“Bom policial, mau policial”: TSE revelou querer “Plano B”. Em “eleição” normalizada. E aí?
Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
- O resultado da encenação que o Brasil – e o mundo, neste caso – testemunharam ontem era esperado por todos. Afinal, todos lêramos, com antecedência, a sinopse do espetáculo. No entanto, como em outras etapas determinantes do processo do Golpe, que é continuado e gradual, certas adaptações, improvisos e lapsos – em cima daquele roteiro há tanto traçado – acabaram por revelar bem mais do que os produtores do espetáculo gostariam de entregar.
- O timing era fundamental. E os agentes trabalharam bem. Assim como na antevéspera do registro da candidature de Lula – e Vice! –, a dobradinha Golpe + agentes (“da” vítima) agiu para impor o Plano B a Lula e ao PT. Ontem tentaram repetir a dose com uma reprise da operação “choque e terror” (shock and awe) – devidamente combinada com o outro lado.
- Há entre os agentes (“da” vítima), inclusive, alguém que vendeu a alma por uma cadeira no STF. Ontem, presente no Plenário do TSE, entregou mais uma parcela da mercadoria. E a entes bem mais terrenos que “Mefistófeles”, digamos.
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O resultado da encenação que o Brasil – e o mundo, neste caso – testemunharam ontem era esperado por todos. Afinal, todos lêramos, com antecedência, a sinopse do espetáculo. No entanto, como em outras etapas determinantes do processo do Golpe, que é continuado e gradual (desde 2013, acentuando-se a partir de 2016 – creeping coup d’état), certas adaptações, improvisos e lapsos – em cima daquele roteiro há tanto traçado – acabaram por revelar bem mais do que os produtores do espetáculo gostariam de entregar.
Mais uma vez, o que vai nos ajudar a nos posicionarmos taticamente para a nova rodada do jogo é a meta-análise da anterior. Diversos pontas soltas e recibos passados pelo Golpe nos últimos dias nos ajudam a ajustar as teses com que vimos trabalhando. Na maior parte, infelizmente, confirmando-as.
(1) O julgamento “surpresa” – só que não: “agenciamento”/ “operação”
Há muito já alertáramos que certa promiscuidade brasiliense, entre “vítima” (entre aspas mesmo) e algoz, era – no mínimo – problemática do ponto de vista da narrativa.
No máximo, abria as portas para que os indivíduos (“brasilienses”) que fazem o agenciamento da vítima – desta vez sem aspas – “operem-na”, no jargão do mercado financeiro. Ou seja, colocados – numa relação triangular – entre os interesses opostos da Parte A (Lula/ povo) e da Parte B (o Golpe), os agentes usam a alavanca dos prejuízos que poderiam causar a B caso esposassem, de forma kamikaze, a defesa dos interesses da A para chegar a um acordo com B. Notem: acordo esse não em benefício propriamente de A, o “operado”, mas sim dos seus próprios interesses enquanto agentes (“operadores” de A).
Provavelmente numa jogada ensaiada, os advogados de Lula no TSE, os agentes, fizeram circular a versão de que não julgar-se-ia Lula ontem:
(…)
Os advogados do ex-presidente Lula conversaram com os ministros do TSE, inclusive Luís Roberto Barroso, e saíram convencidos de que a corte respeitará todos os prazos previstos pela lei no julgamento do registro do candidato do PT. Por isso, não acreditam na antecipação desse julgamento na sessão extraordinária prevista para amanhã (…).
Com o mesmo objetivo, o Golpe fez a sua parte para consolidar tal expectativa, fake, divulgando na véspera a pauta do julgamento – também fake:
Bem… a pauta – digo, a verdadeira – de ontem todos já bem conhecemos à esta altura.
Para que, então, a jogada ensaiada entre o Golpe e os agentes da vítima (sem aspas)?
