O Último Rei da Escócia

Por Rubens Rodrigues Francisco para o Duplo Expresso

O Reino Unido, Grã-Bretanha ou simplesmente Inglaterra, como a maioria ouve falar, é composta de territórios que outrora eram nações Independentes, e mesmo falavam outras línguas, como no caso da Irlanda, ou “Irlandas”. Hoje todos falam Inglês.

A Escócia, da qual ouvimos falar quando tem propaganda de whisky, hoje faz parte do que chamamos Reino Unido – a tal “Inglaterra”. Mas já foi diferente no passado. Sobre este tempo que ficou para trás, o filme mais famoso com certeza é “Coração Valente” estrelado por Mel Gibson, no papel do heróico Willian Wallace.

Aos jovens que não assistiram ao filme, pois me alertaram que tem mais de 20 anos (o tempo passa rápido), indico que assistam, pois traz conceitos aplicáveis ao complexo mundo da política. Mesmo a política tupiniquim, a brasileira. Aconselho filmes, e não livros, pois sei que os jovens assim preferem. E não uso como primeira escolha filmes de Almodóvar, Costa Gravas, Kieslowski etc. sabem por quê? Simplesmente porque desejo que assistam o filme! Logo, tem que ser um que além da mensagem desejada, seja capaz de capturar a atenção e oferecer adrenalina aos hormônios da juventude, trazendo-os a uma tábua de valores praticamente extinta.

Nos programas das sextas-feiras no Duplo Expresso (que vai ao ar todos os dias, às seis da manhã), na qualidade de advogado e “jornalista freelancer”, procuro trazer exemplos práticos de casos concretos do mundo jurídico nesta árdua tarefa de orientar e treinar a militância política nacionalista do Brasil. Principalmente neste momento de “judicialização” da vida e do cotidiano.

Nos dias atuais, o poder Judiciário tem desmantelado os poderes Executivo e Legislativo fazendo uso do Ministério Público. Mesmo que este não seja um “quarto poder”, tornou-se de fato o maior da República brasileira, assumindo todos os vazios provocados por esta blitzkrieg* ministerial.

Este cenário, de certo forma, guarda semelhança ao enredo do filme “Coração Valente” em vários aspectos. Em especial, na relação dos jornalistas e ativistas políticos Wellington Calasans e Romulus Maya com o Partido dos Trabalhadores (PT) – o exército de Lula.

No programa da última sexta (09 de março) fiz esta analogia, em especial para aplacar um imbróglio envolvendo Romulus e o PT. Naquele mesmo dia, há participação de Joseildo Ramos, hoje Deputado Estadual e líder da bancada governista do PT na Assembleia Legislativa da Bahia – ALBA, e que nas eleições anteriores dependeu da articulação de Wellington Calasans perante o PSD para uma aliança com o PT na Bahia. Aliança esta que resultou na vitória de Jacques Wagner e do próprio PT como força hegemônica no estado.

O inconformismo de Romulus com as supostas atitudes levianas nos bastidores por parte de deputados do PT, e a sua ação colérica de indignação, resultaram em reações diretas, mais coléricas e letais destes mesmos parlamentares. Aliando-se a estes, diversos nomes conhecidos da “blogosfera progressista”. Um desgaste sem precedentes, as vésperas do julgamento do habeas corpus em favor de Lula, a pretexto de justamente fortalecer elementos exógenos a pressionar o STJ em retornar ao eixo natural de legalidade e das garantias individuais.

Sucederam-se então, ataques e revides, no que parecia não haver fim. Foi quando aconselhei Romulus a retirar-se do “campo de batalha”. Para isso, fiz uma analogia da cena do filme “Coração Valente”, na qual o herói é abandonado no campo de Batalha pela Cavalaria Escocesa, e ao confrontar-se com um misterioso cavaleiro do Rei da Inglaterra – seu inimigo, inimigo do Escoceses – após enfrentá-lo e subjugá-lo, retira-lhe o Elmo (uma espécie de capacete), e apresenta surpresa e decepção terríveis: o cavaleiro aguerrido do Rei inimigo é seu melhor amigo, o príncipe escocês Robert The Bruce.

Assistindo os 178 minutos do filme, é possível perceber que The Bruce não comete tal ato por “maldade” ou porque queria a morte de Wallace, mas porque fora convencido pelo seu conselheiro (e pai) que esta seria a melhor estratégia para o futuro da Escócia.

Obviamente The Bruce percebe que a estratégia não foi a melhor. Embora o filme não tenha um final feliz, pois ninguém salva a mocinha e o herói morre no final, a Escócia tem seu último Rei.

Sinceramente, esperava que após este programa, “A Hora do Pesadelo” – outro filme de horror terrível, na qual o monstro Fred Krueger sempre reaparece para continuar o que nem devia ter começado – chegaria ao fim. Mas não… Não acabou! Agora é a vez de Wellington, com sua “filiação” ao PSD.

Então ficou claro para mim que independente das opiniões a respeito do ocorrido com os parlamentares, na verdade qualquer opinião a respeito do Partido dos Trabalhadores emitido pelo Duplo Expresso será considerado um ataque, e provocará um correspondente contra-ataque.

O Partido dos Trabalhadores tem razões que a própria razão desconhece. Para aqueles que não pertençam a sua legenda, a conduta mais acertada indica ao Duplo Expresso que não emita opiniões a respeito do que seria ou deixaria de ser mais adequado para este partido.

Não é possível ajudar quem não acredita precisar de ajuda. Ajuda, aliás, pode ser interpretada como qualquer coisa. Até mesmo uma tentativa em prejudicar.

O que se buscou de cooperação do Partido dos Trabalhadores, o mais importante, foi a postura de manter Lula como candidato mesmo se o Judiciário ousar prendê-lo.

As tentativas de impulsionar o partido no combate à Lava-Jato, ou mesmo no resgate de seus prisioneiros políticos não estão sendo bem interpretadas. Isso está gerando mais problemas o que uma indicação de solução. Do mesmo modo, insistir para que o PT protagonize a reformulação, ou mesmo a revogação das leis aprovados durante sua gestão e que ofereceram superpoderes a juízes e promotores, também parece gerar grande desconforto.

Os ataques a Romulus em razão do abandono no campo de batalha, que ele entendeu como traição, em nada se compara ao poder lesivo de uma interpretação maldosa na aliança PSD com o PT nas circunstâncias eleitorais de Joseildo Ramos na Bahia.

No filme Coração Valente, o último Rei da Escócia vence a guerra contra o Rei da Inglaterra depois de muitos sacrifícios. É hora de parar!

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* Blitzkrieg é uma expressão alemã para o ataque-relâmpago. Esta tática operacional de guerra consiste na utilização de elementos de força móveis, capazes de deslocarem-se rapidamente para agirem com surpresa contra o inimigo. “Contra o inimigo”, que fique claro. Utilizando-se do efeito-surpresa, da agilidade da manobra e da brutalidade da carga de ataque, objetivam desmoralizá-lo e impedir a organização de suas forças.

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