Uma Breve História da Banca –  Fatos e Crítica

Por Pedro Augusto Pinho

Ética da Banca

Vimos a transformação da banca, de um poder financeiro, criado pela propriedade fundiária e pelo comércio, para um poder dominador, com capitais oriundos de crimes, buscando destruir os Estados Nacionais.

Na apresentação do Tratado Jurídico da Moeda e do Câmbio (André Mater, Traité Juridique de la Monnaie et du Change, Librairie Dalloz, Paris, 1925), o advogado Mater lamenta que o direito tenha demorado tanto para se interessar pela moeda e cita Montesquieu: “ela é a fonte de quase toda lei civil, pois está na origem das injustiças que tem origem na trapaça”.

Sem diminuir a falta de ética, uma característica da banca em todos os tempos, estamos diante de uma situação muito mais grave, onde os próprios rentistas são iludidos pelos agentes do sistema. Só uma grande alienação ou desconhecimento da realidade econômica ou um enorme cinismo pode imaginar ser possível combater a corrupção no país onde a banca fixa as condições da economia.

A situação que descreverei é didática, mas não se afasta um único milímetro da realidade.

Os capitais fluem para as grandes corporações “investidoras”. Elas operam com as “privatizações”, com enganosas austeridades fiscais, com campanhas para encolher o Estado à única função de provedor da banca, projetos de desburocratização que significam eliminar controles e fiscalizações de suas operações e para a concentração de riqueza que resulta no empobrecimento da quase totalidade das populações.

A coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, auditora fiscal Maria Lucia Fattorelli, denunciou no Monitor Mercantil (20/05/2019) que a crise atual foi fabricada pelo custo da política econômica. No artigo anterior desta série tratei de dois instrumentos de apropriação do dinheiro público pela banca.

Neste vou tratar do esbulho a que você, caro leitor, eu, todos nós estamos sujeitos; as aplicações em fundos financeiros.

Este modelo foi por mim analisado em dois dos maiores fundos existentes. São fundos que têm disponíveis trilhões de dólares estadunidenses, para fabricar crises. Valores iguais a 10 ou 12 PIBs brasileiros.

A disponibilidade para as aplicações guarda relação direta com o volume de dinheiro a ser aplicado.

Exemplificando: Um banco/financeira/operadora tem os fundos identificados pelas letras do alfabeto. O fundo A exige a aplicação mínima de um bilhão de dólares estadunidenses (USD), o B aceita acima de 500 milhões USD, o C apenas os maiores do que 100 milhões USD. Para aplicar no fundo Z não há valor mínimo.

Já sabemos que as crises são instrumentos da banca. A princípio para destruir o industrialismo, depois para se fortalecer e, atualmente, para consolidar o controle interno do sistema financeiro.

Mas todas as crises têm em comum a transferência de ativos e rendas para os mais poderosos, os mais ricos, os mais fortes. Assim a crise fará o aplicador no fundo Z perder todas suas economias, as quais estarão sendo levadas para os aplicadores dos fundos A, integralmente, ou do B, parcialmente. Os ganhos e perdas estão na razão direta dos montantes das aplicações.

Assim fica claro porque no Brasil, carente de aplicadores no fundo A, as perdas vão constituir rotineiramente mais uma transferência de recursos para o exterior, prática colonial que constatamos em toda nossa história de exportadores de bens primários.

A tabela que se segue mostra quem domina grandes empresas de petróleo que elimina qualquer discurso de privatização para aumentar a competitividade. Levantamento feito com posições de dezembro/2017 das maiores participações.

                        Participações Societárias em percentagens

Fundos\Petroleiras    Exxon (*)   Chevron   RD Shell     BP

Vanguard                       14,20       11,83         ——          ——

BlackRock                      11,51       9,59           —–           ——

State Street.                 8,99       9,06             ——          7,34

Franklin                        ——    ——-            7,46        ——-

Wellington                     2,29     3,40            ——-       ——-

JP Morgan                    ——    ——-            4,69        ——-

Fidelity                          ——-  ——-             4,62          5,60

Boston                          ——-    ——-           3,90          ——

Northern                        2,36    ——-            ——         ——

NY Mellon                     2,14   ——-            ——          ——

Barrow H.                     ——-    ——         ——-         6,48 

Dimension                     ——     ——           ——-       5,20

Arrow Street                 ——–    ——-       ——-        4,16 

Nederlands CIVGE       ——-    ——-         41,20     ——  

Norges                          1,20       ——-            2,52        ——

(*) participam do capital da Exxon Mobil 110 fundos financeiros.

Apresentamos agora outra tabela  com as mesmas referências da anterior, onde as empresas atuam em diversificadas áreas, mas que, para banca, são apenas supridoras de lucros, dividendos.

Fundos\Empresas           GE       UNILEVER    Bank of America

Vanguard                         7,10               2,35               6,74

BlackRock                       4,10               2,68               6,39

State Street                     3,88             ——-             4,09

Fidelity                            2,14               0,76               3,52

Capital R&M                  1,45             ——-              ——-

Unilever NV(**)           ——-           14,50              ——-

Norges                            ——-             1,82              1,12

Amundi                          ——-            1,60              ——–

Berkshire H.                  ——-           ——-             6,80

(**) fundo de pensão dos empregados.

