A esquerda brasileira é uma concessão da Globo
Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso
Não vai ter luta! Vai ter mais golpe! É importante iniciar esta discussão com aquilo que está desenhado, dada a fragilidade da esquerda brasileira e a incrível capacidade de negar o apoio popular que possui. Os eleitores de esquerda (que são maioria) não têm representantes nas urnas. A esquerda brasileira é uma concessão da Globo.
Soberania nacional, democratização da comunicação social, pesquisa científica, direitos trabalhistas, soberania popular, justiça para todos são temas proibidos no debate. Na disputa por migalhas de aparição na Globo a esquerda brasileira vai aos poucos “modernizando o discurso” para as pautas identitárias e a normalização da invasão da justiça nas questões políticas. Aos poucos transformam o Brasil no Congo, mas praticam os debates dos países nórdicos.
A esquerda que tem estrutura partidária hoje, e é isso que vai às urnas, é apenas “the lady in red” num baile com o aliado, o neoliberalismo. O foco nas liberdades individuais apenas tensiona as relações internas da própria esquerda e distancia do debate o que rege todas as relações, o mercado financeiro.
Enquanto há o aumento assustador do desemprego, volta à miséria, mortalidade infantil, doenças e epidemias que deixaram de ser combatidas preventivamente, etc. com a imposição da cartilha neoliberal rejeitada por quatro vezes nas urnas, a “esquerda plim plim” rejeita a mobilização das massas e contribui, pela via da omissão, para o aprofundamento de desigualdades de classe.
Não tenho elementos que provem que no roubo do petróleo e das nossas riquezas, estimado em dezenas de trilhões de dólares, os invasores estrangeiros não tenham comprado todos os representantes de todas as instituições. Considerando os valores envolvidos, não seria difícil desconfiar disso, pois seria preciso uma operação complexa demais se houvesse a resistência popular, liderada pelas forças da esquerda. É por isso que a própria esquerda abandona o discurso do “Referendo Revogatório”, proposto pelo Senador Requião.
Cientistas e especialistas de diferentes áreas e países denunciam diariamente a invasão do Brasil sob a liderança dos EUA e do capital financeiro. O presidente russo Vladimir Putin alertou Dilma sobre o plano estrangeiro de destituí-la do poder. Como Pedro, Dilma “negou três vezes” e garantiu que o problema era Cunha. Uma “jênia”! A destruição da cadeia de petróleo e gás, a extinção da construção civil, a prisão do Almirante Othon, a perseguição a Lula, etc. para Dilma é culpa de Cunha.
A mesma Dilma do “controle remoto”, madrinha da Lava Jato, que deu posse a esta atual direção da Petrobras, que sancionou leis que criminalizam sindicatos e qualquer foco de resistência, etc. agora afirma que será candidata ao senado para “combater o golpe na origem, MG”. Para Dilma, agora é Aécio Neves o pai do golpe. Isso é rendição ou conivência com os invasores? Dilma sofreu um golpe ou aderiu ao PIDV – Programa de Incentivo à Demissão Voluntária dos invasores e negociou como indenização o direito de concorrer ao senado? Precisamos refletir sobre isto.
Para piorar, fica cada vez mais claro que a esquerda (sobretudo a ala chamada “PT Judicial”) prendeu a reação popular em segunda instância junto com Lula. Em recente declaração, “a encarnação da carta aos brasileiros” (Créditos para Samuel Gomes), Fernando Haddad, afirmou que “o problema é jurídico e não político. Sou advogado”. Ele faz esta declaração em referência ao explícito e inquestionável caso de perseguição ao ex-presidente Lula. Para Haddad, “as instituições estão funcionando normalmente”. Canalhice ou está entre os vendidos? Não há mais tempo para brincarmos de “escolher termos adequados”. No lugar da prolixidade de Levy Fidelix (com a famigerada frase proferida em 2014 durante um debate presidencial) e falar sobre “aparelho excretor não reproduz”, sou forçado a concordar com Marcia Tiburi na sua “profunda” reflexão sobre “laicidade antropológica do ‘Cu’”.
