Golpe usa tática de provocação orquestrada?, por Romulus
Atualização do post de 25/5/16
Golpe usa tática de provocação orquestrada? O que esperam os EUA desse conflito?
Por Romulus
– Parece seguro afirmar que o consórcio golpista adotou deliberadamente uma tática de provocação visando à exacerbação da polarização e da radicalização na sociedade.
– Antes e durante a reverberação das “bombas” de fragmentação dos grampos – com detonações escalonadas e cronometradas – vemos claríssimas ações de provocação do governo e de seus apoiadores no Congresso.
– A prudência político-diplomática recomendaria que os americanos adiassem a troca de embaixadores – caso apenas espontânea e aleatória – de forma a evitar a leitura de que veem como possíveis desdobramentos a insurreição aberta e o endurecimento do regime com uma resposta repressiva.
– Caso buscassem a (imagem de) neutralidade diante do conflito político interno no Brasil – ainda em curso! – a prudência também recomendaria esperar. O envio de um novo embaixador e sua acreditação pelo governo – interino – brasileiro passam aos observadores a normalidade das relações diplomáticas entre os dois governos – e o reconhecimento tácito do governo do golpe.
– Tácito?
Nesta semana chega ao Brasil Mari Carmen Aponte, a nova responsável pelas Américas. Trata-se da primeira autoridade americana a visitar o Brasil após o golpe.
* * *
Como se as ações administrativas polarizadoras do “golperno” e as reações da sociedade às mesmas não provocassem tensão já suficiente, a última semana tem sido pautada por novas “bombas” a cada dia, quando não a cada hora.
Desde segunda-feira o vazamento escalonado – e editadíssimo – de grampos envolvendo caciques do PMDB incendeia o noticiário político, as redes sociais e as ruas. Fora suspeitas mais ou menos críveis, ainda não se sabe com certeza de onde partiram esses vazamentos e nem qual o seu intuito.
Contudo, não sejamos parvos. Levemos em consideração os seguintes aspectos:
(i) O cronograma milimétrico
O primeiro vazamento, o de Romero Jucá, foi ao ar no site da Folha de São Paulo à 0:02 de segunda-feira, 23 de maio. De tão marcado o relógio, parece até hora convencionada para o início do horário de verão, não é mesmo?
Na sequência, ficamos sabendo que os cabeças do “golperno” já haviam sido devidamente informados da iminente publicação ainda no fim de semana.
Não parou por aí. O cronograma seguiu:
Na madrugada da terça-feira vai ao ar no mesmo site da Folha de São Paulo grampos em Renan Calheiros e à tarde em José Sarney.
Já discuti o conteúdo do grampo em Jucá fartamente no post “Saldo do grampo de Jucá: o haraquiri da PGR e do STF”. Os desta terça-feira trazem novos elementos que deixam ainda mais escancarada a conspiração do maio de 2016.
Sim, acostumemo-nos com a construção “maio de 16”. Reverberará na História, nas salas de aula e na sociedade tanto quanto “o abril de 64”. Gostem os golpistas disso ou não. A Rede Globo não controla a narrativa da História. Tanto é assim que os livros dessa disciplina não esperaram os mesmos 50 anos (!) que a Globo esperou para dizer que a “Revolução” de 64 foi na verdade um golpe – e não o “ressurgimento da democracia”, como ardilosamente falseava Roberto Marinho em editorial de então.
Golpistas: agarrem-se ao presente. Sei que ele já não é favorável, mas o olhar do futuro será ainda pior.
(ii) As ações de provocação
Após essa pequena advertência aos do golpe, volto aos tumultos da conjuntura.
Antes e durante a reverberação das “bombas” de fragmentação dos grampos – com detonações escalonadas e cronometradas – vemos claríssimas ações de provocação do “golperno” e de seus apoiadores no Congresso.
Vejamos alguns casos:
(a) Anúncio de cortes em programas sociais e em subsídios como os do Minha Casa Minha Vida destinados à menos faixa de renda.
Pelo seu baixíssimo impacto fiscal, trata-se evidentemente de medida que visa a alimentar um certo discurso político-ideológico – para fidelizar a base social conservadora – e antagonizar o polo oposto.
Vê-se que a “união nacional” e a “pacificação” ficaram apenas no discurso de posse do grão-mestre golpista. No campo das ações joga claramente pela polarização e e pela radicalização ainda maiores na sociedade.
(b) Provocações diversas de deputados-pastores e deputados-da-bala aos artistas e ao segmento LGBT.
Seguindo o episódio da extinção do MinC, os discursos de ódio contra os artistas foram casados com ações administrativas e legislativas com vistas à anulação de modestos direitos conquistados pelos LGBTs nos últimos anos.
“Concertação”, “união” e pacificação”?
Sei… acredite quem quiser.
(c) Pensam que a provocação se restringe a ações e discursos dentro das nossas fronteiras? Acompanhem a (des)ventura de José Serra no Itamaraty e terão a resposta imediatamente.
Algo mais?
Há sim:
(d) Ainda agora a ridícula provocação do dia: o ocupante ilegítimo do Ministério da Educação, Mendonça Filho, recebe em audiência no MEC o ator (?) Alexandre Frota e o fundador/explorador comercial do grupo Revoltados Online, Marcelo Reis.
Para quê, certamente indagarão os leitores?
