O Beijo de Judas e a escolha de Palocci
Por Wellington Calasans, Para o Duplo Expresso
Ele se vendeu por “trinta moedas de prata”. Esta citação agora não é apenas uma referência a Judas, temos em Antônio Palocci a versão tupiniquim desta traição que receberá 30 milhões quando conseguir homologar a sua delação. Ainda que preso há aproximadamente dois anos, “preventivamente”, nas masmorras de Curitiba e condenado há 12 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, a traição de Palocci é também uma rendição de mais uma vítima dos crimes da Ditadura da Toga.
Sabemos que a delação de Palocci se deu em decorrência de uma decisão da segunda turma do Supremo Tribunal Federal, por três votos a dois, onde os ministros entenderam que as acusações contra Lula sobre o sítio de Atibaia e a compra do terreno para o Instituto Lula não tem relação com os desvios de recursos da PETROBRAS. Com a decisão da segunda turma, o processo deve ser enviado para a Justiça Federal em São Paulo.
Lula segue como líder nas pesquisas mesmo preso, enquanto a ocupação promovida pelo MTST possibilitou trazer à tona imagens que mostram que o “Tríplex” jamais recebeu os benefícios e reformas apontados no processo. O que ratifica de maneira incontestável a existência de uma farsa montada para evitar que o ex-presidente Lula seja candidato.
De volta ao Judas Tupiniquim, o amplo destaque à delação dele neste momento é simplesmente uma articulação desesperada da Rede Globo e setores do Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal para que isso permita novas investigações que possam manter o ex-presidente Lula preso.
A turma do “Sinédrio” de Curitiba tenta de todas as formas engendrar novas artimanhas para o calvário de Lula, já não bastasse sua prisão ilegal, proibição de visitas e atendimentos médicos, querem que ele seja esquecido e se torne invisível.
Judas foi um dos primeiros apóstolos a juntar-se a Jesus, por ser o mais instruído tornou-se o tesoureiro dos apóstolos e foi designado para cuidar do dinheiro comum. Palocci foi ministro da fazenda no governo Lula e Ministro Chefe da Casa Civil no governo Dilma. Ele era, depois do presidente, o homem mais poderoso do governo. Negociava com a Globo e era o preferido do mercado financeiro. Nunca precisou de aval do presidente Lula, tinha total autonomia. Agora, Palocci pretende delatar na posição de um mero subordinado do ex-presidente.
Judas negociava a entrega de Jesus pois este era citado como alguém que constituía uma ameaça ao governo dos opressores romanos. “Eles ficaram muito contentes quando ouviram isso, e prometeram dar dinheiro a Judas, então Judas começou a procurar uma boa oportunidade para entregar Jesus” (Marcos 14, 10-11). Palocci também procurava uma boa oportunidade para negociar sua saída do cativeiro e “foi ter com os chefes dos sacerdotes” para entregar Lula.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro em setembro do ano passado, Palocci afirmou que Lula havia feito um “pacto de sangue” em uma reunião com Emilio Odebrecht, como se fosse um encontro “a la Poderoso Chefão”, não convencendo nem os procuradores do Ministério Público na época que precisavam de apenas um pretexto para perseguir Lula.
Judas beijou Jesus antes de consumar a sua traição. Se arrependeu de ter entregue um inocente à crucificação e eternizou a expressão: “pequei entregando a morte sangue inocente” (Matheus 26,3-4-5). Em seguida, dominado pelo remorso suicidou-se enforcado numa figueira. Já Palocci não precisou beijar Lula, pois já havia abraçado a versão mentirosa da Globo e Moro para ser julgado e condenado pela História.
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