Bolsonaro e a Ideologia

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BOLSONARO E A IDEOLOGIA
Luiz Carlos de Oliveira e Silva

1. Economia, política e ideologia: estas são as três instâncias que compõem uma formação social… A depender das circunstâncias históricas, uma das três instâncias, por um determinado período, predomina frente as demais.

2. No capitalismo, em situações “normais”, as pessoas buscam resolver na instância política os problemas que enfrentam na esfera material da vida (economia). As eleições periódicas servem para isto…

3. Com a atual degradação da política – que muitos chamam de “crise de representação –, a instância ideológica surge para enormes contingentes de pessoas como a instância mais importante, a única capaz de apontar soluções para as suas vidas, já que os “políticos” fracassaram.

4. Para muitos, a “narrativa” passa a ser a seguinte: só “homens de bem” – uma figura da esfera da ideologia – seriam capazes de vencer os “políticos” – figuras que dominam a esfera do político.

5. Bolsonaro intuiu a grandeza do alcance deste tipo de “narrativa” e se propôs a ser o “cavalo de Tróia” que traria em seu bojo, oculto, os piores interesses antinacionais, antipopulares e antidemocráticos.

6. Não deu outra… Fazendo uma adequada “leitura do jogo”, Bolsonaro e seus mentores ocultos e criminosos decidiram concentrar toda a discussão no plano ideológico porque sabiam que neste terreno a esquerda encontrava-se nas cordas e a direita na ofensiva, no Brasil e no mundo.

7. (A “queda do Muro de Berlim”, o esfacelamento da URSS, o fim do “socialismo real” no Leste Europeu, a perda de parcelas importante do prestígio popular do PT devido às práticas corruptas nas quais se envolveu e devido ao estelionato eleitoral de Dilma, jogaram a esquerda num quadro de desmoralização ideológica jamais visto.)

8. Apostar tudo na esfera ideológica e esconder o seu programa econômico e político foi fundamental – junto com o emprego de uma extraordinária máquina oculta de propaganda – para a vitória eleitoral de Bolsonaro. Mas, isto fez de Bolsonaro um escravo da ideologia: ele vive disto e para isto.

9. A estratégia de reduzir tudo à ideologia funcionou na campanha eleitoral e – a dar crédito ao que apontam as pesquisas de opinião – continua funcionando, pelo menos para o seu eleitorado, mesmo em tempos de crise causada pela pandemia do Covid-19. (Datafolha constatou que, apesar da crise, espantosos 83% dos eleitores de Bolsonaro não se arrependeram de ter votado nele!)

10. Se alguém perguntar por que ele insiste tanto em manter o seu comportamento “anti-OMS” na atual crise, Bolsonaro poderia muito bem responder: “é a ideologia, estúpido”. Devido à profunda e persistente desmoralização da política, a esfera ideologia segue sendo a instância dominante na conjuntura. E Bolsonaro sabe disto, e vive disto…