Mourão, a meritocracia tamanho família e a herança escravocrata

Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

O vice-presidente – militar, ultraliberal – Hamilton Mourão afirmou na última terça-feira (8) que o filho Antônio Mourão foi nomeado para o cargo de assessor especial da Presidência do Banco do Brasil. Segundo Mourão, seu filho tem méritos e trabalha no Banco do Brasil há 19 anos e é “qualificado”.

Com o novo cargo, o filho de Mourão terá o salário triplicado e passa a ganhar R$ 36.3 mil por mês, de acordo com o jornal “Folha de S.Paulo”. A nova função equivale a um cargo de executivo. O problema não é a promoção, mas a coincidência. Depois de 18 anos, bastou uma semana, após o pai assumir a vice-presidência da República, para que o filho fosse promovido.

Antonio Mourão atuava como assessor na área de Agronegócio e ganhava cerca R$12 mil mensais. Segundo a nota do Banco do Brasil, “Antonio é funcionário do Banco do Brasil há 18 anos e trabalhava há 11 anos como assessor na diretoria de agronegócios”.

Até uma criança de cinco anos sabe que não foi uma coincidência ou um ocaso do destino o funcionário do Banco do Brasil, Antonio Hamilton Rossel Mourão, depois de 18 anos trabalhando no Banco e 11 anos na função de assessor numa diretoria de Agronegócios, ser alçado da noite para o dia a um cargo de assessor da presidência e triplicar o seu salário.

Não é uma crítica ao promovido, muito menos uma acusação de que ele não seja qualificado para o cargo. A questão que devemos debater é a “meritocracia segundo Mourão”, um contumaz defensor da moral e dos bons costumes. Está claríssimo que o filho do Gal. Mourão deu esse giro de 180 graus na sua carreira e na sua vida, graças ao cargo político do seu pai.

Interessante observar como toda a Meritocracia de Mourão não passa de uma falácia. A retórica da meritocracia teria toda validade se todos nós fossemos socialmente e economicamente iguais. O Brasil é o país com maior desigualdade de renda e concentração econômica no mundo. 1% da população brasileira concentra mais da metade das riquezas produzidas, a desigualdade abissal que existe no nosso país, não permite que falemos em meritocracia.

O discurso da meritocracia é falso e tem o claro objetivo de impedir o desenvolvimento social dos mais pobres, por meio das políticas públicas, e permitir o estímulo da competição entre os empregados, garantindo seu esforço máximo, com o mínimo de renda e o máximo de lucro para o seu empregador. Podemos observar essa visão de máximo de lucro e mínimo de renda nas palavras do vice- presidente, ex-general, Mourão que durante a campanha chegou a dizer que o 13° salário é uma “jabuticaba brasileira”, uma “mochila nas costas dos empresários” e é “uma visão social com o chapéu dos outros”.

Como todo militar da ala entreguista e ultraliberal, o ex-general Mourão desrespeita a constituição ao afirmar esses absurdos. O 13° salário está previsto no artigo 7° da nossa constituição de 1988, em capítulo das cláusulas Pétreas, isto é não é passível de ser suprimido, sequer por proposta de emenda à constituição. Criticar esse dispositivo, além de uma ofensa a qualquer trabalhador é um autoritarismo de quem se julga acima da nossa Lei maior!

Entre outras pérolas do nosso recém-empossado vice-presidente, vale a pena lembrar de como, referindo-se aos países latino-americanos e africanos com os quais o Brasil tem relações, como “mulambada” (pessoas sujas, feias, fedorentas e que propagam o mal).

Mourão ainda disse que o Brasil “herdou a cultura de privilégios dos Ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos Africanos”. Para se justificar, Mourão disse que era filho de Amazonense, que era indígena e que somos uma junção desses três povos, com as coisas boas e ruins que eles têm, sem colocar nenhum estigma em nenhum deles”. Mourão ainda afirma ter criticado os portugueses, “Eu falei que a herança de privilégios é Ibérica, do Português que gosta de ter privilégios.”

Mourão engana os incautos. Se tivesse um pouco de honestidade intelectual, falaria com mais propriedade que a nossa verdadeira herança é escravocrata. Foi essa a herança que moldou as nossas instituições, origem do ódio ao pobre. O mais grave no discurso retrógrado do ex-general, e vice-presidente, Mourão é a total incoerência entre aquilo que discursa sobre a meritocracia e a completa ausência de autocrítica neste caso do próprio filho.

E as incoerências de Mourão esbarram na própria inutilidade das Forças Armadas e o custo para o povo que ela ajuda a massacrar. Dados públicos mostram que, em 2017, dos 63,1 bilhões de reais empregados pelo Brasil na Defesa, 22,6 bilhões foram gastos com remuneração de funcionários públicos militares. Além disso, mais 2 bilhões foram pagos em verbas indenizatórias entre todos os militares. Se formos falar sobre as pensões dos militares, que custam 80% dos gastos com pessoal, este texto não acaba.

Por isso, cabe a você que é cidadão (desempregado ou contribuinte) abandonar o entretenimento e a idolatria e passar a lutar pelos próprios direitos. A política brasileira está ocupada por aqueles que odeiam o povo. Situação e grande parte da oposição criaram um método de falso debate que tem sido capaz de ocupar a vida das pessoas com futilidades. Enquanto isso, o Brasil e o povo brasileiro são atacados violentamente nas suas soberanias (nacional e popular, respectivamente) e esse dragão do dinheiro público, Forças Armadas, atua como Capitão do Mato, para manter a herança escravocrata.

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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