Montadoras que atuam no Brasil. Fundos entre os maiores acionistas da matriz:

FIAT                                VOLKSWAGEN                                GM

Exor NV                          Qatar Invest. Authority                 Vanguard

Baillie Gifford .              Vanguard                                        BlackRock

Harris Associates         Causeway Capital                           Harris

Blackrock                       Amundi                                            State Street

Vanguard                       BlackRock                                       B. Hathaway     

 

Algumas considerações relevantes: 

a – os fundos têm como objetivo receber os maiores lucros e especular com as ações na Bolsa. Esta influência dos fundos na gestão das petroleiras levou-as a serem ultrapassadas em tecnologia pelas estatais. Os valores destinados às pesquisas e desenvolvimento foram transferidos para distribuição de dividendos. Esta prática também é aplicada em outras áreas de atividade.

b – como as ações são objeto de especulação, as posições exibidas nas tabelas sofrem permanentes alterações. Mas os fundos sempre mantém representantes nos Conselhos de Administração para garantir que as decisões sejam adotadas conforme seus interesses.

c – privatizar significa transferir um patrimônio brasileiro (natural, como o pré-sal, ou intelectual, como a EMBRAER) para um Estado estrangeiro (estatais da China, da Espanha, da Noruega) ou para a banca (BlackRock, Vanguard, Wellington, State Street, Fidelity). Como os valores das privatizações são insignificantes em comparação com o bem transferido, posso afirmar, sem qualquer dúvida, que todas as privatizações são formas de corrupção.

É, consequentemente, uma falácia imaginar aumento de competitividade no mercado ou qualquer melhoria para a economia brasileira.

 

Reflexões e Conclusões

A história da banca é uma sequência de golpes astuciosos, envolvimento dos governos, fraudes e engodos. A banca do século XVII não é a banca do século XIX e muito menos a do século XXI. Ela foi eliminando seus rivais na economia, na política, na sociedade.

Ler, hoje, The New York Times, Le Monde, El País, The Guardian é o mesmo que ler O Globo ou assistir ao Jornal Nacional. Não há notícias, apenas a doutrinação da banca para que você receba, como o ar que respira, o assalto que cotidianamente ela pratica com você.

Tem a seu serviço os aparelhos de espionagem e promotores de golpes e revoluções melhor aparelhados do globo e centros de pesquisa para iludir as populações.

Cria situações aparentemente libertárias, como as primaveras árabes, para se impor a países que fugiam de seu controle, como a Líbia (o mais alto índice de desenvolvimento humano da África, hoje reduzido a tribos dispersas), o Iraque (de grandes reservas de petróleo, hoje em permanente guerra fratricida) e outros que meu informado leitor saberá identificar.

Também domina as academias, para que a produção intelectual não dê instrumentos para combatê-la. Professores e estudantes de economia da Inglaterra e dos EUA já fizeram vários manifestos (nunca divulgados pela imprensa comercial) contra um ensino que nada ensina sobre economia, mas treina vendedores de fundos financeiros para os bancos.

A banca, no atual cenário político brasileiro, é governo e oposição. A grande questão nacional que é a soberania brasileira não é pauta nem projeto. A geração de emprego, única maneira de sair da recessão e iniciar um processo virtuoso de desenvolvimento, também está ausente do governo e da oposição. Mas ambos concordam com as políticas econômicas contracionistas e desumanas da reforma da previdência e dos ajustes fiscais.

A contrarreforma da previdência, além de uma fraude, no que se refere à retomada do desenvolvimento, com a substituição pelo regime da capitalização passa a ser uma maldade. Na experiente palavra do economista, professor José Carlos de Assis, no Monitor Mercantil, “o trilhão reclamado por Guedes ….. será destinado ao que chamam de nova previdência, ou seja, aos fundos administrados por bancos e picaretas do sistema financeiro que não terão responsabilidade real com o pagamento dos proventos”.

A banca exige o fim das fronteiras, não para o congraçamento dos povos mas para circulação da moeda. Volto a Montesquieu no mesmo livro e capítulo citado por André Mater: “nos países onde não existe moeda, o ladrão rouba somente coisas, mas onde existe moeda nos roubam signos para o que não existem provas”. Vimos como a banca constrói o direito que descriminaliza seus roubos, sua corrupção.

O objetivo concentrador de renda chega ao malthusianismo, à eliminação física das pessoas sob o pretexto da finitude dos bens. Foi com este argumento que a banca iniciou, na primeira metade do século XX, a campanha anti-industrial.

É mostra da pequenez, da estreiteza mental da banca, que não vê, no progresso científico, o permanente enriquecimento do saber e da libertação humanos.

Nacionalistas, patriotas concluamos com esperança e disposição de luta, a banca é forte mas não invencível. Nosso primeiro passo é recuperar a Soberania e Reconstruir o Estado Nacional Brasileiro.

Apreciemos o grande escritor do romantismo brasileiro, exímio poeta, o mestiço, filho da cafuza Vicência Ferreira com um português, o indianista Antônio Gonçalves Dias (10/08/1823 – 03/11/1864). Cantando sua  desdita amorosa, ele produziu dos mais belos poemas da literatura em língua portuguesa: “Ainda uma vez – Adeus”.

Imaginemos, e assim estaremos também criando, que a amada não é uma pessoa, a mulher querida, mas nossa Pátria pela qual nunca, jamais lutaremos bastante.

“Perdão! … de não ter ousado

Viver contente e feliz!

Perdão da minha miséria,

Da dor que me rala o peito,

E se do mal que te hei feito,

Também do mal que me fiz!”

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

 

 

 

 

 

 

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