O ex-presidente Lula está preso ilegalmente, condenado sem provas por um juiz notoriamente parcial, recentemente teve o seu alvará de soltura cassado pelo mesmo juiz de primeira instância que o condenou, teve seus direitos de se expressar e dar entrevistas cassados pela juíza de execução penal, Habeas Corpus negado no STF monocraticamente pelo ministro Fachin, isto é, Lula é reconhecidamente um preso político. Mas para Haddad “as instituições estão funcionando normalmente”. Frouxo ou canalha?
Temos um Supremo Tribunal Federal que traiu a Constituição e acabou com a nossa presunção de inocência, votando pela execução de pena em segunda instância (esta que o “PT Judicial” quer prender o povo junto com Lula), e a consequência disso são 14 mil presos provisórios. O STF rasgou a Constituição para Lula ser preso e impedido de se candidatar. Professores de Universidades Federais são perseguidos pelos seus posicionamentos políticos, e jornalistas são processados por usar o seu direito constitucional à livre expressão. Em síntese, a justiça invadiu a política e agora temos uma “Ditadura da Toga”. Mas para Haddad nada disso é verdade, porque ele é advogado.
Quando Haddad no alto da sua boçalidade e frieza do pseudo intelectual paulista faz uma declaração destas, afirmando que o problema de Lula é jurídico e não político ele não apenas nega a luta, mas legitima o golpe e os golpistas. De forma resumida, Haddad admite que:
- Lula não é um preso político
- O processo de Lula respeitou o devido processo legal
- O judiciário brasileiro não é parcial
- As instituições estão funcionando normalmente
- Não estamos num estado exceção
- Não houve golpe (nisso Dilma concorda, pois ela legitimará o Regime Temer ao fazer parte do circo eleitoral 2018)
Será que Hadadd ficou preocupado com a declaração da Ministra Carmem Lúcia onde ela diz que “propostas de alguns candidatos podem representar ameaças a democracia”? Indubitavelmente, a ministra se referia às propostas do Plano Haddad (que é um desastre em muitos aspectos) que defende mandato de 12 anos para os ministros do Supremo.
Tudo indica que, nos próximos dias ou horas, Haddad será indicado vice de Lula e será o candidato a presidente no lugar do ex-presidente. É a derrota do povo que foi impedido de votar. É a antecipação das eleições com candidatos que representam os bancos com roupas vermelhas ou azuis. Uma farsa que foi construída pela corrupta Globo, braço dos invasores norte-americanos no Brasil.
O PT – Partido dos Trabalhadores anunciou neste sábado (4 de agosto) na convenção nacional do partido que, por aclamação, o nome de Luiz Inácio Lula da Silva foi confirmado para ser o candidato à Presidência da República na corrida eleitoral 2018. A EBC resumiu assim o discurso da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (SC):
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (SC), afirmou em discurso que o partido “não pensa em plano B, C ou D como alternativa ao nome de Lula como candidato a presidente”. “Hoje, nesta data histórica da convenção do PT, nós dizemos ao Brasil que Lula é nosso candidato”, disse Gleisi.
Tudo isso seria realmente histórico se não tivéssemos uma esquerda domesticada, uma “esquerda plim plim”, uma esquerda que é apenas uma concessão da Globo. A esquerda que viu a importantíssima política da democratização da comunicação social como um problema menor que poderia ser “resolvido” através do controle remoto. A esquerda que debate lindamente a importância da “laicidade antropológica do ‘Cu’” e enquanto Lula segue preso injustamente nega mais uma vez a política e entrega nas mãos do carcomido sistema judicial “todo poder que emana do povo”.
Ainda há tempo para o PT indicar Marcia Tiburi para substituir Lula. Vamos “modernizar a esquerda”! Vamos tratar das bolhas identitárias que a direita criou para ocupar um povo desempregado e abandonado com as brigas entre grupos. As tribos de esquerda que a direita permite existir. E que no dia 1° de janeiro de 2019, num ato de coragem, Marcia Tiburi mude o Hino Nacional Brasileiro para aquela música “vá tomar no ´cu’! Bem no meio do olho do seu ‘cu’”. Será a coroação da maior sacanagem que já fizeram contra um povo. Entube! Aceita que dói menos.
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