Dilma no Senado: balanço da 1ª parte, por Romulus
Dilma no Senado: balanço da 1ª parte
Por Romulus
Início. Primeira parte da fala inicial de Dilma assusta. Parece que ela vai tão somente ler o script elaborado pelos conspiradores do golpe. Só fala de decreto de suplementação e pedalada. Sinto frio na barriga e confesso no twitter, em momento de fraqueza:
Se Dilma não falar “é golpe” e que “o governo interino só tem corrupto” e da conspiração política dos corruptos (grampo do Machado) desisto. Sério.
Na verdade Dilma fez suspense retórico. Quis fazer um discurso num crescendo e terminar “em apoteose”.
Chega a segunda parte da sua fala e, dentro do protocolo, dá nome aos bois. Faz referência velada ao grampo de Sérgio Machado (“estancar a sangria política”) e aponta para uma conspiração de políticos corruptos tentando escapar da Lava a jato. Amarra o raciocínio lembrando a total liberdade de PF e MPF no seu governo e no de Lula.
Empolgo-me no twitter:
Aeeee! “ESTANCAR SANGRIA DA CLASSE POLÍTICA” (grampo do Machado). “Corruptos com medo de irem pra cadeia”. VIVA @dilmabr !
E o final apoteótico:
Dilma: “Estamos a alguns passos de um verdadeiro GOLPE DE ESTADO”. VIVA @dilmabr
Começam as falas dos senadores.
Katia Abreu mais uma vez mostra que caráter não é de esquerda nem de direita. Ou tem ou não tem.
Alô, Cristovam Buarque!
E após a sua fala entra a bancada do golpe. Em uma manobra de conveniência duvidosa, os senadores do golpe resolvem mais uma vez tocar no “tema tabu” no impeachment: o silêncio cúmplice do STF.
Que deselegância, senadores!
Como dizem os americanos, resolvem falar do enorme elefante na sala que todos fingiam não ver.
Na verdade, é uma casca de banana jogada a Dilma, que não pode – ainda – desancar o STF, Corte à qual fatalmente recorrerá. Mas tampouco pode assentir com a alegada legitimidade do “rito”, aprovado pelo STF.
O que fazer então?
Meus tweets a respeito:
Golpistas usam biombo “STF determinou rito”. Constrangimento máximo para Lewandowski e colegas. Casca de banana. Dilma desvia.
Eita! Dilma: “a CONSTITUIÇÃO está sendo RASGADA!”. E, por azar, câmera filma Lewandowski nessa hora. Mais constrangimento.
@luisnassif ela vai desviar. Não vai responder por que não recorre ao STF. Ela crê em recurso ao STF. É erro. Seu último palco é esse.
E aí uma questão “técnica”: o corte do microfone dos senadores ao fim dos 5 minutos pré-estabelecidos.
Pró-golpe / pró-legalidade, todos são cortados automaticamente. Sem distinção.
Mas…
O que acontece depois do corte não é igual. Apenas a alguns é dado o direito de retomar o microfone “apenas para terminar o raciocínio”.
Meu tweet:
Lewandowski deixa golpista completar fala depois que acaba o tempo (Senador Ferraço / Anastasia). Mas não legalistas (Katia Abreu / Requião). Por quê?
Por essa altura, meu grande amigo Ciro d’Araújo, sempre arguto, me chama no inbox do facebook e faz uma observação afiada, que compartilho no twitter:
Comentario arguto de @cirodaraujo: Fosse Temer, mandava senador não fazer nenhuma pergunta. Formato sem réplica deixa Dilma com controle total da narrativa.
E eu complemento:
@luisnassif @cirodaraujo nesse formato sem réplica não tem como competir… era melhor para golpistas boicotar a sessão. Que nem fizeram na defesa.
Só mais de hora depois as (supostas) “raposas” do PMDB percebem isso. E chega à imprensa:
E aí noto a estratégia do mais inteligente da bancada do golpe:
Anastasia faz questão muito técnica (como só ele poderia). Por quê? Hipótese: sabe que Dilma sabe tudo e é detalhista. Tema hermético. Quis baixar a audiência.
Fecho notando mais algumas “desinteligências” dos outros colegas de Anastasia.
Primeiro com relação à maneira com que se dirigem a Dilma em suas falas:
Esse “Sra. Presidente AFASTADA…” ensaiado de todos os golpistas é tiro no pé. Agressão gratuita que vitimiza Dilma. Parece desrespeito. E é!
Segundo, pelos discursos com pura retórica política rasa e provocação a Dilma, à la Revoltados online:
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O saldo foi bom para Dilma. E será melhor ainda na tarde, quando haverá mais falas de senadores apoiadores.
Mas é óbvio: poderia ser diferente numa fase processual em que o réu se defende?
Nem o golpe ousaria tanto.
Quer dizer…
Ousaria sim: Aluízio Nunes iniciou o dia com questão de ordem pedindo direito de réplica contra Dilma após cada fala sua!
O pedido é indeferido pelo sábio Lewandowski.
As aparências devem ser mantidas, ora.
“O rito”… ah, “o rito”…
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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