Hipóteses:
- (A) Desmobilizar, evitando concentração de militantes no entorno do TSE (lembrem do dia 15 de agosto!). E, mais importante ainda, afastando a atenção – e, portanto, a interferência – do comando político lulista nas tratativas mantidas entre “doutores juristas”, Ministros e advogados, até a última hora (e depois);
- (B) Surpreender, tanto quanto possível, esse mesmo comando político lulista com um prato feito, pró-Plano B. Exatamente como esses mesmos agentes fizeram antes do registro da candidatura de Lula no dia 15 de agosto, ao venderem para o comando político a versão, “equivocada”, digamos, de que o TSE “não registraria” a candidatura do PT se não se indicasse o candidato a Vice até o fim do dia seguinte (12/8) ao da realização da convenção partidária do PT (11/8). O resultado da faca no pescoço todos conhecemos: a chapa “triplex”, com o Plano B como step.
Como já revelado antes aqui no Duplo Expresso, Haddad estava longe de ser a primeira escolha de Lula para substituto. Muito menos Manuela Dávila, a Vice. Houvesse mais tempo e menos pressão em cima do ex-Presidente – mais: sem o controle absoluto de quem pode ou não vê-lo mantido na mão de apoiadores do Plano B –, muito possivelmente o resultado teria sido outro. Isso porque, ainda naqueles dias, havia concomitantemente conversas mantidas com outros nomes. E até mesmo com outras forças políticas.
Por isso, como se diz em inglês, time (was) of the essence. O timing era fundamental. E os agentes trabalharam bem. Naquele dia, a dobradinha Golpe + agentes (da vítima) foi vitoriosa no intuito, comum, de impor o Plano B a Lula. E, ontem, tentaram repetir a dose com a reprise da operação “choque e terror” (shock and awe), devidamente combinada com o outro lado.
(“outro”?)
Há entre os agentes, inclusive, alguém que vendeu a alma por uma cadeira no STF. Ontem, presente no Plenário do TSE, entregou mais uma parcela da mercadoria. E a entes bem mais terrenos que “Mefistófeles”, digamos.
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(2) “Bom policial, mau policial”
O fato de, após o fim da sessão, de maneira bastante “heterodoxa”, digamos, os Ministros do TSE reunirem-se para – depois de dada a paulada – “voltarem atrás”, e assoprarem, oferecendo colocar o PT de volta na TV – desde que com Haddad (e não mais Lula!) – é, novamente, revelador. Bem vemos qual é a vontade do Golpe com relação ao curso que o PT deve adotar:
- Mais uma vez, o Golpe adota a surrada tática do “mau policial, bom policial”:
- A da “cenoura e porrete”:
Notem: depois da porrada de ontem, eis a cenoura – devidamente destinada à máquina (deputados, senadores, governadores), que quer se reeleger, para que adira ao Plano B imediatamente:
– “Lula na TV como apoiador”.
(…)
O advogado Luiz Fernando Casagrande Pereira, que defendeu o petista no tribunal, explica que Lula poderá aparecer em até 25% do tempo no horário eleitoral na condição de apoiador [não como candidato].
(…)
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(3) Lição de casa, urgente:
– Estudar “como operar alguém”, no contexto do “conflito agente/ principal”.
Da (universalmente acessível) Wikipedia:
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(…)
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(4) Regra de ouro do Brizola
Sim, façamos essa lição de casa já. Na certeza, comprovada uma vez mais ontem, de que a vontade do Golpe – e também de certos agentes “da” vítima – é a imediata substituição de Lula por Fernando Haddad. No intuito de que o novo “FH” vista logo o figurino de candidato “normal”, em eleições também “normalizadas”. “Eleições” essas em que Lula – e o enfrentamento ao Golpe que ele encarna até em nível pessoal (notem: incluindo o Judiciário!) – deixe de ser o centro do debate. Para que o próprio Lula – e por tabela também o seu antípoda, o Golpe – possa ser, ele também, “normalizado”: apenas um retrato no fundo, a pedir votos. E, assim, legitimar a farsa.
“Eleição sem Lula é fraude”?
Resolvamos, então, esse “pequeno” obstáculo narrativo do Golpe “colocando” Lula na eleição (entre aspas mesmo). De forma que essa não possa mais ser chamadas de fraude.
