Dívida pública: silêncio eloquente dos grandes “ausentes”, por Romulus
Dívida pública: silêncio eloquente dos grandes “ausentes”
Por Romulus
– Onde estão os militares que pensam estrategicamente e são especialistas em geopolítica?
– Onde estão os industriais – os de verdade, não os donos de galpões alugados
–
aqueles que (ainda) não viraram distribuidores de importados?
– Onde está o povão?
– Onde estão os partidos e políticos com mandato “de esquerda”?
– Todos levaram sucessivas rasteiras da direita pseudo-liberal brasileira. Aquela sustentada pela (e para a) banca. A que odeia Estado mas adora o seu orçamento!
* * *
Como nos lembra o Nassif hoje:
Não há na história econômica moderna exemplo mais acabado de expropriação da riqueza do país para um grupo específico do que o que vem ocorrendo com o Brasil nos últimos 22 anos. Se algum economista se der ao trabalho de calcular o que foi pago de juros da dívida pública desde o Plano Real até hoje, daria para cobrir o país de norte a sul com infraestrutura de primeiro mundo.
Muito bem.
Uma alegoria?
A finança arranca as tetas da gorda porca da boca de todos os demais leitõezinhos e, com voracidade ímpar, consegue abocanha-las todas de uma vez.
Lega aos outros leitõezinhos a inanição. Senão a morte, ao menos o raquitismo.
*
Mas tudo isso sem briga?
Bem, parece que sim.
* * *
“Ausente” no. 1 – direita patriótica
Onde está a direita patriótica?
Onde estão os militares que pensam estrategicamente e são especialistas em geopolítica?
Onde estão os industriais – os de verdade, não os donos de galpões alugados – aqueles que (ainda) não viraram distribuidores de importados?
A doutrinação “anti foro de SP, bolivarianismo, cuca e saci-pererê” foi tão efetiva que eles continuam com medo do bicho papão – barbudo? – e do MST batendo às suas portas para expropriar suas moradas nos Jardins?
Lembro do Nassif relatando, logo antes do primeiro turno de 2014, a adesão resignada de um interlocutor, “capitão da indústria”, a Marina Silva.
Marina Silva?
Sim, aquele saco (quase) vazio, sem ideias, mas cheio de ressentimento e da arrogância pseudo-humilde (oh, falso paradoxo…) de auto-designada profetiza numa terra assolada pelo pecado.
Dizia o Nassif que o “capitão da indústria” usava argumentos – totalmente crédulo! – dignos de grupos de whatsapp, como “ditadura do PT”, “foro de SP”, “milícias bolivarianas”, “Celso Daniel”, etc.
Cadê essa direita com interesses (mais) enraizados no país?
Aquela que não consegue transferir seus ativos overnight com um simples contrato de cambio?
*
Globo ensinou a lição à banca?
Nassif – ainda ele – outro dia republicou o post em que mostrou como a Globo levou no bico todos os outros membros da grande imprensa familiar. E, assim, fez com que apoiassem políticas de comunicação que, no médio prazo, virtualmente os extinguiriam, sobrando só a Globo para papar o orçamento sozinha.
Agora, com a direita industrial e o agro-negócio, aconteceu o mesmo?
Continuam sendo levados no bico pelo mercado financeiro, por Mirians e Sardembergs nas ondas do rádio?
A única voz critica que vejo, nesse campo, é a do André Araújo aqui no GGN. Mesmo ele, no inicio, foi condescendente com o golpe e os infames artifícios da conspiração. Talvez crendo que haveria alguma reversão na politica de juros.
Ou seja, devido ao seu já conhecido – e auto-proclamado – gosto pelo pragmatismo.
A ilusão durou quanto?
Duas semanas?
Não só a política monetária se tornou ainda mais perniciosa, diante da conjuntura, como se investiu até contra o BNDES “deles”.
* * *
“Ausente No. 2” – o povão
O povão fica alheio a essa disputa política, “de elites”, pelos motivos brilhantemente elencados neste artigo, do Cafezinho:
* * *
“Ausente” No. 3 – partidos de esquerda
A oposição só é feita – a duras penas – pela militância de esquerda – órfã até mesmo da cúpula dos partidos e dos políticos com mandato.
Talvez pelas razões que especulei neste post:
Na semana passada ia retomar o tema desse post aí de cima.
Mas pensei: para quê?
1. Tudo isso aí a militância já sabe. O post foi, inclusive, escrito inspirado pelos seus relatos de frustrações.
2. As cúpulas partidárias e os políticos com mandato já mostraram que não farão nada. Ou melhor: continuarão fingindo que lutam contra o golpe, apenas para marcar posição diante do eleitorado.
Está tudo combinado?
Se está é entre eles. Não com a militância, que não merecia essa traição.
Ser derrotado – com a cabeça de pé – é do jogo. Mesmo quando o jogo é “roubado”, como foi o golpe.
