O “gênero frágil” que fez o capitalista conhecer o terror
Por Paulo Gamba, para o Duplo Expresso
Quando falamos da história do Benin, antigo Império de Daomé que o opressor chamou sarcasticamente de reino, não nos podemos esquecer de Nansika, uma jovem soldado que na altura ainda com 16 anos, em luta com um sargento francês neutralizou-lhe com golpes de Laamb (luta africana de origem senegalesa em Wollof) e o decapita com furor. Em seguida, tem seu corpo atravessado por uma baioneta e tomba de costas, braços estendidos para a frente. Na mesma batalha, um soldado gabonês de infantaria, recrutado pelos franceses, desarma outra militar de Daomé. Sem opção, ela rasga a garganta do inimigo com os próprios dentes, a partir dai as forças invasoras passaram a mensagem de que as amazonas de Daome eram canibais.
A França conquistou Daomé em 1894, mas foram necessárias duas guerras num período de 4 anos, e mais de 80 batalhas onde as guerreiras de Daome infernizaram a vida dos escravocrata. As guerreiras de Daome eram muito poderosas, era uma força especial constituindo cerca 1/3 das tropas do exercito de Daomé. No século 19 impressionou visitantes e soldados estrangeiros.”O valor das amazonas é real. Treinadas desde a infância com os mais árduos exercícios, constantemente incitadas à guerra, elas levavam às batalhas uma fúria verdadeira e um ardor sanguinário… Inspirando com sua coragem e sua energia indomável tropas que as seguiam”, escreveu em 1895 o major francês Léonce Grandin, que lançou Le Dahomey: À l’Assaut du Pays des Noirs, em que analisa a guerra na qual lutou. “Notavelmente bravas”, “extraordinárias por sua coragem e ferocidade” e de “tenacidade selvagem” são algumas das características atribuídas a elas por combatentes franceses em diários escritos no calor das batalhas.
As mulheres soldados e oficiais do exército de Daomé possuíam empregados, moravam no palácio do rei e eram tão respeitadas e poderosas que, quando andavam pelas ruas, os homens comuns deviam dar um passo atrás para abrir caminho e olhar para o outro lado: não podiam dirigir seu olhar a elas. Usavam uniformes, carregavam bandeiras e cantavam hinos. Acostumadas desde cedo a um treinamento rigoroso, eram grandes guerreiras, fortes, velozes, que escalavam paredões, empunhavam espadas, machadinhas e punhais com vigor e, armadas com espingardas, atiravam com boa mira. Decapitavam sem pena. Estavam, normalmente, na linha de frente dos ataques aos reinos inimigos, à frente dos homens.
As origens das tropas femininas de Benin vêm de dois grupos. O de mulheres caçadoras de elefantes, comuns nos séculos 17 e 18, ou o mais provável: o de guardas do palácio real. Apenas mulheres e eunucos podiam guardar os aposentos do rei e de suas centenas de esposas. Mas no Benin tais sentinelas teriam evoluído para a formação de uma guarda pretoriana do governante.
Havia cerca de 5 mil mulheres no palácio, entre esposas do rei, guardas, administradoras, funcionárias e empregadas. “As mulheres eram criadas, desde a infância, para serem leais à sua família de nascença e à família do futuro marido.
As primeiras notícias das mulheres soldadas em Daomé datam de cerca de 1830. Daomé lutava em muitas guerras, o que levou ao declínio da população masculina. Isso é outro fator que pode explicar o uso de mulheres como militares. A última vez que elas entraram num campo de batalha foi em 1894, quando a França venceu a 2º Guerra Franco-Daomeana e subjugou o reino africano. “O colonialismo fez com que as mulheres africanas se encolhessem, perdessem a força, passassem a se casar para ser sustentadas pelos maridos”.
Kadafi – antigo presidente líbio assassinado pelas forcas ocidentais – é daqueles que não acredita que o capitalismo surgiu com a revolução industrial, ele acreditava que o processo de escravatura foi feita numa base capitalista tendo em conta que o objecto de negocio era o homem preto, que de resto, com trabalho escravo desenvolveu a América e Europa. Em homenagem ao reino de Daome e Oshikwanhama, Kadafi adopta o modelo de guarda-costas femininas, altamente treinadas que o mantiveram seguro durante 40 anos do seu “reinado” até o seu assassinato num projeto árabe-ocidental que se chamou Primavera Árabe.
–––––
Nota do Duplo Expresso: Paulo Gamba é Professor Universitário de Direito Internacional, comentarista de Política Internacional da imprensa angolana, escritor e comentarista de Geopolítica do Duplo Expresso. Este texto foi escrito seguindo as regras do português praticado em Angola e ajustado ao português brasileiro por Yorkshire Tea e Carlos Krebs.
Facebook Comments