Afinal…
- (A) Como diz o nobre advogado (“de Lula”), o ex-Presidente “poderá participar do horário eleitoral” (!);
- (B) “Haddad é Lula/ Lula é Haddad”: de acordo com essa identidade matemática, falsa, a presença na eleição de Haddad, uma nova “Carta aos Brasileiros” só que de carne e osso, “equivaleria” a ter o antípoda do Golpe, Lula, na mesma. Sim, claro…
A nitidez do plano do Golpe para “eleições”, “com (PT), com tudo”, lembra a regra de ouro de Brizola. Basta substituir “Globo” por “Golpe”. Porque, afinal de contas, um é mesmo um bom proxy para o outro:
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(5) Perguntas finais, repetidas há meses aqui no Duplo Expresso:
– Até quando será dado aos agentes “da” vítima seguir “operando-a”?
– Vivendo da corretagem dos seus interesses, vendidos a bom preço ao Golpe?
Interesses esses, é bom notar, que se confundem com os do Brasil.
E dos brasileiros.
Afinal, se “Globo” é um bom proxy para “Golpe”, “Lula” é um melhor ainda para “povo”.
Estamos, todos, sendo “operados”, junto com Lula.
E com direito, inclusive, a transmissão ao vivo. E em cores!
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Ah, como é dura a vida de Cassandra…
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P.S.: comentários durante a transmissão no Twitter:
Hmmm…
Mal cheiroso, hein…
Um dia vamos contar umas coisinhas sobre isso.
Oq certa pessoa ali, q vi chegando e sentando na plateia, ñ faz por 1 cadeira no STF…
Já vendeu a alma umas 3 ou 4 vezes pra isso.
Bem dissemos: a ONU atingiu mais essa gente q o Golpe (o ostensivo). https://t.co/LAnsmEyHEc— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Não adianta… Cada vez que o Barroso falar “Alexandre Frota” eu vou rir de novo! Ah, Brasil…
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
E fica rindo!
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
esse truque é velho! pic.twitter.com/0mpWhE0Yjs
— LM (@leandromeneghet) August 31, 2018
Paradigmático: Barroso passa a primeira parte de sua fala atuando como o advogado de defesa do Estado de exceção. Defende o atropelo de prazos e jurisprudência. Vergonha
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
“Brasil é Estado de direito e não de exceção”; “Judiciário é preenchido com critérios técnicos… não cabe argumento de perseguição política”- Barroso, Luis Roberto https://t.co/mkyIT1fZYJ
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Até “instituições funcionam normalmente” Barroso soltou. https://t.co/wW0iqNNlM6
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Só um Estado de Exceção repetidamente nega sua condição com o mantra: Estado de Direito, instituições funcionando… Quem acredita? #LulaLivre https://t.co/4QypIGu297
— Gabriel Lula da Silva (@gabcamb) August 31, 2018
Barroso é a voz dos EUA no STF.
— #LulaÉcandidato! (@Alex_spa_) August 31, 2018
Julgamento de cartas marcadas.
Lembra muito TRF4 , pra nada serve os argumentos da defesa, tá tudo armado.
— Luiz PC (@luiz_pc) August 31, 2018
Mais uma vez Rosinha Weber se esconde atrás da tal “colegialidade”. Vão cassar @LulaOficial hoje pra dar o álibi para o pessoal do Plano B emparedar o PT, pela substituição. Td combinado.
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Violência do voto de Luis Roberto Barroso. Resolveu reinterpretar o artigo 16-A da Lei Eleitoral com base no que? A vontade de substituir a política pela toga não tem limites. Não desistiremos de Lula! pic.twitter.com/mXkgVsgxyz
— Gleisi Lula Hoffmann (@gleisi) August 31, 2018
É muito spoiler para um blog só @romulusmaya
— Mônica Lula da Silva (@moniusp) August 31, 2018
Parece. Sobre ter ou não eficácia no plano interno o protocolo facultativo https://t.co/ekhvPagNyG
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Entendendo “divergência”:
Fachin veio da defesa dos direitos humanos. Junto ao MST, inclusive. Talvez, sabendo q cartas estão marcadas, sentiu-se livre pra fingir q ainda honra o seu passado.— Romulus Maya (@romulusmaya) September 1, 2018
Uma divergência aqui outra ali são importantes para darem um “ar de normalidade”. Aprenderam a lição depois do descarado 3×0 no TRF4. É o golpe se aperfeiçoando.