Já ser traído pelos líderes – e por aqueles que têm mandato e imunidade para agir e legitimidade ativa para provocar o STF – é insuportável.
Por quê?
Porque cria (aumenta?) a desilusão, principalmente nos jovens, aumentando o ceticismo e a alienação, já em níveis de patologia político-social no Brasil.
Quem ainda acreditará na democracia representativa?
Nas “regras do jogo”?
Esse, sim, o saldo mais pernicioso do golpe, posto que de longo prazo:
A esquerda – ou melhor, as cúpulas partidárias e políticos com mandato “de esquerda” (com aspas mesmo) – contribuindo, com a sua tibieza patente, para despolitização ainda maior no futuro.
Eles, como sempre, supõem que, façam o que façam, as bases gravitarão de volta para si inexoravelmente a cada eleição.
Ah é?
Sério?
Falta combinar com os russos.
O nível de descrença já é tão elevado que põe em xeque o próprio sistema. O eleitorado desiludido – “de direita” e “de esquerda” – recorre cada vez mais a candidatos e e ao voto anti-sistema no mundo inteiro.
Exemplos?
Trump atrai votos das antigas bases democratas e dos absenteístas.
Marine Le Pen tira muito mais votos das antigas bases do Partido Socialista francês – operariado, agricultores, servidores públicos… – do que da base da direita tradicional (o antigo UMP, rebatizado de “Os Republicanos”), que conta com profissionais liberais, pequenos comerciantes, empresários, etc.
“Ah, eles ameaçam mas não ganham! Na ‘hora H’ o medo do caos faz as pessoas retomarem o juízo”.
Ah, é?
Fala isso para o David Cameron e o seu “Brexit”.
Sim, Cameron… o ex-primeiro-ministro da Inglaterra que acabou cometendo um haraquiri es–pe–ta–cu–lar com uma faca que sacou, originalmente, para colocar no pescoço da União Europeia e usar como trunfo eleitoral.
Depois que o gênio é tirado da garrafa, difícil colocar de volta, não é mesmo?
De duas uma:
Ou as pessoas são ainda mais burras do que a classe política tradicional supõe – e não temem tanto o “caos” anunciado – ou, ao contrário, são bem menos burras do que isso e já sacaram o seu jogo.
Voto (se voto vale alguma coisa…) na segunda opção!
* * *
Escândalo da semana
Uma das poucas coisas a atualizar naquele post que escrevi seria trocar, ou melhor, acrescentar, ao exemplo que dei, da BR Distribuidora, a escandalosa venda do bloco do Pré-sal pela Petrobras à Statoil norueguesa na semana passada.
Notem: aquele campo foi licitado antes da mudança da lei para a exploração do Pré-sal. Vale a “concessão” e não a “partilha”.
Ou seja: a Statoil tira o quanto quer, no ritmo que quer e faz o que quer com o petróleo extraído.
Zero obrigação de seguir orientações do governo com vistas ao desenvolvimento do downstream (processamento do petróleo) no próprio Brasil ou de ajustar o ritmo de exploração – que é finita, todos sabemos! – aos interesses estratégicos de longo prazo do país. Zero obrigação, tampouco, de manter a Petrobras como operadora e, assim, manter o olho “do dono” no boi gordo.
(Expliquei em detalhe o que significa a Petrobras deixar de ser operadora em “Atenção: agora o golpe é no Pré-sal!”)
“Conteúdo local” no fornecimento de bens e serviços?
– hahahaha!
Boa! Conta outra…
* * *
Neo-bolsonaretes
Um tempo atrás, o amigo Ciro d’Araújo me deu o exemplo anedótico de um conhecido seu, militante petista filiado (“daqueles chatos!”), que hoje tem “Bolsonaro 2018” escrito embaixo do seu avatar no Facebook.
Está engajadíssimo nessa (nova) militância – por incrível que pareça, “ainda mais chato”.
A única diferença é que, economicamente, Bolsonaro fez o movimento oposto ao dos outsiders anti-sistema estrangeiros. Foi do nacionalismo estatista de direita, a la Geisel (lembram do: “FHC tem de ser metralhado pela venda da Vale!”?), para o ultra-liberalismo da demagogia “meritocrática”, para quem o Estado é “o” entrave.
Evidentemente, movimento calculado para ganhar financiamento (dos irmãos Koch? Ou da FEBRABAN?) e para surfar nas estruturas montadas por MBLs da vida…
Mas, eleitoralmente, (ainda) fatal em um país que adora (e é viciado em) Estado – da direita à esquerda.
Até – principalmente? – a direita pseudo-liberal brasileira (jabuticaba amarga…). Aquela sustentada pela banca. A que “odeia Estado” mas adora o seu orçamento!
* * *
(i) Acompanhe-me no Facebook:
Maya Vermelha, a Chihuahua socialista
(perfil da minha brava e fiel escudeirinha)
*
(ii) No Twitter:
*
(iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus
*
Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
Facebook Comments