“Quem nasceu para Palocci nunca será José Dirceu”

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“Quem nasceu para Palocci nunca será José Dirceu”

(e vice-versa)
Romulus: Foi assim que reagi, na semana passada, diante de certo “espetáculo” (mal) encenado (e gravado!) em Curitiba.



“(Mal) encenado” e “gravado”, evidentemente, para pronta transmissão, em horário nobre, pela Rede Globo.
(ora, quem mais?)



“Palocci”



Não havia como ser diferente: diante de tal comparador, não poderiam ficar mais destacados a força de caráter, a resiliência e o compromisso de José Dirceu com as causas a que consagrou a vida.



Naturalmente, não fui o único a quem tal contraste se impôs. Diversas manifestações no mesmo sentido sucederam-se nos dias seguintes. Nas redes sociais e alhures.



Abaixo, dois textos que, contando tão somente com a pungência das palavras, buscam fazer justiça – a genuína! – a quem não se vergou, nem ontem nem hoje, diante do arbítrio e de interesses (duplamente) anti-brasileiros: antinacionais e anti-povo.

*


O preço do silêncio



Hoje percebemos o quão caro nos custou o silêncio e o abandono do companheiro Zé Dirceu e de todos os outros às “instituições” que – naquele momento e como agora – diziam estar em pleno funcionamento. Não percebíamos, então, a serviço de quem funcionavam.



Quando nos deparamos com o espetáculo grotesco que foi o julgamento da AP 470, televisionado e comentado 24 horas por dia, com interpretações teratológicas da “Teoria do Domínio do Fato”, do absurdo de uma ministra da Suprema Corte condenar sem provas mas embasada “na literatura jurídica” um homem à perda da sua liberdade, privando-o do convívio com sua família, impondo o silêncio de suas ideias e de sua participação política no país. Chocadas, nos perguntamos onde estava o Direito, a Justiça e que tipo de instituição era aquela que expressamente condenava inocentes.
    
Esperamos ouvir os gritos e protestos daqueles que se dizem operadores do Direito, das ditas instituições e organismos que falam em nome da defesa da lei e da Constituição. Nada escutamos, apenas o silêncio da omissão e da covardia. Poucos foram aqueles que se ergueram diante da tirania do Judiciário que cometeu um falso processo, deturpando conceitos jurídicos, negando provas de inocência  e o direito de defesa .
    
Iniciava-se na AP 470 – e no silêncio diante do arbítrio do Judiciário – o processo de mais um golpe de Estado no Brasil. Desta vez, porém, sem tanques de guerra contra a população, mas com os velhos aliados de togas da oligarquia predatória do país.
    
Tentaram destruir o homem, que foi abandonado por muitos de seus companheiros. Mas a lealdade deste homem é ao povo brasileiro, à luta pela igualdade social e pelo desenvolvimento do país. Por isso, Zé Dirceu não se enverga, luta pela causa dos mais humildes, possui a honra e a dignidade que só os heróis têm.



Poucos são os seres humanos como Zé Dirceu, desprovidos de egoísmos e pequenos sentimentos mesquinhos. Sua força na luta e altivez da sua honra são muitas vezes confundidas com arrogância: é o preço que tão nobre caráter paga por dedicar sua vida a lutar por um Brasil mais justo.



Já nós, o povo brasileiro, pagamos um alto preço por nosso silêncio, por nossa omissão!



Nosso país é surrupiado, nossas riquezas e futuro estão sendo roubados! Enquanto isso, continuamos a assistir o espetáculo grotesco desse Judiciário, que condena líderes valorosos sem prova e dá prêmios a homens criminosos.



O resultado do silêncio diante dos arbítrios do Judiciário na AP 470 e na Lava-jato foi a instituição de uma ditadura disfarçada, na qual estamos todos sujeitos à tirania de inúmeras togas e, consequentemente, a uma insegurança jurídica jamais vista.
    
Exigir que o TRF4 meramente aplique a lei ao julgar o recurso de Zé Dirceu se converte em ato revolucionário, diante da ditadura das togas que enclausuram nossas lideranças em falsos enredos jurídicos, em masmorras do silêncio e encarceram seus corpos.



Por um ato revolucionário!
    
Exige-se a aplicação correta da lei e da Constituição deste país para que seja declarada a absolvição de Zé Dirceu!
    



Giselle Mathias, advogada, Brasília
Denise da Veiga Alves, advogada, Brasília
Cleide Martins, Brasília
Andréa Matos, química, Rio de Janeiro
Vera Lúcia Santana Araújo, advogada, Brasília
Maria Lúcia de Moura Iwanow, professora, Brasília



*



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Foto: Fernando Neto, Paolo de Santis, Davi de Oliveira e José Dirceu.


Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
Canção de Tamoio
Gonçalves Dias

Se você não conhece “Canção do Tamoio”, poema de Gonçalves Dias, sugiro descobri-lo, ninguém o representa melhor do que José Dirceu. Um homem “preso” desde 1968 – lutando contra os abusos de uma ditadura militar, para libertar, mesmo aqueles que, hoje, o julgam, mesmo os que o condenam. Grande parte da sociedade brasileira e mundial não conhecem seus dominadores, seus obsessores, seus julgadores, mas, José Dirceu os reconhece.  Como outros poucos personagens da história, Dirceu compreendeu o quão profundo, e dura, é a dinâmica da luta de classes, e isso lhe dá autoridade e propriedade para enfrentar qualquer julgamento:  “-Só luta por uma causa quem tem valor. Os que brigam por interesse têm preço. Não que não me custe dor, sofrimento, medo e às vezes pânico, porém, prefiro morrer que rastejar e perder a dignidade”, afirma Zé. Compreendam o significado de “Lutar” em seu sentido mais profundo, para além de armas, conflitos, lutar é, acima de tudo, conquistar Direitos e construir um país. É preciso entender que não haverá liberdade enquanto houver um sequer oprimido, não haverá liberdade enquanto o Estado Democrático de Direito não for uma instituição pétrea, irrevogável, inalterável, com respeito a vontade popular e a soberania nacional. Não existe país soberano que retira do mais fraco para manter os regalos dos mais ricos, ou pior, liquide suas riquezas naturais; dissolvendo seu patrimônio para o mercado especulativo internacional, destruindo sua defesa nacional, seu parque industrial, entregando sua floresta a exploração indiscriminada, seu material de conteúdo nacional (minério, petróleo, água, energia, etc), no fim, não existirá mais um país, por isso, sempre que tem a oportunidade Zé Dirceu denuncia o desmonte do Estado, a quebra do pacto social, a destruição da carta constituinte.



Tenham certeza, José Dirceu luta pela própria defesa como se lutasse pelo direito de cada brasileiro defender-se de forma digna, justa e equânime, exatamente o contrário do que vem acontecendo nos últimos tempos. Quando a justiça se adequa ao caso para julgar e incriminar interesses políticos, de poder e por vaidade, mostra claramente a fragilidade de nossas instituições, a pequenez de quem exerce função pública em nosso país e o risco diário que corremos, de sermos julgados por nossa condição social, financeira, de gênero, ideológica, de credo e de identidade. Não há moralidade na exceção, tudo é legal de acordo com o julgador.  Este é o exemplo e o recado que o Ministério Público Federal, o TRF4 e o Juízo Criminal de Curitiba vem nos dando. É preciso cerrar fileiras com os perseguidos. Chegou a hora de fazer valer a solidariedade, de unir-se a luta de quem, desde a ação penal 470, enfrenta a mentira, o ódio, a narrativa da grande mídia, o interesse escuso, e nunca revelado, da política e do mercado. José Genoíno, Delúbio Soares, Zé Dirceu e João Paulo Cunha assumiram pra si o confronto direto contra a mentira, a ação de quem tem como alvo destruir os interesses da classe trabalhadora, queimando seus direitos, atingindo o maior partido de esquerda da América Latina, e, consequentemente, desmontando a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva. São estes os alvos prediletos do mercado, que pretendem excluí-los da política para não atrapalharem as reformas criminosas propostas por quem golpeou a presidência da república, apeiam a classe trabalhadora e os mais pobres deste país em nome de seus interesses.



João Vaccari Neto e José Dirceu de Oliveira e Silva personificam a continuidade deste processo político, alcunhado pelo poder judiciário, instrumentalizado pela grande imprensa e forjado pelo que existe de mais reacionário no campo de direita da política nacional. José Dirceu e todos os outros companheiros não são o fim deste processo, são meio para atingir um objetivo já anunciado: “exterminar uma raça” que não cansa de resistir. É preciso ter unidade na ação e na luta para revertermos um cenário de destruição social. Garantir o direito de ampla defesa, o processo legal, a Constituição Federal representa hoje a defesa da sociedade, do povo brasileiro e de toda classe trabalhadora, porém, ainda é pouco. Ao campo de esquerda nacional é necessário resiliência, capacidade de analise e ações estratégicas que suportem e fortaleçam a resposta nas ruas e nas urnas (se houver). Quem nos acusam e nos julgam buscam na simbologia e nos signos de seus atos respaldo popular e assim disputam a narrativa do julgador, anunciando antecipadamente sua sentença pela grande imprensa ou até mesmo por filme, inédito no mundo, retratando em tempo real um julgamento em andamento antecipando principalmente seu resultado final. Defender nossos companheiros é defender a si próprio e a seu igual, é lutar pelo direito de liberdade e por seu direito de defesa. Marchem de cabeça erguida e os punhos serrados!!!José Dirceu traz na pele as cicatrizes das durezas  da vida, José Dirceu não precisa de inocência, José Dirceu precisa de justiça, justiça ao povo brasileiro!



Fernando Neto

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Romulus Maya

Advogado internacionalista. 12 anos exilado do Brasil. Conta na SUÍÇA, sim, mas não numerada e sem numerário! Co-apresentador do @duploexpresso e blogueiro.

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