Bem, segundo os próprios, para que o Ministro acolhesse a pauta de Frota e de Reis para a Educação. Pelo menos, como se vê nas fotos, Alexandre Frota foi usando óculos de grau…
Melhor assim, não é?
Quem sabe não aproveitaram a oportunidade para inserir todas as realizações acadêmicas dos três pensadores na base de Currículos Lattes, do CNPq? Imaginem vocês que até agora o Sr. Ministro de Estado da Educação não tinha um!
Falta de tempo, certamente…
Mas tempo é o que não faltou para a tirada de selfies galhofeiras no gabinete do ministro e sua imediata postagem nas redes sociais. Tais postagens, com legendas “engrandecedoras”, são sem sombra de dúvida meros acessórios do principal: as riquíssimas contribuições da dupla para a política educacional brasileira (!). Como era de se esperar, a farra foi devidamente repercutida pela imprensa familiar e pela blogosfera, contribuindo para a notoriedade de uma “reunião de trabalho” que nem da agenda do Ministro constava até aquele momento.
* * *
É engano meu ou observamos um padrão?
Não parece engano não. Para quem soma dois e dois, parece seguro afirmar que o consórcio golpista adotou deliberadamente uma tática de provocação visando à exacerbação da polarização e da radicalização na sociedade.
Haveria um propósito?
Apenas fidelizar o seu apoio – cadente – na base social conservadora? Ou há algo mais?
Hmmmm
Certamente nada na esfera de competência do redivivo GSI, entregue às mãos de chumbo do General Etchegoyen.
A propósito, por falar em general, gostaria de perguntar ao Senador Jucá – sem escuta clandestina da minha parte:
– Senador, pode esclarecer melhor a sua fala, sobre estarem comandantes militares monitorando movimentos sociais e sua disposição para garantir a “opção” Temer – ainda em março?
Todos – inclusive a imprensa estrangeira – ficamos muito curiosos.
* * *
Aliás, e esses grampos, hein?
Existem há meses e são vazados justo nestes dias?
Engraçado… não sei por que, mas me veio à mente episódio recente parecido. Coisa pouca que ocorreu alguns meses atrás…
Grampos em autoridades – um recém-empossado Ministro de Estado e nada menos que a Chefe do Estado – foram vazados, provocando na sequência convulsão social em grau elevado.
Hmmmm (2)
* * *
Dois e dois são…?
Observadores mais velhos, que já viram muita coisa, não hesitaram em me dizer que supõem somarem quatro mesmo.
Hmmmm (3)
Nos seus piores pesadelos, foram acordados por lembranças de palavras e nomes não tão distantes:
“Riocentro”, “Dona Lydia da OAB”, “Gasômetro do Rio de Janeiro”…
Tentaram dormir, mas outra palavra, esta menos distante ainda, não lhes permitia:
“Olimpíadas”.
* * *
Atualização – o que esperam os EUA do conflito?
Prefiro infinitamente ficar na foto como o paranoico que não descarta teorias da conspiração a ser o vaidoso que, por temer essa caracterização, silenciou e com isso não contribuiu para uma dissuasão.
Dessa forma, notem que o objetivo de escrever estas linhas é justamente estar depois errado.
Mas, ainda no figurino paranoia, acrescentemos o seguinte:
Ou seja, temos o seguinte quadro:
– Sai embaixadora presente em desestabilizações de governos de esquerda seguidas de posses de vices de direita;
– Chega outro com experiência em local de conflito e inssureição;
– Um governo fraco adota claramente ações de provocação;
– Tem a retaguarda de um general linha dura;
– Grampos editados causam alvoroço;
– Olimpíadas vem aí.
Atualização 30/5/16:
Os Americanos por certo não ignoram que uma leitura relacionando os itens anteriores levasse à conclusão de que veem como possíveis desdobramentos a insurreição aberta e o endurecimento do regime com uma resposta repressiva. Espero que não ao ponto de considerarem possível um quadro de Estado falido, como o Afeganistão – país de onde vem o novo embaixador.
A prudência político-diplomática recomendaria que os americanos adiassem a troca de embaixadores – caso apenas espontânea e aleatória – de forma a evitar leituras desse tipo.
Ainda, caso se buscasse a (imagem de) neutralidade diante do conflito político interno no Brasil – ainda em curso! – a prudência recomendaria esperar. O envio de um novo embaixador e sua acreditação pelo governo – interino – brasileiro passam aos observadores a normalidade das relações diplomáticas entre os dois governos – e o reconhecimento tácito do governo do golpe.
Bem, nem tão tácito assim:
Nos últimos dias se noticia que o “Departamento de Estado dos EUA vem reconhecer terreno“, ou seja, que nesta semana chega ao Brasil Mari Carmen Aponte, a nova responsável pelas Américas. Trata-se da primeira autoridade americana a visitar o Brasil após o golpe. Da sua agenda em Brasília, consta visita ao Ministério das Relações Exteriores.
Pergunta:
Ela dedicará o mesmo espaço na agenda e a mesma cobertura midiática a encontro equivalente com o staff da (ainda) Presidente Dilma Rousseff? Haverá encontro com Marco Aurélio Garcia, por exemplo?
Em tempo: o Departamento de Justiça norte-americano foi um colaborador precioso nas investigações da Lava Jato contra multinacionais brasileiras, ingrediente fundamental para a instabilidade política que levou à desestabilização do governo Dilma.
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