A grande disputa geopolítica do século XXI: mobilidade, meio ambiente e inteligência artificial – Parte 5: O carro elétrico está chegando?

Por Gustavo Galvão, para o Duplo Expresso

Aqui, link para Parte 4

O carro elétrico

Os baixos custos de produção chineses e indianos são uma ameaça relativamente “pequena” tradicional indústria automobilística ocidental perto do carro elétrico.

Ele é imprescindível para a viabilização da economia de baixo carbono. A economia de baixo carbono se baseia em um tripé: (1) mais eficiência, (2) eletricidade de baixo carbono e (2) mobilidade de baixo carbono. Das três, hoje, a eletricidade de baixo carbono é a única que se pode dizer que está avançando de forma substantiva. Mas não podemos apostar só na geração de eletricidade, pois a mobilidade sozinha consome entre 20 e 30% da energia global. Na mobilidade, o carro elétrico é solução perfeita, pois tem zero de emissão direta e aproveita as fontes alternativas de geração elétrica. Além disso, ela é também a mais eficiente em termos energéticos, pois o motor elétrico tem uma eficiência de quase 94%, se reabastece na frenagem, na descida e não gasta energia em ponto morto.

Além disso, o carro elétrico em si é também muito barato, pois não requer sistemas de transmissão, frenagem e refrigeração sofisticados e dispendiosos. E simplesmente não tem sistema de injeção de combustível, de lubrificação do motor, de escapamento, motor de arranque, catalisador e abafamento de ruído. Boa parte da cadeia metal-mecânica dedicada ao automóvel fica imediatamente sucateada com o carro elétrico.

O motor elétrico custa uma fração de um motor a combustão e seus acessórios. Resolvido o problema da bateria, o carro elétrico custará menos do que os carros convencionais, terá custo de abastecimento muito inferior, desempenho superior em torque e emissão zero de barulho e gases poluentes. Alguém já viu um carro de brinquedo ou elevador com motor a combustão?

O custo da bateria ainda é muito elevado. Para contornar isso, estão sendo lançados os carros híbridos (combustão-elétricos) de segunda geração. Eles possuem um motor comum a combustão, que é usado apenas para abastecer a bateria. Sua grande vantagem é que possuem uma bateria menor que a dos carros 100% elétricos. Mas são carros efetivamente elétricos e se abastecerão principalmente com eletricidade, pois a autonomia de suas baterias é suficiente para se ir e voltar do trabalho. À noite poderão ser recarregados na tomada¹.

Os carros elétricos e híbridos contam ainda crescentes incentivos governamentais. No Japão, espera-se que esses incentivos possam chegavam a 40 mil reais por automóvel no início da década².

Para complicar o jogo para o Ocidente, os chineses estão disparados na vanguarda na produção de carros elétricos. Ao menos no número de unidades vendidas.

Provavelmente o governo americano acredita que a GM e a própria nação não terão condições de enfrentar o desafio de proteger seu mercado interno sem manter seu Campeão sob “proteção especial”. O que está em jogo é a sobrevivência da indústria metal-mecânica nos EUA, a contenção das novas superpotências concorrentes e das importações e principalmente e o controle nacional sobre a tecnologia e sobre o ritmo de conversão para a nova economia de baixo carbono.

Os europeus e japoneses farão o mesmo, apesar de suas empresas estarem aparentemente mais fortes que a GM³. Preservarão seus Campeões, suas cadeias metal-mecânicas e de Indústrias Centrais, suas exportações, seus mercados internos e o controle tecnológico nacional sobre a matriz energética, as novas formas de operação do grande instrumento de mobilidade individual e desejo de consumo de suas classes assalariadas, o automóvel.

Outro fator que deve acelerar o processo é a redução do custo e do peso das baterias. Há uma enorme corrida tecnológica para aumentar a eficiência e reduzir os custos das baterias e de outras formas de armazenamento de energia nos carros como capacitores, volante inercial e ar comprimido.

Essa é a visão estratégica de longo prazo que está em disputa. Potências emergentes e potências tradicionais estão movendo suas peças sob comando dos Estado Nacionais para estarem na vanguarda e não perderem prosperidade na transição para o novo mundo de baixo carbono, que incluem também o smart grid, a internet das coisas e os veículos autoguiados, robôs, drones e a inteligência artificial envolvida, a que já nos referimos nos artigos anteriores⁴.

Notas

1 http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/08/11/gm-diz-que-carro-eletrico-volt-fara-98-quilometros-por-litro-de-gasolina-757352306.asp
2 http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?edt=39&id=39952
3 http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,nissan-e-gm-brigam-pelo-mais-economico,420054,0.htm
4 Certamente o impacto da inteligência artificial vai muito além da questão da mobilidade. Ela impacta absolutamente tudo de forma assustadora. Espero que substitua o trabalho dos juízes. Para tomar decisões segundo as leis, precisaria de uma inteligência artificial de baixíssima intensidade. Difícil será programar os juízes robôs para vender sentenças…

*Gustavo Galvão é economista pela UFMG, doutor em economia pela UFRJ, funcionário do BNDES, assessor parlamentar e comentarista de economia do Duplo Expresso.

 

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