Mais do que um crime, uma desonra

Por Pedro Augusto Pinho

 

O competente e combativo economista Cláudio Oliveira, analisando o quadro do Fluxo de Caixa, divulgado pela Direção da Petrobrás, em Nova Iorque, em 04 de dezembro de 2019, concluiu que estes gestores venderão ativos da empresa, ativos geradores de bens e de lucros, para elevar os dividendos.

Dividendos que são, após as entregas a estrangeiros que ocorrem com o patrimônio nacional, de Fernando Henrique Cardoso a Jair Bolsonaro, majoritariamente pagos na bolsa de valores estadunidense.

Nunca vi, nem li, nos 60 anos vividos, dos bancos da Faculdade de Administração ao trabalho como profissional de administração, no Brasil e no exterior, tal descaramento, tal afronta ao País e a seus cidadãos.

Mas o início deste mandato já deixava entrever a sorte da Petrobrás. Antes da designação do Ministro para o Ministério das Minas e Energia (MME), ao qual hierarquicamente se subordina a direção da Petrobrás, o futuro Ministro da Economia, Paulo Guedes, definia Roberto Castello Branco como o presidente dessa maior empresa brasileira e das grandes petroleiras, em reservas de petróleo e competência técnica, em todo mundo.

E o Almirante Bento Albuquerque ficava literalmente a ver navios. E se vê, agora, diante da voraz família Coelho, de Petrolina (Pernambuco), um verdadeiro clássico do mandonismo político nordestino, cortiça que boia em todas as águas, do PT a Bolsonaro, tentar para sua última prole a reconquista do MME, sob sua ação antinacional no tempo de Temer.

Posso e devo ter sincera dúvida com quem despacha Roberto C. Branco.

A ignomínia dessa venda dos ativos foi denunciada por Cláudio de Oliveira ao confrontar a distribuição de US$ 34 bilhões, entre 2020 e 2024, e a venda no mesmo período de US$ 30 bilhões, em ativos da empresa.

Ora, como já foi tantas e tantas vezes divulgado e demonstrado, a Petrobrás tem geração de caixa invejável. Jamais precisou vender ativos para saldar dívidas ou cobrir prejuízos, estes operacionalmente inexistentes, o que deveria deixar roxo de vergonha os pseudos analistas econômicos da televisão e jornal Globo, Época e sucedâneos.

Mas continuemos nas análises sempre percucientes de Cláudio Oliveira. O Plano Estratégico (PNG) 2020/2024 não prejudica apenas a Petrobrás, o que o fazendo já causaria enorme dano ao Brasil.

Esta gestão da Petrobrás está prejudicando o dia a dia, o cotidiano de milhares de famílias brasileiras, que precisam se deslocar por ônibus e de caminhoneiros e trabalhadores em transporte, que tem nos combustíveis um dos principais custos. Ao alienar ativos da Petrobrás, exportar petróleo para importar derivados, deixando refinarias, terminais e dutos ociosos, a gestão da Petrobrás – não seus concursados e competentes técnicos – provoca um prejuízo para as contas nacionais. É uma verdadeira gestão colonial, onde os donos estão realmente nos Estados Unidos da América (EUA), I love you Trump, ou em Israel ou no Reino Unido, local de residência das famílias mais ricas do mundo.

Como se todo este desconcerto fosse pouco, e, talvez fingindo uma ignorância que seu verdadeiros patrões não aceitariam dos empregados, a Direção da Petrobrás denomina seu plano estratégico como placa em metrô inglês ou estadunidense: cuidado com o vão, a fresta entre o vagão e a plataforma: mind the gap.

Isso mesmo, talvez um ato falho, que Freud explicaria, destes dirigentes ou prepostos, alertando para a irregularidade do que propõe para a Petrobrás: cuidado com o buraco!

Nossa vulnerabilidade começa na desinformação. Quase unânime a comunicação de massa no Brasil deseduca, desinforma, ilude. O que denomino pedagogia colonial. Enquanto considerarmos que liberdade é um direito de terceiros para se aproveitarem de nossa ignorância, de nossa boa fé, não vejo como reverter esta situação.

Enquanto considerarmos que a corrupção vem da falta de caráter, é uma questão individual e não de um sistema que só privilegia o lucro, o ganho a qualquer preço e de qualquer modo, como ser honesto sem ser otário?

O período Bolsonaro talvez fique registrado como aquele em que a corrupção, os desvios, as farsas foram tão longe que foi necessária a ruptura geral, a construção do nunca concluído Estado Nacional Brasileiro para termos um país e uma cidadania. Dizer com orgulho, parodiando o poema de Maiakovski: sou um cidadão brasileiro.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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