Bolsonaro faz com mentiras a “doutrinação” que o PT evitou fazer com verdades para “controlar facilmente a boiada”

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Está na moda entre alguns colunistas de diferentes publicações, neste período de férias no Brasil, “repostar” artigos com um certo ar de “carteirada” ao estilo “eu já sabia”. Como eu também já venho de outros carnavais, gostaria não apenas de publicar os meus acertos, mas também debater os meus erros. Acredito que assim poderei melhorar todos os dias.

Lembrei de um texto que publiquei em outubro de 2017, naquela época dentro do blog O Cafezinho. O título era “Peito e coxa de frango e o erro de que ‘aquele público não entende de política’.” Foi uma crítica que fiz ao discurso de Lula, pois faltava pouco para o Pré-sal ser entregue. Eu dediquei (e dedico) parte da minha luta à defesa da soberania nacional, e vejo o Pré-sal como fatia inseparável disso.

Resolvi comentar o texto da época, pois era uma prova de que, quando afirmo hoje, “a idolatria prejudica a resistência”, faço isso com a consciência de que nunca pretendi “lacrar nas redes sociais”, mas também nunca fui limitado a viver de idolatrar este ou aquele. Tenho visto uma chuva de críticas contra qualquer pessoa que aponta erros de Lula, mesmo depois de tudo ter chegado ao cenário atual.

Antecipo que no final deste texto eu tinha a visão míope de que Dilma Rousseff era uma injustiçada e que tinha sido vítima de um golpe. Sou grato a ela por ter me alertado do meu erro, pois foi essa mesma senhora quem disse que não foi golpe ao lançar sua candidatura ao Senado, legitimando toda a farsa, que inclui a prisão de Lula – sem crime – para Moro eleger Bolsonaro e, depois, virar ministro dele. Farra fascista iniciada com as leis sancionadas por Dilma e Zé Cardozo e que a imprensa escondeu, inclusive a “globosfera”.

Mais tarde, fiquei sabendo que a entrega do Pré-sal teria iniciado num acordo de bastidores entre Dilma e Jucá, informação confirmada aqui no Duplo Expresso pelo senador Roberto Requião. Por isso, o que falei em outubro de 2017 sobre “votaria em Dilma”, foi um erro. Ainda espero perdoar-me por isso um dia.

De volta ao tema central daquele artigo, gostaria de dizer àqueles que hoje criticam Bolsonaro por utilizar as redes sociais para a propagação de “Fake News”: façam uma autocrítica. Se houver honestidade na própria crítica, verão que a “doutrinação” que Bolsonaro faz hoje com mentiras, o PT deixou de fazer com verdades, pois apostou na alienação política das pessoas como uma ferramenta de “manutenção e controle da boiada vermelha”.

Quando critiquei o discurso de Lula sobre peito e coxa de frango, o fiz com a convicção de que somente um líder político poderia advertir o cidadão brasileiro a respeito do ataque híbrido (guerra híbrida) sob o qual estamos submetidos até os dias de hoje. Trocar o discurso de formação e informação sobre as conquistas e avanços sociais pelo da ampliação do consumo foi um erro imperdoável.

No dia 21 de dezembro do ano passado o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, em entrevista à BBC, ratificava aquilo que eu havia publicado com pouco mais de um ano de antecedência:

Transformamos pobres em consumidores, e não em cidadãos!

Não quero aqui levantar a placa “eu já sabia”. Gostaria apenas de advertir para a preocupante condução do debate por parte da falsa esquerda que temos. Apoiados pela imprensa corporativa de direita e boa parte da “globosfera”, políticos e “figuras públicas” debatem coisas banais num momento delicadíssimo da nossa política.

É hora de parar de terceirizar o seu cérebro! Olhe para a sua própria vida e assuma a sua parcela de responsabilidade para que tudo tenha chegado até aqui. Precisamos reagir! Reconhecer os próprios erros e querer acertar são gestos muito mais úteis neste momento.

Veja aqui o meu texto publicado no blog O Cafezinho em 22 de outubro de 2017. Espero que possamos ampliar este debate:

Acompanhei em tempo real os dois discursos proferidos por Lula em São Paulo neste sábado. Ao lado de Guilherme Boulos, falou para “onze mil famílias” (segundo o próprio líder do MTST) em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, iniciada no mês de setembro. Como não poderia deixar de ser, o tema “habitação” esteve no centro das falas, revezadas entre Gleisi Hoffmann, Guilherme Boulos e Lula.

Não apenas habitação, mas outros problemas preocupam. Por isso, o desprezo dos palestrantes em relação ao motivo da invasão a que tem sido submetido o Brasil, o petróleo, é ainda mais preocupante. Longe do que pensam as feministas, o golpe contra Dilma não foi por machismo, foi para assaltar o pré-sal. O petróleo que é o motivo de guerras nas últimas décadas em todo o mundo, e que no Brasil tem sido doado pela cleptocracia no poder, deu lugar às preferências gastronômicas do maior e mais querido líder político brasileiro, Lula.

Coxa e peito de frango foram citados como avanço no consumo de alimentos. Postei no meu mural do Facebook o seguinte: “E Lula voltou a falar sobre peito e coxa de frango neste momento em que o pré-sal está sendo entregue. Fiquei com uma fome danada”. Provoquei o debate, pois apoiar Lula não é sinônimo de ser devoto dele. Este discurso é fraco e reduz o Brasil ao “terreno ocupado” do atual desgoverno. “Se o pré-sal for nosso, vamos comer um galinheiro inteiro todos os dias”, sugestão de discurso para os palestrantes.

A provocação do debate na minha página daquela rede social trouxe comentários do tipo: “ele falou para aquele público. Não podia aprofundar a política”. Discordo completamente desta visão preconceituosa, pois o predominante mar de analfabetos políticos (políticos e eleitores) decorre exatamente do erro de não entender que a política está presente em tudo.

Estão entregando os ativos do Brasil. O país terá sérios problemas para equilibrar as contas. Nem mesmo Lula, o maior líder político do Brasil, poderá resolver os problemas que se avizinham com o a avanço deste desmonte em curso. É hora de falarmos mais seriamente sobre os reais problemas do Brasil.

Até mesmo a “democratização da comunicação social”, mencionada por Lula no segundo discurso de ontem (para delegados do PT) pode parecer obsoleto em 2018. Está cada vez mais claro que não serão mais as empresas nacionais que ditarão as regras da comunicação. A Globo perde audiência e força para a internet que é “gringa”, como tudo o que irá comandar o Brasil se não pararmos com o entreguismo da cleptocracia. A eleição em 2018 é também algo incerto.

Sempre votei (e certamente votarei) em Lula e em Dilma. O antes e depois dos governos deles atestam que fiz as escolhas acertadas. No entanto, precisamos pensar no Brasil como Nação e não apenas como um “recorte histórico de uma sigla partidária”. É hora de reação e não de devoção.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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