciso destruir a sua obra. Caso contrário, “a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. A escravidão foi abolida mas não a sua obra. Não deu outra: o racismo e a marginalização dos negros permanecem sendo nossas “características nacionais”.
11. Parafraseando Nabuco, devemos dizer: não basta derrotar eleitoralmente Bolsonaro (ou qualquer outro candidato da direita) – é preciso revogar a obra do neoliberalismo e do fechamento do regime. Caso contrário, jamais seremos um país soberano, desenvolvido e que permita uma vida decente ao seu povo.
12. Não basta derrotar eleitoralmente o neoliberalismo e o “fascismo”: é preciso destruir a sua obra! Este é o busílis… O resto é engodo.
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