Marielle, Padilha e beijo na boca

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MARIELLE, PADILHA E BEIJO NA BOCA
Luiz Carlos de Oliveira e Silva

1. Causou alvoroço, não sem razão, a notícia de que o cineasta José Padilha irá dirigir uma série para a Globo sobre Marielle.

2. O alvoroço se deve ao fato de Padilha ter sido um cineasta que, com seus filmes, contribuiu, com inegável talento técnico, para gerar a onda que tornou possível Bolsonaro presidente.

3. Acontece que Padilha hoje dá mostra de desconforto com relação ao seu passado recente, e não vem medindo esforços para “corrigir” a sua biografia, de molde a não entrar para a história como um dos artífices da barbárie bolsonarista.

4. Drama semelhante ao de Padilha vem vivendo Reinaldo Azevedo, um dos principais cães hidrófobos que ladraram a favor do golpe, hoje convertido, na maior cara-de-pau, a um republicanismo tão escorreito quanto cínico.

5. Padilha e Reinaldo achavam que os herdeiros da tão almejada derrocada petista seriam gente com mais, digamos assim, modos-à-mesa do que a turba bolsonarista. Hoje se mostram, senão arrependidos, pelos menos constrangidos com a contribuição que deram para a vitória da “barbárie” entre nós.

6. Padilha e Reinaldo querem desassociar suas imagens da de gente como Olavo de Carvalho, Damares, Weintraub, Carluxo et caterva… E não vêm medindo esforços para “corrigir” as suas biografias, de molde a não entrarem para a história como artífices da barbárie bolsonarista.

7. Como negar que Reinaldo vem se saindo muito bem no papel de recém-convertido ao republicanismo, a ponto de ser uma das principais vozes da oposição ao bolsonarismo?

8. Como negar que Padilha reúne todas as habilidades técnicas para dirigir uma série onde todas as boas qualidades de Marielle como militante das lutas identitárias estejam fielmente retratadas?

9. Padilha e Reinaldo são pistoleiros de aluguel, e desempenham com esmero o seu trabalho. Alugaram suas armas para a direita, sim, mas sem beijo na boca, porque são profissionais.

10. No passado recente, suas pistolas apontavam contra nós, contra a esquerda. Agora, eles voltam suas armas contra os nossos inimigos. A nós, me parece, não resta alternativa senão reconhecer que é melhor tê-los como aliados do que como inimigos. Mas sem beijo na boca, porque eles são profissionais…