— João Koerig (@joaokoerig) September 1, 2018
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Pós-“julgamento”:
Diante da violência do TSE contra Lula e povo q quer elegê-lo, o PT lutará por sua candidatura. Vamos apresentar todos recursos p/ garantir seus direitos previstos na lei e nos tratados internacionais aceitos pelo Brasil. Defenderemos Lula nas ruas, com o povo brasileiro #Lula pic.twitter.com/n1bC1fX9RE
— Gleisi Lula Hoffmann (@gleisi) September 1, 2018
@romulusmaya @duploexpresso @PatVauquier Tudo que o plano B queria. Lula como apoiador. https://t.co/wEaBJfvHtT
— Zuzu Palomoni (@zuzu_palomoni) September 1, 2018
Um pouco mais do que “prática incomum”. É uma sessão secreta no meio de julgamento. https://t.co/yxYiXbg9u4
— Marcelo Semer (@marcelo_semer) September 1, 2018
@romulusmaya tem razão!*
*Entendedores entenderão… https://t.co/MOFx61axJ9
— Felipe Araújo (@Traficodeverbo) September 1, 2018
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Bis:
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P.P.S.: para quem quisesse lutar – de verdade – e não fazer Telecatch, ontem – durante o próprio julgamento! – também teve atividade:
(recomenda-se não comentar com Wadih Damous ou Paulo Pimenta sobre isso…)
Sim, comentei aqui ontem. Tacla Duran tb.
— Romulus Maya (@romulusmaya) September 1, 2018
Olha a fake peça feita sob medida pra fake news. @TaclaDuran não disse nada pq os caras do MPF deram o perdido. Não apareceram lá no dia. Senão dava flagrante. pic.twitter.com/qdX0A6JbmR
— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
Pára de xororô @antagonista. Erraram de novo. Quem correu não fui eu. Foram os amigos do @zucolottoadv. Pediram p/ me ouvir e não vieram. Td mundo sabe que não tenho blog de fake news e fofoca, nem sócio processado na CVM. Comigo é na verdade. olhaí a prova. Vai publicar? pic.twitter.com/RLpUeXOGFv
— Rodrigo Tacla Duran (@TaclaDuran) August 31, 2018
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Em tempo (1):
Os documentos da Odebrecht seguem aqui na Suíça, sem serem requisitados por (supostos) “defensores” de Lula, sabe… ¬¬
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Em tempo (2):
Pq juíza da Lava Jato, pau mandado de Moro, vê @gleisi como ameaça, impedindo-a de levar informações para e trazer a palavra de @LulaOficial, mas ñ o igualmente parlamentar @wadih_damous?
Ou @Haddad_Fernando?“Eu já sabia!”-@duploexpresso
É contra descarte de Lula?
Tá barrado! pic.twitter.com/LuiwBmtSN3— Romulus Maya (@romulusmaya) August 31, 2018
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Em tempo (3):
“EU JÁ SABIA”, @duploexpresso!
-Os receios petistas com a personalidade de Haddad
“Gilberto Carvalho, (L)ogo após Haddad ser ungido a plano B, em agosto, mandou uma carta a Lula com suas preocupações”.https://t.co/TpirZ77PT9 via @cartacapital— Romulus Maya (@romulusmaya) September 1, 2018
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Bis:
– Até quando será dado aos agentes da vítima seguir “operando-a”?
– Vivendo da corretagem dos seus interesses, vendidos a bom preço ao Golpe?
(…)
Estamos, todos, sendo “operados”, junto com Lula.
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